segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cacto & Cardos




Desculpem-me o abuso na utilização de mais um pouco de espaço, mas não quis deixar de registar a beleza dos espinhos da flora transmontana. O nome científico ficará para os especialistas, enquanto o sabor do figo-da-índia nos aguarda até Agosto.
Nota: Todas as imagens foram obtidas entre Sequeiros e Torre de Moncorvo, no passado dia 26.
Texto e fotos: João Costa

domingo, 27 de junho de 2010

Jornadas Culturais - Centenário da República

Tal como anunciado, decorreram ontem, na Biblioteca Municipal, as Jornadas Culturais para a comemoração do Centenário da República, uma iniciativa da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, com a colaboração da Fundação Eça de Queiroz.
Numa primeira parte, a Professora Doutora Fátima Marinho dissertou sobre “ A implantação da República e as suas representações na Literatura Portuguesa da Pós - Modernidade”, colocando em destaque Os Teles de Albergaria(1901), de Carlos Malheiro Dias, Próspera Fortuna (1910), de Abel Botelho, A Escola do Paraíso ( 1960), de José Rodrigues Miguéis, Vida e Morte dos Santiagos (1985) e O Segredo de Miguel Zuzarte (1990), de Mário Ventura, Levantado do Chão (1980), de José Saramago, Memórias Laurentinas (1996) e Fama e Segredo na História de Portugal (2006), de Agustina Bessa Luís, A Herança de D. Carlos (2008), de António Cândido Franco, e ainda alguns textos de diversos autores publicados em A República nunca existiu (2008).
Já num segundo momento, o público teve a oportunidade de ouvir “A República na Génese da Modernização Política Portuguesa (1910-2010)", numa intervenção do Professor Doutor Manuel Loff.
Mesa: Dª Helena Pontes, Engº Aires Ferreira, Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Professora Doutora Fátima Marinho e Professor Doutor Manuel Loff.

Professora Doutora Fátima Marinho e Professor Doutor Manuel Loff, docentes na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Txt. e Fotografias de João P. V. Costa

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Alma de Ferro: volta à cena, hoje, sexta-feira!!

Depois do sucesso retumbante da estreia, na passada sexta feira, dia 18 de Junho, o grupo de teatro Alma de Ferro, leva novamente à cena a peça "Falar Verdade a Mentir" de Almeida Garrett, hoje, no Celeiro (Rua Luis de Camões, junto à antiga estação da CP), pelas 21.30 horas.

Como sabem, Almeida Garrett é o mestre da dramaturgia portuguesa, no séc. XIX. Caso ainda não tenham assistido a esta excelente representação, não percam esta oportunidade!

Fotografia gentilmente cedida por Alma de Ferro.

Quadros da transmontaneidade (13)

O Arraial: a arrematação

De léguas a porras um foguete ribombará nos ares. Por conta do inesperado estrondo as consciências estremecerão e os olhares convergirão.
Lá pelas 23 horas a impaciência de muitos estará no auge: a banda de música pretenderá tocar a última rapsódia e despedir-se daqueles que a acompanharam ao longo do dia. Os AND SO ON continuarão a afinar as cordas, como que a justificar a sua existência. A rapaziada, que quer abanar o capacete, aproximar-se-á deles. O arrematador de serviço, imune a tudo, continuará a leiloar, a despachar para dizer bem e depressa, as últimas prendas ainda eiradas nas prateleiras improvisadas:
- Quanto vale esta? Olhem só esta beleza… - o desmesurado gabanço às ofertas transformadas em mercancia, continuará. As piadas, as simulações de entrega, o incentivo para dar mais 1, tudo ampliado pelo zurrante, o alto-
-falante, sobrepor-se-ão à zoada de fundo das conversas cruzadas.
O gabarrista de serviço sente que está sozinho e passará, finalmente, a palavra à banda que, em jeito de marcha triunfante, seguirá rua abaixo e entrará na carreira do Santos quando os AND SO ON afugentarem os mais velhos.

(Continua)

ANTÓNIO SÁ GUÉ

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Este Verão proteja a floresta contra os Incêndios!

