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domingo, 20 de março de 2011

Espargos

Sabor da Primavera - Espargos com ovos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO IV

5 – Património sumagreiro
5.1 – Atafonas existentes e sua preservação

Atafonas são os moinhos onde se processava a redução da folhagem do sumagre a pó, para posterior comercialização. Sabemos de algumas poucas atafonas que, embora em semi-ruína, ainda existem na nossa região transmontano-duriense, uma em Avarenta, no concelho de Valpaços, outra em Vale de Figueira, no concelho de S. João da Pesqueira - esta muito curiosa por ter a base em xisto - e ainda uma terceira em Muxagata, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, que é a que está melhor conservada,apesar de instalada num casinhoto de xisto transformado em loja de gado onde cosbitam dois cães,uma mula e meia dúzia de pombas...Há registos da existência nos anos vinte do século passado de cinco atafonas ainda a funcionar no concelho de Foz-Coa, uma na freguesia de Mós e de quatro na própria vila. A referida freguesia de Mós era, à semelhança de Avarenta, de Tinalhas e de outras terras do nosso país, conhecida como terra de sumagreiros e uma crónica do século XVIII de um fidalgo desta terra D. Joaquim de Azevedo a descreve como tal: «…Mós fica em um estreito valle por onde corre um pequeno ribeiro que vem de S. Marcos e junta com outro dito Escorna Bois entre montes cheios de amendoeiras e sumagres, com boas hortas, muitas cebolas e algum pão…». Mas era nos taludes soalheiros, de solos pedregosos e pouco férteis para outras culturas, que o sumagre se instalava, como vem registado noutra excelente monografia, esta sobre os sumagreiros de Avarenta no concelho de Valpaços, da autoria do Dr. Adérito Medeiros Freitas: «…Além dos sumagres espontâneos que abundam no monte baldio e nas ladeiras incultas, por entre o fragoedo, havia muitos sumagres plantados por estaca, nas ladeiras mais pobres de húmus…». Nesta aldeia de Avarenta a atafona está devidamente referenciada por este autor e o município de Valpaços está atento a este raro património, mas é possível que outras existam na região transmontano-duriense, deixando aos leitores esse desafio. Estas atafonas podem confundir-se com os antigos lagares de azeite, dada a semelhança da mó de granito – geralmente apenas uma – e com um eixo central que é um tronco de madeira que permitia rodá-la sobre um pio geralmente também em granito - em Vale de Figueira este pio foi feito com lajes de xisto - sendo essa grande roda puxada a força de animal, muar ou bovino. As folhagens do sumagre eram previamente secas ao sol e depois batidas com uns manguais para ficarem em pequenos pedaços que posteriormente eram moídos nas referidas atafonas, ficando reduzido a um pó que era ensacado e encaminhado para o comércio.


Atafona de Muxagata - V.N. Foz Côa.

Atafona de Vale de Figueira - S. João da Pesqueira.


5.2 – Associação cultural ligada ao sumagre

Curiosamente – e como grande exemplo para nós transmontanos e durienses – é na Beira Interior, numa povoação de forte tradição sumagreira denominada Tinalhas, no concelho de Castelo Branco, que se organizou no ano 2000 uma agremiação cultural ligada ao seu passado sumagreiro: « SUMAGRE - Associação de Dinamização e Salvaguarda Patrimonial ».

5.3 - Publicações

Em Trás-os-Montes a única referência que conheço é o título do Boletim da Junta de Freguesia de Argoselo, no concelho de Vimioso que tem como título « Sumagre », o que dá ideia da consciência que os habitantes de Argoselo têm do seu forte passado peliqueiro e sumagreiro.
Nota: Deixo o meu agradecimento ao Sr. Dr. Adérito Freitas pela cedência de uma foto e um desenho. Bem haja.

