sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ainda o acordo ortográfico…

Antes de mais devo dizer que não sou especialista em Língua Portuguesa, sou apenas utilizador da mesma, e porque não sou especialista estou completamente à-vontade sobre determinados pontos de vista. Não passam de mera opinião, posso dizer a maior das barbaridades, e provavelmente será, mas ninguém me poderá pedir explicações. Vale o que vale.
Defendo o acordo ortográfico, já o disse, vejo nele razões para existir. Poderão não ser as razões que deviam presidir para a defesa do mesmo, admito, mas vejo nele razões para ser assinado. Se me perguntarem se não me fere a grafia de “fato” para significar “facto”, respondo de imediato que me fere, e muito. Quando olho para um texto à luz da nova grafia, vejo-o cheio de erros, aliás, como todos. O que não acontecerá às gerações seguintes, de certeza.
Defendo-o porque penso que pode ser uma ponte entre os diferentes PALOP, ou pelo menos inspirador de pontes. Defendo-o porque acredito que num mundo cada vez mais global, onde o peso económico é cada vez mais determinante, será mais fácil defender a “Língua dos Lusos” (o tal lusitanismo de que falam os mais puristas), se formos muitos. Acredito que será mais fácil caminharmos juntos em vez de este retângulo continuar a caminhar sozinho, orgulhosamente só, para parafrasear alguém.
Poderão muitos dizer que essas questões, aquelas que atrás elenquei, não devem ser colocadas para defesa da língua. Devem colocar-se outros critérios, o critério sintático, o histórico, a latinidade, o berço, a génese… sei lá, não discuto, não sei discutir, deixo isso para os especialistas, mas defendo-o porque ninguém é dono da língua, a língua é de quem a fala, e os brasileiros também a utilizam.
Para terminar: não acredito na teoria da conspiração e do imperialismo brasileiro.

domingo, 25 de setembro de 2011

Quadros da Emigração – Por Uma Vida Melhor

A diáspora tem estado presente neste blogue através, sobretudo, dos “Quadros da Emigração”. Por esse motivo, achei pertinente aqui partilhar convosco o recente aparecimento deste testemunho histórico único.
A seguinte peça jornalística de Carina Branco sobre os bairros de lata de França, em Paris, durante os anos sessenta da emigração portuguesa massiva, conta com as fotografias da época de Gérald Bloncourt. Mas não só! O vídeo conta ainda com a revisitação, na actualidade, do mesmo local onde Bloncourt fotografou os portugueses e com eles confraternizou.
Neste vídeo vemos igualmente, pela primeira vez, a capa do livro “A Terra do Chiculate” a caminhar e bem viva por entre o fluxo da emigração em Handaia, 1965.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

III Aniversário do Grupo de Teatro Alma de Ferro

Celebrou-se no passado Sábado, dia 17 de Setembro, o 3º. aniversário do Grupo de Teatro Alma de Ferro, de Torre de Moncorvo. Depois de um breve balanço das actividades já realizadas pelo grupo, o Dr. Américo Monteiro, na qualidade de coordenador e encenador, agradeceu os patrocínios que têm recebido, nomeadamente do município de Torre de Moncorvo, entre outras entidades públicas e privadas.
Para quem estivesse à espera de uma exposição apenas de fotografias e recortes, esta exposição foi uma surpresa, uma vez que se apresentaram várias peças do guarda-roupa (em suportes escultóricos improvisados para o efeito), elementos de cenários das várias peças e, voilá!, a recriação de alguns dos momentos mais marcantes de cada peça, através dos respectivos actores, trajados a rigor. - Aqui fica um breve registo fotográfico:
Momento em que Américo Monteiro descerrou os painéis com recortes e fotografias alusivos às actuações do grupo, enquanto o "boneco" saído de uma mala do sótão (figura criada e interpretada por Esperança Moreno) o observa.

Vista geral da exposição, apreciada e altamente elogiada pelo Presidente da Câmara (em primeiro plano, na foto).