(Clicar sobre as imagens para as ampliar)

Fonte: Comissão Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios

Jornadas Culturais - Centenário da República


Realiza-se no próximo sábado, dia 26 de Junho, no Polivalente da Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, as Jornadas Culturais, evocativas do Centenário da República.
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Ainda Saramago...

Ainda não houve tempo para as transmontaneidades desta semana, mas não queria deixar passar a oportunidade da viagem de Saramago ao nosso Concelho. Depois de registar as impressões da Vila e da Igreja dirige-se à Adeganha e diz assim:

Esta estrada vai dar à aldeia de Estevais, depois a Cardanha e Adeganha. O viajante não pode parar em todo o lado, não pode bater a todas as portas a fazer perguntas e a curar das vidas de quem lá mora. Mas como não sabe nem quer despegar-se dos seus gostos e tem a fascinação do trabalho das mãos dos homens, vai até à Adeganha, onde lhe disseram que há uma preciosa igrejinha românica, assim deste tamanho.
(...)
Enfim, a igreja é esta. Não caiu em exagero quem a gabou. Cá nestas alturas, com os ventos varredores, sob o cinzel do frio e da soalheira, o templozinho resiste heroicamente aos séculos. Quebraram-se-lhe as arestas, perderam feição as figuras representadas na cachorrada a toda a volta, mas será difícil encontrar maior pureza, beleza mais transfigurada. A Igreja da Adeganha é coisa para ter no coração, como a pedra amarela de Miranda.

Foto: N.Campos, anos 90

Torre de Moncorvo: incêndio de viatura na rua de Santiago

Carro a arder, na R. de Santiago, por volta das 17;57h - momento da chegada dos Bombeiros
Hoje, ao fim da tarde, perto das 18:00h, principiou um incêndio numa viatura estacionada na rua de Santiago, propriedade do sr. Geraldes, talvez com origem num curto-circuito na parte eléctrica do veículo. Alguns populares, ao verem sair muito fumo sob o capô, ligaram de imediato para os Bombeiros, que prontamente acorreram ao local. Nesse entretanto começaram a deflagrar-se as chamas vindas do motor do carro, tornando-se iminente o risco de explosão. Valeu a pronta intervenção dos bombeiros, que atacaram logo as chamas com jactos de espuma, fazendo depois o rescaldo. Aqui fica a reportagem:

17:58h - Depois do fumo, desenvolveram-se as chamas, mas os bombeiros já estavam lá

17;59h - Os bombeiros começam a abafar o incêndio

18;03h - o incêndio estava já controlado
Evitou-se o pior, pois uma explosão do depósito poderia contagiar as casas antigas das imediações e criar um incêndio de maiores proporções. As nossas felicitações aos BVM.

domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago - Viagem a Moncorvo


" A igreja está ali adiante, com o seu pórtico renascentista e a alta torre sineira que lhe dá um ar de fortaleza, impressão acentuada pelos extensos panos de muralha que envolvem o conjunto. Dentro são três as naves, demarcadas por grossas colunas cilíndricas. Trancada a porta, em tempo de alvoroço militar, muito teriam de roer os inimigos antes de poderem rezar lá dentro as suas próprias missas."



" De jeito renascentista é também a igreja da Misericórdia, e o púlpito de granito, com figuras em relevo, valeria, por si só, a paragem em Torre de Moncorvo."


" Daqui por alguns meses, tudo ao longe serão amendoeiras floridas. O viajante deita-se a imaginar, escolheu na sua memória duas imagens de árvores em flor, as melhores que tinha, escolheu amendoeira e brancura, e multiplicou tudo por mil ou dez mil. Um deslumbramento."

Textos de José Saramago, in Viagem a Portugal
Fotografia: João Costa

Quadros da Emigração - Job Centre Plus II

Assim se despovoa o reino ao cheiro de outras canelas…

Mais uma vez no Job Centre Plus.

