sábado, 29 de maio de 2010

Quadros da transmontaneidade (11)

A Festa: O Arraial - 2

A noite, finalmente, chegará. De passo apressado todos convergirão para a praça, uma estranha excitação percorrer-lhes-á a alma. Os mais novos, provavelmente, serão fervilhares hormonais, será como se naquela noite tudo pudesse acontecer, como se a namorada dos seus sonhos pudesse vir a revelar-se, finalmente poderá tocar-lhe, sentir a sua pele macia, poderá estar com ela aos olhos de todos. Os mais velhos, que já pouco esperam da vida, será algo mais racional, será um sentimento de relaxamento, como se a sua vida cansativa se pudesse alterar. Por uma noite poderão esquecer a fadiga de um ano inteiro.
As rotinas serão alteradas. Até os viciados da sueca da mesa do canto do "Café Central" desaparecerão para deixar sentar uns forasteiros, que ninguém conhece, com gosto pela cerveja e amendoins.
Na praça os alto-falantes continuarão a debitar decibéis até que a banda inicie a actuação da noite. De quando em vez uma voz masculina surgirá a anunciar a necessidade de o dono do carro de matrícula tal comparecer na cabine de som, para logo depois os roufenhos sons subirem de tom e voltarem a misturar-se com a vozeada do povo já aglomerado, saboreando a calidez da noite e o repasto da vida alheia.
(Continua…)


ANTÓNIO SÁ GUÉ

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