Mostrar mensagens com a etiqueta República. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta República. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Conferência de Rogério Rodrigues, encheu o auditório do Museu

Momento de abertura da sessão, pela representante do Município, Drª. Helena Pontes, Chefe de Divisão de Cultura e Turismo

A conferência de Rogério Rodrigues intitulada “Subsídios para a história da Maçonaria e dos ideais republicanos em Trás-os-Montes e Alto Douro”, realizada no passado sábado, dia 13 de Novembro, encheu por completo o auditório do Museu do Ferro.

Mais de meia centena de pessoas, algumas vindas de outros concelhos nordestinos, quiseram estar presentes, algumas mais esclarecidas, outras mais curiosas por saber algo mais sobre um tema ainda rodeado de uma certa aura de hermetismo.

Rogério Rodrigues começou por dizer que não se pode compreender a implantação da República sem se conhecer a acção da Maçonaria e da Carbonária. Para os mais interessados sobre o tema indicou alguma bibliografia, em que também se baseou para elaboração desta dissertação, além de uma lista (inédita) de nomes de maçons trasmontanos iniciados em finais do século XIX e inícios do séc. XX, entre os quais alguns moncorvenses, dados que lhe foram fornecidos por um historiador seu amigo.

O conferencista Rogério Rodrigues.
Referiu Rogério Rodrigues que, desde cedo, a Maçonaria foi diabolizada pelos poderes instituídos (nos tempos da Monarquia Absoluta e do chamado “Estado Novo”), sobretudo pela Igreja. Não obstante, mesmo esta instituição religiosa teve muitos sacerdotes e até alguns dignatários de mais relevo ligados à Maçonaria, de que deu vários exemplos, como o bispo Alves Feijó (bispo de Macau, Cabo Verde, Angra e Bragança), natural de Freixo de Espada à Cinta (nasceu em 1816 e faleceu em 1874). Mesmo no “Estado Novo”, dois grandes amigos de Salazar eram maçons: Albino dos Reis e o médico Bissaya Barreto.

Relativamente a Trás-os-Montes, e começando por Torre de Moncorvo, o autor referiu alguns moncorvenses que ainda no séc. XIX tinham aderido à Maçonaria, com destaque para Francisco Meireles, cujo nome está ligado à praça central da vila, por ter sido o benemérito que deixou a sua fortuna para a constituição de um Asilo para desvalidos nesta vila, hoje Lar Francisco António Meireles. Aliás, a benemerência associada à assistência social e à alfabetização foram sempre uma das preocupações dos bons maçons. Francisco Meireles foi um importante negociante e financeiro que tendo passado a sua vida fora da sua terra de origem (foi o fundador de uma “loja” maçónica em Aveiro), tendo enriquecido, acabou por legar em testamento avultada soma para a criação do referido "asilo" moncorvense.


A numerosa assistência, escutando atentamente.

Além de F. Meireles, são conhecidos os nomes de outros moncorvenses, como Cândido Dias, negociante no Porto, Joaquim Firmino Miguel, oficial da marinha mercante (iniciado em 1905), Luís Henrique de Almeida (professor) e Abel Gomes, iniciado em Moçambique em 1906, o qual, tendo regressado, viria a ser presidente de Câmara, no período da Primeira República, em Moncorvo. Abel Gomes foi quem inaugurou o Registo Civil nesta vila, ao registar um filho, logo após a República, quando as pessoas ainda estavam algo relutantes em relação a este tipo de registo, como dá testemunho o Abade Tavares, seu amigo, na monografia da Senhora da Teixeira. Rogério Rodrigues pensa que Abel Gomes terá sido um dos instaladores do Triângulo de Moncorvo, constituído em 1911, com o nº. 155, logo a seguir ao de Bragança e de Mirandela. Informou ainda que para se constituir um triângulo eram necessários três mestres. No entanto, os fundadores do triângulo de Moncorvo foram: José António dos Reis Júnior, um jovem advogado de 27 anos, Guilhermino Augusto Vaz, farmacêutico, Miguel Frederico Mesquita (com o nome simbólico de Ferrer), de 35 anos, lavrador. Surgem depois outros como António Alberto Carvalho e Castro, empregado dos Caminhos de Ferro em Miranda do Douro e Flaviano de Sousa, o empreiteiro que justou a construção do caminho de ferro de Pocinho a Torre de Moncorvo (linha do Sabor). O triângulo de Moncorvo teve uma vida curta, tendo sido declarado extinto desde finais de 1912, pelo decreto do GOL (Grande Oriente Lusitano) de 7.08.1913, visto que só um dos "obreiros" se mantinha activo, nessa data.