Outro aspecto da sala da exposição, em que se recriaram os cenários de várias peças, desde a "Lenda de Moncorvo", o "Consultório" (de A. M. Pires Cabral), "Falar Verdade a Mentir" (de A. Garrett), "Deus lhe pague!" (de J. Camargo), entre outras.

Excerto de "O Consultório", apresentada por A. Monteiro, com as actrizes Marilú e Esperança em cena.

Momento e cenário da peça "Deus lhe pague!", com o pedinte "Barata" (Luís Pires) à porta da igreja...

Mas o "momento alto" (também porque interveio do cimo das escadas) foi a aparição do escritor Campos Monteiro (interpretado por Camané Ricardo, tirando partido de algumas parecenças com o ilustre escritor moncorvense). Em complemento desta actuação, a Biblioteca Municipal montou uma exposição de textos e imagens sobre a Vida e Obra deste ilustre escritor, hoje bastante esquecido, como se lamentou o seu fantasma, pela voz do Camané...

Momento final da confraternização, nos jardins da Biblioteca, que junto os elementos do Grupo Alma de Ferro (actores, encenador e técnicos), da Biblioteca e numeroso público que se quis associar a este aniversário-exposição e cantar os parabéns ao "menino Alma de Ferro".

Vida longa, é que lhe(s) desejamos também.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"Trás os Montes e Alto Douro" - antologia é apresentada amanhã em Lagoaça

É apresentada amanhã em Lagoaça (no vizinho concelho de Freixo de Espada à Cinta), a antologia "Trás-os-Montes e Alto Douro - mosaico de ciência e cultura", coordenada pelo Dr. Armando Palavras e editada pelo Dr. António Neto (Exoterra edições), ambos naturais daquela freguesia. A iniciativa insere-se no programa das festividades de Nossa Senhora das Graças, que decorrem este fim de semana.
A apresentação da referida colectânea será feita pelos Doutores Márcia Trigo, Amadeu Ferreira, Modesto Navarro e Fernando Branco e terá início às 18;30h, na praça Augusto Moreno, em Lagoaça.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Quadros da Emigração - Poema: "O Tempo, A Bocarra do Inferno"

O Tempo,
A Bocarra do Inferno

Tempo da Ida

A mente conjectura
Meandros recônditos
De infindáveis caminhos a percorrer,
Porque o Tempo
Se revela infinito
Quando, em cada momento, a ânsia do pensamento percorre,
Desenfreada,
Todas as arestas dos segundos, dos minutos e das horas
e faz a soma
a contar com a contagem mansa, cadenciada dos dias de férias
Tal qual ribeiros cristalinos
A escorrerem tranquilos
sob o sol tórrido
e os zumbidos embriagados das abelhas
pelas longas e intermináveis tardes transmontanas da infância...

Tempo da Estada

Paisagens
Lágrimas
Encontros
E
Desencontros
Fundura
Perplexidade
Anseios
Revolta
Incompreensão...
Fuga
E
Fugacidade
Tal qual bandos de aves
Que levantam voo
Mal chega a hora da debandada
Para territórios quentes ou frios
Onde se exilam no travo amargo do Tempo
Que teima em não chegar...

Tempo da Volta

Paisagens
Rostos
Gestos
Silêncios
Lágrimas
Encantos
E
Desencantos...
Tal é a bocarranha do inferno,
Que o Tempo,
Voraz
E
Traiçoeiro,
Deixou tudo na incompletude
Do ano derradeiro.

Tempo,
Bocarra que (me) devora e tritura
A lisura arreganhada
Do Regresso adiado pelo Tempo.

sábado, 3 de setembro de 2011

Sinestesia

Ficus Indica
Figos da Índia ou figos palmeiros, colheita de 2011. Proporcionam um excelente licor.



Libelinha aterra numa giesta, enquanto descansa a sua liberdade.

