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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Livro do General Tomé Pinto, em Torre de Moncorvo, dia 26/11

(clicar para aumentar)

Será apresentado no próximo sábado, dia 26 de Novembro, a biografia do general Alípio Tomé Pinto, de autoria do próprio e de Sarah Adamapoulos, um dos mais ilustres moncorvenses, nascido em Maçores em 1936. Estará presente na cerimónia, como apresentador da obra e do homenageado, o ex-Presidente da República general Ramalho Eanes. O evento, organizado pelo Município de Torre de Moncorvo, terá lugar na Biblioteca Municipal, rua Infante D. Henrique. A não perder!

sábado, 28 de junho de 2014

Apresentação de livro de Paula Reis, no auditório do Museu do Ferro, dia 29/06


Com a chancela da editora Vieira da Silva (Lisboa), será apresentado no dia 29 de Junho, no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, o livro de Paula Reis, intitulado "O Sonho de uma Vida".
A autora nasceu em Angola em 1972, embora com raízes na Horta da Vilariça, concelho de Torre de Moncorvo.. Tendo passado a infância em Portugal, aos 17 anos emigrou para França, onde aprendeu a língua e absorveu a cultura francesa. Tendo regressado às terras das origens, para além da sua actividade profissional, escreve nas horas vagas, sendo esta a sua primeira obra literária.

O livro trata da história de um menino que se encontrou sozinho, mas que com a ajuda de um "anjo" acabou por vencer na vida, realizando os seus sonhos e ajudando outros a realizarem os seus.

Fica o convite para o evento, e para uma boa leitura de verão. Apareça!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

"Farrusco" - novo livro de Isabel Mateus


Farrusco - Um Cão de Gado Transmontano é o sétimo livro de Isabel Mateus. Através do protagonista desta obra a autora regressa às suas raízes fundas na ruralidade portuguesa depois de Outros Contos da Montanha, O Trigo dos Pardais (obra do PNL), A Terra do Chiculate e Contos do Portugal Rural. A capa e as ilustrações do livro são da autoria de Cristina Borges Rocha.
“Isabel Mateus, que nasceu nas Quintas do Corisco, Torre de Moncorvo, trabalha e vive em Inglaterra, mas a realidade rural trasmontana com que conviveu na infância está bem presente e também nesta novela, que narra a história de um cão de gado, que faz lembrar em muitos momentos o conto “Nero”, dos Bichos, de Miguel Torga” (A. M. Pires Cabral).

“Isabel Mateus parece ter mergulhado ecológica e intencionalmente no ‘mundo cão’ ao promover o vedetismo do simpático e serviçal farrusco. Paradoxalmente alerta para o risco de extinção que corre este castiço personagem do cenário e da vida das nossas aldeias. Deixa claro o apelo para que se conserve tal espécie canina. Mas torna evidente um enorme conjunto de valores a preservar. E naquilo que mais se evidencia e vale a pena ter em consideração, está subjacente o que caracteriza uma raça, um ambiente, um povo... de valor, com valores, a preservar” (A. Guilhermino Pires).

O livro está disponível nas plataformas on line Wook e Bertrand bem como na Amazon e em livrarias selecionadas. Para mais informação acerca do livro e contacto com a autora por favor visite o seu site: www.isabelmateus.com.

Farrusco é uma boa prenda para oferecer, acolher e ler à lareira neste Natal!


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Apresentação do livro “A Cultura da Amêndoa no Douro Superior” de Lois Ladra

Apresentação do livro “A Cultura da Amêndoa no Douro Superior” de Lois Ladra
pelo autor
23 de Novembro de 2013 (sábado), pelas 21h00
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro, em Vila Real
 
“A Cultura da Amêndoa no Douro Superior – História, Tradição e Património” de Lois Ladra
 
Este livro quer prestar homenagem a todos os galegos anónimos que, fugindo da fome e da miséria, vieram erguer muitos dos socalcos do Douro transmontano, contribuindo com o seu suor para a construção deste Reino Maravilhoso. O autor
 
A amendoeira no Douro Superior, isolada, plantada em bordadura ou formando amendoal, constitui um património cultural, económico e paisagístico que deve ser preservado e transmitido às gerações vindouras. As magníficas qualidades organolépticas e o marcado sabor da amêndoa duriense devem constituir a base sobre a qual possam vingar no território novas indústrias artesanais de produtos gastronómicos que tenham a amêndoa como protagonista.
 
«A amêndoa produzida no Douro Superior ostenta com orgulho o reconhecimento internacional de Denominação de Origem Protegida (D.O.P.) “Amêndoa do Douro”, classicação atribuída pela União Europeia no ano de 1994.Trata-se de um produto natural, dotado de propriedades organolépticas singulares, que vinca as suas origens na agricultura mediterrânica tradicional, constituindo uma das marcas identitárias desta região.»
 
