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terça-feira, 16 de julho de 2013

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Uma obra da Primeira República em Carviçais (1912)

E ainda a propósito de República e de inaugurações, aqui fica uma obra, notável para a época, na aldeia de Carviçais: o chafariz das traseiras da igreja, encimado por um belo gradeamento em ferro forjado. É possível que a guarita que faz de urinol (mesmo no limite do lado esquerdo da fotografia) corresponda também à mesma empreitada, o que revela uma preocupação sanitária e de incentivo ao civismo, pois o que era normal, nesses tempos, era urinar à esquina da canelha.
Também nos tempos em que não havia água canalizada, o chafariz na praça era um grande feito de natureza social.
É de supor que a obra fosse já uma decisão da junta saída do novo regime, sendo concluída em 1912, como atesta a inscrição da "Junta de Paroqia [sic] de Carviçaes", empenhada em marcar a diferença. O belo escudo da "Republica Portugueza", em ferro fundido deve ter sido encomendado às fundições que havia na cidade do Porto ou arredores, mas é de crer que o trabalho de ferro fundido seja obra de ferreiros locais.
Txt. e fotos: Nelson Campos

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Banda de Carviçais vai a Portel (Alentejo)

Dia 30 de Julho (sexta) a Banda de Carviçais chega a Portel a seguir ao almoço.
Por volta das 19h tocam em Portel e a seguir rumam a Oriola onde será o concerto por volta das 21 horas.
Sábado a seguir ao almoço regressa a Carviçais.
Quem andar por terras alentejanas tem a oportunidade de poder ouvir ao vivo a Banda de Carviçais.


Txt. e foto: Rui Carvalho (www.forumcarvicais.com)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Memórias da linha do Sabor - estação de Carviçais

Estação de Carviçais em 27.04.2010 (foto de Rui Leonardo)

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Sobre a linha do Sabor, ainda há dias aqui escrevemos: "o lanço do Pocinho, Moncorvo e Carviçais (34km) foi aberto à circulação em 17 de Novembro de 1911. Custou cerca de 361.000$000 réis. O lanço de Carviçais foi aprovado em 29 de Fevereiro de 1908 e o projecto do lanço seguinte, de Bruçó a Brunhosinho em 31 de Dezembro de 1910".

Foi há cerca de 100 anos, na transição da monarquia para a República.

O combóio era, na época, a grande esperança de desenvolvimento regional, expectativas mineiras e cerealíferas à mistura. Hoje são os IC's, os IP's, auto-estradas, com outras minas ou talvez não. "Todola vida es sueño..." diria Calderón.

O que ficou? - vestígios e memórias. Chamam-lhe Património. "Património industrial", já que o combóio foi o símbolo por excelência da Revolução Industrial. Todavia a região nunca deixou de ser eminentemente rural. Seria utópico sonhar aqui Birminghan's, Ruhr's ou até mesmo Seixais e Barreiros. Dessa Revolução Industrial chegaram-nos apenas, tardiamente (ou quando foi possível), os fumos de um símbolo dos seus momentos primeiros: máquinas oitocentistas no dealbar do século XX e durante mais de três quartos desse século.

Mas, ficou-nos algo mais, felizmente: excelentes apontamentos escritos pela pena de escritores da região. Aqui ficam apenas dois excertos:

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1 - «Duma ponta à outra são cento e vinte quilómetros, mas quer para cima quer para baixo, aquilo era viagem que durava de manhã à noite. O combóio levava tudo, parava em toda a parte. Nas estações, quase todas isoladas na serra, as cargas e descargas faziam-se lentamente, mas em grande alvoroço, os carregadores a gritar e a correr numa pressa de teatro, temerosos de que o chefe os repreendesse ou o senhor maquinista se irritasse por ter de esperar. (...) De súbito o chefe apitava, a locomotiva respondia, os carregadores batiam uma continência marcial e o combóio arrancava, inclinava-se a fazer a curva, desaparecia entre os taludes. / Tantas vezes viajei nele que, numa ilusão de criança, o julgava coisa minha. O combóio da linha do Sabor existia para meu prazer, era o brinquedo em tamanho grande que me tinham dado e que, num ar de excitação e festa, me levava para a aldeia ou dela me trazia.» - RENTES DE CARVALHO, in: "A amante holandesa", Ed. Escritor, 2003.

Estação de Carviçais - os belos azulejos já foram rapinados das paredes exteriores!

2 - «1977. O combóio marcava o tempo, que bem podia ser adjectivado de medievo: as casas escuras e térreas, cobertas de telha vã, paredes de pedra solta, sem rebôco, partilhadas com os animais, os tavolados toscos e sujos varridos a vassoura de giesta, a iluminação de petróleo. (...) Horário de trabalho: de sol a sol. Horológios: os da torre da igreja, que beatificava as horas com as 'avé-marias', e o comboio, que as mundanizava. Era depois de o apito das dez (horas de terça) entoar pelos campos que se matava a fome e aliviava as dobradiças do moirejar. Era depois de passar o meio-dia, hora de Sexta, que se jantavam mais uns mordos. Era depois do apito das seis da tarde, horas de véspera, que se largava a rabiça do arado. / - Vamos parar, que já lá vai o comboio - dizia o João Caturra que, debaixo de um sol escaldante, segava desde os primeiros alvores do dia. E erguia o costado, deitava a mão às cruzes, e ficava a olhar ao longe aquele mostrengo negro como a fuligem que se aproximava lentamente. (...) ... o combóio já fazia parte da vida e da paisagem. (...) Apita Abílio!... - O Abílio era o maquinista natural da terra, que assim cumprimentava todos, e de uma só vez.» - ANTÓNIO SÁ GUÉ, in: "Contos dos Montes Ermos", ArtEscrita editora, 2007.

