sábado, 29 de maio de 2010

(foto para ilustrar o texto do Sá Gué)
...pois, decidiram deitar os foguetes lá para o cemitério,
de maneira que a praça ficou vazia...

Quadros da transmontaneidade (11)

A Festa: O Arraial - 2

A noite, finalmente, chegará. De passo apressado todos convergirão para a praça, uma estranha excitação percorrer-lhes-á a alma. Os mais novos, provavelmente, serão fervilhares hormonais, será como se naquela noite tudo pudesse acontecer, como se a namorada dos seus sonhos pudesse vir a revelar-se, finalmente poderá tocar-lhe, sentir a sua pele macia, poderá estar com ela aos olhos de todos. Os mais velhos, que já pouco esperam da vida, será algo mais racional, será um sentimento de relaxamento, como se a sua vida cansativa se pudesse alterar. Por uma noite poderão esquecer a fadiga de um ano inteiro.
As rotinas serão alteradas. Até os viciados da sueca da mesa do canto do "Café Central" desaparecerão para deixar sentar uns forasteiros, que ninguém conhece, com gosto pela cerveja e amendoins.
Na praça os alto-falantes continuarão a debitar decibéis até que a banda inicie a actuação da noite. De quando em vez uma voz masculina surgirá a anunciar a necessidade de o dono do carro de matrícula tal comparecer na cabine de som, para logo depois os roufenhos sons subirem de tom e voltarem a misturar-se com a vozeada do povo já aglomerado, saboreando a calidez da noite e o repasto da vida alheia.
(Continua…)


ANTÓNIO SÁ GUÉ

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quadros da Emigração - Londres

West Norwood School

Ontem, dia 26 de Maio, almocei na companhia do Tim, um dos responsáveis pelo Festival anual “Readers and Writers”, que ocorre em Lambeth durante o mês de Maio, e do Keith, o jovem bibliotecário da West Norwood Library, num restaurante Português de Lambeth. Sem ementa específica a lembrar a mesa tradicional portuguesa, bebi, contudo, um sumo Compal de maçã e o Tim dirigiu-se ao balcão para pedir um expresso e um pastel de natas. Ficou a saber que a delícia que degustava era o pastel mundialmente conhecido e muito apreciado. Pelos vistos, também por ele. Com aquela pausa para almoço, tipicamente portuguesa, partimos reforçados para a Escola Secundária (West Norwood School), onde nos esperava um grupo de alunos portugueses de mão-cheia. Entretanto, deixámos o Keith na biblioteca a preparar as perguntas que me haveria de colocar, ainda nessa mesma tarde, na sessão de apresentação de Outros Contos da Montanha e a repetir algumas frases em português para agraciar o público em sua língua materna.
Após alguns minutos de espera, vem ao nosso encontro Sam, que é o professor responsável pela realização do evento e acolhimento de Outros Contos da Montanha na Escola. À entrada da sala, duas adolescentes enquanto esperavam discutiam a formação do feminino referente à palavra escritor. Decidiram-se por escritora, mas riam-se dizendo que já não se lembravam. Não seria bem assim, porque foram os dois elementos com maior participação durante a sessão. Perguntaram-me de imediato qual o meu nome e eu perguntei-lhes um a um o de todos, querendo igualmente saber donde vinham. Chegavam de todos os lados, desde a Madeira, Lisboa, Barreiro, Setúbal, Porto… Eu apresentei-lhes a minha terra, a nossa terra, e falei-lhes da vegetação dos nossos montes, da urze e doutras plantas e das pessoas (transmontanas) que inspiraram estes contos. Disse-lhes que me identificava com aquele lugar e que lhes queria mostrar a sua riqueza, as suas tradições, o seu conto da tradição oral… E aí eles foram lendo em voz alta “O Rapaz e a Víbora” . Alguns com alguma dificuldade e outros de forma mais desenvolta, deram alma e vida àquele texto na sua sala de aula. Por fim, à laia de sumário feito no final da lição, perguntei se haveria um voluntário que quisesse resumir a história em apenas algumas frases. Fê-lo uma das meninas da indecisão entre escritor/escritora de forma escorreita e eficaz.
Penso que se colheram frutos, pois dali tiraram-se duas vertentes da mesma moral da história. Uma delas, saída da boca da rapariga e da narradora, diz que não se deve trair a amizade, neste caso o amor e a lealdade à nossa língua, porque é o meio por excelência de identidade e de cultura, ou seja, “a nossa pátria”. A outra, a que o professor proferiu em forma de “confessada” conversa: “Muitos dos alunos que aqui estiveram nunca se atreveram a participar numa aula, nunca leram em voz alta e nem sequer levantaram o braço”. E acrescentou: “Penso que para eles foi muito importante que a sua própria cultura chegasse, batesse à porta e se instalasse na sala de aulas”.
Eu digo obrigada a todos e espero que o interesse permaneça para que possam ler a versão integral do livro que se encontra na Biblioteca da escola.
Continuação de boa leitura!...