Fotos: João Costa

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"A Terra do Chiculate ", por Rogério Rodrigues - III

Intervenção Cívica

A intervenção política da emigração portuguesa nunca foi significativa. Foi uma emigração essencialmente económica, diferente da espanhola ( refugiados da guerra civil, muitos deles combatentes, mais tarde nos maquis contra os alemães), mesmo dos italianos e de alguns países de Leste, fugidos ao regime bolchevique, muitos russos brancos, oficiais polacos e húngaros. Diga-se que já década de 60, apesar da Ditadura franquista, a economia espanhola começava a ser próspera.
Começam agora a aparecer alguns filhos e netos de emigrantes, como Nathalie Oliveira, por exemplo, conselheira municipal de Metz, a tentar intervir na sociedade e na política francesas. Mas são uma gota de água no oceano. Em 900 mil portugueses existentes em França, ainda são poucos os que frequentam a Universidade. Muitos deles ficam-se pelos cursos médios das escolas profissionais.
Já os seus pais nunca compreenderam a rebelião geracional de Maio de 68. Ficaram atemorizados com as utopias de Cohn –Bendit, Alain Krivine e Jacques Sauvageot. Eram utopias que não faziam parte do seu universo Eram-lhes incompreensíveis e sobretudo, motivo de inquietação. As greves e a greve geral apanharam-nos desprevenidos. Alguns furaram-nas e muitos fizeram as malas e viajaram até Portugal à espera que o Inverno da realpolitik matasse o enxame das utopias.
Outro tipo de emigrantes esteve activo nas manifestações do Maio de 68. Não pertencia à comunidade dos emigrantes. Eram os exilados e fugidos à guerra colonial Faziam sobretudo política, divididos nos mais diversificados grupúsculos: comunistas ( revisionistas ou sociais-fascistas como mais tarde seriam classificados por essa exuberância e impertinência ideológicas consumíveis no chamado MRPP), maoistas, trotkistas, guevaristas.
Jorge Palma toca no metro, Luís Cília compunha a música do filme O Salto de Christian Chalonge, Zeca Afonso, um desconhecido para os emigrantes, gravava com Fausto e José Mário Branco, num palacete dos arredores de *Paris, a Grândola,Vila Morena. Mas o contacto com os emigrantes era praticamente inexistente, exceptuando a distribuição do jornal O Emigrante, de forte carga política, na banlieue, nos bairros periféricos de Paris, Champigny e Aubervilliers, entre outros.


Os Velhos

Antes de falar nos velhos, gostaria de partilhar convosco uma das histórias mais pungentes, mas com final feliz, deste livro, um pequeno capítulo com o título sugestivo de Silêncio e Revolta.
Trata-se da história de um jovem guardador de vacas a quem o patrão deu uma botas. Tinha 13 anos. Mas um dia algumas vacas morreram. O patrão já não precisava dele. Tirou-lhe as botas e, descalço, mandou-o para casa dos seus pais.
O jovem emigrou. Começou a trabalhar na construção civil. Casou. A sua mulher era empregada de limpeza. No início de 80 houve um surto de racismo ou melhor, de xenofobia.
Como escreveu Benjamin Constant em 1816, no seu Journaux Intimes (Diários Íntimos), “há em todos os franceses ressentimento contra o estrangeiro”.
Mas este emigrante venceu o ressentimento.
Os filhos já se interessavam pela política. Dominavam a língua e exprimiam-se de forma escorreita. A filha formou-se na Academia, ao contrário de outros portugueses que eram arrastados para as escolas profissionais.
E, nas suas palavras, injustiça por injustiça, prefere a de França à de Portugal.
Já se reformou, tem uma vida confortável, mas não quer regressar.
“Ao meu país não devo nada! A este, sim!”, clama do alto da sua lucidez e memória.