Lois Ladra nace en A Coruña en 1972. En 1996 se licencia en Geografía e Historia (Prehistoria y Etnología) por la Universidad Complutense. En 1999, defiende su tesis de licenciatura, con un estudio sobre la orfebrería galaica de la Edad del Hierro. En 2001, concluye los Cursos de Doctorado y se diploma en Estudios Avanzados en Arqueología por la Universidade de Santiago de Compostela. Becado por la Fundación Barrié, concluye en 2003 un Master en Arqueología Protohistórica en la Universidad de Oporto (Portugal). En 2007, se licencia en Antropología Social y Cultural por la Universidad Nacional de Educación a Distancia. Desarrolla su actividad profesional como antropólogo cultural y arqueólogo, dirigiendo y participando en numerosos proyectos en Galicia, Extremadura, Madrid, Castilla-León, Castilla-La Mancha y Portugal. Es autor de más de medio centenar de publicaciones de temática arqueológica y etnográfica, entre las que destacan sus trabajos sobre la orfebrería galaica y los libros Arte relixiosa popular na Terra de Valga. Cruceiros, cruces e petos de animas (A Coruña, 2002), A pesca tradicional nos rios de Galiza. Caneiros, pescos e pesqueiras (Santiago de Compostela, 2008) y los estudios introductorios al Inventario de la riqueza monumental y artística de Galicia, de Ángel del Castillo (A Coruña, 2008). Ha sido galardonado con los premios de investigación Xesús Ferro Couselo (1999, 2000 y 2001), Cátedra (2006), Vicente Risco (2008) y Raigame – Xaquín Lorenzo (2011). Ha dirigido numerosas proyectos de investigación antropológica en Galicia y Portugal. Colabora habitualmente con la Fundación Barrié como asesor externo en iniciativas de recuperación y valorización patrimonial. En la actualidad, desarrolla su actividad laboral como especialista en el estudio de culturas fluviales (pesca, navegación sistemas tradicionales de molienda..) destacando sus análisis etnológicos de los rios Ocreza, Tua y Sabor.


Ver em mais http://traga-mundos.blogspot.pt/2013/11/apresentacao-de-livro-sobre-cultura-da.html

 

terça-feira, 16 de julho de 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Manco - Entre Deus e o Diabo, em TORRE DE MONCORVO

Sinopse: O Manco é uma figura que procura a sua unidade, enquanto ser humano, entre a dura realidade em que sobrevive e a busca de uma religiosidade que parece não lhe trazer respostas. Uma figura que se busca entre o seu mundo interior e exterior. O Manco - Entre Deus e o Diabo é um grito em silêncio de uma revolta contida. Apresentação pública em Torre de Moncorvo, dia 25 de Abril de 2013, pela Dr.ª TERESA LEONARDO FERNANDES.

terça-feira, 13 de março de 2012

"Quadros da Transmontaneidade" em livro - lançamento é no dia 23/03

(clicar sobre o cartaz, para o AMPLIAR)
De António Sá Gué, chegou a Obra há muito esperada: "Quadros da Transmontaneidade", que começou a germinar em alguns textos, esparsos, neste nosso blogue. O lançamento terá lugar no IX Encontro de Professores de Português do Douro Superior, mais uma vez promovido pela Escola Secundária de Torre de Moncorvo Dr. Ramiro Salgado (Agrupamento de Escolas de T. Moncorvo), no próximo dia 23 de Março, pelas 14:30h.
É autora do prefácio a Drª. Teresa Fernandes, professora de Português na Escola Secundária de Moncorvo.
Apenas para despertar o apetite, aqui fica este excerto, da contracapa:
"Este é um livro de sedimentos memoriais das gentes transmontanas. Não é nenhum levantamento etnológico, nem tão pouco um estudo antropológico do seu modus vivendi, como se possa pensar. É, antes de mais, um livro que fala da grandeza e da mesquinhez humana, de ressentimentos, de canseiras, dos tédios e das angústias que alimentam qualquer ser humano. É um livro que fala de montes elevados por emoções e dos vales profundamente escavados por sentimentos".
A não perder!!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Livro: "Santos Júnior e os intelectuais galegos - epistolário"

Momento inicial da apresentação do livro
No âmbito das festividades da Amendoeira em Flor, teve lugar no passado sábado, dia 3 de Março, no auditório da Biblioteca Municipal, mais um evento cultural promovido pelo município de Torre de Moncorvo: a apresentação do livro "Santos Júnior e os intelectuais galegos - epistolário", de autoria do Prof. Doutor Isaac Alonso Estraviz, editado pela Fundação Meendinho (Galiza), com patrocínio da diputación provincial de Ourense.
A abertura da sessão solene coube ao Presidente da Câmara de Moncorvo, tendo felicitado o autor por esta publicação, salientando que a mesma teve por base o espólio documental do Professor Santos Júnior, oferecido pelos seus herdeiros ao município, e que se encontra devidamente acondicionado e preservado no Centro de Memória de Torre de Moncorvo.
Seguidamente, em nome da família do Professor Santos Júnior, o Sr. Norberto Santos também se congratulou pela publicação, que vem tornar patente o imenso carinho que seu pai tinha pela Galiza, e os fortes laços de amizade com investigadores e intelectuais do noroeste peninsular, com quem se correspondia regularmente, trocando também as suas publicações.

O autor, Isaac Alonso Estraviz, durante a apresentação

De seguida, o autor, Isaac Alonso Estraviz, começou por oferecer ao Centro de Memória uma gravação (audio) com a voz de Santos Júnior durante uma homenagem que lhe foi feita na Universidade de Santiago de Compostela, em 1962, por iniciativa de seu amigo Otero Pedrayo, um dos muitos intelectuais galegos com quem mantinha correspondência, como se vê epistolário agora editado. Isaac Estraviz referiu-se largamente à luta pela afirmação da língua galega por essa geração de que Santos Júnior fez parte, desde os anos 20 e 30 do séc. XX, prolongando-se ainda pelas décadas seguintes. Essa geração, que tinha por referência Rosalía de Castro, a quem Santos Júnior chamava a "santa Rosalía" ou a "Santinha" das letras galegas, teve vultos da maior importância, quer no ambito da Literatura, como da Etnologia, História e Arqueologia, tais como Vicente Risco (1884-1963), Florentino Lopez Cuevillas (1901-1973), Joaquim Lorenzo Fernandez, Taboada Chivite, Figueira Valverde, todos representados neste epistolário, além de muitos outros.

