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sábado, 13 de novembro de 2010

Maçores - festa de S. Martinho, hoje e amanhã

Bebendo da caldeira, de bruços, como mandava a tradição (foto de A.Basaloco)

Porque o dia de S. Martinho (11 de Novº.) foi quinta-feira, dia de trabalho para a maioria das pessoas, os dias principais da festa maçorana transitam para hoje e amanhã. Assim, é hoje que se realiza o magusto nas Eiras (à tarde) e a "procissão" do caldeiro do vinho do povo, fogo de artifício e animação musical (à noite) - ver Cartaz editado neste blog em 3.11.2010.
Para quem queira saber algo mais sobre Maçores recomendamos a leitura excelente monografia, de autoria da Doutora Ilda Fernandes, natural desta aldeia, intitulada: "Maçores, minha terra, minha gente" (edição da CMTM, 2003). Sobre esta festividade, diz a autora:

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“A festa de S. Martinho realiza-se em 11 de Novembro e é uma festa imbuída de grande originalidade, onde o sacro e o profano se misturam e completam numa simbiose perfeita.

A festa inicia-se no dia anterior à tardinha com a chegada do gaiteiro, dantes vinha dos lados de Miranda que com os jovens que o esperavam davam volta ao povoado a tocar gaita de foles e cantar cantigas características desta festividade.

No seu dia durante a manhã predomina a vertente religiosa com celebração eucarística e procissão onde impera o andor com a imagem do nobre santo.

É o poço de Maçores a festejar o seu orago.

Durante a tarde faz-se uma espécie de arraial e arrematação na rua Nova.

Entretanto os jovens e mordomos fazem nas eiras comunitárias um mega-magusto. Após serem assadas e ensacadas as castanhas enche-se uma caldeira com vinho e percorrem o povoado a distribuir os bilhós e vinho que é bebido pela caldeira, como manda a tradição.”

Capa do livro da maçorana Ilda Fernandes
É ainda Ilda Fernandes que nos diz que "durante o dia festivo, grupos do sexo masculino acompanhados do gaiteiro e ultimamente também pelo acordeão dão inúmeras voltas ao povoado a cantar cantigas próprias desta festividade" com destaque para "Era o vinho" e "Manuel Duarte".
Aqui fica a letra destas cantigas, enviadas pelo nosso amigo Filipe Camelo:
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Era o Vinho:

I

Era o vinho, meu Deus era o vinho

era a coisa que eu mais adorava

(bis)

Só por morte meu Deus só por morte

Só por morte o vinho deixava

(bis)

II

Ai eu hei-de morrer numa adega

Ai que o tonel seja o caixão

(bis)

O vinho seja a mortalha

Hei-de morrer com um copo na mão

(bis)

III

Ai minha sogra morreu ontem

Ai o diabo vá com ela

(bis)

Ai deixou-me as chaves da adega

Mas o vinho, bebeu-o ela.

(bis)

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Manuel Duarte:

I

Ai adeus ó Manuel Duarte

Ai amigo e companheiro

(bis)

Ai "alevanta-te" e vem comigo

Ai lá p´ró Rio de Janeiro

(bis)

Refrão

Manuel Duarte, foi p´ró Brasil

Chegou ao Porto e tornou a vir

Manuel Duarte, não embarcou

Foi o ingaije que o ingaijou

II

Ai adeus Manuel Duarte

Ai amigo e camarada

(bis)

Ai "alevanta-te" e vem comigo

vamos os dois seguir esta jornada

(bis)

Refrão

III

Ai cinco folhas tem o vime

Ai cinco amores tenho eu

(bis)

Ai quem gosta de mim são elas

Ai quem gosta delas, sou eu

(bis)

Refrão

Vídeos sobre a festa: www.youtube.com/filipemacores

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Agradecemos a Filipe Camelo as informações prestadas.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vem aí o S. Martinho de Maçores!

Para falar das festas de S. Martinho de Maçores, que se iniciam no próximo dia 11 de Novembro, nada melhor do que dar a palavra a um maçorano, o nosso Amigo e ilustre gaiteiro Filipe Camelo, a quem agradecemos a seguinte descrição, respigada do fórum de Maçores (www.macores.pt.vu):

Para quem não sabe, em Maçores celebra-se o S. Martinho, que é o orago da freguesia. Esta festa, que se realiza a 11 de Novembro, tem uma das tradições mais simpáticas deste país, pois não conheço lugar algum, onde o convívio seja tão animado. Esta tradição assenta no seguinte:

O GAITEIRO

O gaiteiro, é uma pessoa que toca gaita-de-foles. Então, na manhã do dia 11 de Novembro, está à entrada da aldeia, um grupo de homens que aguarda a sua chegada e a anuncia com fogo de artificio, afim de transmitir à restante população.