Bibliografia

Adérito Medeiros Freitas – 2006 – « Os sumagreiros de Avarenta – cultura,colheita, transformação e exportação do sumagre » - Edição da Câmara Municipal de Valpaços.
Artur Carrilho – 1940 – « Ainda o sumagre » - artigo na revista « Gazeta das Aldeias »
Francisco Ribeiro da Silva – 2001 – « Porto e Ribadouro no século XVII – a complementaridade imposta pela natureza » - artigo na « Revista da Faculdade de Letras »

JOSÉ ALVES RIBEIRO

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO III

4 – Breve história da produção e comércio do sumagre em Trás-os-Montes e Alto Douro

Foi na transição do século XVII para o XVIII que a produção e comércio do sumagre atingiram o auge na região de Riba-Douro. Com o desenvolvimento da viticultura, sobretudo a partir da demarcação pombalina, este cultivo fora progressivamente substituído pela vinha, entrando em declínio, declínio esse apenas interrompido nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, devido à grande crise provocada pela filoxera, em que o sumagre, juntamente com o cânhamo e o tabaco foram as culturas alternativas à vinha.
Mas nos meados e finais do século XVII o valor do sumagre transaccionado no mercado portuense para uso interno e exportação chegava a suplantar - o que é surpreendente - o próprio valor do comércio do vinho!
Mas já anteriormente, no século XVI há registos relativos ao comércio desta matéria prima, como um testemunho do cronista Rui Fernandes, datado de 1531 numa sua crónica muito curiosa intitulada « Descripção da Roda de Lamego duas Légoas» onde relata: «…neste circhoito das sobreditas légoas 15.000 arrobas de çumagre que carregavam pera lixboa e ao algarve e às ilhas e pera todo entre douro e minho e tralos montes e pera a beira…»Em registos do século seguinte, iremos confirmar a grande expressão da produção e comércio deste produto com a transcrição de um excerto de um excelente artigo do Professor Francisco Ribeiro da Silva da Faculdade de Letras da Universidade do Porto intitulado « Porto e Ribadouro no século XVII – a complementaridade imposta pela natureza »: «…os produtos comercializados oriundos de Riba-Douro eram naturalmente o vinho, de que numa acta da Câmara do Porto de Agosto de 1647 é registada a entrada de cerca de 20.000 pipas por ano de vinho de Lamego, o azeite, os citrinos e o sumagre...numa complementaridade em que o Porto, por terra ou por via fluvial, abastecia a região de Ribadouro de géneros básicos como o pão, o açúcar, o peixe seco, o sal, o vasilhame para o vinho, panos e instrumentos diversos…» Nesse artigo é–nos indicado que as primeiras notícias da exportação de sumagre datam de 1584 para Bristol pelos mercadores António Reimão e Anrique Soli, 200 e 210 arrobas respectivamente, sendo a arroba neste caso correspondente a vinte quilos. A exportação em sacos de pó de sumagre para apoio à indústria de curtumes do norte europeu - grande produtor de couros mas sem clima para esta planta mediterrânea – foi aumentando sempre ao logo dos séculos XVI e XVII e fora tal que nos finais do século XVI os sapateiros do Porto queixaram-se da falta e da carestia do sumagre para a curtimenta dos seus couros a tal ponto que foi editada uma regulamentação camarária que obrigava a que pelo menos metade do sumagre chegado ao Porto tivesse de ser comercializado no mercado interno e não pudesse ser exportado, o que obrigava também ao preço mínimo de 160 réis a arroba. Há registos de 1627 que nos informam de um movimento comercial anual de 20.000 sacos de cerca de 2 arrobas cada, ou seja, cerca de 40.000 arrobas e em 1667 esse valor ultrapassava as 54.000 arrobas, tendo Lisboa como destino cerca de 21.000 e o restante a exportação para a Alemanha, Inglaterra, França e Holanda. Como já foi referido, a seguir a este auge começa algum declínio desta cultura com a expansão do sector vitivinícola, sendo o registo do comércio de sumagre em 1786 de apenas 30.000 arrobas. Não obtive dados da época da filoxera em que ainda houve algum ressurgimento do sumagre, mas sabe-se que a partir dos anos vinte do século passado o declínio foi sendo gradual e o último registo que possuo é de um artigo do Eng. Agrónomo Artur Carrilho, publicado na «Gazeta das Aldeias » em Janeiro de 1940, em que refere que o sumagre do concelho de Foz-Côa passa por ser dos melhores do mercado pela riqueza em tanino e pelo cuidado na apresentação, refere ainda que no concelho de S. João da Pesqueira, em Vilarouco e Valongo dos Azeites, se costuma misturar a flor à folhagem na sua preparação o que faz baixar a sua qualidade. Também no referido artigo faz referência ao aumento do preço devido à guerra, para um escudo e escudo e meio quilo do sumagre do Douro. Deve ter sido nestas décadas de quarenta e cinquenta que se cultivaram os últimos sumagres na nossa região, pois actualmente o sumagre é apenas mais um dos muitos arbustos que enfeitam a paisagem, enriquecendo a deslumbrante paleta de cores no douro outonal, mas também menos bem-vinda em situações de planta invasora, porém como cultivo é apenas uma memória do passado, e as atafonas que se mantêm estão também elas próprias votadas ao esquecimento e em vias de total ruína. Como memória que é, e dada a importância que já tivera, é de justiça que algo se faça para que essa mesma memória seja preservada, talvez através do recentemente criado Museu do Douro, sendo naturalmente nesse sentido que este nosso artigo está a ser elaborado.