O livro, de 784 páginas, inclui, na parte introdutória, uma interessante nota biográfica de Santos Júnior, de autoria de sua neta, a Prof. Doutora Ana Maria Santos Hübner. Segue-se uma abordagem à sua obra, por Isaac Estraviz, em que põe em evidência a sua relação com o meio cultural galego, sobretudo antes de enveredar pelos estudos ultramarinos, quer em Moçambique, quer em Angola. Na parte do Epistolário a correspondência foi organizada por remetente/destinatário (houve algumas recolhas em arquivos galegos), de forma cronológica. capa do livro

Importa referir que Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior (1901-1990) era natural de Barcelos, mas viria a manter uma longa relação com Torre de Moncorvo, em virtude do seu casamento (em 1920) com uma moncorvense, a Srª. D. Judite Campos, filha do proprietário da Quinta Judite, cuja casa ainda hoje se mantém na posse da família. Desde então repartia as suas estadias entre Águas Santas (Maia), onde possuía a Quinta da Caverneira, e a casa de Moncorvo, aqui sobretudo nas férias. Tendo-se licenciado em medicina, viria a ser professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e deixou uma extensa obra como zoólogo, ornitólogo, antropólogo, etnógrafo e arqueólogo. A sua biblioteca e abundante espólio documental viria a ser doado pela Família, ao Centro de Memória de Torre de Moncorvo, nos anos 90 do século XX.

Quanto ao organizador da obra, Isaac Alonso Estraviz, nasceu na Galiza em 1935, sendo licenciado em Filosofia pela Universidade de Comillas, em Filosofia e Letras e em Filologia Românica pela Univ. Complutense de Madrid, diplomado em Cultura e Língua Portuguesa pela Universidade de Lisboa e Doutorado em Filologia Galega pela Universidade de Santiago de Compostela. Leccionou Língua e Literatura Galegas em Madrid e na Galiza. Desde os anos 90 foi professor associado da Universidade de Vigo. É membro da Comissão Linguística da Associação Galega da Língua, Vice-Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, do conselho de redacção da revista Agália e do Boletim da Academia Galega de Língua Portuguesa (AGLP). É autor das seguintes obras: Dicionário de Língua Galega, Estudos Filológicos Galego portugueses e do Dicionário de Língua Galego-portuguesa, Os Intelectuais Galegos e Teixeira de Pascoais – Epistolário, e Eugénio de Castro e a Galiza – Epistolário ambos com a colaboração de Eloísa Álvarez.

Txt. e fotos de N.Campos

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Contos do Portugal Rural em Inglês


Contos do Portugal Rural / Tales of Rural Portugal é o primeiro volume da coleção bilingue “Portuguese Insights” e reúne doze histórias extraídas de Outros Contos da Montanha (Isabel Mateus, 2009). Os contos foram traduzidos para inglês por Patricia Odber de Baubeta, Professora na Universidade de Birmingham, Reino Unido, que já publicou, entre outros autores, traduções de Miguel Torga e Manuel da Fonseca.

Estes contos foram escolhidos devido à visão privilegiada que oferecem acerca do modo de vida do meio rural transmontano, durante e após o Estado Novo, e enfoque dado ao papel e ao estatuto da mulher numa sociedade assente sob o modelo institucional do patriarcado.

A obra eleva o nosso Portugal rural ao nível internacional, mostrando a nossa língua, cultura e literatura quer aos falantes lusófonos, quer aos anglófonos.

No site da autora (http://www.isabelmateus.com/) é possível descarregar gratuitamente o prefácio e a introdução da obra, bem como o conto "A Rebusqueira" / "The Gleaner".

O livro encontra-se à venda em: http://www.isabelmateus.com/, Amazon, EBay e Gráfica de Coimbra 2 (editora@graficadecoimbra.pt).

Boa leitura! Enjoy!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fermento de Liberdade


Tempos houve, e não estão muito distantes, em que o regime salazarista continuado pelo caetanismo se enraizava na sociedade através de dois fortes espigões. A polícia, que se apelidava de defesa do estado, de longos e sinuosos braços, e por um exército ufanado por um oco prestígio, adormecido, também ele, à sombra do obscurantismo do povo, alfobre dessas duas vértebras que o mantinham erecto.
Esses três princípios, força, medo e obscurantismo, que norteavam a sociedade da época, e que este livro tenta personificar, minaram-na, criaram injustiças profundas, apodreceram-na de tal forma que, de repente, a parede assente nesses valores desprezíveis, ruiu. Desmoronou-se no 25 de Abril.
O Zé Bernardo, transmontano de nascença, transplantado para a ilha do Porto, há-de ser facilmente recrutado pela polícia, e irá vicejar. O Coronel Fontelo, também transmontano, que presta serviço a um estado leal e nobre, qualidades, que sempre lhe ensinaram a reconhecer, lentamente, vai tomando consciência das invirtudes desse estado, consciência essa obtida em consequência da sua vida familiar.
A Marília, a sua filha, devido ao seu feitio revolucionário vê-se envolvida nas lutas estudantis nos anos 60. É perseguida e refugia-se em França, onde toma contacto com a resistência organizada em Paris. Volta. É nesse regresso que é presa pela PIDE e esse é o leitmotiv para a alma do coronel Fontelo que, perante factos familiares, vai ser tocada pelas injustiças e malvadez do regime e acabará por entrar na porta da democracia, que se adivinha.

