terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pela casa (e por causa) de nossos avós

Foi necessário que esta bisarma viesse abaixo ao fim de mais de um século ali plantada, não por que competisse com a idade máxima de um ser humano na Terra - calcula-se, pelos dados disponíveis, que a superou bem - mas tão só por que começava a ameaçar a casa e mais alguma coisa não de somenos importância.
Ainda lá ficou outro gigante (eucaliptos são, da variedade que dá aroma) que talvez tenha os dias contados, por idêntica razão.
Que fazer? Como agir? Podemos sempre perguntar-nos, também aqui. Quem os mandou plantar e quem os plantou há muitos anos que não está por ali a encher os pulmões do ar a que, naquela época, era dada importância por assim dizer profiláctica.
Já segue um novo cujo tronco é, por estes meses, mais grosso que um pulso, não chegando ainda ao diâmetro de uma anca magra. Ficará este - e a rebentação de um dos outros - para memórias renováveis.
Torna-se talvez desnecessário referir que se veio a verificar que o cerne desta vetusta árvore já não estava são (para além da ideia, comummente aceite, que dá conta de um eucalipto tudo secar à sua volta, o que, neste caso, não parece ser verdade, já que fica ainda ao alto outro velhíssimo e o tal rebento a que acima se alude).
Haverá, assim, lenha já garantida (entretanto cortada e empilhada) para o inverno de 2011-2012, na margem direita do rio Douro, a umas dezenas de quilómetros da sua criação e a escassos metros das suas águas - sim, que as águas mesclam-se, são de todos e de ninguém, proliferam também, como nós, fora de leitos sinalizados como tal, são fundamentalmente subterrâneas, as que ficam mais tempo.
Esta árvore viu muita gente passar. Dá pena.
E a gente que passou?
Está bem assim?

Outono de 2010

Carlos Sambade

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Livro de "De Cabinda ao Namibe" é apresentado hoje no Porto

É aprsentado hoje, dia 26 de Nobembro, na Biblioteca Almeida Garrett (junto ao palácio de Cristal), no Porto, pelas 21 horas, este excelente livro de Adriano Vasco Rodrigues.
O Professor Adriano Vasco Rodrigues, embora sendo natural de Longroiva (concelho da Meda), casou no Felgar com a Doutora Maria da Assunção Carqueja, sendo um emérito historiador, arqueólogo e pedagogo, com vasto currículo em Portugal e no estrangeiro, tendo dirigido, há anos, uma Escola Superior em Möll, na Bélgica.
O presente livro conta uma série da passagens da vida do autor por terras africanas, mais especificamente em Angola, na 2ª. metade dos anos 60, onde exerceu actividade como inspector escolar e, entretanto, como arqueólogo e antropólogo. O estudo dos túmulos indígenas da Kibala, ou a escavação de um barco do século XVIII no deserto do Namibe, além de muitos outros aspectos relativos à história angolana, são motivos de especial interesse que tornam muito atractivo este livro quase de aventuras.
A não perder!

domingo, 21 de novembro de 2010

Quadros da Emigração – O vaivém continua ... e por quanto tempo?

Estação de camionagem de Grenoble, França, 16 Novembro 2010


Ei-los que regressam mais uma vez! São os mesmos que partirem à procura do pão e que, agora, andam à procura da (última) Pátria.