Por: N.Campos; fotos: R. Leonardo

terça-feira, 16 de março de 2010

A Emigração na literatura regional - 2

Ainda sobre o tema da emigração na literatura regional, se no "post" anterior a acção se centrava no momento do "salto", neste caso, com Vítor da Rocha (outro importante autor natural de Carviçais), encontramos já um outro aspecto da estória da emigração: o dos que ficavam e a sua relação com o que "andava lá por fora a ganhar a vida", como dizia um célebre anúncio telvisivo de há muitos anos.
Este trecho, de autoria de Vítor da Rocha, foi retirado do conto "Argamassa para uma casa", incluído no livro "Na andadura do tempo", editado por ArtEscrita, 2007, pág. 99 (1ª. ed. Campo das Letras, 1997):

«Horácio cresceu quase sem pai, morto onze meses em França e vivendo apenas no mês de Agosto, então regressado ao seio da família e dos conhecidos. De Agosto para Agosto do ano seguinte, Horácio estranhava cada vez mais a vinda daquele homem, que lhe trazia, guardados na mala, por entre roupas e ferramentas novas, chocolates, grossos e compridos, que ele nunca vira iguais na loja do senhor Faustino, e dois ou três brinquedos, um carro a pilhas e um avião, uma carruagem depenada do comboio, uns com tinta fresca e cheiro a novos, outros a ressumirem ferrugem da pubela onde o pai os encontrava. Oferecia-lhe as guloseimas e as prendas, punha-lhe as mãos nos cabelos, beijava-o na face, com os espinhos da barba a picá-lo, e subia as escadas para o interior da casa a fazer festas à sua mãe. Mas as festas terminavam logo nos primeiros dias, iniciando-se depois as discussões, ora em surdina ora em berros sem respeito por ele, passando o resto do tempo a pegar em copos na taberna. Com bebedeira todas as noites, assim o pai de Horácio passava as férias, só voltando a ser o mesmo homem da chegada na hora da partida, quando, os olhos molhados, beijava novamente o filho, acariciava-lhe outra vez os cabelos, e, fechando as malas, já sem as prendas para ele, pegava uma em cada mão e se metia no táxi do senhor Aníbal, um Peugeot 304, a ronronar sonolento à porta, com destino à fronteira de Barca de Alva».

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Emigração na literatura regional - 1

No seguimento do "post" sobre o tema da emigração, aqui deixado há dias por Isabel Mateus, em que a nossa conterrânea e colaboradora lançava o repto a quem nos quisesse contar as suas aventuras/desventuras dos tempos do "salto", ocorreu-nos à lembradura algumas passagens literárias, ainda por cima de autoria de outros conterrâneos e colaboradores nossos, como é o caso de António Sá Gué. Aqui deixamos como sugestão o seu livro "As duas faces da moeda" (Papiro Editora, 2007), de que respigamos esta passagem, contando a aventura emigrante de um "carviçaleiro":

«O ti Chico Sá sentou-se no seu canto do escano, abriu o preguiceiro e serviu-se. O Augusto imitou-o. Um nico de tempo depois, à sua voz, todos se calaram:
- Um dia destes, vou para França - disse, procurando dar à voz uma entoação natural, e que simultaneamente não deixasse transparecer que já estava tudo tratado.
Silêncio! Toda a gente virou o olhar na sua direcção, como quem espera mais explicações.
- Vais para onde? - perguntou a Eva.
- Vou para França. Isto aqui não dá nada. Nunca se sai da cepa torta. Quantas peças vendeste hoje na feira? - perguntou, para poder justificar a sua decisão.
- Nenhuma.
- E como é que vais? Ao deus-dará? - inquiria o Chico Sá.
- A salto.
- E quanto custa? E dinheiro?
- Vou pedi-lo emprestado à D. Gertrudes.
- Ó homem! - dizia a Tia Maria Júlia. - Olha que de pobres não passamos e a ricos não chegamos. Por isso não vás! Cá... sabemos com o que contamos, apesar de pouco. Lá... pode até ser mais, não digo que não, mas... o dinheiro não é tudo!... E a língua!... Quem é que os percebe?
Todos estes pensamentos já tinham trespassado o espírito do Augusto do Cabeço. Mas de que outra forma podia um dia aspirar a ter um amendoal nas Arcas? ou um olival na Maria-Moura? Não havia». (obra citada, pág. 18-19)

O certo é que o Augusto abalou mesmo. Vale a pena ler o resto: a saída de Carviçais pela madrugada, a viagem pela estrada de Freixo-Barca de Alva, em direcção a Almeida, com outros companheiros de jornada, como o José Gaio, o Valente e o Bernardo, levados num velho furgão por um passador carrancudo e má-rês. A passagem por brigadas da GNR (previamente controlados) a travessia da fronteira com Espanha em direcção à mítica França, enfim, um relato de leitura obrigatória para se ter uma ideia dos trajectos do "salto", descritos de forma magistral pela pena de A. Sá Gué.