Falemos pois dos velhos. Ei-los que chegam.
Se no início da emigração foram as crianças que sofreram o abandono dos pais, anos e anos depois são os velhos que regressam à aldeia e esperam uma carta ou uma visita dos filhos e netos que ficaram em França.
É o regresso definitivo da mãe com uma bronquite crónica. Outro que chega com uma boa reforma, mas com problemas na coluna.
As terras onde investiram muitas das suas poupanças vão sendo abandonadas ou mudam de novo de dono.
Escreve Isabel Mateus: “Estão todos velhos! Um queixa-se do reumático, um já não pode com as pernas, outro já não se atreve com as bestas”.
Põem muitas reticências ao SNS. Alguns vão tratar-se a França. Os netos mal chegam à aldeia, sonham com outros espaços, a cidade ou a praia. A aldeia pouco lhes diz.
“Temos o que comer, mas para mim já não é o suficiente”, diz a mulher que regressou com o marido à terra, uma aldeia transformada em deserto e onde nada acontece, ligada aos filhos e aos netos que estão em França e à França. Et voila.


Conclusão

Creio, e por tal me penitencio, ter-me alargado de mais.
Para concluir gostaria de deixar dois ou três tópicos para alguém, e não porque a própria Isabel Mateus?, desenvolver esta temática tão estimulante.
O português foi sempre, desde os Descobrimentos, emigrante ou aventureiro, à procura de outras terras e cabedais, mais do que propriamente de intercâmbio de culturas.
A nossa diáspora já tem séculos. No século XIX o éden foi a Brasil, com a emigração e os seus intervenientes tão bem descritos e tantas vezes caricaturizados por Camilo. Houve também um surto emigratório para a América (Estados Unidos e Venezuela).
Na década de 60 assistimos e muitos participaram na saga que foi a emigração para a França e a Alemanha. Foram os barrigas ao léu de Fernão Lopes os heróis anónimos, mas os construtores de uma História ainda que o seu nome não apareça nos manuais.
De outra emigração haveria que falar: dos retornados em contraponto aos emigrantes.
Se estes cultivaram a poupança, sempre ao serviço de outros, aqueles, perdendo as poupanças, optaram pelo investimento, eles que tinham tido outros ao serviço deles.
Mas para este tema não sou eu a pessoa mais indicada, embora seja sedutor analisar as diferenças, investigar as origens e reflectir sobre as consequências.
Já fugi do tema original desta apresentação.
Peço que me desculpem.
Por fim, estou grato à Isabel Mateus por me ter dado um retrato tão vivo, assente em depoimentos e na sua própria experiência, do que foi e tem sido a emigração em França.
Um dia, no futuro, alguém que queira estudar a emigração terá obrigatoriamente de ler este trabalho.
Obrigado pela vossa atenção e pela vossa paciência.

Rogério Rodrigues.

Belo horrível

Torre de Moncorvo, 27 de agosto de 2011.


Cenário prontamente desfeito pela mão dos bombeiros, numa guerra contra dedos - cabeça de fósforo.

"ATerra do Chiculate ", por Rogério Rodrigues - II

As Novas Gerações

Citando Isabel Mateus: “ Há mesmo quem afirme que os portugueses de França ainda não se libertaram do estigma inicial das suas condições de chegada àquela terra estrangeira e que isso os coíbe de se manifestarem publicamente e perante as autoridades locais”.
Só hoje, em parte pela revolução tecnológica, a terceira geração começa a libertar-se desse estigma, muito embora a sua intervenção política e social, como manifestações de uma cidadania já assumida, seja muito rara. Um pouco mais adiante tentarei reflectir sobre o enquadramento político dos emigrantes na sociedade francesa.
A importância do futebol, neutra em termos de intervenção, mas de auto-estima em termos de identidade, é um facto, quer quando joga a selecção nacional, seja quando os clubes portugueses em pré-época estagiam em países onde há fortes comunidades de emigrantes.
Já na segunda geração havia sinais da libertação da memória e cultura dos seus pais que, raramente lhes revelavam as condições quase desumanas, dos seus primeiros meses de vida em França. Por vergonha talvez e porque assumiram essa experiência como uma realidade degradante, já ultrapassada, mas que era necessário bloquear na memória. Os primeiros emigrantes quando se encontram tentam de algum modo esconder entre si o que individual e colectivamente passaram nos primeiros tempos. Todos eles se reconhecem numa memória silenciada a que só agora, mesmo assim parcialmente foi retirada um pouco da cortina para Isabel Mateus a poder olhar e conservar. Mas o muro ainda não foi destruído, nem a cortina de todo rasgada.
De qualquer modo, o encontro de Metz foi o princípio da catarse. Filhos houve, nesse encontro, que, pela primeira, souberam da saga dos seus pais.