Portugal estava ali representado por um ventre fecundo, bojudo, cujo “top” florido das papoulas resguardava, e uns olhos, de três anos, velados por entre pestanas recurvas, a fazer-lhe sombra.
A mãe vinha motivada para pedir outros apoios. Agora que estava no final do tempo de gestação, não teria disponibilidade física para se deslocar quinzenalmente ao JobCentre a fim de provar que se encontrava na mesma situação e à procura de emprego. O inquérito da funcionária para o pedido do novo tipo de subsídio escancarava-lhe a vida: há quanto tempo estava no Reino Unido, se já tinha vivido noutros países, quais as suas habilitações literárias, se tinha rendimentos no país de origem…
Mas nada do que ela dissesse responderia ao essencial do caso. O que afinal importava apurar eram os verdadeiros motivos que tinham dado origem à debandada. Por que motivo deixou a pátria, enfrentou um novo país sozinha e, sobretudo, vinha parir numa cama estranha e desacompanhada do autor da façanha? Talvez nestas circunstâncias não se façam públicas tais perguntas e se aja com mais recato e na intimidade. Porém, foi em plena rua e numa língua estrangeira, a Língua Portuguesa, que se contou a verdadeira “história”.
“Eu vivia em Lisboa. Trabalhava ao balcão. Até já ganhava bem, porque era chefe de loja. Mas sabe como é nas cidades grandes… Tudo é caríssimo! A renda da casa avultada. As creches levam preços altos. O pai tem uma licenciatura, mas também não lhe serve de muito. Pouco trabalha e não tem dinheiro. Vim sozinha, com a menina e grávida, ter com a minha irmã. Foi ela quem me animou para o fazer. Dizia-me maravilhas disto, que era muito melhor morar aqui. Saiba que quando nasceu a minha primeira filha fui trabalhar tinha ela apenas 4 meses. A partir dessa altura, tenho trabalhado incansavelmente, mas sem qualquer vantagem. Com o nascimento de mais outro filho, seria ainda pior a vida. Sem tempo para mim, nem para eles. Como já lhe disse, a minha irmã vive aqui com os seus cinco filhos. Não trabalha. Arranjaram-lhe casa, tem ajudas do Governo. Estou a viver com ela, enquanto não me dão também uma a mim. Não está fácil! Estou em lista de espera. Vamos lá ver!... Quero arranjar uma ocupação o mais depressa possível. Pode ser imediatamente após o nascimento do meu filho. Agora ninguém me dá trabalho. Em Setembro, espero realmente ir para o curso de Inglês, na esperança de que o JobCentre me destine uma carreira.”
A um mês do parto, estava sorridente, sentia-se confiante e protegida. A parteira já a tinha ajudado a pedir todos os tipos de subvenções a que tinha direito por lei, desde os cupões para o leite ao montante para o carrinho e o enxoval do bebé. Aliás, já recebera, atempadamente, tudo o que o pacote da maternidade lhe oferecia. Não era fácil, sobretudo porque ainda não tinha casa própria, mas sempre era melhor do que em Portugal!...
Recorrendo à saga da emigração, Portugal continua assim a exportar de leve o Presente e o Futuro da nação!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

"Falar verdade a mentir" - é hoje à noite, no teatro do Celeiro!

Clicar sobre a imagem, para a ampliar
O Grupo Alma de Ferro leva à cena, hoje à noite (21:30h) no teatro do Celeiro (Rua Luís de Camões, ou Rua da Estação, em Torre de Moncorvo), a peça "Falar verdade a mentir", de autoria do escritor e dramaturgo Almeida Garrett.
É a primeira vez que o Grupo Alma de Ferro vai representar esta peça (comédia) do clássico do Romantismo português que foi A. Garrett.
Apesar de se tratar de uma obra do séc. XIX, estamos em crer que a temática é perfeitamente actual!
Será, seguramente, um momento de boa disposição, com a categoria a que os Alma de Ferro já nos habituaram.
Compareça e apoie o nosso grupo de teatro!

III Encontro de Coros, em Torre de Moncorvo

Terá lugar no Cine-Teatro desta vila, no próximo dia 19 de Junho (sábado), pelas 22 horas, o 3º. Encontro de Coros, evento promovido pela Escola Sabor-Artes/município de Torre de Moncorvo.