Momento de convívio, no final da sessão, nos jardins do Museu

Sobre outros famosos maçons de Trás-os-Montes, o conferencista mencionou: Alves da Veiga, natural de Izeda (Bragança), licenciado em direito, um dos fundadores do PRP (Partido Republicano Português), que esteve na intentona do 31 de Janeiro no Porto, pelo que acabou no exílio, tendo regressado com a República e vindo a desempenhar cargos de relevo depois de 1910; Emídio Garcia (fundador do liceu de Bragança); o já referido bispo Feijó (de Freixo de Espada à Cinta); Adelino Samardã, de Sabrosa, que esteve ligado à disseminação da Carbonária em Trás-os-Montes; António José Claro, de Chaves; Francisco António de Campos, barão de Foz Côa, riquíssimo proprietário, filólogo, que chegou a presidente da câmara de Lisboa e que foi Grão-mestre da Maçonaria lusitana; Antão de Carvalho, da Régua, um dos paladinos do Douro, que foi ministro da Agricultura na 1ª. República, que levou à criação da Casa do Douro, já no início do Estado Novo, entre muitos outros, terminando em Raúl Rego, de Macedo de Cavaleiros, o último Grão-mestre trasmontano.

Entre os focos mais activos, em termos de República e Maçonaria, destacou ainda as cidades de Vila Real e de Chaves, sendo daqui originário (e onde se terá iniciado) o Marechal Carmona, 1º. Presidente da República do Estado Novo, apesar de depois se ter distanciado.

A finalizar, Rogério Rodrigues disse que o fim da Monarquia começou, indirectamente, com um trasmontano, de Vinhais, o regicida Alfredo Buíça (que era carbonário), e acabou com outro trasmontano, que pouco nos ilustra, e que foi o Abel Olímpio “Dente de ouro”, natural dos Estevais da Vilariça (concelho de Torre de Moncorvo), e que foi o executor da famosa "Noite Sangrenta". - Nota nossa: Este episódio foi motivo de série televisiva há pouco transmitida pela RTP, com assinatura de Tiago Rodrigues, filho de Rogério Rodrigues.

.

Txt.: N.Campos

Fotos: R.Leonardo e H.Tavares

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Maçonaria e República em Trás-os-Montes e Alto Douro - conferência de Rogério Rodrigues no próximo sábado:

(clicar sobre o cartaz para AMPLIAR)

O nosso conterrâneo Rogério Rodrigues vai brindar-nos, no próximo Sábado, dia 13 de Novembro, com uma importante conferência que promete trazer dados novos para a compreensão do alastrar dos ideais republicanos por terras trasmontanas, normalmente consideradas a periferia da periferia. Neste processo a Maçonaria teve um importante papel, como se sabe. O que não se sabia era a amplitude dos seus efectivos, tais como os da Carbonária, em terras trasmontano-durienses. Através de uma paciente investigação, o jornalista e investigador de história contemporânea Rogério Rodrigues promete trazer-nos alguns dados novos.