Reabilitação urbana do espaço envolvente do cemitério de Moncorvo

Planta da área intervencionada (Fonte: brochura intitulada "Viver Moncorvo", distribuída com o J.N. em 25.07.2009)

Arrancou há pouco mais de um mês a obra de reabilitação do actual campo da feira de Torre de Moncorvo, que envolve a parte de cima do cemitério (desde a sede da ACIM e a zona das Aveleiras) e a parte de baixo, onde dantes se localizou o bairro social do Fundo de Fomento de Habitação.
Esta obra prevê a concretização de um espaço multi-funcional, com o ordenamento do espaço da feira, arborização, estacionamento automóvel, um parque infantil, pequeno bar e, futuramente, a nova capela de Santo Cristo, a localizar no recanto em forma de anfiteatro localizado ao fundo da rua de Santiago (ver planta).

Estado dos trabalhos em finais de Abril

A obra implica amplos movimentos de terras (como as fotos documentam), muros de contenção em alvenaria de xisto e "gavions" de granito, pavimentos betuminosos e em granito, lancis, mobiliário urbano, iluminação pública, drenagens e zonas verdes.


Construção dos "gavions" de sustentação de terras

A entidade responsável da obra é a Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, que tem como parceira a Associação de Comerciantes e Industriais de Moncorvo (ACIM). O orçamento inicial do projecto é de 500.000€, sendo 350.000€ comparticipados pelo FEDER, 100.000€ pela administração local (CMTM) e 50.000€ pelo parceiro (ACIM).

Outro aspecto das obras nos inícios de Maio
Convém recordar que a zona dos tabuleiros superiores do lado Sul do cemitério foram, outrora umas belas hortas ajardinadas que pertenceram a grandes proprietários da vila, como Abel Gomes e António Montenegro. Nos anos 80 do séc. XX os terrenos foram adquiridos pelo município, que aí instalou o estaleiro municipal e parque de máquinas. Com a transferência desta funcionalidade para a zona da antiga estação dos caminhos de ferro, já nos anos 90, o espaço em causa passou a ser ocupado pela feira e, episodicamente, pelos circos ou diversões ambulantes.

Estado actual dos trabalhos - implantação de lancis.
Do lado de baixo do cemitério, até aos anos 70 do séc. XX, foram igualmente terrenos hortícolas, que confinavam com o grande olival de Santo Cristo, propriedade de António Montenegro. Após o 25 de Abril, na 2ª. metade dos anos 70, de forma a resolver-se o problema da habitação em Moncorvo (não esquecendo o regresso de muitas pessoas do antigo ultramar, além de um maior afluxo de pessoas das aldeias para a vila), foi aí construído um bairro social de casas pré-fabricadas, que existiu até há poucos anos.
Recentemente o referido bairro foi demolido e o espaço foi também utilizado para a feira. Contudo, desde há anos que existe um projecto de se localizar aqui uma nova capela de Santo Cristo, por iniciativa da associação de moradores do bairro do mesmo nome.
Relembramos que a antiga capela de Santo Cristo foi demolida nos finais do séc. XIX devido ao alargamento do cemitério.
Fotos: exclusivo para blogue "TORRE.Moncorvo"

domingo, 23 de maio de 2010

Quadros da transmontaneidade (10)

A Festa: O Arraial - 1

O arraial começou antes, muito antes, das luzes acenderem. Começou com longas discussões na casa da junta para concluir qual a banda filarmónica e a banda rock a contratar. Começou num conflito de gerações, benigno, para definir se o arraial devia ser abrilhantado, em primazia, pela banda de Sobrado, ou pelos AND SO ON, que nada tocam, apenas gritam, no dizer dos mais velhos.
Aixe... atão aquilo é que é música? – interrogava-se o Ti Marcolino, quando se lembrava das ondas sonoras de uma guitarra eléctrica, pouco afinada, que lhe entravam pelos ouvidos dentro e lhe esborraçavam os tímpanos.
A noite é pequena para conter duas bandas ao desafio, um conjunto “rockeiro” para satisfazer as vontades dos mais novos, a cantar em inglês, que é mais fixe, como se só essa língua carregasse poesia, e ainda por cima, a incomodativa mas sempre lucrativa arrematação das prendas que as raparigas casadouras haviam de oferecer.
Hoje, essas guerrilhas estão ultrapassadas, o poder local, conquista de Abril, toma decisões e paga.
(Continua...)

ANTÓNIO SÁ GUÉ

Isabel Mateus presente no festival de Leitores e Escritores de Lambeth (Reino Unido)

