terça-feira, 14 de junho de 2011

Quadros da transmontaneidade (48)

Vinha devagar, a escolher caminho, a evitar as poças e os regos que as águas de inverno abriram. Entrou na fraga triunfante, dir-se-ia como general romano quando entrava em Roma. Entrou pela Canelha de Cima, aliás, aquela era a única entrada possível, não havia pedaço de fraga vazia. As medas, de todos os tamanhos e de todas as alturas, que esperavam por sua excelência há longos dias, formavam um intrincado dédalo de ruas e ruelas difícil de ultrapassar mas que, àquela hora da tarde, faziam as delícias da criançada no jogo do esconde-esconde.
Já o lusco-fusco dissolvia as linhas retas que os cumes dos palheiros desenhavam à contraluz, já as medas formavam uma massa uniforme como se no mundo não houvesse profundidade, e ainda o ti Abílio Laranjeiro e o ti Marcolino nivelavam a traquitana que na manhã seguinte iniciaria as malhas na fraga da Lage. A meda que ficava mais próxima era a do Acácio Rabelo. Era ele que teria a primazia naquele ano.


António Sá Gué

(Continua...)

1 comentário:

Júlia Ribeiro disse...

Afinal, tinha-me escapado este texto. Ou antes, comecei lá por cima.
E que grande falha seria a minha.
Belíssima descrição de um fim de dia.

Abraço
Júlia