Vão actuar, para além do já consagrado Coro da Escola Sabor-Artes (Torre de Moncorvo), o Coro Azul da Escola “Gira Sol”, com Fátima Serro (de Viseu) e o Grupo Coral dos Mineiros de Aljustrel (Aljustrel). Este último grupo, composto por 25 elementos, costuma actuar com o típico equipamento mineiro (fato-de-macaco, capacete e lanterna) evocando a dureza do trabalho das minas, como o sabem muitos dos nossos conterrâneos que andaram nas lides da Ferrominas.

A não perder!!


Para saber mais - ver: http://www.torredemoncorvo.pt/escola-sabor-artes-promove-iii-encontro-de-coros

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Igreja matriz de Torre de Moncorvo foi classificada como Monumento Nacional há 100 anos!

Fachada da igreja matriz de Torre de Moncorvo (foto de N.Campos)
A classificação do património edificado é um instrumento fundamental para uma política de preservação.
Em Portugal, como no resto da Europa, a tomada de consciência da necessidade de preservação do que então se chamavam os "monumentos pátrios", ocorreu ao longo do século XIX, decorrendo de uma reflexão e exigência de espíritos ilustrados, como foram Víctor Hugo em França, Almeida Garrett e Alexandre Herculano, em Portugal.
Apesar de tentativas de inventariação de alguns monumentos mais representativos ainda na 1ª. metade do séc. XIX, no caso português só a partir da 2ª. metade desse século, após a criação da Real Associação de Archeólogos e Architectos Civis e com a criação de comissões específicas para o efeito, se viriam a dar passos decisivos para a classificação de alguns monumentos principais.
Em 1901 constituiu-se um Conselho de Monumentos Nacionais, a quem se deve a definição de um conjunto de critérios para a classificação de monumentos (decreto de 30.12.1901).
Uma primeira lista foi publicada com o decreto de 10 de Janeiro de 1907, sendo ratificada pelo decreto de 16 de Junho de 1910, faz hoje 100 anos (ver em baixo), incluindo-se neste primeiro lote de monumentos a igreja matriz de Torre de Moncorvo:

Texto do decreto de 16 de Junho de 1910 /Repartição de Obras Públicas

Excerto da listagem anexa ao decreto, na parte em que figura a igreja matriz de T. de Moncorvo

PARA AMPLIAR - CLICAR SOBRE OS DOCUMENTOS

Ver ainda: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2010/06/igreja-matriz-de-torre-de-moncorvo-e.html

terça-feira, 15 de junho de 2010

Recém-criada Academia de Letras de Trás-os-Montes com moncorvenses entre os fundadores

Nasceu, no passado sábado, aquando da XXI feira do Livro de Bragança, a Academia de Letras de Trás-os-Montes.
Esta ideia, "apadrinhada" pela Câmara Municipal de Bragança, reuniu várias personalidades trasmontanas ligadas às artes e letras, entre os quais os nossos ilustres conterrâneos António Manuel Monteiro (grão-mestre da Confraria dos Gastrónomos e Enófilos de Trás-os-Montes, e autor de vários livros e artigos de especialidade) e Rogério Rodrigues (escritor e jornalista, tendo sido um dos fundadores do Público, tal como este jornal salientou em notícia sobre este assunto).

Aqui fica a notícia do Público (12.06.2010):

«'É uma forma de reafirmar as identidades que temos que são, no fundo, a nossa salvação'. Foi com este toque dramático que Amadeu Ferreira, dirigente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e desde há muito defensor da língua mirandesa, este sábado se referiu à Academia das Letras de Trás-os-Montes, na sessão que oficializou a sua criação, no Centro Cultural de Bragança. Uma academia que, segundo o autarca de Bragança, Jorge Nunes, será apenas a segunda do género inscrita na Academia de Ciências de Lisboa e que, de acordo com Adriano Moreira, um dos seus fundadores, “nos momentos de crise o recurso às identidades aparece como fundamental”. Por isso, “esta academia inscreve-se nesta consciência de que esse é o facto”. “O que está em crise na Europa e em Portugal é o Estado e não a identidade. E são as identidades que precisam de ser defendidas porque são a pedra de base para a reorganização que precisamos”, sublinhou, no seu discurso.
Esta Academia junta escritores como Barroso da Fonte (Montalegre), Ernesto Rodrigues (Torre de D. Chama), Modesto Navarro (Vila Flor) ou Jorge Tuela (Vinhais), ou o jornalista Rogério Rodrigues (que esteve na equipa fundadora do PÚBLICO e é de Torre de Moncorvo), e inclui já parceiras com a Academia Galega da Língua Portuguesa, a Casa de Estudos Luso-Amazónicos (Brasil) e a Academia de Letras e Artes de Bragança do Pará (Brasil).»