O convívio inicial da chegada ao local transpôs-se rapidamente para as filas dos assentos do Expresso de luxo. Assim que se sentaram lado a lado, a senhora idosa continuou a conversa com a amiga. A outra replicou-lhe, apropriando-se das suas palavras. Também ia e vinha uma a duas vezes por ano e às temporadas. A cadeira vazia do lado da janela comportava as duas bolsas e os casacos finos de malha a que o ar condicionado da hora de arrancar haveria de dar préstimo para se agasalharem. Subitamente e em consonância, as duas cabeças, praticamente unidas, viraram-se entusiasmadas para a sua direita. O casal vizinho, acomodado na fileira oposta, viajava para uma aldeia não muito distante da delas. Depressa se incendiaram em indagações que acompanhavam perfeitamente a velocidade do veículo a percorrer a estrada em direcção a Portugal. Faladora, a mulher adiantou-se:
“Já vendemos a casa que tínhamos comprado com a intenção de passarmos os nossos últimos dias perto do nosso filho. Até nem havia muito tempo que era nossa... Há coisa de dois a três anos... Mas agora que o filho, a nora e os netos se mudaram para Montpellier o que ficávamos a fazer sozinhos em Paris? Eu e o meu homem ainda andámos com a ideia comprar outra lá em baixo, no Sul. A cidade é bonita e tem um bom clima! Se não fosse pelo Mistral, durante os meses de Inverno, parecia mesmo o clima da nossa terra. Mas íamos voltar ao início?! Outras pessoas, cidade estranha, novos hábitos... Bem sabemos quanto nos custou travar conhecimento quando chegámos! Já não seria tão difícil, mas mesmo assim... Ainda temos a casa em Portugal, os bocados e família. Quando nos apetecer, voltamos em visita de turistas e eles que façam o mesmo! “
“Fizeram bem”, concordou a mesma senhora de idade. “Vê-se que ainda não são velhos e que têm saúde. Gozem mais uns anitos do nosso bom ar! Eu é que não posso dizer o mesmo. A osteoporose obriga-me a tratamentos, operações e já se sabe que em França sou melhor atendida e mais depressa. Além disso, também me fica mais barato. Vou andar neste va-vient France-Portugal enquanto puder.”
A companheira de fileira ia acenando com a cabeça para manifestar a aprovação das suas palavras. Também ela tinha escolhido a mesma modalidade. Entretanto, submergidos pelos pequenos problemas quotidianos que caracterizavam, no presente, a grande preocupação das suas vidas, não anteviram que se juntara outro compatriota à discussão. Idoso, moreno, olhos brilhantes, dançarinos e risonhos, alisava a tez da cara e passava as mãos pelos cabelos finos e brancos. Ia tratar das vinhas no Douro e dos prédios que comprara nos primeiros anos de França. Grande tolo! Moera ali dinheirinho que não recuperaria. Mas não era só isso que o preocupava. A saúde é que se sentia ameaçada todas as vezes que precisava de recorrer ao Centro de Saúde mais próximo da sua aldeia. Contudo, permanecia mais tempo a sulfatar os vinhedos ou a enxertar os bacelos dos socalcos do que em França fechado dentro de casa, ou sentado no banco do jardim a atirar farolos de pão às pombas para se distrair.
A conversa fluía ritmada e sem segredos. O tema desnudava-se aos poucos e, na consciência de cada passageiro, as angústias esbatiam-se e aligeiravam-se, devido à partilha da raiz do mesmo problema: emigração. Quando todos suspiravam de alívio e se acalmavam pelo cansaço de algumas horas de viagem já decorridas, uma voz sumida, vexada e consumida, por ter equacionado inúmeras vezes a questão na intimidade, assumiu de frente o cerne do dilema: “E o que faremos quando não tivermos força para este vaivém?”



sábado, 20 de novembro de 2010

Em memória do Ramiro Pessoa

«Considero a Vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada (...). Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência.» - Fernando Pessoa, aliás Bernardo Soares, in "Livro do Desassossego", ed. 1982, p.220
Faleceu o Ramiro, depois de uma luta insana contra doença prolongada. Aguentou vários assaltos, mas o último combate foi-lhe fatal.
Relembro-o dos velhos tempos da Escola Secundária, nos finais dos 70, ainda no actual edifício do Lar da Misericórdia (antigo Hospital D. Amélia). Tempos animados esses de discussão política, actividades culturais e desportivas, renovação musical, tempos em que havia uma grande massa estudantil decorrente, em grande medida, do significativo acréscimo da população devido ao "regresso" do pessoal do antigo ultramar, entre os quais se encontrava o Ramiro, vindo de Moçambique. Por essa altura apareceu pela Escola Secundária de Moncorvo um jovem professor extrovertido e activista, o prof. Sequeira, que aglutinava a malta, dinamizando a escola, dentro e fora dela, desde a "Biblioteca" do ti Carró, a saraus no Cine-teatro, passando pelas actividades desportivas (basquetebol, andebol, futebol de salão) no gimno-desportivo. Foi uma geração de ouro da escola secundária e o Sequeira tornou-se um moncorvense adoptivo, que, como tal, tantos anos volvidos, ainda regularmente nos visita. Foi por ele que soube, via e-mail, da triste notícia, apesar de esperada.
O Ramiro foi dos que escolheu ficar por Moncorvo, onde trabalhou, primeiro no GAT, como topógrafo, instalando-se depois por conta própria, como técnico e agente imobiliário. Paralelamente manteve sempre a paixão pelas actividades desportivas, sendo árbitro de futebol de salão e observador credenciado pela APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol). Era um homem bom e com muitos amigos. Tinha 52 anos.
A toda a família enlutada, os nossos sentidos pêsames.
O funeral será amanhã (domingo), pelas 14;00horas.
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Txt.: N.Campos; Foto: retirada do Facebook/página de Ramiro Carlos Pessoa