Apresentações:
- FNAC de Santa Catarina no Porto, no dia 26 de Janeiro de 2012 (quinta-feira), pelas 18H00;
- Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira, em Vila Real, no dia 28 de Janeiro de 2012 (sábado), pelas 16h00.

Aparece!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

NATIVIDADE: “Midwife and Vet”

A história “Midwife and Vet” é a sexta de doze narrativas incluídas no primeiro volume da colecção bilingue “Portuguese Insight” intitulado Tales of Rural Portugal, estando a sua publicação prevista para o início de 2012.
As histórias foram extraídas de Outros Contos da Montanha (2009), de Isabel Mateus, e traduzidas para o inglês por Patrícia Anne Odber de Baubeta, Professora e Directora da Cátedra Gil Vicente na Universidade de Birmingham, Reino Unido.
As estórias seleccionados reflectem aspetos da vida da comunidade rural portuguesa, desde uma época passada a tempos mais recentes, incidindo, em particular, no estatuto da mulher no interior do grupo socialmente institucionalizado sob o modelo do patriarcado.
Com “Midwife and Vet” (A Veterinária-Parteira) deixo-vos a antevisão da universalidade concedida ao nosso Portugal rural e, neste caso, ao tema da Natividade através da excelente tradução inglesa, sempre em busca da apropriação do sentido inicial dos textos em conformidade com as nuances linguísticas inerentes ao respetivo contexto da ruralidade anglo-saxónico. Anteponho-lhe, porém, a síntese em verso que a nova leitura do conto me proporcionou no presente Natal.
Boas Festas!

Natal 2011

A condição da Montanha
Elevada de novo ao Universal:
É a Mulher que expele num grito de dor e alegria
A Vida,
É um Deus-Menino ao natural
A rasgar as suas entranhas
No seu primeiro choro,
É a Eternidade
Expurgada por mãos tentaculares
E embalada no colo Eterno da Veterinária-Parteira.

Midwife and Vet

Christmas Eve was coming and a white blanket covered the darkness of Granja, of the land and its dwellers. The table was laid for the Christmas supper and someone was hammering on the door in desperation:
“Ma Grabulha! Ma Grabulha!!
“Come in, whoever you are. The door’s on the latch.”
The child was born without any mishap. Many more than thirty years before she had brought his father into the world, but what was she to do now when the fine linen swaddling clothes had been replaced by disposable nappies and simple little dresses by fiddly, complicated garments?
She attended the birth throughout the night. Now came the most difficult part: washing and dressing the child. At seventy and more, she was no longer fit for adventures like this. Next morning, seeing her come home tired, forehead wrinkled and her expression woeful and pensive at the same time, her granddaughter asked:
“What’s the matter, grandma?”
“Nothing, child. We have another boy child here in Granja. But I still haven’t dealt with him properly. I left him wrapped up beside his mother and came back home. I have to go back in a while, but I don’t know whether I dare try to get him ready.”
She didn’t want to admit defeat, but this time she sensed she was in a quandary. All the marriageable lads and lasses had passed through her hands and, even the heads of the local families. So she had to keep up her reputation for carrying out the task that had been entrusted to her for generations. She couldn’t give way now, just because these were modern times and lots of people were going to the hospital in the town to give birth, or because practically no births were being registered in this village. The truth is, those women who might be her birthing mothers were in Brazil, Africa, France, Germany or even in the Capital, where there were huge maternity hospitals, doctors and specialist nurses.
Seeing how upset she was, her granddaughter wouldn’t let her be.
“I’ll go with you, I’ll get the baby ready.”
“You?”
“Yes, I’ve changed my cousins’ nappies plenty of times and I’ve helped take care of them. There won’t be any problem.”
Although she was apprehensive, the grandmother felt reassured in her granddaughter’s company. When they went in, mother and son were almost asleep.
Nevertheless, it was time to get the child to rights.
The little nine-year-old girl washed the pink flushed body of the newly born infant, still smelling of the birth, in a white enamel basin. Straight away, with easy confidence, she dried him, dressed him and there he was, all ready for life.
“No trouble at all!” she exclaimed, overjoyed.
Her grandmother looked on in amazement. She had given birth six times. She only called from the bed to her mother and mother-in-law, chatting beside the hearth, after her son or daughter had emerged from her belly. She would shout:
“It’s done, you can come over now.”
Wasn’t she the one who said she found it harder to drink a glass of water than give birth to a child? Didn’t she also attend all the female livestock? Didn’t she even carry out little operations, if an animal was born with a defect or contracted some illness? That’s why they called her the veterinarian. Of course, her hands did shake a little now, but for the little girl to have got her out of such a pickle, well that was really saying something.
Well, now that that problem was solved, it just remained to place the child at his mother’s breast. That’s how they did it in her day. But even in this matter, things were no longer what they were. Either the mother didn’t feel strong enough, or the child was not interested in suckling, or because it was the age of the feeding bottle – the baby was bottle fed.
In the meantime, they had to respond to his hungry cries, which were becoming more and more intense.
“Is there a dummy?” the little girl turned to the mother.
“Yes, it’s in the little basket on top of the chest of drawers along with the rest of the baby’s accessories.”
While her granddaughter was heating the water for the powdered milk to be given to the child, the rubber dummy solved the problem and the grandmother could again breathe a sigh of relief. In the days that followed, she could only say:
“If it wasn’t for my granddaughter, I wouldn’t have been up to the job.”
She was, but times had changed. She had done the difficult part of the business, after all. The truth is, from then on, she will no longer have to worry, because her grandchildren, great-grandchildren, relatives and neighbours who are born afterwards, and those who continue to be born, fewer than before, certainly, come into the world in the maternity wards of distant hospitals.
It was with sadness and nostalgia that just a short time ago her granddaughter gave birth to her own daughter in a foreign land, in a strange and somehow hostile atmosphere, without the familiarity of a warm, tender, loving voice. Perhaps if we could carry on being born in the same places as our ancestors, helped by grandmother-midwives, then post partum depression and all the other afflictions caused by loneliness and isolation would cease to exist, or at least be reduced to bearable levels.
Still, I am certain of the happiness and the gains that would result from each generation being able to see their successors exploding into life at the exact time, at the very moment of their birth.
On that Christmas, however, Jesus didn’t just revisit the earth: another Boy Child was reborn in Granja, attended by an old midwife and veterinarian, and warmed by the breath of the whole community.