Sobre o autor, embora dispense apresentações a todos o que o conhecem, é natural de Torre de Moncorvo, com raízes no Peredo dos Castelhanos, tendo aqui exercido actividade de professor de Língua Portuguesa no Ensino Secundário, por altura do 25 de Abril de 74. Enveredou depois pela carreira jornalística, tendo passado por jornais e revistas de referência como o Diário de Lisboa, O Jornal, revista Sábado, Público (grande repórter desde a sua fundação), a Visão, tendo integrado o gabinete de Projectos Especiais da LUSA. Esteve na fundação do semanário O Ribatejo e do GrandAmadora, de que foi director. Foi ainda director-adjunto de A Capital entre 2004-2005. Colaborou ainda em vários projectos televisivos e radiofónicos, com destaque para o Rádio Clube Português, em tempos mais recentes. Escreveu vários textos de filmes e documentários, designadamente "Colonias e Vilões", "Gente do Norte", "Encomendação das Almas" e de séries, como "Portugal de faca e garfo" (em parceria com Afonso Praça).
É autor de vários livros de poesia ("Livro de Visitas"), ficção ("A outra face da morte") e ensaio ("História da Educação em Portugal"), tendo prefaciado e apresentado inúmeros livros de autores vários.
Ganhou o prémio literário António Botto (poesia), como o original "Nome nomeio" e o primeiro prémio de jornalismo/Reportagem instituído em 1984 pela Associação 25 de Abril para o melhor trabalho sobre o 25 de Abril (título: "Abril: 10 anos depois").
Um dos campos de interesse de Rogério Rodrigues é a história contemporânea, sobretudo de Portugal, com destaque para a República, movimentos de esquerda (nomeadamente sobre o PCP) e a Maçonaria. (Fontes: Pacheco, F. A., Brito, L., Rodrigues, R., Torre de Moncorvo-Março de 1974 a 2009, entre outras).
Resulta deste breve apontamento curricular que a escolha não poderia ser melhor para nos falar destes temas.

A conferência realiza-se no auditório do Museu do Ferro, contando a iniciativa com o apoio do município. - É sábado à tarde, com início às 15;00 horas.

Ver mais nestes endereços:

CMTM (site): http://www.torredemoncorvo.pt/historia-da-maconaria-e-ideais-republicanos-em-destaque-no-museu-do-ferro-e-da-regi-o-de-moncorvo

Almanaque Republicano (blog): http://arepublicano.blogspot.com/2010/11/centenario-da-republica-em-torre-de.html

Mainstreet (blog): http://weber.blogs.sapo.pt/1110863.html

Agenda do Centenário (com mapa): http://agenda.centenariorepublica.pt/index.php?prop_1%5B%5D=0&prop_2%5B%5D=0&distrito=4&month=11&year=2010&option=com_content&view=article&id=47&Itemid=1

terça-feira, 19 de outubro de 2010

República comemorada com livros, revista e uma exposição de jornais da época

No passado fim-de-semana e no âmbito das comemorações da implantação da República em Torre de Moncorvo promovidas pelo município, decorreu no auditório da biblioteca municipal o lançamento de dois livros e de uma revista, além de uma exposição de primeiras páginas de diversos periódicos que se publicaram na região entre 1910 e 1926.
Aqui fica a reportagem:

Dia 16.10.2010, 15;00h - O Presidente da Câmara, Engº. Aires Ferreira, abrindo a sessão de apresentação do livro "História política de Torre de Moncorvo, 1890-1926", de autoria de António Júlio Andrade (2º. a contar da direita), o qual seria apresentado pelo jornalista Rogério Rodrigues (segundo a contar da esquerda). O livro versa sobre os últimos anos da monarquia e todo o período da chamada Primeira República, no nosso concelho.