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quadros da transmontaneidade (25)

As sepulturas de S. Cristóvão

Já eu era espigadote e ainda me arrepiava quando passava no caminho que bordeja as sepulturas de S. Cristóvão, escavadas na rocha xistosa. Era sempre da mesma forma, eriçavam-se-me os cabelos e um arrepio percorria-me o corpo, exactamente como quando uma alma se depara, frente a frente, com um lobo, que também era animal da minha escuridão. Vinha-me à lembrança a lenda das formigas gigantes, que a Tia Maria Júlia me contava, tão grandes que comiam crianças e levaram ao abandono do povoado. Tocava com força a burra ruça e, sem olhar, ou então a olhar a crista do monte fronteiro, que sempre ajudava a espantar os pensamentos, estugava o passo para vencer a catatonia que parecia querer tomar conta de mim.
Depois, com o passar dos anos, os medos foram-se desvanecendo, os pensamentos de criança também, então, imaginava-as com os esqueletos dentro, e escavava com a ajuda de um pau que recolhia nas redondezas. Por vezes, fitava-as longamente, media-as com olhar para depressa concluir que eram muito pequenas para alguém poder ser sepultado nelas. Outras vezes, gostava de saltar de fraguinholo em fraguinholo sempre à cata de encontrar algo que ainda ninguém tivesse visto, à espera de descobrir alguma relíquia antiquíssima escondida nas paredes de pedra solta, que imaginava serem aquilo que resta das casas.
Hoje restam-me memórias, e anseio conhecer quem ali existiu.

ANTÓNIO SÁ GUÉ

Conferência de Rogério Rodrigues, encheu o auditório do Museu

Momento de abertura da sessão, pela representante do Município, Drª. Helena Pontes, Chefe de Divisão de Cultura e Turismo

A conferência de Rogério Rodrigues intitulada “Subsídios para a história da Maçonaria e dos ideais republicanos em Trás-os-Montes e Alto Douro”, realizada no passado sábado, dia 13 de Novembro, encheu por completo o auditório do Museu do Ferro.

Mais de meia centena de pessoas, algumas vindas de outros concelhos nordestinos, quiseram estar presentes, algumas mais esclarecidas, outras mais curiosas por saber algo mais sobre um tema ainda rodeado de uma certa aura de hermetismo.

Rogério Rodrigues começou por dizer que não se pode compreender a implantação da República sem se conhecer a acção da Maçonaria e da Carbonária. Para os mais interessados sobre o tema indicou alguma bibliografia, em que também se baseou para elaboração desta dissertação, além de uma lista (inédita) de nomes de maçons trasmontanos iniciados em finais do século XIX e inícios do séc. XX, entre os quais alguns moncorvenses, dados que lhe foram fornecidos por um historiador seu amigo.

O conferencista Rogério Rodrigues.
Referiu Rogério Rodrigues que, desde cedo, a Maçonaria foi diabolizada pelos poderes instituídos (nos tempos da Monarquia Absoluta e do chamado “Estado Novo”), sobretudo pela Igreja. Não obstante, mesmo esta instituição religiosa teve muitos sacerdotes e até alguns dignatários de mais relevo ligados à Maçonaria, de que deu vários exemplos, como o bispo Alves Feijó (bispo de Macau, Cabo Verde, Angra e Bragança), natural de Freixo de Espada à Cinta (nasceu em 1816 e faleceu em 1874). Mesmo no “Estado Novo”, dois grandes amigos de Salazar eram maçons: Albino dos Reis e o médico Bissaya Barreto.