Translated by Dr. Patricia Odber de Baubeta from Outros Contos da Montanha, Isabel Mateus.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"Trás os Montes e Alto Douro" - antologia é apresentada amanhã em Lagoaça

É apresentada amanhã em Lagoaça (no vizinho concelho de Freixo de Espada à Cinta), a antologia "Trás-os-Montes e Alto Douro - mosaico de ciência e cultura", coordenada pelo Dr. Armando Palavras e editada pelo Dr. António Neto (Exoterra edições), ambos naturais daquela freguesia. A iniciativa insere-se no programa das festividades de Nossa Senhora das Graças, que decorrem este fim de semana.
A apresentação da referida colectânea será feita pelos Doutores Márcia Trigo, Amadeu Ferreira, Modesto Navarro e Fernando Branco e terá início às 18;30h, na praça Augusto Moreno, em Lagoaça.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"A Terra do Chiculate ", por Rogério Rodrigues - III

Intervenção Cívica

A intervenção política da emigração portuguesa nunca foi significativa. Foi uma emigração essencialmente económica, diferente da espanhola ( refugiados da guerra civil, muitos deles combatentes, mais tarde nos maquis contra os alemães), mesmo dos italianos e de alguns países de Leste, fugidos ao regime bolchevique, muitos russos brancos, oficiais polacos e húngaros. Diga-se que já década de 60, apesar da Ditadura franquista, a economia espanhola começava a ser próspera.
Começam agora a aparecer alguns filhos e netos de emigrantes, como Nathalie Oliveira, por exemplo, conselheira municipal de Metz, a tentar intervir na sociedade e na política francesas. Mas são uma gota de água no oceano. Em 900 mil portugueses existentes em França, ainda são poucos os que frequentam a Universidade. Muitos deles ficam-se pelos cursos médios das escolas profissionais.
Já os seus pais nunca compreenderam a rebelião geracional de Maio de 68. Ficaram atemorizados com as utopias de Cohn –Bendit, Alain Krivine e Jacques Sauvageot. Eram utopias que não faziam parte do seu universo Eram-lhes incompreensíveis e sobretudo, motivo de inquietação. As greves e a greve geral apanharam-nos desprevenidos. Alguns furaram-nas e muitos fizeram as malas e viajaram até Portugal à espera que o Inverno da realpolitik matasse o enxame das utopias.
Outro tipo de emigrantes esteve activo nas manifestações do Maio de 68. Não pertencia à comunidade dos emigrantes. Eram os exilados e fugidos à guerra colonial Faziam sobretudo política, divididos nos mais diversificados grupúsculos: comunistas ( revisionistas ou sociais-fascistas como mais tarde seriam classificados por essa exuberância e impertinência ideológicas consumíveis no chamado MRPP), maoistas, trotkistas, guevaristas.
Jorge Palma toca no metro, Luís Cília compunha a música do filme O Salto de Christian Chalonge, Zeca Afonso, um desconhecido para os emigrantes, gravava com Fausto e José Mário Branco, num palacete dos arredores de *Paris, a Grândola,Vila Morena. Mas o contacto com os emigrantes era praticamente inexistente, exceptuando a distribuição do jornal O Emigrante, de forte carga política, na banlieue, nos bairros periféricos de Paris, Champigny e Aubervilliers, entre outros.


Os Velhos

Antes de falar nos velhos, gostaria de partilhar convosco uma das histórias mais pungentes, mas com final feliz, deste livro, um pequeno capítulo com o título sugestivo de Silêncio e Revolta.
Trata-se da história de um jovem guardador de vacas a quem o patrão deu uma botas. Tinha 13 anos. Mas um dia algumas vacas morreram. O patrão já não precisava dele. Tirou-lhe as botas e, descalço, mandou-o para casa dos seus pais.
O jovem emigrou. Começou a trabalhar na construção civil. Casou. A sua mulher era empregada de limpeza. No início de 80 houve um surto de racismo ou melhor, de xenofobia.
Como escreveu Benjamin Constant em 1816, no seu Journaux Intimes (Diários Íntimos), “há em todos os franceses ressentimento contra o estrangeiro”.
Mas este emigrante venceu o ressentimento.
Os filhos já se interessavam pela política. Dominavam a língua e exprimiam-se de forma escorreita. A filha formou-se na Academia, ao contrário de outros portugueses que eram arrastados para as escolas profissionais.
E, nas suas palavras, injustiça por injustiça, prefere a de França à de Portugal.
Já se reformou, tem uma vida confortável, mas não quer regressar.
“Ao meu país não devo nada! A este, sim!”, clama do alto da sua lucidez e memória.

