Li alguns dos "quadros" e do que li ( e senti, como transmontano) tenho a certeza de que será um livro notável e um momento alto da transmontaneidade. Desejo ao Sá Gué as maiores felicidades como Autor e que continue a dar-nos esses momentos magníficos. Não vou estar presente mas associo-me totalmente ao evento. Daniel de Sousa
Pegando na certeza de Daniel Sousa, posso efectivamente confirmar que se trata de um livro notável. Estive na apresentação e já devorei parte do dito, relendo agora, noutro suporte, alguns trechos já hauridos aqui no blogue. Como tive oportunidade de dizer ao Autor, este é o livro que eu gostaria de ter escrito, se para tal tivesse capacidade. Assim, Sá Gué, poupa-nos o esforço: está feito. Está feito e deve funcionar como a Biblia da trasmontaneidade - quiçá de uma trasmontaneidade perdida, pois que muito destes "sentires" são já e apenas memórias, para aqueles que vão acima dos 40's e, sobretudo, dos 50's. Como é sabido, após os anos 70-início de 80 do séc. XX, foi-se verificando uma profunda alteração os modos de vida, em que pontuou a generalização da TV e das telenovelas, matando os serões à volta da lareira (sucedânea da ancestral fogueira tribal) onde se perpetuavam as tradições, sob as varas das chouriças e dos salpicões. A seguir, com a entrada na tal de CEE, deu-se a cutilada final no sector primário, matando-se definitivamente a ruralidade da nossa progénese. Deixou de se matar, com a sua licença, o reco, o fumeiro foi resistindo até se perderem os saberes das nossas mães e avós e, sobretudo, até virem as proibições das ASAE's, por fim veio a investida da globalização, com as consolas de joguinhos de computadores e internetes, onde acaba por se formatar a mente e a "cultura" tecnológica dos miúdos que ainda possam ter ficado por aqui -cada vez menos, ou já nenhum, na maioria das aldeias, contando apenas os filhos dos pais que vieram viver para a "vila". Dir-me-ão que tem de ser assim, os nossos miúdos não têm de ser diferentes dos restantes da mítica Europa (q se está a desmoronar), ou dos USA, ou de Tokyo, ou Hong-Kong, Melbourne, Taiwan, Monreal, Singapura... Pois não, na verdade têm de estar apetrechados para emigrarem para onde calhar... Será o "admirável mundo novo" que (n)os espera. Por isso, sendo este livro essencialmente um rosário de memórias pessoais, é-o também para as gerações mais velhas que viveram e sentiram (e sentem) o seu conteúdo, desde os modos de vida, as tradições, os medos, os lugares - pois até as paisagens estão a ser vorazmente transformadas... É, assim, como que uma candeia no fim do azeite, cuja luz bruxuleante se apagará com os portadores destas memórias milenares. Em suma, é um Requiem por uma trasmontaneidade perdida. N.
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Li alguns dos "quadros" e do que li ( e senti, como transmontano) tenho a certeza de que será um livro notável e um momento alto da transmontaneidade. Desejo ao Sá Gué as maiores felicidades como Autor e que continue a dar-nos esses momentos magníficos. Não vou estar presente mas associo-me totalmente ao evento.
Daniel de Sousa
Pegando na certeza de Daniel Sousa, posso efectivamente confirmar que se trata de um livro notável. Estive na apresentação e já devorei parte do dito, relendo agora, noutro suporte, alguns trechos já hauridos aqui no blogue. Como tive oportunidade de dizer ao Autor, este é o livro que eu gostaria de ter escrito, se para tal tivesse capacidade. Assim, Sá Gué, poupa-nos o esforço: está feito. Está feito e deve funcionar como a Biblia da trasmontaneidade - quiçá de uma trasmontaneidade perdida, pois que muito destes "sentires" são já e apenas memórias, para aqueles que vão acima dos 40's e, sobretudo, dos 50's. Como é sabido, após os anos 70-início de 80 do séc. XX, foi-se verificando uma profunda alteração os modos de vida, em que pontuou a generalização da TV e das telenovelas, matando os serões à volta da lareira (sucedânea da ancestral fogueira tribal) onde se perpetuavam as tradições, sob as varas das chouriças e dos salpicões. A seguir, com a entrada na tal de CEE, deu-se a cutilada final no sector primário, matando-se definitivamente a ruralidade da nossa progénese. Deixou de se matar, com a sua licença, o reco, o fumeiro foi resistindo até se perderem os saberes das nossas mães e avós e, sobretudo, até virem as proibições das ASAE's, por fim veio a investida da globalização, com as consolas de joguinhos de computadores e internetes, onde acaba por se formatar a mente e a "cultura" tecnológica dos miúdos que ainda possam ter ficado por aqui -cada vez menos, ou já nenhum, na maioria das aldeias, contando apenas os filhos dos pais que vieram viver para a "vila". Dir-me-ão que tem de ser assim, os nossos miúdos não têm de ser diferentes dos restantes da mítica Europa (q se está a desmoronar), ou dos USA, ou de Tokyo, ou Hong-Kong, Melbourne, Taiwan, Monreal, Singapura... Pois não, na verdade têm de estar apetrechados para emigrarem para onde calhar... Será o "admirável mundo novo" que (n)os espera.
Por isso, sendo este livro essencialmente um rosário de memórias pessoais, é-o também para as gerações mais velhas que viveram e sentiram (e sentem) o seu conteúdo, desde os modos de vida, as tradições, os medos, os lugares - pois até as paisagens estão a ser vorazmente transformadas... É, assim, como que uma candeia no fim do azeite, cuja luz bruxuleante se apagará com os portadores destas memórias milenares. Em suma, é um Requiem por uma trasmontaneidade perdida.
N.
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