Artigo de António G. Rodrigues, in Público, 12.06.2010 > ver mais em: http://publico.pt/Cultura/academia-das-letras-de-trasosmontes-nasce-para-salvar-identidade-da-regiao_1441650

Veja aqui outras notícias sobre este acontecimento:

Rádio Brigantia: http://www.brigantia.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=4017

Portal da Língua /Associaçom Galega da Lingua: http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=2520:nasce-a-academia-de-letras-de-tras-os-montes&catid=2:informante&Itemid=74

Na foto: Medalha comemorativa da Fundação da Academia de Letras de Trás-os-Montes

Etnobotânica - um livro que importa reeditar

«Nas últimas décadas surgiu nos países mais desenvolvidos um vivo e apetente interesse pelo estudo e investigação, consumo e produção destas 'ervas' tão mágicas quanto úteis e imprescindíveis ao sentido da vida.
E, se em tempos remotos o misticismo das 'ervas' não ia muito além das utilizações práticas - medicinais, cosméticas ou aromáticas - mais tarde, com a arte dos jardins, acrescentou-se-lhes também o prazer da comtemplação e da estética enquanto plantas de jardim.
Actualmente, com a afirmação da ciência, a utilização sistemática dos recursos naturais e a valorização da busca da harmonia com a natureza, ficaram abertos amplos e crescentes campos de aplicação - na indústria farmacêutica, perfumaria e cosmética.
Em Portugal, o renovado interesse que se manifesta pelas virtualidades das ervas bravias comestíveis, a partir dos anos 80 coincide, como em todo o mundo, com o nosso máximo desenvolvimento socio-económico. E, em Trás-os-Montes e Alto Douro, onde as tradições e os saberes da memória colectiva fizeram perdurar as ousadas e fascinantes utilizações destas 'ervas' tão simples quanto altivas ou sublimes, o interesse científico, económico e aprazível é também real, frutífero e benéfico.
(...) E, foi no seio de um dos vários projectos [projecto "Plantas aromáticas, medicinais e condimentares/INTERREG II] que resultou esta pequena e modesta obra que queremos que seja oportuna e utilitária, não para mentes hábeis, mas para pessoas práticas.
No entanto, este livro resulta ainda dos mistérios subtis da filosofia do nosso povo que tantas vezes regulava a sua existência segundo o ritmo da natureza ou, sem qualquer constrangimento, daqueles ensinamentos sábios da maravilhosa 'arte de viver' (...)».

- Foi com estas sábias palavras que o nosso conterrâneo Engº. António Manuel Monteiro (técnico superior da DRATM) abriu o livro Etnobotânica, plantas bravias, comestíveis, condimentares e medicinais, de que foi co-autor, juntamente com o Prof. Doutor José Alves Ribeiro (UTAD) e Drª Maria de Lurdes Fonseca da Silva, numa edição de João Azevedo/Mirandela, datada de 2000.
Esta obra encontra-se infelizmente esgotada, embora possa ser consultada, juntamente com outros livros sobre esta temática, na exposição ora patente no auditório do Museu do Ferro (- o nosso agradecimento ao nosso amigo Américo Monteiro pelo empréstimo).

Além da caracterização científica de muitas espécies da nossa região, o livro referido tem o particular mérito de recolher muitos conhecimentos da chamada "sabedoria popular" (que o é, efectivamente), tanto a nível de utilizações gastronómicas como da farmacopeia. Muito pertinente, num tempo em que tanto se fala em "cultura imaterial".
Apelamos aos autories e ao editor, o nosso amigo Roger, que pensem numa rápida reedição, dado o especial interesse desta obra.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ervas aromáticas e medicinais, um sucesso no Museu do Ferro

Tal como aqui anunciámos, realizou-se no passado sábado, dia 12 de Junho, uma sessão sobre ervas aromáticas e medicinais, completada com uma mostra de vários espécimes (ao vivo e em fotografias), pelo Engº. Afonso Calheiros e Menezes, técnico do PNDI e presidente da direcção do PARM.