O "Salto", escultura apresentada num dos lançamentos da obra.


Outro tipo de emigrante, não porque a sua condição económica fosse diferente, mas porque já tinha ultrapassado os horizontes da aldeia é o que foi soldado na guerra e desmobilizado e regressado à aldeia se confrontou com um realidade onde ele já não tinha lugar. Além do mato e do medo, conhecera a cidade, formas de vida diferentes, gente de outras regiões com quem contactou e estabeleceu laços de camaradagem. E parte para França ou Alemanha. A desertificação do interior acentua-se. A população diminui drasticamente. Portugal com uma guerra em três frentes de batalha não tem saída. Os ventos da história sopram contra a obstinação portuguesa. A década de 60 é a década por excelência da independência dos povos africanos. E os portugueses reconstroem como mão de obra não qualificada a França e Alemanha cujas infra-estruturas tinham sido destruídas pela II Grande Guerra. Os portugueses emigrantes são peça importante no boom económico destes dois países na década de 60 e inícios de 70.

Com a vida estabilizada, com casa já confortável, começaram então a surgir as associações, os bailes; a comunidade encontrava-se ao fim de semana.
Sublinha a autora: “ os jovens do campo suspiravam pela pronúncia das grandes cidades, das suas roupas e das suas comidas. Queriam despir-se de tudo o que lhes evocasse ruralidade, em suma, a “parvónia”.
O negócio das cassetes recheadas de música pimba tornou-se um maná para Linda de Suza (Sousa mas como o ou em francês se lê u, a grafia sujeitou-se à fonética), Tony Carreira, Quim Barreiros e afins.
Os bailes eram revivalistas, como se transportassem a aldeia de que nunca tinham partido, mesmo partindo, para aquele espaço de um salão urbano ainda que periférico com as danças tradicionais ao som da concertina e os inevitáveis caldo verde, bolinhos de bacalhau e sardinha assada. Porque não passava um dia que não vissem a sua aldeia.
Os mais novos iam gradualmente fugindo a esta liturgia dos pais. A música era outra e os macdonalds e hamburguers substituiam os bolinhos de bacalhau.


Clochard

Mas há também uma parte negra da emigração que tem sido ocultada : a disfuncionalidade, a marginalidade social de uma certa juventude da segunda geração que não aceitando já os cânones de vida e os valores dos seus pais, assimilavam da cultura francesa os aspectos mais negativos. Uns acabaram na prisão de Fresnes, outros arrastaram-se no insucesso escolar, outros formaram, por exemplo, a quadrilha dos Cavacos que, nos meados da década de 80, assolou o país com dezenas de assaltos a bancos e algumas mortes. É certo que eram na maioria algarvios ( havia apenas um transmontano de uma aldeia de Vinhais), região onde os valores rurais não eram tão vincados, pela circunstância de um incipiente cosmopolitismo, via indústria turística, levando ao gradual abandono da terra como sustento e fonte de trabalho.
Havia ainda os que se foram degradando pelo álcool, pela permanência no desemprego, a ponto de acabarem por ser rejeitados pela comunidade e alguns transformarem-se em clochards, os nossos sem-abrigo.
Outros, que se recusavam, por vergonha, a regressar à aldeia tão pobres como tinham partido.
É certo que esta realidade, compreensivelmente tem sido silenciada, mas é de justiça que não seja esquecida, embora parcelar e menor na generalidade da condição do emigrante.


Texto: Rogério Rodrigues / Imagem: João Costa
(continua)