A nossa conterrânea e colaboradora deste blogue, Isabel Mateus, vai estar presente no prestigiado Festival de Leitores de Escritores de Lambeth, ou, em inglês, o Lambeth Readers and Writers Festival (Londres, Reino Unido), o qual está a decorrer desde o passado dia 19 de Maio.
Este certame realiza-se anualmente na autarquia de Lambeth, uma das mais densamente povoadas freguesias interiores de Londres, com uma população de cerca de 270.000 habitantes. Com base no censo de 2001, 38% da população de Lambeth são provenientes de minorias étnicas, a sétima percentagem mais alta de um bairro de Londres. Cerca de 150 línguas são aí faladas, sendo o Português, depois do Inglês, umas das mais faladas, a par do Ioruba (dialecto africano nigero-congolês), do Francês, Espanhol e Twi (dialecto africano da zona do Ghana). O território de Lambeth inclui outras circunscrições, tais como: Croydon, Merton, Southwark, Wandsworth e Westminster.
Entre outros escritores, ingleses e não só, Isabel Mateus foi uma das escolhidas e irá apresentar a sua obra "Outros contos da montanha", já no próximo dia 26 de Maio (próxima quarta-feira), na Biblioteca de Norwood Ocidental (West Norwood Library). Primeiramente estará numa Escola Secundária da zona, cujo coordenador, Mr. Sam Holmes, é um falante da língua portuguesa e conhecedor da obra de Miguel Torga que estudou na Universidade de Cambridge.
A obra a que a autora se irá referir ("Outros contos da montanha") já foi apresentada em Torre de Moncorvo, encontrando-se referenciada, por exemplo, em:
Aqui fica agora uma recensão para o público inglês, retirado do "site" do Festival de Lambeth (http://www.lambeth.gov.uk/Services/LeisureCulture/Libraries/ReadersWritersFestival.htm):

«Outros Contos da Montanha (Other tales of the Mountain) with Isabel Maria Fidalgo Mateus

Wednesday 26 May, 6pm at West Norwood Library.

"Outros Contos da Montanha" is a book composed by 36 short stories dealing with the rural life in North East Portugal. As a whole the stories represent the different aspects of the cultural and social life of the community since past times, passing through the harsh period of the Portuguese Dictatorship (1928 to 1974).

Isabel was a teacher in Portugal for 10 years before moving to the UK in 2001 where she completed a PhD and now lectures at Liverpool University. She is the author of three books. She has been working with Portuguese speaking schoolchildren in Lambeth and here talks about her book and the experience of emigration. Not only will Isabel be discussing her work but would also like to hear the stories of other Portuguese migrants for inclusion in her next book».

Esperemos que os moncorvenses, trasmontanos e portugueses em geral a trabalhar na zona de Londres, comparecem a este evento, apoiando a nossa conterrânea.
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Nota: incluímos aqui esta notícia e o excerto em inglês, uma vez que sabemos que o 2º. país com maior número de visitas ao nosso blogue (a seguir a Portugal) é o Reino Unido. - Um grande abraço para os nossos conterrâneos aí nessas paragens!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pessoas 3 - O barbeiro e o lavrador (era assim...)

  • Autor: António Basaloco (sénior)
  • Título: O barbeiro e o lavrador
  • Legenda: “Barbeando de terra em terra... de rua em rua... e de casa em casa. Até vai ao campo onde os lavradores descansam... enquanto fazem a barba”.
  • Local/data: Mós (concelho de Torre de Moncorvo), 2002

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pelos céus de Moncorvo

No passado fim de semana os céus de Moncorvo apareceram decorados com umas belas "aves" multicores, em voos planados sobre a serra e a vila. Num certame realizado pela WIND, Escolas de Parapente de Portugal e pelo clube local "Os Grifos do Douro Internacional" (sedeado em Freixo de Espada à Cinta), esta prova, acreditada pela Federação Portuguesa de Voo Livre, contou para os "rankings" nacionais, tendo continuidade agora noutras paragens:

Mirandela (10 a 13 de Junho), Montalegre (15 a 18 de Julho) e Linhares da Beira (Serra da Estrela, 2 a 5 de Agosto).


São conhecidas as especiais condições da serra do Roboredo para a prática desta modalidade, havendo, inclusive, alguns moncorvenses aficcionados, que há anos constituiram o clube "Ares da Minha Serra" (ver: http://www.aresdaminhaserra.pt/)
É um verdadeiro espectáculo ver as acrobacias destes pilotos, alguns dos quais chegam a percorrer muitas dezenas e até centenas de quilómetros, subindo a grandes altitudes, tirando partido das correntes ascendentes e das térmicas.

Sobre a emoção desta "vertigem azul", leia a reportagem do J.N. que destaca a participação da campeã de para-pente Sílvia Ventura - ela esteve cá!!! : http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Gente/Interior.aspx?content_id=1575074
Fotos de WIND (cortezia de Lino Miguel Teixeira, a quem agradecemos)

terça-feira, 18 de maio de 2010

E os meninos foram ao museu!

Correspondendo à chamada, o Museu do Ferro foi hoje amplamente visitado!
- Desde grupos séniores, com destaque para uma excursão de um Lar da freguesia das Chãs (Vila Nova de Foz Côa) a visitantes ocasionais, aproveitando o belo dia soalheiro, muitos foram os que neste dia mundial dos museus foram dar uma visitinha ao Museu do Ferro (ver "post" anterior).
Mas a visita colectiva mais numerosa e efectiva, ocorreu depois de almoço, integrada numa actividade coordenada pela estagiária do Museu, D. Amélia Cascais, em articulação com as senhoras professoras do Agrupamento Vertical de Escolas/Jardins de Infância e colaboração do pessoal do Museu e da Biblioteca Municipal. As crianças percorreram a exposição permanente, jardins e auditório, onde realizaram actividades relacionadas com a Primavera.

