Momento de abertura da sessão, pela representante do Município, Drª. Helena Pontes, Chefe de Divisão de Cultura e Turismo
A conferência de Rogério Rodrigues intitulada “Subsídios para a história da Maçonaria e dos ideais republicanos em Trás-os-Montes e Alto Douro”, realizada no passado sábado, dia 13 de Novembro, encheu por completo o auditório do Museu do Ferro.
Mais de meia centena de pessoas, algumas vindas de outros concelhos nordestinos, quiseram estar presentes, algumas mais esclarecidas, outras mais curiosas por saber algo mais sobre um tema ainda rodeado de uma certa aura de hermetismo.
Rogério Rodrigues começou por dizer que não se pode compreender a implantação da República sem se conhecer a acção da Maçonaria e da Carbonária. Para os mais interessados sobre o tema indicou alguma bibliografia, em que também se baseou para elaboração desta dissertação, além de uma lista (inédita) de nomes de maçons trasmontanos iniciados em finais do século XIX e inícios do séc. XX, entre os quais alguns moncorvenses, dados que lhe foram fornecidos por um historiador seu amigo.

O conferencista Rogério Rodrigues.
Referiu Rogério Rodrigues que, desde cedo, a Maçonaria foi diabolizada pelos poderes instituídos (nos tempos da Monarquia Absoluta e do chamado “Estado Novo”), sobretudo pela Igreja. Não obstante, mesmo esta instituição religiosa teve muitos sacerdotes e até alguns dignatários de mais relevo ligados à Maçonaria, de que deu vários exemplos, como o bispo Alves Feijó (bispo de Macau, Cabo Verde, Angra e Bragança), natural de Freixo de Espada à Cinta (nasceu em 1816 e faleceu em 1874). Mesmo no “Estado Novo”, dois grandes amigos de Salazar eram maçons: Albino dos Reis e o médico Bissaya Barreto.
Relativamente a Trás-os-Montes, e começando por Torre de Moncorvo, o autor referiu alguns moncorvenses que ainda no séc. XIX tinham aderido à Maçonaria, com destaque para Francisco Meireles, cujo nome está ligado à praça central da vila, por ter sido o benemérito que deixou a sua fortuna para a constituição de um Asilo para desvalidos nesta vila, hoje Lar Francisco António Meireles. Aliás, a benemerência associada à assistência social e à alfabetização foram sempre uma das preocupações dos bons maçons. Francisco Meireles foi um importante negociante e financeiro que tendo passado a sua vida fora da sua terra de origem (foi o fundador de uma “loja” maçónica em Aveiro), tendo enriquecido, acabou por legar em testamento avultada soma para a criação do referido "asilo" moncorvense.
A numerosa assistência, escutando atentamente.
Além de F. Meireles, são conhecidos os nomes de outros moncorvenses, como Cândido Dias, negociante no Porto, Joaquim Firmino Miguel, oficial da marinha mercante (iniciado em 1905), Luís Henrique de Almeida (professor) e Abel Gomes, iniciado em Moçambique em 1906, o qual, tendo regressado, viria a ser presidente de Câmara, no período da Primeira República, em Moncorvo. Abel Gomes foi quem inaugurou o Registo Civil nesta vila, ao registar um filho, logo após a República, quando as pessoas ainda estavam algo relutantes em relação a este tipo de registo, como dá testemunho o Abade Tavares, seu amigo, na monografia da Senhora da Teixeira. Rogério Rodrigues pensa que Abel Gomes terá sido um dos instaladores do Triângulo de Moncorvo, constituído em 1911, com o nº. 155, logo a seguir ao de Bragança e de Mirandela. Informou ainda que para se constituir um triângulo eram necessários três mestres. No entanto, os fundadores do triângulo de Moncorvo foram: José António dos Reis Júnior, um jovem advogado de 27 anos, Guilhermino Augusto Vaz, farmacêutico, Miguel Frederico Mesquita (com o nome simbólico de Ferrer), de 35 anos, lavrador. Surgem depois outros como António Alberto Carvalho e Castro, empregado dos Caminhos de Ferro em Miranda do Douro e Flaviano de Sousa, o empreiteiro que justou a construção do caminho de ferro de Pocinho a Torre de Moncorvo (linha do Sabor). O triângulo de Moncorvo teve uma vida curta, tendo sido declarado extinto desde finais de 1912, pelo decreto do GOL (Grande Oriente Lusitano) de 7.08.1913, visto que só um dos "obreiros" se mantinha activo, nessa data.
Momento de convívio, no final da sessão, nos jardins do Museu
Sobre outros famosos maçons de Trás-os-Montes, o conferencista mencionou: Alves da Veiga, natural de Izeda (Bragança), licenciado em direito, um dos fundadores do PRP (Partido Republicano Português), que esteve na intentona do 31 de Janeiro no Porto, pelo que acabou no exílio, tendo regressado com a República e vindo a desempenhar cargos de relevo depois de 1910; Emídio Garcia (fundador do liceu de Bragança); o já referido bispo Feijó (de Freixo de Espada à Cinta); Adelino Samardã, de Sabrosa, que esteve ligado à disseminação da Carbonária em Trás-os-Montes; António José Claro, de Chaves; Francisco António de Campos, barão de Foz Côa, riquíssimo proprietário, filólogo, que chegou a presidente da câmara de Lisboa e que foi Grão-mestre da Maçonaria lusitana; Antão de Carvalho, da Régua, um dos paladinos do Douro, que foi ministro da Agricultura na 1ª. República, que levou à criação da Casa do Douro, já no início do Estado Novo, entre muitos outros, terminando em Raúl Rego, de Macedo de Cavaleiros, o último Grão-mestre trasmontano.
Entre os focos mais activos, em termos de República e Maçonaria, destacou ainda as cidades de Vila Real e de Chaves, sendo daqui originário (e onde se terá iniciado) o Marechal Carmona, 1º. Presidente da República do Estado Novo, apesar de depois se ter distanciado.
A finalizar, Rogério Rodrigues disse que o fim da Monarquia começou, indirectamente, com um trasmontano, de Vinhais, o regicida Alfredo Buíça (que era carbonário), e acabou com outro trasmontano, que pouco nos ilustra, e que foi o Abel Olímpio “Dente de ouro”, natural dos Estevais da Vilariça (concelho de Torre de Moncorvo), e que foi o executor da famosa "Noite Sangrenta". - Nota nossa: Este episódio foi motivo de série televisiva há pouco transmitida pela RTP, com assinatura de Tiago Rodrigues, filho de Rogério Rodrigues.
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Fotos: R.Leonardo e H.Tavares