Falemos pois dos velhos. Ei-los que chegam.
Se no início da emigração foram as crianças que sofreram o abandono dos pais, anos e anos depois são os velhos que regressam à aldeia e esperam uma carta ou uma visita dos filhos e netos que ficaram em França.
É o regresso definitivo da mãe com uma bronquite crónica. Outro que chega com uma boa reforma, mas com problemas na coluna.
As terras onde investiram muitas das suas poupanças vão sendo abandonadas ou mudam de novo de dono.
Escreve Isabel Mateus: “Estão todos velhos! Um queixa-se do reumático, um já não pode com as pernas, outro já não se atreve com as bestas”.
Põem muitas reticências ao SNS. Alguns vão tratar-se a França. Os netos mal chegam à aldeia, sonham com outros espaços, a cidade ou a praia. A aldeia pouco lhes diz.
“Temos o que comer, mas para mim já não é o suficiente”, diz a mulher que regressou com o marido à terra, uma aldeia transformada em deserto e onde nada acontece, ligada aos filhos e aos netos que estão em França e à França. Et voila.


Conclusão

Creio, e por tal me penitencio, ter-me alargado de mais.
Para concluir gostaria de deixar dois ou três tópicos para alguém, e não porque a própria Isabel Mateus?, desenvolver esta temática tão estimulante.
O português foi sempre, desde os Descobrimentos, emigrante ou aventureiro, à procura de outras terras e cabedais, mais do que propriamente de intercâmbio de culturas.
A nossa diáspora já tem séculos. No século XIX o éden foi a Brasil, com a emigração e os seus intervenientes tão bem descritos e tantas vezes caricaturizados por Camilo. Houve também um surto emigratório para a América (Estados Unidos e Venezuela).
Na década de 60 assistimos e muitos participaram na saga que foi a emigração para a França e a Alemanha. Foram os barrigas ao léu de Fernão Lopes os heróis anónimos, mas os construtores de uma História ainda que o seu nome não apareça nos manuais.
De outra emigração haveria que falar: dos retornados em contraponto aos emigrantes.
Se estes cultivaram a poupança, sempre ao serviço de outros, aqueles, perdendo as poupanças, optaram pelo investimento, eles que tinham tido outros ao serviço deles.
Mas para este tema não sou eu a pessoa mais indicada, embora seja sedutor analisar as diferenças, investigar as origens e reflectir sobre as consequências.
Já fugi do tema original desta apresentação.
Peço que me desculpem.
Por fim, estou grato à Isabel Mateus por me ter dado um retrato tão vivo, assente em depoimentos e na sua própria experiência, do que foi e tem sido a emigração em França.
Um dia, no futuro, alguém que queira estudar a emigração terá obrigatoriamente de ler este trabalho.
Obrigado pela vossa atenção e pela vossa paciência.

Rogério Rodrigues.

"ATerra do Chiculate ", por Rogério Rodrigues - II

As Novas Gerações

Citando Isabel Mateus: “ Há mesmo quem afirme que os portugueses de França ainda não se libertaram do estigma inicial das suas condições de chegada àquela terra estrangeira e que isso os coíbe de se manifestarem publicamente e perante as autoridades locais”.
Só hoje, em parte pela revolução tecnológica, a terceira geração começa a libertar-se desse estigma, muito embora a sua intervenção política e social, como manifestações de uma cidadania já assumida, seja muito rara. Um pouco mais adiante tentarei reflectir sobre o enquadramento político dos emigrantes na sociedade francesa.
A importância do futebol, neutra em termos de intervenção, mas de auto-estima em termos de identidade, é um facto, quer quando joga a selecção nacional, seja quando os clubes portugueses em pré-época estagiam em países onde há fortes comunidades de emigrantes.
Já na segunda geração havia sinais da libertação da memória e cultura dos seus pais que, raramente lhes revelavam as condições quase desumanas, dos seus primeiros meses de vida em França. Por vergonha talvez e porque assumiram essa experiência como uma realidade degradante, já ultrapassada, mas que era necessário bloquear na memória. Os primeiros emigrantes quando se encontram tentam de algum modo esconder entre si o que individual e colectivamente passaram nos primeiros tempos. Todos eles se reconhecem numa memória silenciada a que só agora, mesmo assim parcialmente foi retirada um pouco da cortina para Isabel Mateus a poder olhar e conservar. Mas o muro ainda não foi destruído, nem a cortina de todo rasgada.
De qualquer modo, o encontro de Metz foi o princípio da catarse. Filhos houve, nesse encontro, que, pela primeira, souberam da saga dos seus pais.






O "Salto", escultura apresentada num dos lançamentos da obra.


Outro tipo de emigrante, não porque a sua condição económica fosse diferente, mas porque já tinha ultrapassado os horizontes da aldeia é o que foi soldado na guerra e desmobilizado e regressado à aldeia se confrontou com um realidade onde ele já não tinha lugar. Além do mato e do medo, conhecera a cidade, formas de vida diferentes, gente de outras regiões com quem contactou e estabeleceu laços de camaradagem. E parte para França ou Alemanha. A desertificação do interior acentua-se. A população diminui drasticamente. Portugal com uma guerra em três frentes de batalha não tem saída. Os ventos da história sopram contra a obstinação portuguesa. A década de 60 é a década por excelência da independência dos povos africanos. E os portugueses reconstroem como mão de obra não qualificada a França e Alemanha cujas infra-estruturas tinham sido destruídas pela II Grande Guerra. Os portugueses emigrantes são peça importante no boom económico destes dois países na década de 60 e inícios de 70.