Após a recepção e familiarizado o gaiteiro, vão-lhe ser ensinadas as cantigas da aldeia. Caso o gaiteiro já cá estivesse em anos anteriores, pois esta lição nada mais é do que uma recapitulação, onde numa simples volta a recordará. Mas o pior, é quando o gaiteiro é novo, que nunca ouviu as músicas da terra. Este mais esforço e empenho requer para aprender. Então os homens presentes, cantam as cantigas do S. Martinho para afinar e levar ao compasso desejado o artista.

O CORO

O coro, assim por mim designado, é um grupo de homens, expontâneo, não constituído anteriormente, normalmente homens de Maçores, que sabem, as musicas da festa e que ao som da gaita de foles, entoam os hinos locais, em vozes graves, em compasso lento, arrastado e em muitas vezes, descoordenado.

O coro, acompanha quase sempre o gaiteiro, sendo excepção a procissão, e a caldeira pelas ruas da freguesia. Neste coro, não existe um mínimo nem máximo de elementos, participando nele, todos quantos queiram acompanhar a caldeira e o gaiteiro.

A CALDEIRA

A caldeira é um recipiente metálico, de forma cilíndrica estanque e construído de material zincado. Tem uma asa ou alça metálica, fixa e arredondada. É usada frequentemente, nos meios rurais com o objectivo de cozer os alimentos (nabiças, nabos, batatas,) para o gado muar e asinino.

Em Maçores, a caldeira vai ser um objecto fundamental nas festas de S. Martinho, porque nela é que irá ser depositado esse liquido que neste dia se prova, como diz o velho ditado: " No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o vinho."

O ENCHER E O BEBER DA CALDEIRA

Como já se referiu, a caldeira vai ser o contentor do vinho. Então, dois homens, com a ajuda de um pau ou vara, segurando cada um nas extremidades, vão colocar a vara de madeira, pelo interior da alça e transporta-la pelas artérias da aldeia, enquanto que seguem á sua rectaguarda, o coro de homens e o gaiteiro.

Pronta então esta formação, dá-se início ao enchimento da caldeira. Assim, este grupo, desloca-se pela aldeia fora, com a finalidade de encher a caldeira nas adegas dos produtores de vinho locais, que pouco a pouco, a vão atestando. Sempre nestas deslocações, a caldeira é acompanhada pelo coro e pelo gaiteiro.

Engraçada é, a forma de como se deve beber, segundo a tradição, pela caldeira. Então, a caldeira é colocada no solo. O que nela for beber, terá de colocar os joelhos no chão e inclinar-se sobre ela, introduzindo no interior do aro superior a cabeça e no cimo do vinho os lábios e pelo método da sucção, aspira o liquido. Desta forma, e como se diz por cá, "beba, que não beba, mergulhar, vai ter que mergulhar".Quer isto dizer, que pelo menos, tem que por os lábios no vinho.

O MAGUSTO

O magusto realiza-se depois da eucaristia e da procissão. As pessoas que querem participar reunem-se, normalmente no Lugar da Eiras, por ser um espaço tranquilo, óptimo para este tipo de convívio. Então são trazidas as castanhas e a palha que servirá para as assar. Esta última é espalhada no chão e as castanhas espalhadas sobre a palha. Incendeia-se e começa-se o assar das castanhas.

Logo que as primeiras castanhas estejam assadas, os participantes, aproximam-se do extinta fogueira e retiram-nas, consumindo-as em livre associação e feliz convívio entre todos até que se acabem as castanhas, fazendo, portanto, mais fogueiras. Durante o magusto, está presente a caldeira e o gaiteiro. A caldeira, desta vez, está colocada no chão, disponível para qualquer pessoa que queira beber. O gaiteiro, toca as musicas que conhece, tendo que, mais frequentemente, tocar as musicas do S. Martinho, acompanhadas pelos homens que formam o coro.

Assim que haja cinzas resultantes da queima da palha, as pessoas, sujam propositadamente as mãos, de modo a ficarem negras, para depois, as irem a esfregar nas caras das pessoas que estão presentes. Ora, com isto, levamos a um convívio, onde todas as pessoas estão de igual, com as caras sujas do carvão, levando-as a designar por já terem a cara "enfarruscada" ou "enfurretada".

Por fim e para aquelas pessoas que não puderam estar presentes no magusto, assam-se castanhas, que depois são introduzidas em sacos e os homens transportam-nos ao ombro, pelas ruas de Maçores e que vão distribuindo e dividindo pelas pessoas que se abeirarem. Recordo, mesmo nesta distribuição, a caldeira e o gaiteiro estão presentes, podendo desta maneira, as pessoas que não fossem ao magusto, ver a caldeira e ouvir as nossas melodias ao som da gaita-de-foles e do coro masculino.

  • Ver mais em: www.macores.pt.vu
  • Nota: Brevemente postaremos alguns trechos do cancioneiro de Maçores.

Portanto não se esqueçam: as festas de S. Martinho de Maçores são já para a semana!