Relativamente a Trás-os-Montes, e começando por Torre de Moncorvo, o autor referiu alguns moncorvenses que ainda no séc. XIX tinham aderido à Maçonaria, com destaque para Francisco Meireles, cujo nome está ligado à praça central da vila, por ter sido o benemérito que deixou a sua fortuna para a constituição de um Asilo para desvalidos nesta vila, hoje Lar Francisco António Meireles. Aliás, a benemerência associada à assistência social e à alfabetização foram sempre uma das preocupações dos bons maçons. Francisco Meireles foi um importante negociante e financeiro que tendo passado a sua vida fora da sua terra de origem (foi o fundador de uma “loja” maçónica em Aveiro), tendo enriquecido, acabou por legar em testamento avultada soma para a criação do referido "asilo" moncorvense.


A numerosa assistência, escutando atentamente.

Além de F. Meireles, são conhecidos os nomes de outros moncorvenses, como Cândido Dias, negociante no Porto, Joaquim Firmino Miguel, oficial da marinha mercante (iniciado em 1905), Luís Henrique de Almeida (professor) e Abel Gomes, iniciado em Moçambique em 1906, o qual, tendo regressado, viria a ser presidente de Câmara, no período da Primeira República, em Moncorvo. Abel Gomes foi quem inaugurou o Registo Civil nesta vila, ao registar um filho, logo após a República, quando as pessoas ainda estavam algo relutantes em relação a este tipo de registo, como dá testemunho o Abade Tavares, seu amigo, na monografia da Senhora da Teixeira. Rogério Rodrigues pensa que Abel Gomes terá sido um dos instaladores do Triângulo de Moncorvo, constituído em 1911, com o nº. 155, logo a seguir ao de Bragança e de Mirandela. Informou ainda que para se constituir um triângulo eram necessários três mestres. No entanto, os fundadores do triângulo de Moncorvo foram: José António dos Reis Júnior, um jovem advogado de 27 anos, Guilhermino Augusto Vaz, farmacêutico, Miguel Frederico Mesquita (com o nome simbólico de Ferrer), de 35 anos, lavrador. Surgem depois outros como António Alberto Carvalho e Castro, empregado dos Caminhos de Ferro em Miranda do Douro e Flaviano de Sousa, o empreiteiro que justou a construção do caminho de ferro de Pocinho a Torre de Moncorvo (linha do Sabor). O triângulo de Moncorvo teve uma vida curta, tendo sido declarado extinto desde finais de 1912, pelo decreto do GOL (Grande Oriente Lusitano) de 7.08.1913, visto que só um dos "obreiros" se mantinha activo, nessa data.

Momento de convívio, no final da sessão, nos jardins do Museu

Sobre outros famosos maçons de Trás-os-Montes, o conferencista mencionou: Alves da Veiga, natural de Izeda (Bragança), licenciado em direito, um dos fundadores do PRP (Partido Republicano Português), que esteve na intentona do 31 de Janeiro no Porto, pelo que acabou no exílio, tendo regressado com a República e vindo a desempenhar cargos de relevo depois de 1910; Emídio Garcia (fundador do liceu de Bragança); o já referido bispo Feijó (de Freixo de Espada à Cinta); Adelino Samardã, de Sabrosa, que esteve ligado à disseminação da Carbonária em Trás-os-Montes; António José Claro, de Chaves; Francisco António de Campos, barão de Foz Côa, riquíssimo proprietário, filólogo, que chegou a presidente da câmara de Lisboa e que foi Grão-mestre da Maçonaria lusitana; Antão de Carvalho, da Régua, um dos paladinos do Douro, que foi ministro da Agricultura na 1ª. República, que levou à criação da Casa do Douro, já no início do Estado Novo, entre muitos outros, terminando em Raúl Rego, de Macedo de Cavaleiros, o último Grão-mestre trasmontano.

Entre os focos mais activos, em termos de República e Maçonaria, destacou ainda as cidades de Vila Real e de Chaves, sendo daqui originário (e onde se terá iniciado) o Marechal Carmona, 1º. Presidente da República do Estado Novo, apesar de depois se ter distanciado.