O numeroso grupo de crianças realizando uma actividade criativa no auditório do Museu.

"- E eu fui ao jardim do museu, giroflé, flé, flá!...."
Fotos: R.Leonardo/MF&RM

Hoje é Dia Internacional dos Museus!

Em 1977 o ICOM (Conselho Internacional dos Museus), organismo da UNESCO, determinou que o dia 18 de Maio fosse comemorado como Dia Mundial dos Museus, como forma de estimular e sensibilizar as pessoas para conhecerem melhor o património cultural (colectivo) que se guarda nestas instituições (Museus, Centros Culturais e afins).
Tempos houve em que os museus eram uma espécie de "templos" reservados apenas aos "entendidos" e às pessoas pretensamente cultas, onde se mostravam apenas valores culturais de valor excepcional (quadros de grandes mestres, mobiliário e jóias preciosas, normalmente procedentes de colecções da Igreja ou de grandes senhores). Progressivamente os museus têm vindo a democratizar-se, tal como o acesso à Cultura, neles cabendo até obras mais modestas, do quotidiano, ou simples resíduos, como "cacos" de cerâmica ou escórias de ferro, mas que nos dão informação sobre o modo de vida dos nossos antepassados.
É evidente que essas grandes obras (o que se chamava de "obras-primas") continuam a integrar as exposições de alguns grandes museus, mas hoje são explicadas de uma forma acessível, quer às pessoas comuns (que não os especialistas), quer, inclusivamente às crianças. Por isso, um sector fundamental dos museus de hoje são os chamados "Serviços Educativos".
O objectivo é que as pessoas tenham consciência da importância destes valores, que sintam que eles lhes pertencem, que os testemunhos resguardados nos museus fazem parte das suas memórias enquanto comunidade, e que os próprios espaços museológicos são como que "salas de visita" da sua casa, que é a sua terra, região, país, ou mesmo dessa casa maior que é o nosso planeta. - Em última instância, o objectivo dos museus hoje, é um maior envolvimento da comunidade nestes espaços (que lhes pertencem), é contribuir, dessa forma, para uma melhor cidadania.
Neste sentido, esteja onde estiver, talvez ao fim do dia (como forma de espairecer da jornada de trabalho), pegue na família e visite um museu perto de si!
Em Torre de Moncorvo tem à sua escolha:
- Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, no Largo Dr. Balbino Rego (hoje a entrada é gratuita) - tel. 279252724
- Museu do Vinho/Oficina Vinária, na travessa das Amoreiras [museu privado] - tel. 279252285
- Núcleo de Fotografia do Douro Superior, R. Dr. Campos Monteiro [museu privado] - tel. 279106274

domingo, 16 de maio de 2010

Quadros da transmontaneidade (9)

Durante a tarde, em hora que não fira o santo préstito, o futebol há-de ajustar contas com as gentes da aldeia vizinha, ou então, entre solteiros e casados a marcar rivalidades mais benignas, hoje inexistentes e, talvez por isso, substituídas pelas poeirentas mangas de motocross. À saída da igreja formar-se-á uma “ringoleira” de anjos e andores. A banda não faltará logo atrás do santo padroeiro e, um mar de gente segui-lo-á, engrossando à medida que as ruas forem sendo percorridas. As colchas alindarão as varandas e as ruas serão estreitas para tanto devoto. Um foguete, de quando em vez, aterrorizará a passarada e alegrará a canzoada fazendo-os crer que a caça começou. As rezas entremearão com umas marchas musicais em compasso retardante, também elas a fazer-nos regressar ao interior, à nossa condição de mortais, mas que depressa desaparecerá logo à noite, no arraial, depois de se acenderem as luzes. Nas encruzilhadas os mais velhos, que ainda usam chapéu, destaparão a cabeça à passagem do andor, os seus pegadores, à aproximação de um crente a pretender alfinetar a fita com um nota de 50, fazem-no descer ao nível dos humanos, obrigando-os a um exercício de equilíbrio e a um esforço suplementar.Terminará já com as sombras alongadas e uma descarga de morteiros anunciará a todos o seu fim. (Continua…)

ANTÓNIO SÁ GUÉ

sábado, 15 de maio de 2010

Pessoas 2- um sorriso

Autor: João Costa
Data e local : 12/04/2009, algures por Torre de Moncorvo.
Apetece-me dizer: Um sorriso capaz de desarmar os tons mais cinzentos de pintores palacianos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Igreja de Adeganha

A igreja a que se refere a senhora do post anterior é este belo monumento, num estilo românico tardio (já com portal em arco quebrado ou de ogiva), datável do séc. XIII. O padroeiro é Santiago Maior, pelo que se supõe que esteja relacionada com os famosos Caminhos de Santiago. Está classificada como Monumento Nacional desde 1944, através do Decreto n.º 33 587.
A merecer uma visita, aproveitando a tolerância papal (para quem não quiser ir tão longe a ver o Sumo Pontífice...)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pessoas 1 - "Indignação"

Mesmo longe, há conterrâneos e colaboradores que não nos esquecem. Aqui fica uma extraordinária foto de António Basaloco com que abrimos a secção "Pessoas", dedicada à gente da nossa terra. Obrigado Toninho, com um abraço aí para Inglaterra!