Esta foi mais uma iniciativa enquadrada no programa de actividades do Museu do Ferro, tendo como critério de oportunidade a celebração do Ano Internacional da Diversidade Biológica/2010, "decretado" pelas Nações Unidas em Outubro de 2009. Além disso, foi objectivo do PARM alargar um pouco mais a temática do Património Natural da região para a qual tem vindo a chamar a atenção, desde os aspectos geológicos à micologia (passeios micológicos, já com duas edições) e ornitologia (igualmente com duas sessões de observação de aves, realizadas nos 2 últimos anos).
É entendimento da associação PARM que o património cultural só faz sentido se tiver em conta o "background" em que se insere, e com o qual se relaciona e interage. - E, no caso do conhecimento sobre as ervas, há um vasto campo de saber popular que urge recolher e divulgar (etnobotânica).

Este evento contou com um público numeroso e muito interessado em saber mais sobre estas matérias. Além dos nomes comuns e científicos das plantas, foram dadas indicações sobre o tipo de utilizações, quer para tratamentos (plantas medicinais), quer para condimentos (aromáticas).

Para as pessoas mais ávidas em conhecer e em saber identificar as diversas espécies, foram expostos vários manuais, para consulta. Além de observarem as fotografias, os visitantes puderam ainda cheirar e mexer nas plantas colhidas no próprio dia, trocando informações com o Engº Afonso, sendo interessante notar que o público (sobretudo feminino e de mais idade) conhecia muitas destas plantas e suas utilizações.

Esta foi também uma oportunidade para os mais jovens se informarem sobre as virtudes de algumas plantas da nossa região, de cuja existência nem sequer suspeitavam. Cumpriu-se assim o objectivo de chamar a atenção para um tipo de património que nos cerca e no qual muitas vezes nem reparamos, nem valorizamos, por mero desconhecimento.

Desde as ervas e folhas para chás (infusões) aconselháveis para quase todo o tipo de situações (cidreira, fiolho, tília, limonete, hipericão, sabugueiro, camomila, arranca-pedras, etc.), aí encontrámos ainda as aromáticas utilizadas na cozinha ou na preparação de alimentos (louro, salsa, hortelã, erva-peixeira, tomilho, poejo, etc.), ou outras aromáticas que nos inebriam os sentidos, seja no monte, ou em jardins (arçã ou rosmaninho do monte, alecrim, bela-luz, esteva, carqueja, madressilva, etc.).
Mas havia ainda as comestíveis (espargos do monte, norça, azedas, beldroegas, etc.), numa vasta recolha feita com a finalidade de se chamar a atenção para a grande variedade de plantas existentes na nossa região e as suas múltiplas aplicações. Numa mesa à parte, figuravam algumas plantas tóxicas, como o embude, verbasco e outras, assim como as que, na crença popular, ora repelem as bruxas (arruda) ou as favorecem (trovisco).

Uma forma de os mais jovens aprenderem a reconhecer as plantas, será através da organização de herbários, complementados com álbuns fotográficos. Os manuais ou catálogos são preciosos auxiliares que podem ser levados para o campo, para uma melhor identificação "in loco".
No final da sessão, os visitantes puderam deambular pelos jardins do museu e identificar alguns plantas referencidas na exposição, ou outras.
Foram ainda servidas infusões de algumas ervas, como camomila, fiolho, hipericão.
A exposição fica patente ao longo do presente mês, no horário normal de abertura do museu (de terças-feiras a Domingos), devendo ser solicitada a visita na recepção, ou por marcação telefónica, no caso de visitas de grupo (tel. 279 252 724).
Fotografias de Higino Tavares, N.Campos, R.Leonardo/PARM

Valha-nos Santo António!

