Mostrar mensagens com a etiqueta Campos Monteiro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Campos Monteiro. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Canafrechas

Canafrecha - foto de Engº Afonso Calheiros

A Canafrecha (ferula communis) é uma planta umbelífera muito frequente na nossa região.
Por detrás do pavilhão gimno-desportivo da Corredoura existe o micro-topónimo "Canafrechal" ou "Canafichal" (na corruptela popular), apesar de aí actualmente predominar outro tipo de plantas que parecem ser o "embude" (Oenanthe crocata). É de registar que uma das personagens mais marcantes da novela "Tragédia de um coração simples", de Campos Monteiro (in Ares da Minha Serra), era um rapazola miserável, misto de ratoneiro e de vagabundo, conhecido por Canafrecha, uma alcunha que remete para a presença dessa planta nos arredores da vila de Torre de Moncorvo.

Cabafrecha em flor, nesta fase do ano, à saída de Torre de Moncorvo - Aveleiras (foto de Engº Afonso Calheiros)
Numa breve procura feita pela blogosfera, encontrámos esta curiosa informação, que aqui reproduzimos, com a devida vénia do blogue "Mistérios do Além": «Canafrecha: chamam-lhe por vezes “heracleia”, o que parece indicar, por referência a Héracles – denominação grega de Hércules -, que as suas propriedades afrodisíacas (que excitam a apetência sexual) são conhecidas há muito tempo. A sua acção estimulante sobre as funções sexuais é muito eficaz. Entre os diversos preparados à base de canafrecha, citemos o vinho aperitivo, que se prepara macerando, durante 10 dias, 50 gramas de sementes de canafrecha em 1 litro de vinho tinto. E para obter o “tal” efeito basta beber 1 copo daquela infusão antes das refeições e pronto: abaixo o Viagra e voto a favor da Canafrecha; é mais barato e já os gregos diziam que era muito eficaz…» ver: http://misteriosalem.blogspot.com/2007/09/excitao-sexual-pelas-plantas.html


Numa busca na "net" encontrámos esta fotografia de autoria de V. Jacinto (in http://farm4.static.flickr.com/3353/3564012988_497b6ed648.jpg) legendada como "canafrecha"

Ainda do "Jornal de Arganil", encontrámos citação de um artigo de Miguel Boieiro, em que se diz:
«Numa das acções de biologia inseridas nos programas da Ciência Viva que costumam decorrer no Verão, o Professor Fernando Catarino apontava a canafrecha como a maior erva que temos em Portugal, visto que o canolho oco desta umbelífera chega a atingir cinco metros de altura. Acrescentava a seguir que a conhecida frase do direito romano "a justiça deve ser simultaneamente firme e branda como uma férula", se relaciona com as propriedades físicas desta espécie que cientificamente se designa por Ferula communis L. / A canafrecha é venenosa e se algum animal (ou pessoa) ingerir a planta fresca contrai uma moléstia que a pode levar à morte em poucos dias. No entanto, diz-se que quando seca perde as suas características tóxicas./ Sabemos que ela é utilizada para fins medicinais no Norte de África e que certos povos usam a sua essência resinosa para provocar abortos durante o primeiro trimestre de gestação. / Finalmente esta férula, cujo género engloba cerca de 170 espécies, tem fama de favorecer a apetência sexual e de ser ainda melhor do que o famoso "viagra". Para tal, macera-se, durante dez dias, 50 g de sementes num litro de vinho tinto e bebe-se um cálice antes das refeições. Será mesmo assim?» - Por: Miguel Boieiro, in Jornal de Arganil.
N.Campos

quinta-feira, 4 de março de 2010

A "rebofa" voltou à Vilariça:

"- Então? - perguntou por fim - Lá em baixo, como vai isso?
António Sugão ergueu a fronte, que apoiara nas mãos.
- Lá por baixo - respondeu - vai o inferno! Calamidade assim, há muitos anos que se não viu. Nem os velhos se lembram de coisa igual!
- A rebofa? [1]
- De monte a monte, e cada vez maior. Isto em Maio, quando já toda a Ribeira [2] estava semeada, e as novidades cresciam que era um gosto vê-las!
- E a nossa courela? [3]
-Perdida sem remédio! Tem bons três metros de água em riba dela, e, quando a rebofa descer, nem sombras de meloal, nem de feijão, nem de milho, nem de coisa nenhuma! Lôdo e pedregulho é o que havemos de colher."

[1] Rebofa: termo regional por que é conhecida a cheia da Vilariça.
[2] Ribeira: designação genérica de todo o vale.
[3] Courela: trato de terreno de aluvião na parte mais funda da planície. Chamam-se barrais as terras das margens só excepcionalmente inundadas; e cabeceiras as de mais alta cota, aonde a cheia não chega".

CAMPOS MONTEIRO, A Rebofa, in: "Ares da minha serra", reed. da CMTM, 1995 [1ª. ed. 1933]

Se as "rebofas" (cheias periódicas do vale da Vilariça, que se verificavam anualmente) podiam ser maléficas para a agricultura, por outro lado também tinham as suas vantagens, pois os nateiros constituíam um excelente fertilizante natural. No entanto, no passado, estas "rebofas" originavam constantes demandas entre os proprietários, como anota N.Campos: "acontecia que a ribeira (incluindo o rio Sabor), mudava de leito, com repercussões na propriedade da terra, sendo fonte de graves litígios entre os proprietários. Como primeiro passo para se remediar a situação, Filipe III mandou fazer um Tombo das parcelas, em 1629" mas "só mais tarde, em 1655, com D. João IV, foi expedida ordem para se 'encanar' o leito da ribeira, seguramente através do plantio de árvores ao longo das margens, o que deveria efectuar-se à custa dos interessados (provisão de 1656)". - cf. Nelson Campos, "A evolução da paisagem agrária no Douro Superior" in Viver e saber Fazer. Tecnologias tradicionais na região do Douro. Estudos preliminares (coord. de Prof. Doutora Teresa Soeiro), edição do Museu do Douro, Peso da Régua, 2003 [1ª. ed.].
Com a construção das barragens, este fenómeno da "rebofa" deixou de se verificar tão amiúde, e só em anos muito chuvosos (como foi o caso desta invernada), quando se esgota a capacidade de retenção das barragens, tal volta a acontecer. Assim aconteceu no passado fim de semana, com a abertura das comportas do Pocinho, tendo igualmente voltado as cheias na zona ribeirinha da Régua e da Ribeira, na cidade do Porto.
Aqui se vê, na foto acima, um barco a flutuar sobre o pontão da Foz do Sabor, povoação que ficou isolada da sede do concelho.
Os sinais de trânsito ainda emersos, ficaram, desta feita, a orientar o tráfego fluvial...

Trânsito cortado para a Foz do Sabor, na zona da "ponte seca".

Fotos de Higino Tavares e de Camané Ricardo (a última da sequência) - em 28.02.2010