Ficha técnica:
  • Título: Indignação
  • Autor: António Basaloco (sénior)
  • Local e data: Adeganha (concelho de Torre de Moncorvo), 2006
  • Legenda: "...pois é. Agora ninguém vai à igreja. Antigamente inda vinha o padre d'Alfândega... agora nem esse cá vem... não le dá prás despesas..." [disse a senhora idosa]

(clicar sobre a foto, para a ampliar)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Jornada Ornitológica - breve reportagem

Teve lugar no passado sábado a 2ª. jornada de estudo e observação de aves promovida pelo PARM no âmbito das actividades do Museu do Ferro e da Região de Moncorvo, com apoio do município. Esta actividade foi algo prejudicada pelo dia de chuva, mas, mesmo assim, os participantes puderam assistir, da parte da manhã, a uma apresentação feita pelo Engº. Afonso Calheiros, sobre a grande variedade de aves da região (migradoras e residentes), através de uma apresentação Powerpoint. Da parte da tarde fez-se um passeio pela ecopista (em alternativa ao caminho da serra), até à "charca" (pequena barragem de regadio) da Quinta do Marmeleiro, com objectivo de aqui se ver uma colónia de mergulhões-pequenos que aqui se instalaram.

Através da apresentação vimos "desfilar" uma grande profusão de aves, muitas das quais avistamos no nosso quotidiano, sem que lhes conheçamos o nome. Afora os vulgaríssimos pardais, "uma ave muito urbana", no dizer do conferencista, e as andorinhas dos beirais que nos assinalam a Primavera, chamou-se a atenção para os estorninhos (que gostam de pousar nas antenas de televisão), as rolas turcas, ave exótica mas que se fixou na vila, por exemplo nos altos ciprestes do cemitério, as alvéloas (ou lavandiscas) de passo apressado pelas aradas ou mesmo pelas ruas da vila (vêem-se com frequência na Corredoura, em redor da zona da capela de S. Sebastião, ou na rua de Santiago). Mas há mais: os merlos, assíduos frequentadores dos jardins, os rabirruivos, os piscos, as milheirinhas (ou chamarizas), os pintarroxos, os pintassilgos, os rouxinóis, que se ouvem já desde Abril, tal como o cuco.
Falou-se ainda das aves noctunas (corujas, nomeadamente a coruja das torres, que também povoa a torre da igreja de Moncorvo), o mocho de orelhas, o bufo-real, os noitibós, etc., além das gralhas, corvos e similares. Aves "aquáticas", como os guarda-rios (também chamado pica-peixe e martim pescador), o "mergulhão pequeno" presente na charca da Qtª. do Marmeleiro, a garça e o "corvo marinho", aves peixeiras que sobem o Douro desde a sua foz até à nossa região. Ainda na zona pantanosa da Foz do Sabor podem ver-se três variedade de narcejas.
As cegonhas, branca e preta, esta celebrizada por se encontrar entre os obstáculos colocados à barragem do Sabor.

Mas o "desfile" ficaria incompleto sem as aves necrófagas e rapinas. O abutre do Egipto, outrora mais frequente no Sabor, tem visto aqui decrescer a sua população, mantendo-se no vale do Douro internacional, onde é ícone do respectivo parque natural. A águia real, a águia de Bonelli, a águia calçada (que se pode encontrar na serra do Roborêdo), o búteo (ou águia de asa redonda), além da águia cobreira, frequente na zona de Vale de Ferreiros, competem com milhafres, tantaranhões e falcões (falcão pequeno), em várias partes da região.

O Sr. Norberto Santos mostrou a panóplia de instrumentos que utilizava, juntamente com seu pai, o eminente ornitólogo Professor Santos Júnior, para pesagem e anilhagem de aves. Alguns manuais básicos de ornitologia foram igualmente mostrados, tendo em vista o incentivo desta prática junto do público em geral.

Nos jardins do Museu podem, nesta época, observar-se algumas aves de que se falou na apresentação. Destaque para os pintassilgos, melros, chamarizas (que nidificam nas trepadeiras do auditório), piscos de peito ruivo, rabirruivos pretos e, como ainda recentemente, bicos-grossudos. Tanto este espaço como o jardim municipal Dr. Horácio de Sousa, são dois pontos privilegiados para os aficcionados do "birdwatching", mesmo no centro da vila. Para quem pretenda completar o "catálogo", tanto a ecopista como o caminho da casa da floresta (na base da serra), ou eventualmente outros trilhos, são boas sugestões para um passeio ornitológico.
Aqui ficam mais algumas imagens do itinerário pela ecopista (sobre o antigo trajecto da linha do Sabor):
Apesar do tempo de chuva, um pequeno grupo de "resistentes" não quis perder esta oportunidade de vislumbrar as aves da região, através do olhar e do ouvido experiente do Engº. Afonso.

