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domingo, 20 de junho de 2010

Quadros da Emigração - Job Centre Plus II

Assim se despovoa o reino ao cheiro de outras canelas…

Mais uma vez no Job Centre Plus.

Portugal estava ali representado por um ventre fecundo, bojudo, cujo “top” florido das papoulas resguardava, e uns olhos, de três anos, velados por entre pestanas recurvas, a fazer-lhe sombra.
A mãe vinha motivada para pedir outros apoios. Agora que estava no final do tempo de gestação, não teria disponibilidade física para se deslocar quinzenalmente ao JobCentre a fim de provar que se encontrava na mesma situação e à procura de emprego. O inquérito da funcionária para o pedido do novo tipo de subsídio escancarava-lhe a vida: há quanto tempo estava no Reino Unido, se já tinha vivido noutros países, quais as suas habilitações literárias, se tinha rendimentos no país de origem…
Mas nada do que ela dissesse responderia ao essencial do caso. O que afinal importava apurar eram os verdadeiros motivos que tinham dado origem à debandada. Por que motivo deixou a pátria, enfrentou um novo país sozinha e, sobretudo, vinha parir numa cama estranha e desacompanhada do autor da façanha? Talvez nestas circunstâncias não se façam públicas tais perguntas e se aja com mais recato e na intimidade. Porém, foi em plena rua e numa língua estrangeira, a Língua Portuguesa, que se contou a verdadeira “história”.
“Eu vivia em Lisboa. Trabalhava ao balcão. Até já ganhava bem, porque era chefe de loja. Mas sabe como é nas cidades grandes… Tudo é caríssimo! A renda da casa avultada. As creches levam preços altos. O pai tem uma licenciatura, mas também não lhe serve de muito. Pouco trabalha e não tem dinheiro. Vim sozinha, com a menina e grávida, ter com a minha irmã. Foi ela quem me animou para o fazer. Dizia-me maravilhas disto, que era muito melhor morar aqui. Saiba que quando nasceu a minha primeira filha fui trabalhar tinha ela apenas 4 meses. A partir dessa altura, tenho trabalhado incansavelmente, mas sem qualquer vantagem. Com o nascimento de mais outro filho, seria ainda pior a vida. Sem tempo para mim, nem para eles. Como já lhe disse, a minha irmã vive aqui com os seus cinco filhos. Não trabalha. Arranjaram-lhe casa, tem ajudas do Governo. Estou a viver com ela, enquanto não me dão também uma a mim. Não está fácil! Estou em lista de espera. Vamos lá ver!... Quero arranjar uma ocupação o mais depressa possível. Pode ser imediatamente após o nascimento do meu filho. Agora ninguém me dá trabalho. Em Setembro, espero realmente ir para o curso de Inglês, na esperança de que o JobCentre me destine uma carreira.”
A um mês do parto, estava sorridente, sentia-se confiante e protegida. A parteira já a tinha ajudado a pedir todos os tipos de subvenções a que tinha direito por lei, desde os cupões para o leite ao montante para o carrinho e o enxoval do bebé. Aliás, já recebera, atempadamente, tudo o que o pacote da maternidade lhe oferecia. Não era fácil, sobretudo porque ainda não tinha casa própria, mas sempre era melhor do que em Portugal!...
Recorrendo à saga da emigração, Portugal continua assim a exportar de leve o Presente e o Futuro da nação!