A finalizar, Rogério Rodrigues disse que o fim da Monarquia começou, indirectamente, com um trasmontano, de Vinhais, o regicida Alfredo Buíça (que era carbonário), e acabou com outro trasmontano, que pouco nos ilustra, e que foi o Abel Olímpio “Dente de ouro”, natural dos Estevais da Vilariça (concelho de Torre de Moncorvo), e que foi o executor da famosa "Noite Sangrenta". - Nota nossa: Este episódio foi motivo de série televisiva há pouco transmitida pela RTP, com assinatura de Tiago Rodrigues, filho de Rogério Rodrigues.

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Txt.: N.Campos

Fotos: R.Leonardo e H.Tavares

sábado, 13 de novembro de 2010

Maçores - festa de S. Martinho, hoje e amanhã

Bebendo da caldeira, de bruços, como mandava a tradição (foto de A.Basaloco)

Porque o dia de S. Martinho (11 de Novº.) foi quinta-feira, dia de trabalho para a maioria das pessoas, os dias principais da festa maçorana transitam para hoje e amanhã. Assim, é hoje que se realiza o magusto nas Eiras (à tarde) e a "procissão" do caldeiro do vinho do povo, fogo de artifício e animação musical (à noite) - ver Cartaz editado neste blog em 3.11.2010.
Para quem queira saber algo mais sobre Maçores recomendamos a leitura excelente monografia, de autoria da Doutora Ilda Fernandes, natural desta aldeia, intitulada: "Maçores, minha terra, minha gente" (edição da CMTM, 2003). Sobre esta festividade, diz a autora:

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“A festa de S. Martinho realiza-se em 11 de Novembro e é uma festa imbuída de grande originalidade, onde o sacro e o profano se misturam e completam numa simbiose perfeita.

A festa inicia-se no dia anterior à tardinha com a chegada do gaiteiro, dantes vinha dos lados de Miranda que com os jovens que o esperavam davam volta ao povoado a tocar gaita de foles e cantar cantigas características desta festividade.

No seu dia durante a manhã predomina a vertente religiosa com celebração eucarística e procissão onde impera o andor com a imagem do nobre santo.

É o poço de Maçores a festejar o seu orago.

Durante a tarde faz-se uma espécie de arraial e arrematação na rua Nova.

Entretanto os jovens e mordomos fazem nas eiras comunitárias um mega-magusto. Após serem assadas e ensacadas as castanhas enche-se uma caldeira com vinho e percorrem o povoado a distribuir os bilhós e vinho que é bebido pela caldeira, como manda a tradição.”

Capa do livro da maçorana Ilda Fernandes
É ainda Ilda Fernandes que nos diz que "durante o dia festivo, grupos do sexo masculino acompanhados do gaiteiro e ultimamente também pelo acordeão dão inúmeras voltas ao povoado a cantar cantigas próprias desta festividade" com destaque para "Era o vinho" e "Manuel Duarte".
Aqui fica a letra destas cantigas, enviadas pelo nosso amigo Filipe Camelo:
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Era o Vinho:

I

Era o vinho, meu Deus era o vinho

era a coisa que eu mais adorava

(bis)

Só por morte meu Deus só por morte

Só por morte o vinho deixava

(bis)

II

Ai eu hei-de morrer numa adega

Ai que o tonel seja o caixão

(bis)

O vinho seja a mortalha

Hei-de morrer com um copo na mão

(bis)

III

Ai minha sogra morreu ontem

Ai o diabo vá com ela

(bis)

Ai deixou-me as chaves da adega

Mas o vinho, bebeu-o ela.

(bis)

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Manuel Duarte:

I

Ai adeus ó Manuel Duarte

Ai amigo e companheiro

(bis)

Ai "alevanta-te" e vem comigo

Ai lá p´ró Rio de Janeiro

(bis)

Refrão

Manuel Duarte, foi p´ró Brasil

Chegou ao Porto e tornou a vir

Manuel Duarte, não embarcou

Foi o ingaije que o ingaijou

II

Ai adeus Manuel Duarte

Ai amigo e camarada

(bis)

Ai "alevanta-te" e vem comigo

vamos os dois seguir esta jornada

(bis)

Refrão

III

Ai cinco folhas tem o vime

Ai cinco amores tenho eu

(bis)

Ai quem gosta de mim são elas

Ai quem gosta delas, sou eu

(bis)