Mas o passeio foi também pretexto para se conhecer a flora da região e admirar a beleza dos nossos campos neste período primaveril. Só foi pena que o sol não tenha ajudado...

Observando os mergulhões na charca do Marmeleiro, perto da Quinta de Água.


Aves muito esquivas, mal dão pela aproximação das pessoas, os "mergulhões" ("Tacgybaptus ruficollis") fazem jus ao nome. E vão emergindo cada vez mais para o outro extremo do lago. Na foto está assinalada a presença de um dos espécimes.

Fica aqui mais uma proposta de actividade para um fim-de-semana. É essencial um bom par de binóculos e uma máquina fotográfica com objectiva apropriada. Boas observações!

Fotos de R.Leonardo, A.Calheiros e N.Campos

sábado, 8 de maio de 2010

Quadros da transmontaneidade (8)


Lá pelo Verão, quando os dias são longos e as noites curtas, agradece-se ao céus, por mais um ano de colheitas, por o bem ter vencido o mal, por ainda se estar vivo. Junta-se o sagrado e o profano, o material e o espiritual e faz-se festa ao santo padroeiro que tantas graças lhes trouxe ao longo do ano.Tudo é previsível: o programa é a tradição. Pela manhã cedo há-de um morteiro anunciar a alvorada. A banda há-de percorrer as ruas empedradas, uma leve brisa encarregar-se-á de fazer esvoaçar as fitas de papel que as engalanam, os sons melodiosos entrarão pelas casas dentro, as mulheres hão-de assomar aos postigos a vê-la passar, os homens, de passo estugado, marcharão logo atrás, à laia de procissão, e os velhos, já na praça, hão-de finalmente desentupir os empedernidos ouvidos com o presto final. Depois é a vez dos sinos repicarem, clamarem pelos fiéis, a igreja encher-se-á, o padre na prédica específica, que se impõe, valorizará os actos beatíficos do santo de tanta devoção e, para que ninguém falte, anunciará do “altar p'ra baixo” o horário da procissão, que também ela há-de percorrer as ruas durante a tarde que se anuncia tórrida. O altifalante, previamente instalado, ajudará a festa debitando catadupas de roufenhos decibéis ao longo de todo o santo dia.

(Continua…)
ANTÓNIO SÁ GUÉ

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ornitologia: jornada sobre Aves da nossa região

Realiza-se amanhã (sábado) uma jornada de divulgação sobre aves da nossa região, a qual terá início pelas 10;30h no Auditório do Museu do Ferro e da Região de Moncorvo, com uma palestra a realizar pelo Engº. Afonso Calheiros e Menezes (sendo mostrada uma apresentação Powerpoint), coadjuvado pelo Sr. Norberto Santos, membro da SPAE. Segue-se uma sessão prática de observação e identificação de aves nos jardins do Museu ("birdwatching").
Da parte da tarde haverá um passeio ornitológico com digressão pela ECOPISTA, com objectivo de observar as aves que nesta época do ano povoam a nossa terra (a este propósito, é preciso não esquecer que dia 13 de Maio é o dia mundial das aves migradoras).
Esta iniciativa é organizada pela associação do PARM, com apoio do município.
Para saber mais, ver:

http://parm-moncorvo.blogspot.com/2010/05/aves-da-nossa-regiao.html

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Memórias da linha do Sabor - estação de Carviçais

Estação de Carviçais em 27.04.2010 (foto de Rui Leonardo)

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Sobre a linha do Sabor, ainda há dias aqui escrevemos: "o lanço do Pocinho, Moncorvo e Carviçais (34km) foi aberto à circulação em 17 de Novembro de 1911. Custou cerca de 361.000$000 réis. O lanço de Carviçais foi aprovado em 29 de Fevereiro de 1908 e o projecto do lanço seguinte, de Bruçó a Brunhosinho em 31 de Dezembro de 1910".

Foi há cerca de 100 anos, na transição da monarquia para a República.

O combóio era, na época, a grande esperança de desenvolvimento regional, expectativas mineiras e cerealíferas à mistura. Hoje são os IC's, os IP's, auto-estradas, com outras minas ou talvez não. "Todola vida es sueño..." diria Calderón.

O que ficou? - vestígios e memórias. Chamam-lhe Património. "Património industrial", já que o combóio foi o símbolo por excelência da Revolução Industrial. Todavia a região nunca deixou de ser eminentemente rural. Seria utópico sonhar aqui Birminghan's, Ruhr's ou até mesmo Seixais e Barreiros. Dessa Revolução Industrial chegaram-nos apenas, tardiamente (ou quando foi possível), os fumos de um símbolo dos seus momentos primeiros: máquinas oitocentistas no dealbar do século XX e durante mais de três quartos desse século.