Imagem de Santo António guardada na sacristia da igreja matriz de T. de Moncorvo (foto R.Leonardo)

"Ó meu querido Santo António

já que és tão milagreiro

Para pagar às Finanças

Manda-nos muito dinheiro".

por: MARIA CARMELINA FERNANDES,

in Lágrimas e sorrisos, ed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, 2001

sábado, 12 de junho de 2010

Quadros da transmontaneidade (12)

O Arraial: a arrematação

A praça fervilhará de vida. Uma constelação de luzes, ao dependuro, a abanar levemente pela aragem que faz ”coscas” na face, aquecerá a noite e criará a ilusão da existência de um mundo iridescente, pleno de felicidade.
O alto-falante calar-se-á para dar lugar à banda de música. O mestre de braços no ar suspenderá o tempo por breves instantes e, quando lhe parecer todos estarem atentos, dará a entrada por que todos anseiam. Um enxame de gente convergirá para o coreto improvisado. O tachim… tachim … dos pratos e o pum… pum… do bombo penetrará na noite e todos se deixarão enlevar pelo mundo fantástico dos sentidos. Os mais ousados darão um pezinho de dança. Quando já todos estiverem rendidos à maviosidade daquele mundo, como que a provar que não há bela sem senão, logo o arrematador de serviço dará início à venda das prendas, e sempre com um ar galhofeiro dirá:
– Para aqueles que têm fome, aqui está este maravilhoso salpicão, uma dúzia de papos-secos, uma garrafa de vinho… tudo oferecido pela Maria dos Prazeres. Quanto vale?
O mais novo da Albertina, que anda “embeiçado” por ela, cheio de fome, abre a contagem. Levantará a mão, abrirá três dedos e dirá: “trinta”.
O do Acácio, que também não lhe desagrada, mandará mais dez. E num despique constante a conta vai crescendo, primeiro de dez em dez, depois de cinco em cinco. Quando um deles começar a dar sinal de fraqueza o arrematador de serviço, sempre atento aos pequenos sinais, continuará, agora ainda mais lentamente, de um em um para, finalmente, quando a carteira de um deles já não suportar o peso há-de entregar a almejada prenda por duas notas de 50 num verdadeiro clímax, de quem já não consegue suportar a força do elástico esticado até ao limite de ruptura.
A impaciência já sente no ar. Uns acordes da guitarra eléctrica aumentam a ansiedade dos mais novos que se vão aglomerando no outro lado da praça.

(Continua…)

ANTÓNIO SÁ GUÉ

O Hipericão

Pés de hipericão já secos e acondicionados à sombra (Sequeiros - Moncorvo).



Flor de hipericão.

Na impossibilidade de estar presente nessa interessante palestra sobre plantas aromáticas e medicinais, deixo este pequeno registo do Hypericum perfuratum L, com propriedades indicadas contra a ansiedade e depressão, além de que é um bom cicatrizante.

Ervas aromáticas e medicinais em exposição e "workshop" - é hoje, no Museu do Ferro!

Esta actividade consta de uma exposição fotográfica, palestra, seriação e mostra de espécies florísticas com propriedades aromáticas e medicinais, pelo Engº. Afonso Calheiros e Menezes, técnico superior do Parque Natural do Douro Internacional e presidente da direcção do PARM.

Contamos com a vossa presença, pelas 15.30 horas, no Auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.

Organização: Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, com apoio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e associação do PARM.

- Venha aprender mais sobre a flora e a etnobotânica da nossa terra!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Entre os dias 9 e 10 de Junho, decorreu mais uma edição da festa de Santa Leocádia, no alto da serra, onde se encontra um dos mais belos miradouros sobre a vila de Torre de Moncorvo.
Apesar do tempo "fosco" (como se vê na foto acima), e alguma chuva, mais de quatro centenas de pessoas estiveram presentes, participando na tradicional procissão pelos caminhos da serra (desde o S. Lourenço), participando nos momentos musicais e no salutar convívio a que não faltaram a merenda e os "preciosos líquidos", que não os do brinde de S. Pedro.
Também os Santinhos tiveram direito ao seu convívio anual, aqui todos reunidos na capelinha de S. Bento/Santa Leocádia, à espera da missinha campestre, montados em seus andores que mãos carinhosas se encarregaram de engalanar de belas flores.