Momento de apresentação do novo número da revista da Associação dos Antigos Alunos e Amigos do ex-colégio Campos Monteiro, por Rogério Rodrigues, que foi o coordenador editorial da mesma. Esta revista é presentemente dirigida pela Drª. Júlia de Barros G. Ribeiro (1ª. a contar da direita), sendo o actual presidente da direcção da associação o Engº. Ramiro Salgado (2º. a contar da direita). A revista possui artigos de diversos autores, focando diversas realidades e personagens do concelho e da região, embora com um tema de fundo: "Ensino e República".
A revista, tal como o livro anteriormente referido, tiveram a chancela da editora Âncora, representada pelo Dr. António Baptista Lopes (1º. à esquerda).
Dia 17.10.2010 (domingo), 15;00h - O Sr. Presidente da Câmara abrindo a sessão de apresentação do livro de Adília Fernandes "História da Primeira República em Torre de Moncorvo, 1910-1926". A apresentação do livro coube ao Prof. Doutor Norberto Cunha (na foto acima, 2º. a contar da direita) que, numa extensa prelecção, fez uma caracterização da sociedade portuguesa na transição do séc. XIX para XX, bem como dos movimentos sociais e ideológicos, além de graves crises económicas, que vão estar em correlação com os acontecimentos que decorreram entre a queda da monarquia e o advento do Estado Novo, com o golpe do 28 de Maio. No que toca a este livro, a autora (na foto, a 2ª. a contar da esquerda), partindo das chamadas "fontes primárias" (livros de actas), procurou enquadrar os factos locais na História nacional do período considerado. O livro foi editado pela Palimage, com apoio do município, que também apoiou as publicações anteriormente mencionadas.

Paralelamente à apresentação de livros e revista referidos, esteve patente uma mostra de primeiras páginas de jornais da época.
É de destacar o numeroso público que esteve presente nestes eventos.
Fotos: cedidas por Biblioteca Municipal, a quem agradecemos.
________________________

sábado, 9 de outubro de 2010

Centenário da República comemorado na Escola Secundária de Moncorvo

Rogério Rodrigues (3º a contar da direita) proferindo a sua palestra

O agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo assinalou o centenário da República com um conjunto de actividades, de que destacamos a palestra, realizada ontem à tarde, pelo jornalista e escritor moncorvense Rogério Rodrigues.
A palestra, intitulada "A implantação da República em Portugal", teve lugar no polivalente da escola-sede do Agrupamento de Escolas, perante uma numerosa plateia de professores, alunos, funcionários e outros cidadãos que quiseram assistir. A apresentação do ilustre conferencista coube ao Director da Escola, Dr. Alberto Areosa, que explanou os objectivos destas comemorações e agradeceu ao grupo de História, na pessoa da professora Lucília e do professor Pimenta de Castro a oportunidade desta organização.
A seguir, Rogério Rodrigues dissertou sobre as causas que estiveram na génese da República, as intensas movimentações políticas do período que antecedeu a queda do antigo regime, precedido pelo regicídio (morte do rei D. Carlos) e toda a série de acontecimentos quer da Revolução (acções dos militares, com destaque para Machado dos Santos, das organizações secretas como a Carbonária e a Maçonaria, a que se juntaram depois as massas populares), quer do período político que se lhe seguiu até ao golpe de 28 de Maio de 1926, que levaria ao chamado período do Estado Novo. Passou em revista episódios como o "golpe das Espadas" que levou à ditadura do general Pimenta de Castro (parente do Dr. António Pimenta de Castro, professor na Escola Secundária de Moncorvo) e o da célebre "camioneta fantasma" que numa noite tratou de matar a maioria dos principais vultos do 5 de Outubro de 1910. Neste episódio lamentável, num tempo em que as divergências políticas se resolviam a tiro, participou um moncorvense da Cardanha, um certo Olímpio, conhecido como o "Dente de Ouro".