Mas, ficou-nos algo mais, felizmente: excelentes apontamentos escritos pela pena de escritores da região. Aqui ficam apenas dois excertos:

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1 - «Duma ponta à outra são cento e vinte quilómetros, mas quer para cima quer para baixo, aquilo era viagem que durava de manhã à noite. O combóio levava tudo, parava em toda a parte. Nas estações, quase todas isoladas na serra, as cargas e descargas faziam-se lentamente, mas em grande alvoroço, os carregadores a gritar e a correr numa pressa de teatro, temerosos de que o chefe os repreendesse ou o senhor maquinista se irritasse por ter de esperar. (...) De súbito o chefe apitava, a locomotiva respondia, os carregadores batiam uma continência marcial e o combóio arrancava, inclinava-se a fazer a curva, desaparecia entre os taludes. / Tantas vezes viajei nele que, numa ilusão de criança, o julgava coisa minha. O combóio da linha do Sabor existia para meu prazer, era o brinquedo em tamanho grande que me tinham dado e que, num ar de excitação e festa, me levava para a aldeia ou dela me trazia.» - RENTES DE CARVALHO, in: "A amante holandesa", Ed. Escritor, 2003.

Estação de Carviçais - os belos azulejos já foram rapinados das paredes exteriores!

2 - «1977. O combóio marcava o tempo, que bem podia ser adjectivado de medievo: as casas escuras e térreas, cobertas de telha vã, paredes de pedra solta, sem rebôco, partilhadas com os animais, os tavolados toscos e sujos varridos a vassoura de giesta, a iluminação de petróleo. (...) Horário de trabalho: de sol a sol. Horológios: os da torre da igreja, que beatificava as horas com as 'avé-marias', e o comboio, que as mundanizava. Era depois de o apito das dez (horas de terça) entoar pelos campos que se matava a fome e aliviava as dobradiças do moirejar. Era depois de passar o meio-dia, hora de Sexta, que se jantavam mais uns mordos. Era depois do apito das seis da tarde, horas de véspera, que se largava a rabiça do arado. / - Vamos parar, que já lá vai o comboio - dizia o João Caturra que, debaixo de um sol escaldante, segava desde os primeiros alvores do dia. E erguia o costado, deitava a mão às cruzes, e ficava a olhar ao longe aquele mostrengo negro como a fuligem que se aproximava lentamente. (...) ... o combóio já fazia parte da vida e da paisagem. (...) Apita Abílio!... - O Abílio era o maquinista natural da terra, que assim cumprimentava todos, e de uma só vez.» - ANTÓNIO SÁ GUÉ, in: "Contos dos Montes Ermos", ArtEscrita editora, 2007.

Por: N.Campos; fotos: R. Leonardo

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Flores de Constantino

A propósito deste maravilhoso tempo primaveril, em que as flores desempenham um papel preponderante (veja-se a quantidade de post's publicados recentemente têm aludido a elas), é justo lembrarmo-nos aqui do moncorvense "Rei dos Floristas", cujas flores tiveram fama internacional e de que, segundo a tradição, resta um bouquet feito por ele, guardado na Igreja da Misericórdia de Moncorvo.


Para ficar a conhecer mais sobre o percurso deste Homem extraordinário, é obrigatório ler o interessante estudo da Dra. Júlia de Barros Ribeiro (Biló): "Constantino, Rei dos Floristas. Uma quási-biografia", publicado em 2003, numa co-edição da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e Magno edições (de cuja contracapa se extraiu a imagem que vai acima, fotografia original da Drª. Helena Pontes/Chefe de divisão de Cultura e Turismo de Torre de Moncorvo).

Recentemente encontramos também uma referência a Constantino, na biografia "D. Luís", editada pelo Círculo de Leitores (2006), da autoria de Luís Nuno Espinha da Silveira e Paulo Jorge Fernandes, a propósito das cerimónias da recepção, em Lisboa, de D. Maria Pia, rainha de Portugal, em 1862:

"Os reis foram recebidos no Cais das Colunas, debaixo do pálio da Câmara Municipal, dirigindo-se ao pavilhão, aonde o presidente da Câmara Municipal (...) entregou as chaves da cidade ao rei que as ofereceu à rainha. Noticia ainda, o Jornal do Comércio, que «uma deputação da associação dos artistas lisbonenses ofereceu à augusta Rainha um belo ramo de flores artificiais feito pelo rei dos floristas portugueses, Constantino»." (in: Op. cit, pp. 57-58).

por: Leonardo

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ainda a pujança da Primavera...

Aqui fica um verdadeiro "bouquet" para você!
Este é o aspecto dos campos da nossa terra nesta fase do ano: ainda as "papoilas e outras cores de Trás-os-Montes" (com a devida vénia ao Dr. H.Carqueja) - foto de Engº. Afonso Calheiros e Menezes.
Também ainda (de novo) o "chupa-mel" (são as lilazes) - foto de Engº Afonso Calheiros

De tons liláceos, são as "tremocilhas" - Foto de Engº. Afonso Calheiros e Menezes

Também entre o roxo e o cor-de-vinho, as "arçãs" ou rosmaninho do monte - foto de Engº. Afonso Calheiros

Estevas em flor, com as cinco chagas de Cristo no meio, diz o povo - foto de Engº Afonso Calheiros

Canafrechas em flor, com o vale da Salgada em pano de fundo - Foto de Engº Afonso Calheiros
Uma "floresta" de embudes, marginam o caminho do Canafichal (que deveria ser rebaptizado de "embudal"), atrás do ginásio da Corredoura - foto de N.Campos

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Pujança absoluta - por Isabel Mateus

Rebentaram todas as nascentes e a água escoa-se livremente nas direcções talhadas pelo homem ou pelo seu próprio ímpeto

A pujança ABSOLUTA!