Representação gráfica de uma atafona.

José Alves Ribeiro

(continua)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO II

3 – Utilizações dos sumagres

3.1 – Os sumagres na indústria dos curtumes

Já foram sendo indicadas algumas das potencialidades desta espécie e das espécies afins, mas iremos centralizar a matéria deste artigo na sua utilidade maior que é a sua utilização como fonte de tanino para a indústria de curtumes, embora tivesse caído em desuso a partir do início do século XX pela obtenção de outras fontes de taninos naturais em condições mais económicas, como cascas de quercíneas e o desenvolvimento pela indústria química dos taninos sintéticos, sendo o tanino fundamental na preparação de peles e couros, extraindo–lhes gorduras e conferindo-lhes certas propriedades de textura, matiz e durabilidade. Há que relembrar aqui a grande ligação da comunidade de origem judaica trasmontana, quer ao comércio de couros e peles – ainda actualmente são referenciados os peliqueiros de Carção e Argoselo no concelho de Vimioso, por exemplo – quer à correlacionada indústria de curtumes. Há que referir que o uso do sumagre nos curtumes passava por uma prévia preparação da matéria prima, sendo necessária a sua secagem e redução a pó em moinhos próprios, semelhantes aos do azeite, denominados atafonas. Era esse pó, muito rico em tanino, que se usava na indústria. De facto os sumagres são arbustos que apresentam em média uma proporção de 20 a30 % de tanino na sua constituição, embora variando com as espécies e com as variedades. As referidas variedades do Rhus coriaria, que é o melhor e mais usado, variedades essas já referidas com as designações de «macho» e «fêmea», apresentam teores de tanino diferentes, mais elevado na variedade macho – 25 a 30% - e menor na fêmea - 22 a 25 %.



Pormenor do sumagre, tendo como fundo Torre de Moncorvo. ( foto: João Costa- 2005)


3.2 – Outras utilizações dos sumagres

Para além do uso na curtimenta de couros e peles, também já se indicou o uso de algumas espécies como tintureiras na indústria têxtil, havendo ainda outras utilizações a assinalar e algumas são muito antigas, embora ainda em uso no nosso tempo, como é a sua utilização como condimento. Já no tempo do Império Romano se usavam na culinária pastas de sumagre, extraídas dos frutos, de sabor um pouco amargo, semelhante ao do limão, e esse uso como condimento ainda se verifica nalguns países do Médio Oriente, assim como se inclui como um dos ingredientes na preparação do denominado «zahtar», condimento salgado muito apreciado no mundo árabe, à base de sumagre, gergelim e tomilho. Também não se pode deixar de indicar o uso de certas espécies de sumagres como plantas medicinais, havendo alguns de cujas folhas e talos se preparam pastas utilizáveis na cura de eczemas e outros problemas de pele, sempre e só de uso externo, e só de certas espécies pois neste género existem espécies tóxicas e até venenosas, sendo uma das mais tóxicas o Rhus toxicodendron L.,como o próprio nome científico indica.