Aspecto da sessão, com numerosa assistência de professores e alunos

No final da palestra, o professor Pimenta de Castro prestou vários esclarecimentos sobre a simbologia das bandeiras, quer da Monarquia (a azul e branca), quer da Republicana, que se mantém hoje como a bandeira nacional. É de salientar que nem todos os republicanos estavam de acordo com as actuais cores da bandeira, como era o caso do poeta Guerra Junqueiro, natural do vizinho concelho de Freixo de Espada à Cinta, que defendia a manutenção das cores azul e branca, retirando apenas a coroa real e se colocasse no seu lugar a esfera armilar, com 5 estrelinhas verdes e vermelhas, a evocar o 5 de Outubro. A esfera armilar viria a ficar em fundo, como se sabe, mas as cores acabaram por ficar a verde e vermelha, como símbolos da Esperança e do Sangue dos heróis, se bem que essas eram as cores de uma das lojas da Carbonária, associada inclusive ao Iberismo.

No final da sessão, todos cantaram o hino nacional, uma marcha composta por Alfredo Keil, em 1890, em reacção ao Ultimato inglês sobre as nossas colónias africanas, e que, à semelhança da Marselhesa (hino francês) se intitulava "A Portuguesa", sendo logo adoptado pelos republicanos como o seu hino militante.

Txt. e fotos de N.Campos

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Uma obra da Primeira República em Carviçais (1912)

E ainda a propósito de República e de inaugurações, aqui fica uma obra, notável para a época, na aldeia de Carviçais: o chafariz das traseiras da igreja, encimado por um belo gradeamento em ferro forjado. É possível que a guarita que faz de urinol (mesmo no limite do lado esquerdo da fotografia) corresponda também à mesma empreitada, o que revela uma preocupação sanitária e de incentivo ao civismo, pois o que era normal, nesses tempos, era urinar à esquina da canelha.
Também nos tempos em que não havia água canalizada, o chafariz na praça era um grande feito de natureza social.
É de supor que a obra fosse já uma decisão da junta saída do novo regime, sendo concluída em 1912, como atesta a inscrição da "Junta de Paroqia [sic] de Carviçaes", empenhada em marcar a diferença. O belo escudo da "Republica Portugueza", em ferro fundido deve ter sido encomendado às fundições que havia na cidade do Porto ou arredores, mas é de crer que o trabalho de ferro fundido seja obra de ferreiros locais.
Txt. e fotos: Nelson Campos

5 de Outubro - inauguração do Largo da República

Alguns momentos da inauguração do novo Largo da República, entre o cemitério municipal, Rua de Santiago e o Bairro do Santo Cristo:

Discurso do Sr. Presidente da Câmara, ladeado pelos vereadores António Moreira, Alexandra Sá e José Aires.

Vista geral do novo espaço, em fase de conclusão - falta a arborização e ajardinamento (estando prevista uma capela no extremo do lado Nascente)



Uma placa toponímica ficou a assinalar a nova designação.

Fotos: 1ª e 2ª foram gentilmente cedidas pela divisão de Cultura e Turismo do Município, a quem agradecemos; as restantes são do Arquivo de Reportagens deste Blogue.

Toponímia assinala centenário da República em Torre de Moncorvo

(clicar sobre a imagem para a ampliar)

O novo "Largo da República" fica do lado Norte do cemitério municipal, onde estava o desaparecido bairro social (casas pré-fabricadas).
Recordemos que noutros tempos também a actual praça Francisco Meireles (no centro da vila), se chamou Praça da República. Houve ainda uma Rua da República, que mais não era do que a ruela que liga a actual avenida Duarte Pacheco ao largo Dr. Balbino Rego, topónimo este que rapidamente cairia no olvido. Também se tentou renomear a Rua das Flores em Rua 5 de Outubro, mas mais uma vez não pegou, já que o topónimo antigo acabou por prevalecer na memória popular, acabando restaurado por uma comissão de toponímia municipal.
E assim foi que a toponímia republicana de Moncorvo se evaporou de todo, até ao presente Largo da República, que hoje assim se "baptiza".

Acrescentamos que se ainda existisse a antiga casa de Miguel Mesquita, na Corredoura, aí se deveria também fixar uma placa alusiva a este convicto republicano dos de antes de 5 de Outubro.