Refrão

Vídeos sobre a festa: www.youtube.com/filipemacores

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Agradecemos a Filipe Camelo as informações prestadas.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Maçonaria e República em Trás-os-Montes e Alto Douro - conferência de Rogério Rodrigues no próximo sábado:

(clicar sobre o cartaz para AMPLIAR)

O nosso conterrâneo Rogério Rodrigues vai brindar-nos, no próximo Sábado, dia 13 de Novembro, com uma importante conferência que promete trazer dados novos para a compreensão do alastrar dos ideais republicanos por terras trasmontanas, normalmente consideradas a periferia da periferia. Neste processo a Maçonaria teve um importante papel, como se sabe. O que não se sabia era a amplitude dos seus efectivos, tais como os da Carbonária, em terras trasmontano-durienses. Através de uma paciente investigação, o jornalista e investigador de história contemporânea Rogério Rodrigues promete trazer-nos alguns dados novos.

Sobre o autor, embora dispense apresentações a todos o que o conhecem, é natural de Torre de Moncorvo, com raízes no Peredo dos Castelhanos, tendo aqui exercido actividade de professor de Língua Portuguesa no Ensino Secundário, por altura do 25 de Abril de 74. Enveredou depois pela carreira jornalística, tendo passado por jornais e revistas de referência como o Diário de Lisboa, O Jornal, revista Sábado, Público (grande repórter desde a sua fundação), a Visão, tendo integrado o gabinete de Projectos Especiais da LUSA. Esteve na fundação do semanário O Ribatejo e do GrandAmadora, de que foi director. Foi ainda director-adjunto de A Capital entre 2004-2005. Colaborou ainda em vários projectos televisivos e radiofónicos, com destaque para o Rádio Clube Português, em tempos mais recentes. Escreveu vários textos de filmes e documentários, designadamente "Colonias e Vilões", "Gente do Norte", "Encomendação das Almas" e de séries, como "Portugal de faca e garfo" (em parceria com Afonso Praça).
É autor de vários livros de poesia ("Livro de Visitas"), ficção ("A outra face da morte") e ensaio ("História da Educação em Portugal"), tendo prefaciado e apresentado inúmeros livros de autores vários.
Ganhou o prémio literário António Botto (poesia), como o original "Nome nomeio" e o primeiro prémio de jornalismo/Reportagem instituído em 1984 pela Associação 25 de Abril para o melhor trabalho sobre o 25 de Abril (título: "Abril: 10 anos depois").
Um dos campos de interesse de Rogério Rodrigues é a história contemporânea, sobretudo de Portugal, com destaque para a República, movimentos de esquerda (nomeadamente sobre o PCP) e a Maçonaria. (Fontes: Pacheco, F. A., Brito, L., Rodrigues, R., Torre de Moncorvo-Março de 1974 a 2009, entre outras).
Resulta deste breve apontamento curricular que a escolha não poderia ser melhor para nos falar destes temas.

A conferência realiza-se no auditório do Museu do Ferro, contando a iniciativa com o apoio do município. - É sábado à tarde, com início às 15;00 horas.

Ver mais nestes endereços:

CMTM (site): http://www.torredemoncorvo.pt/historia-da-maconaria-e-ideais-republicanos-em-destaque-no-museu-do-ferro-e-da-regi-o-de-moncorvo

Almanaque Republicano (blog): http://arepublicano.blogspot.com/2010/11/centenario-da-republica-em-torre-de.html

Mainstreet (blog): http://weber.blogs.sapo.pt/1110863.html

Agenda do Centenário (com mapa): http://agenda.centenariorepublica.pt/index.php?prop_1%5B%5D=0&prop_2%5B%5D=0&distrito=4&month=11&year=2010&option=com_content&view=article&id=47&Itemid=1

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Operário morre em serviço

“SENHOR, eu Te ofereço as estrelas!


As luzes do bairro!


As sombras que o luar faz, nesta noite tão calma!


As fragas, os murmúrios, o silêncio!


As mariposas nocturnas, que rondam a Tua lâmpada!