José Alves Ribeiro

(continua)

domingo, 16 de janeiro de 2011

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Nota prévia: Em conversa com o meu amigo José Alves Ribeiro, tive conhecimento deste seu trabalho sobre a cultura do sumagre, outrora praticada em Trás-os-Montes. Se em Torre de Moncorvo esta prática não teve uma forte implantação, resta a memória de alguns dos seus habitantes que tiveram esse ofício nas terras de Foz Côa, quando por lá subsistiam das jeiras. Sugeri, desde logo, que permitisse publicá-lo neste espaço, pelo que imediatamente e simpaticamente acedeu ao pedido.

O nosso agradecimento.

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
José Alves Ribeiro, Eng. Agrónomo, Professor Emérito da UTAD

1 – Caracterização botânica e fitogeográfica do sumagre – Rhus coriaria L.

O sumagre, de nome científico Rhus coriaria L., é um arbusto da família das Anacardiáceas, família botânica de plantas ricas em resinas e taninos, onde também estão inseridas espécies como o cajú, a manga, o pistacho, a aroeira e a cornalheira, sendo estas três últimas espécies arbustivas do género Pistacia, sendo a cornalheira - Pistacia terebinthus L. - também frequente nas matas e mortórios da vegetação mediterrânea duriense. O sumagre tem a sua inserção fitogeográfica na grande região mediterrânea, mais precisamente na sua sub-região mais oriental, tendo-se expandido a sua cultura para toda a mediterraneidade. Os romanos o utilizavam como condimento, sendo também muito antiga a sua utilização na preparação das peles e couros ou seja no artesanato e na indústria dos curtumes, utilização essa que entrou em declínio a partir do início do século XX, com o desenvolvimento de outras fontes de obtenção do tanino para a referida indústria.
É um arbusto de médio a grande porte, mesmo arborescente, de marcadas preferências por locais quentes e soalheiros, nas áreas de feição mediterrânea do nosso país, na Terra Quente e vale do Douro em Trás-os-Montes e Alto Douro, na Beira Interior, no Alentejo, no Algarve e nas Ilhas da Madeira e dos Açores onde também fora cultivado. Instala-se especialmente nos taludes e nas bordaduras de matos, de caminhos ou de campos de outras culturas, locais para onde a espécie se tem disseminado ao longo das últimas décadas, desde o abandono da cultura, tornando-se um arbusto naturalizado na paisagem vegetal e em certos locais tornando-se mesmo um arbusto potencialmente invasor de vinhas e pomares. Para uma breve descrição botânica podemos caracterizá-lo como um arbusto de folhagem caduca, ramoso, de rebentos e pecíolos vilosos, ou seja de muita pilosidade, de folhas compostas, imparifolioladas, de três a sete folíolos de forma ovado-lanceolada, de recorte crenado-serrado; flores pequenas, dispostas em panículas, de inserção terminal ou lateral nos ramos, sépalas esverdeadas e pétalas brancas, glabrescentes na página inferior e pubescentes a vilosas na página inferior; frutos em cachos tirsóides, sendo cada fruto uma pequena drupa, ou seja um fruto semi-carnudo de caroço, drupas essas densamente vilosas e de cor castanha purpurescente. Existem duas variedades desta espécie, denominadas «macho» e «fêmea», sendo a primeira variedade de maior porte e de folhas também maiores e lisas na página superior e de pecíolo alado na extremidade – ao contrário da variedade «fêmea» em que as folhas apresentam as duas páginas penugentas e de pecíolo não alado nos entrenós superiores.



Sumagre num talude, junto ao rio Douro, na Ferradosa (2008).