Ver mais em: http://www.torredemoncorvo.pt/comemorac-o-do-5-de-outubro-em-torre-de-moncorvo

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Jornadas Culturais - Centenário da República


Realiza-se no próximo sábado, dia 26 de Junho, no Polivalente da Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, as Jornadas Culturais, evocativas do Centenário da República.
.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Em ano de República - a defesa de Guerra Junqueiro

A propósito das comemorações do Centenário da implantação da República (1910-2010), recebemos da nossa conterrânea e colaboradora Drª. Júlia Ribeiro, este excerto da defesa do poeta Guerra Junqueiro, nosso quase-conterrâneo (nasceu aqui ao lado, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, de família oriunda de Ligares):

Em 10 de Abril de 1907 Guerra Junqueiro é condenado pelo tribunal do Porto a 50 dias de prisão, por ter injuriado o rei no jornal A Voz Pública (2 de Nov.º de 2005).

Defesa perante o tribunal

Acusam-me de injúrias ao rei de Portugal. Porquê? Porque chamei à sua realeza uma tirania de engorda e vista baixa. Injuriar é caluniar. Sendo incapaz de calúnias, sou incapaz de injúrias. [...]

Eu não aludo à vida íntima do Sr. D. Carlos. Aludo, é o meu direito e o meu dever, à sua vida de monarca. Ora a história do rei de Portugal, a todos manifesta, em quatro palavras se desenha: Incúrias e desmandos, arbítrios e bocejos. É a verdade clara, verdade autêntica, verdadeira, sinistra. [...]

Eu bradei-a e hei-de bradá-la até à morte. Quem mo impede? A lei? Se a lei, diante dos actos de um homem, nocivos à existência de quatro milhões de criaturas, me tolhe o direito de os combater e condenar, se a lei me obriga a ser injusto e a ser indigno, renego a lei, odeio a lei e não a cumpro. Porque não há lei de tirania que me obrigue a faltar à lei suprema da verdade. [...]

Todas as tiranias são execrandas, porém esta, que nos calca, além de execranda, é vergonhosa. Não lhe movem sequer as fúrias, nem a ambição de uma grandeza terrena nem as labaredas de um fanatismo alucinado. Não dilata os olhos nem para Deus nem para o mundo. Crava-os unicamente em si, no seu egoísmo céptico e vulgar. É, renovo a frase, a tirania de engorda e de vista baixa. [...]

Jesus, o santo ideal, o santo misericordioso, invectivava os déspotas, os fariseus e os escribas, com palavras candentes de indignação e de rigor. Perdoou injúrias e suplícios, sacrificando-lhes a verdade. A verdade bradou-a inexoravelmente, e por ela morreu, de morte infame e divina, entre dois ladrões. Amarga-me a boca a palavra ódio, mas articulo-a aqui, diante dos homens e de Deus, sem contrição e sem temor. Eu odeio o Sr. D. Carlos, não com ódio sangrento ou com ódio de orgulho e de vingança. O meu ódio é bom, conforta-me e consola-me. Odeio o rei, porque amo a verdade e a minha Pátria.”

[GUERRA JUNQUEIRO]

[A Voz Pública. Porto, 11 Abr. 1907]

In: “1907 - No advento da República “ : mostra bibliográfica/ [ org.] Biblioteca Nacional; apresent. Jorge Couto; coord. Manuela Rêgo; Lisboa; BN, 2007; pp. 43-45

Nota: a gravura a cores que ilustra o "post" tem a ver com a questão da nova bandeira de Portugal, sendo, por isso, posterior a 1910, ou seja, posterior ao julgamento que aqui se descreve. É sabido que Junqueiro defendia a manutenção das cores azul e branca com o escudo das quinas, embora sem a coroa real, obviamente (fotografia da gravura de João Costa, a partir de reprodução que integrou uma exposição organizada pelo Sr. Arquitecto Keil do Amaral, inaugurada em 10 de Junho de 2008 no Museu do Ferro e da Região de Moncorvo)