Com a vida estabilizada, com casa já confortável, começaram então a surgir as associações, os bailes; a comunidade encontrava-se ao fim de semana.
Sublinha a autora: “ os jovens do campo suspiravam pela pronúncia das grandes cidades, das suas roupas e das suas comidas. Queriam despir-se de tudo o que lhes evocasse ruralidade, em suma, a “parvónia”.
O negócio das cassetes recheadas de música pimba tornou-se um maná para Linda de Suza (Sousa mas como o ou em francês se lê u, a grafia sujeitou-se à fonética), Tony Carreira, Quim Barreiros e afins.
Os bailes eram revivalistas, como se transportassem a aldeia de que nunca tinham partido, mesmo partindo, para aquele espaço de um salão urbano ainda que periférico com as danças tradicionais ao som da concertina e os inevitáveis caldo verde, bolinhos de bacalhau e sardinha assada. Porque não passava um dia que não vissem a sua aldeia.
Os mais novos iam gradualmente fugindo a esta liturgia dos pais. A música era outra e os macdonalds e hamburguers substituiam os bolinhos de bacalhau.


Clochard

Mas há também uma parte negra da emigração que tem sido ocultada : a disfuncionalidade, a marginalidade social de uma certa juventude da segunda geração que não aceitando já os cânones de vida e os valores dos seus pais, assimilavam da cultura francesa os aspectos mais negativos. Uns acabaram na prisão de Fresnes, outros arrastaram-se no insucesso escolar, outros formaram, por exemplo, a quadrilha dos Cavacos que, nos meados da década de 80, assolou o país com dezenas de assaltos a bancos e algumas mortes. É certo que eram na maioria algarvios ( havia apenas um transmontano de uma aldeia de Vinhais), região onde os valores rurais não eram tão vincados, pela circunstância de um incipiente cosmopolitismo, via indústria turística, levando ao gradual abandono da terra como sustento e fonte de trabalho.
Havia ainda os que se foram degradando pelo álcool, pela permanência no desemprego, a ponto de acabarem por ser rejeitados pela comunidade e alguns transformarem-se em clochards, os nossos sem-abrigo.
Outros, que se recusavam, por vergonha, a regressar à aldeia tão pobres como tinham partido.
É certo que esta realidade, compreensivelmente tem sido silenciada, mas é de justiça que não seja esquecida, embora parcelar e menor na generalidade da condição do emigrante.


Texto: Rogério Rodrigues / Imagem: João Costa
(continua)


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"A Terra do Chiculate", por Rogério Rodrigues - I

Por gentileza de Rogério Rodrigues, a quem desde já agradecemos, publicaremos faseadamente o texto-suporte à apresentação de " A Terra de Chiculate", de Isabel Mateus.


Prometo ser breve, mas não garanto, como costuma dizer o dr. Almeida Santos. E pretendo que a exposição seja o mais simples possível.

Este é um livro que não uma mala de cartão, antes uma mala de viagens, viagens de dias a pé pelas montanhas até ao regresso de avião que o check in on line já foi feito pelo neto.
É um livro de lugares, afectos, desafectos, de percursos comuns na origem, de silêncios envergonhados, memórias bloqueadas e, por fim, algum apaziguamento. Sem ajuste de contas, o passado é reabilitado e gravado em letra, em memória dos que sofreram e para informação dos que esqueceram ou desconheceram. Porque, recordando uma máxima latina, verba volant et scripta manent. As palavras voam e a escrita permanece.

Duas são as personagens que tutelam este livro – a avó e o Pai Natal em chocolate, nas suas formas vermelhas, um pouco as formas da Coca-Cola. O amparo de quem ficou e as prendas que chegam dos que partiram.
Antes de entrarmos numa leitura mais pormenorizada do livro, assentemos em algumas noções básicas e outras tantas reflexões para melhor entendermos e apreciarmos o esforço de tolerância e o despojamento da autora na tentativa de compreensão da sua infância sem mãe presente, situação igual à de tantas outras crianças, filhos e filhas de emigrantes, entregues aos cuidados da avó.
Vale a pena descrever um dos gritos de revolta. E passo a citar:”Porque não me levas contigo como fazem os outros pais?
-Pois, dizes bem, minha filha! Os teus amigos têm pai e têm mãe…
-Não me digas que, ainda por cima, tenho culpa de não ter pai!? Matei-o, por acaso?
-Não foi o que disse! Mas como poderei trabalhar 14 horas por dia contigo a meu cargo?”. Fim de citação.

A avó surge no livro, sobretudo na primeira parte, como a figura tutelar de toda uma geração que só via os pais nos dias quentes de Agosto. O envio de dinheiro não compensava a necessidade do carinho.
A violência que o livro por vezes liberta é suavizada pelo sussurro poético que penetra em muitas páginas e humaniza situações dramáticas.
Na década de 60, no auge da emigração, praticamente coincidente com o início da guerra colonial, o mundo rural mantinha-se, nos seus fundamentos, imutável. A chegada a um espaço urbano sempre em permanente mutação, criou uma autêntica revolução interior nos emigrantes, aceitando o domínio francês, mas desenvolvendo a sua auto-estima, mais patente em relação aos que ficaram na terra. Os valores eram outros, sociais e económicos, o quotidiano consumista era para eles incompreensível. Não se compaginava com a poupança. Socorro-me das palavras da autora quando reflecte sobre “as discrepâncias entre subdesenvolvimento económico, social e cultural das infra-estruturas portuguesas face à opulência da realidade francesa”.
Depois havia a barreira da língua. Muitos ignoravam a própria. E então adquiriram e aportuguesaram novos vocábulos que não faziam parte do seu universo rural.
E quando começaram a vir de férias, foram alvo da inveja, uma das fontes do ressentimento, como escreveu o historiador Marc Ferro.
Lembra a propósito Isabel Mateus “a arrogância e a atitude provocadora dos que permaneceram versus aos que se ausentaram”.
Já tinham pago ao passador ( nos seus códigos de honra o primeiro dinheiro poupado era para entregar ao passador), começaram a comprar terras a quem tinham servido, num desejo intenso, no prazer da compensação, com um sentimento original e quase sagrado da propriedade privada. E construíram casas ao arrepio da arquitectura tradicional da aldeia.
As poupanças que colocavam os bancos serviam não para desenvolver as suas terras, a sua região, mas antes para serem aplicadas em investimentos no litoral e para alimentar a máquina de guerra.