Ah!, e também não podiam faltar as saborosas melodias de outros tempos, com os acordes magníficos da tuna popular da Lousa, uma orquestra de cordas formada por virtuosos instrumentistas, já "habituées" nestas andanças.

Pois é... e não se sabe porquê, mas o pessoal tem esta tendência para se concentrar junto das barraquinhas... Por isso, e às vezes, é que até a barraca abana!!

Momento musical abrilhantado pelo famoso conjunto Pyroplastos (de Moncorvo).

Mais uns passitos de dança, com gente de todas as idades...

E não podiam faltar os já veteranos Duff (Moncorvo)

Outras artes musicais: o jovem DJ Miguel Pina, sempre a bombar!...

Sabemos que houve ainda outras participações, nomeadamente do consagrado organista moncorvense David Caetano e dos MC de Trancoso, mas, infelizmente, o nosso repórter não conseguiu captar esses momentos.

A organização, como de costume, esteve a cargo da Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, que felicitamos por manter viva a chama desta "devotio" tipicamente moncorvense.

Nota: as fotos que ilustram este "post" são de autoria do Dr. Luís Lopes, tendo sido gentilmente cedidas pelo autor e pela Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, a quem agradecemos.

Ainda sobre esta festa nos anos anteriores, ver:

1) http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2008/06/torre-de-moncorvo-festa-de-santa.html

2) http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2008/06/festa-de-santa-leocdia-ii-procisso.html

3) http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2009/06/festa-de-santa-leocadia-2009.html

4) http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2009/06/festa-de-santa-leocadia-1979.html

Ainda a propósito do dia de Camões e de Portugal

Última bandeira monárquica, guardada no Arquivo Histórico de Torre de Moncorvo (a cor azul, do lado esquerdo, encontra-se muito desbotada)

A utilização política da figura de Luís de Camões dera-se nos tempos finais da Monarquia portuguesa, aquando do Ultimato inglês (1890) que rasgou o chamado "Mapa cor-de-rosa" (projecto de união dos territórios ultramarinos de Angola e Moçambique). Após a cedência do governo português de então à intimação britânica, os republicanos cobriram então a estátua de Camões de panos pretos.

Mais tarde, após implantação da República, o decreto de 12 de Outubro de 1910 viria a definir os novos feriados nacionais, em que se atribuem significados novos a alguns feriados anteriores ou a outros de cariz religioso (p. ex.: o Natal passou a celebrar-se como dia da Família). No entanto, neste rol, o dia 10 de Junho não estava ainda consagrado, preferindo o novo regime "recauchutar" em Dia da Autonomia e da Bandeira, o velho feriado de 1 de Dezembro (dia da Restauração da independência, em 1640). Todavia, no mesmo decreto, dava-se a possibilidade de os concelhos (através das respectivas câmaras) escolherem um dia de feriado municipal. A Câmara de Lisboa escolheu então para seu feriado municipal o dia 10 de Junho, em honra de Camões (por ter sido nesta data que morreu o autor de Os Lusíadas, na cidade de Lisboa, visto que a data de nascimento não é conhecida).

Com o chamado "Estado Novo" (1933-1974) o feriado de Lisboa (10 de Junho) acabaria por ser alargado a todo o império, como o Dia de Portugal e da Raça (lusíada, entenda-se). Nesta ocasião faziam-se grandes paradas militares e, na fase da guerra do ultramar, era neste dia que se condecoravam os soldados que se tivessem distinguido por feitos valorosos.

Após o 25 de Abril de 1974, manteve-se o feriado, agora com a designação de Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas (adoptada em 1978), de forma a homenagear também os emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. A data continuou a ser assinalada com marchas militares, com atribuição de condecorações e comendas honoríficas a certas personalidades, insígnias que são distribuídas pelo Presidente da República.

Apesar das críticas jocosas ao ritual do 10 de Junho, satirizadas, por exemplo, na "Valsinha das Medalhas" do cantor Rui Veloso, nem mesmo este resistiu à tentação de aceitar receber uma Grã Cruz da Ordem do Infante, que lhe foi atribuída pelo então Presidente da República, Dr. Mário Soares.

Para saber mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_de_Portugal