(…)”


– Padre Telmo Ferraz, "O lodo e as estrelas", 2ª. ed., 1975.(Clicar sobre as fotos para AMPLIAR)



Dia 4.11.2010, pouco depois das 17;00h – Seguíamos, de carro, pela antiga E.N. 325, quando vi os homens-aranha pendurados no alto dos postes da alta tensão. Admiráveis na sua coragem, esticando os pesados cabos pendurados nos postes novos (ou renovados). Não me contive e parei o carro. A máquina fotográfica estava à mão. Disparei ora para um, ora para outro poste, um do lado do Vale das Latas, outro para o lado de cima da estrada.
Há profissões de risco. E de coragem. Como será estar a mais de 30 ou 40 metros do solo, suspenso? – a vida por um fio. Ah, devem ter infalíveis sistemas de segurança, pensei.
Dia 10.11.2010 – seis dias depois, vi a trágica notícia, através de um link deste blog para o jornal “A Bola” (ver coluna do lado direito): um dos “spider-man” tinha falecido em consequência de uma queda. Tinha 28 ou 29 anos, disseram-me depois, era de nacionalidade brasileira, estava a residir temporariamente no Carvalhal (freguesia do Felgar). Trabalhava havia 6 anos na empresa, dizia o jornal. Afinal tinha-me enganado sobre a infalibilidade da segurança. Ou seria a inevitabilidade do Destino. Imaginei a dor do outro lado do Atlântico.


Quanto custa termos em terra, acesas, as estrelas, as luzes do bairro? - Recebe, Senhor, nas Estrelas, o operário que vivia no alto.


Txt. e fotos de Henrique de Campos

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vem aí o S. Martinho de Maçores!

Para falar das festas de S. Martinho de Maçores, que se iniciam no próximo dia 11 de Novembro, nada melhor do que dar a palavra a um maçorano, o nosso Amigo e ilustre gaiteiro Filipe Camelo, a quem agradecemos a seguinte descrição, respigada do fórum de Maçores (www.macores.pt.vu):

Para quem não sabe, em Maçores celebra-se o S. Martinho, que é o orago da freguesia. Esta festa, que se realiza a 11 de Novembro, tem uma das tradições mais simpáticas deste país, pois não conheço lugar algum, onde o convívio seja tão animado. Esta tradição assenta no seguinte:

O GAITEIRO

O gaiteiro, é uma pessoa que toca gaita-de-foles. Então, na manhã do dia 11 de Novembro, está à entrada da aldeia, um grupo de homens que aguarda a sua chegada e a anuncia com fogo de artificio, afim de transmitir à restante população.

Após a recepção e familiarizado o gaiteiro, vão-lhe ser ensinadas as cantigas da aldeia. Caso o gaiteiro já cá estivesse em anos anteriores, pois esta lição nada mais é do que uma recapitulação, onde numa simples volta a recordará. Mas o pior, é quando o gaiteiro é novo, que nunca ouviu as músicas da terra. Este mais esforço e empenho requer para aprender. Então os homens presentes, cantam as cantigas do S. Martinho para afinar e levar ao compasso desejado o artista.

O CORO

O coro, assim por mim designado, é um grupo de homens, expontâneo, não constituído anteriormente, normalmente homens de Maçores, que sabem, as musicas da festa e que ao som da gaita de foles, entoam os hinos locais, em vozes graves, em compasso lento, arrastado e em muitas vezes, descoordenado.

O coro, acompanha quase sempre o gaiteiro, sendo excepção a procissão, e a caldeira pelas ruas da freguesia. Neste coro, não existe um mínimo nem máximo de elementos, participando nele, todos quantos queiram acompanhar a caldeira e o gaiteiro.

A CALDEIRA

A caldeira é um recipiente metálico, de forma cilíndrica estanque e construído de material zincado. Tem uma asa ou alça metálica, fixa e arredondada. É usada frequentemente, nos meios rurais com o objectivo de cozer os alimentos (nabiças, nabos, batatas,) para o gado muar e asinino.

Em Maçores, a caldeira vai ser um objecto fundamental nas festas de S. Martinho, porque nela é que irá ser depositado esse liquido que neste dia se prova, como diz o velho ditado: " No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o vinho."

O ENCHER E O BEBER DA CALDEIRA

Como já se referiu, a caldeira vai ser o contentor do vinho. Então, dois homens, com a ajuda de um pau ou vara, segurando cada um nas extremidades, vão colocar a vara de madeira, pelo interior da alça e transporta-la pelas artérias da aldeia, enquanto que seguem á sua rectaguarda, o coro de homens e o gaiteiro.