Rogério Rodrigues num momento da sua prelecção.



Quando chegavam de férias, a Vila agitava-se. Eram os carros de matrícula francesa, a inveja e o ressentimento que se manifestavam em críticas mordazes, salientando o ridículo que afinal não passava de uma ostentação naive de quem tinha acesso à moeda forte.
O preço dos produtos subia, nos andores das procissões predominavam as notas francesas (muitas das festas das aldeias foram mesmo alteradas para Agosto, o mês de férias dos emigrantes), e ouvia-se um linguajar estranho, cheio de corruptelas vocabulares, assente na componente fonética que, se por um lado servia de identificação do emigrante, por outro, era compreensível a sua utilização, pois, com frequência, desconheciam a palavra equivalente em português.
Route porque não havia estradas no seu vocabulário rudimentar. Apenas caminhos ou canelhas.
Usina, porque não havia fábricas no mundo rural. Mal eles imaginavam que fábrica no português-brasileiro se diz usina.
Vacanças porque ignoravam o que eram férias.
Retraite porque nunca tinham ouvido falar em reforma.
Batiment e chantier porque os altos prédios e estaleiros nunca tinham feito parte do seu universo.
Femme de ménage, intraduzível em português na sua época, pois não havia mulheres da limpeza, antes criadas de servir, com uma conotação bem diferente e mais pejorativa.
Muitos e muitos vocábulos poderíamos analisar, não apenas nos limites da linguística mas, sobretudo, na sua explicação sociológica.


Texto: Rogério Rodrigues / Foto: João Costa



(continua)


terça-feira, 30 de agosto de 2011

" ATerra do Chiculate" de Isabel Mateus, e "A Aldeia", de Francisco Moura

Tal como divulgámos neste espaço, decorreu, no passado dia 27, na biblioteca municipal de Torre de Moncorvo, a apresentação do livro "A Terra do Chiculate", de Isabel Mateus, e da abertura da exposição de pintura " A Aldeia", de Francisco Moura, no Centro de Memória de Torre de Moncorvo.

A publicação de Isabel Mateus foi apresentada por Rogério Rodrigues, perante um vasto público, sendo evidente o contributo desta obra para o estudo da emigração portuguesa.
" A Aldeia", de Francisco Moura, aguareliza traços e troços de Carviçais, num conjunto de duas dezenas de trabalhos, expostos até 25 de setembro.

O auditório da "Terra de Chiculate".


Abertura da sessão pelo sr. Presidente da Câmara, Eng. Aires Fereira.



Rogério Rodrigues e a autora, Isabel Mateus.


Algumas palavras do Sr. Presidente, Eng. Aires Ferreira, para as aguarelas de Francisco Moura.

Imagens: João Costa

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Livro de Isabel Mateus e Exposição de Francisco Moura, no próximo sábado na biblioteca municipal

(Clicar sobre o convite, para AMPLIAR)

Será apresentado no próximo sábado, dia 27 de Agosto, na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo o livro de Isabel Mateus, intitulado "A terra do chiculate", o qual versa a problemática da emigração portuguesa (e trasmontana em especial) para terras da mítica Europa (sobretudo para França) - eram as "terras do chicolate", no dizer de um garoto, à época com os pais emigrados. Estará presente a Drª. Maria da Conceição Tina Melhorado, uma das pessoas retratadas no livro, através de uma fotografia do conceituado fotógrafo Gérald Bloncourt (também autor da fotografia da capa). Conceição Melhorado era uma criança nos anos 60, quando seus pais emigraram para França, tendo conhecido na pele os problemas da emigração, o que não a impediu de vencer na vida (ou talvez por isso). - A apresentação do livro estará a cargo de Rogério Rodrigues, também escritor e jornalista, nosso conterrâneo e amigo da autora.

Aproveitamos para informar que o livro "O trigo dos pardais", também de autoria de Isabel Mateus (cujo lançamento noticiámos neste blogue: http://torre-moncorvo.blogspot.com/2010/04/um-sabado-cultural-com-trigo-dos.html), foi incluído no Plano Nacional de Leitura (PNL), programa Ler+, sendo recomendado para os níveis do 8º ano de escolaridade. - Aqui ficam as nossas felicitações à ilustre escritora (nossa conterrânea e colaboradora deste blogue) pelo reconhecimento da sua qualidade por parte das entidades oficiais ligadas ao ensino da Língua Portuguesa.

Ainda no sábado à tarde, depois do lançamento do livro de Isabel Mateus, teremos a inauguração de uma exposição de pintura sob o tema "A aldeia", de autoria de Francisco Moura, mostrando diversos aspectos da aldeia de Carviçais. Esta mostra ficará patente no Centro de Memória (agregado à Biblioteca Municipal).

A não perder!!