De manhã, ao acordar,

A sonoridade insistente e ruidosa

Dos pardais

Disputava o murmurejar de todas as nascentes.

O kuku do cuco

Espraiava-se pela tarde quente

A respirar a Primavera

Na flor da urze,

Na mera da esteva

E no cor-de-vinho da arçã.

O meu apetite da infância

Consumou-se na salada de azedas

Que arranquei à parede

E levei, num manhuço,

À hora do almoço,

Para dentro de casa.

Fonte do lameiro escavada na fraga e coberta pela lousa, cuja vegetação espessa lhe suga as entranhas.

O viço das azedas.
A inércia do Homem e a exuberância da Natureza. Se ainda por aqui andasse a Ti Grabulha, levantaria pedra por pedra até a pia dos porcos voltar a ter serventia.
.
por: Isabel Fidalgo Mateus (poema, fotos e legendas)

domingo, 2 de maio de 2010

Dia da Mãe

A todas as mães que voaram e a todas que ficaram, esta "Flor de Pinho", exposta pela primeira vez ao público no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, no final de 2009 e início de 2010.

sábado, 1 de maio de 2010

Quadros da transmontaneidade (7)


– Aquilo é que é uma banda... – dizia o ti Joaquim quando se referia à banda da aldeia vizinha para justificar o seu pensamento – e o mestre, aquele sim, até já tem o conservatório.
– Mas atão como é que a gente faz, se nem gente temos? – replicou o Ti Raposinho.
– Se não vai o Maomé à montanha vem a montanha ao Maomé. Arremedam-se soluções, chamam-se os músicos da terra vizinha e assim continua a parecer que a terra ainda tem viço.
Noutros tempos, quando a gente era aos punhados podiam faltar instrumentos, mas não faltavam rapazes a deixarem-se enlevar pelos ademanes amaviosos da musa Euterpe, aquilo mais parecia uma prova iniciática de adultidade. Hoje é precisamente o inverso, não faltam instrumentos, falta é gente para os tocar. Nesse tempo, mal a primeira penugem do queixal despontava e o buço começava a escurecer, a necessitar de ser untado com merda de pita preta, ou até antes, lá ia o raparigo à Casa da Junta receber as primeiras aulas de solfa do Ti Pincherina. Seja como for, não há povoado aninhado nos talvegues ou debruçado na encosta soalheira dos montes que não tenha, ou aspire a ter, uma grande banda. Aquele gosto pela música ninguém lhe conhece a origem, é grande, muito profundo, está na natureza das coisas: como poderiam as amendoeiras florir sem os sons mágicos da flauta? Como amareleceriam as mimosas sem os “sis” sustenidos do clarinete?
A origem era de certeza essa porque mal despontava a Primavera logo se ouviam as primeiras “opaniões” dos arraiais, das arruadas, das festas já ajustadas que vinham com o Verão e também das que faltava ajustar.


ANTÓNIO SÁ GUÉ
Foto: João Costa

Dia do Trabalhador e papoilas

1 de Maio, dia do Trabalhador.
Desde os tempos revolucionários que nos lembramos de ouvir dizer que o 1º de Maio era vermelho. Aqui fica, pois, uma foto de uma manifestação de papoilas, tipo grito vermelho num campo qualquer - com a proposta de uma visita à Exposição de fotografia "Papoilas e Outras cores de Trás-os-Montes" (de autoria de Hernâni Carqueja), patente no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo. Mais uma proposta, ainda para este fim de semana.
Porque não amanhã, domingo?

(foto do Dr. Hernâni Carqueja)

Mós (antiga vila medieval) - proposta de visita

Dos nossos conterrâneos e colegas do blogue de Mós (ver: http://fg-mos-vila-antiga-medieval-tmoncorvo.blogspot.com/) recebemos o postal que aqui postamos.
Mós, terra antiquíssima, a merecer uma visita. Fica a proposta para este fim de semana, com um abraço ao povo moseiro.

Transfiguração

"Junto dum seco, fero, estéril monte,
inútil e despido, calvo, informe,
da natureza em tudo aborrecido,
onde nem ave voa ou fera dorme,
nem rio claro corre ou ferve fonte,
nem ramo verde faz doce ruído..."
- Luís de Camões
E por alguém ter falado em "cicatrizes", aqui fica o registo do começo da "transformação" do cabeço da Portela ou da Derruída... Aí será construído o chamado "contra-embalse" (ou barragem de jusante do sistema hidroeléctrico do Baixo-Sabor), com respectiva subestação. Teremos ainda a nova estrada (IP-2) a atravessar o Sabor neste ponto, cortando o monte do lado esquerdo. Esta paisagem será profundamente tranfigurada, com betão, alcatrão, postes e cabos de alta tensão. Guardem, por isso, a memória do que era.