Pronta então esta formação, dá-se início ao enchimento da caldeira. Assim, este grupo, desloca-se pela aldeia fora, com a finalidade de encher a caldeira nas adegas dos produtores de vinho locais, que pouco a pouco, a vão atestando. Sempre nestas deslocações, a caldeira é acompanhada pelo coro e pelo gaiteiro.

Engraçada é, a forma de como se deve beber, segundo a tradição, pela caldeira. Então, a caldeira é colocada no solo. O que nela for beber, terá de colocar os joelhos no chão e inclinar-se sobre ela, introduzindo no interior do aro superior a cabeça e no cimo do vinho os lábios e pelo método da sucção, aspira o liquido. Desta forma, e como se diz por cá, "beba, que não beba, mergulhar, vai ter que mergulhar".Quer isto dizer, que pelo menos, tem que por os lábios no vinho.

O MAGUSTO

O magusto realiza-se depois da eucaristia e da procissão. As pessoas que querem participar reunem-se, normalmente no Lugar da Eiras, por ser um espaço tranquilo, óptimo para este tipo de convívio. Então são trazidas as castanhas e a palha que servirá para as assar. Esta última é espalhada no chão e as castanhas espalhadas sobre a palha. Incendeia-se e começa-se o assar das castanhas.

Logo que as primeiras castanhas estejam assadas, os participantes, aproximam-se do extinta fogueira e retiram-nas, consumindo-as em livre associação e feliz convívio entre todos até que se acabem as castanhas, fazendo, portanto, mais fogueiras. Durante o magusto, está presente a caldeira e o gaiteiro. A caldeira, desta vez, está colocada no chão, disponível para qualquer pessoa que queira beber. O gaiteiro, toca as musicas que conhece, tendo que, mais frequentemente, tocar as musicas do S. Martinho, acompanhadas pelos homens que formam o coro.

Assim que haja cinzas resultantes da queima da palha, as pessoas, sujam propositadamente as mãos, de modo a ficarem negras, para depois, as irem a esfregar nas caras das pessoas que estão presentes. Ora, com isto, levamos a um convívio, onde todas as pessoas estão de igual, com as caras sujas do carvão, levando-as a designar por já terem a cara "enfarruscada" ou "enfurretada".

Por fim e para aquelas pessoas que não puderam estar presentes no magusto, assam-se castanhas, que depois são introduzidas em sacos e os homens transportam-nos ao ombro, pelas ruas de Maçores e que vão distribuindo e dividindo pelas pessoas que se abeirarem. Recordo, mesmo nesta distribuição, a caldeira e o gaiteiro estão presentes, podendo desta maneira, as pessoas que não fossem ao magusto, ver a caldeira e ouvir as nossas melodias ao som da gaita-de-foles e do coro masculino.

  • Ver mais em: www.macores.pt.vu
  • Nota: Brevemente postaremos alguns trechos do cancioneiro de Maçores.

Portanto não se esqueçam: as festas de S. Martinho de Maçores são já para a semana!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ultreia! Caminho sem Bermas



Será lançado no dia 19 de Novembro de 2010, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal de Valongo.
Estão todos convidados.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quadros da transmontaneidade (24)

As minas do Lagar Velho

As minas do Lagar Velho, para mim, que já não as vi em laboração, que já não vivi a febre do volfrâmio, eram um local de brincadeira e de conhecimento interior. Ir às minas era poder espraiar o olhar pelo anfiteatro dos montes e correr, desalmadamente, sem medo de tropeçar nos lisinhos terraços fronteiros. Ir às minas era ter a coragem de entrar nas catacumbas dos meus medos. Entrar nas minas era como descer em mim e, na minha escuridão, enfrentar as almas penadas que só a luz do dia consegue destruir. Entrar na escuridão das minas era penetrar no meu inconsciente, avançar de olhos arregalados, tacteante, ir ao encontro da fímbria de luz que rebrilhava lá ao fundo na fenda húmida da rocha e, depois de empunhada como espada flamejante, destruir todos as incriadas figuras que desejava ardentemente dominar.

ANTÓNIO SÁ GUÉ