2 - Outras espécies do mesmo género Rhus

Uma outra espécie também mediterrânea embora com maior difusão pela Europa sub-mediterrânea da zona balcânica e húngara e ainda da Ásia temperada, é o denominado sumagre tintureiro, Rhus cotinus Scop., é usado como planta ornamental pelos seus longos cachos florais esverdeados, e também usado como tintureiro pela casca das raízes e rebentos juvenis, dando côr amarelo-alaranjada aos tecidos. Outra espécie próxima é o sumagre africano, Rhus pentaphyllum L., de cinco folíolos, originário da região magrebina no Norte de África, também utilizado nos curtumes. Quanto às espécies americanas temos de assinalar o sumagre branco ou sumagre da Colúmbia, Rhus glabra L., sem pilosidade, bastante taninoso mas também de boas qualidades como planta melífera, temos também o sumagre «corno-de veado» ou sumagre da Virgínia, Rhus typhina L.,o sumagre copal, Rhus copallina L., de que se extrai uma boa resina e ainda o sumagre do Arkansas, Rhus cotinoides Nut.,cuja casca e lenho dão matéria corante amarela. Há que referir que os sumagres americanos foram sempre menos usados para os curtumes do que os mediterrâneos por darem couros demasiado corados. Ainda há a considerar os sumagres asiáticos, sendo de assinalar as seguintes espécies: o sumagre semi-alado, Rhus semialata Murray, que produz galhas muito ricas em tanino, o sumagre de cera, Rhus succedanea L., ornamental pela folhagem avermelhada e produtor de uma cera que é extraída dos frutos, sendo também das drupas que se extrai a denominada laca-do-Japão, a partir de uma outra espécie asiática, Rhus vernicifera L., sendo o nome vernicifera muito apropriado pois com essa laca é preparado um excelente verniz.

(continua)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Explosão de aroma

Erva-peixeira (Mentha cervina), em floração.


Esta planta, cada vez mais rara, ainda é utilizada no tempero dos peixes do rio. Pelo seu aroma, presta-se para afujentar certos animais indesejáveis, como os ratos. Aqui está um produto perfeitamente natural contra estes roedores.
Apesar da raridade, o seu cultivo é viável em vaso, jardins e hortas. Necessita de água e de umas aparadelas, de vez em quando, para rejuvenescer.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Etnobotânica - um livro que importa reeditar

«Nas últimas décadas surgiu nos países mais desenvolvidos um vivo e apetente interesse pelo estudo e investigação, consumo e produção destas 'ervas' tão mágicas quanto úteis e imprescindíveis ao sentido da vida.
E, se em tempos remotos o misticismo das 'ervas' não ia muito além das utilizações práticas - medicinais, cosméticas ou aromáticas - mais tarde, com a arte dos jardins, acrescentou-se-lhes também o prazer da comtemplação e da estética enquanto plantas de jardim.
Actualmente, com a afirmação da ciência, a utilização sistemática dos recursos naturais e a valorização da busca da harmonia com a natureza, ficaram abertos amplos e crescentes campos de aplicação - na indústria farmacêutica, perfumaria e cosmética.
Em Portugal, o renovado interesse que se manifesta pelas virtualidades das ervas bravias comestíveis, a partir dos anos 80 coincide, como em todo o mundo, com o nosso máximo desenvolvimento socio-económico. E, em Trás-os-Montes e Alto Douro, onde as tradições e os saberes da memória colectiva fizeram perdurar as ousadas e fascinantes utilizações destas 'ervas' tão simples quanto altivas ou sublimes, o interesse científico, económico e aprazível é também real, frutífero e benéfico.
(...) E, foi no seio de um dos vários projectos [projecto "Plantas aromáticas, medicinais e condimentares/INTERREG II] que resultou esta pequena e modesta obra que queremos que seja oportuna e utilitária, não para mentes hábeis, mas para pessoas práticas.
No entanto, este livro resulta ainda dos mistérios subtis da filosofia do nosso povo que tantas vezes regulava a sua existência segundo o ritmo da natureza ou, sem qualquer constrangimento, daqueles ensinamentos sábios da maravilhosa 'arte de viver' (...)».

- Foi com estas sábias palavras que o nosso conterrâneo Engº. António Manuel Monteiro (técnico superior da DRATM) abriu o livro Etnobotânica, plantas bravias, comestíveis, condimentares e medicinais, de que foi co-autor, juntamente com o Prof. Doutor José Alves Ribeiro (UTAD) e Drª Maria de Lurdes Fonseca da Silva, numa edição de João Azevedo/Mirandela, datada de 2000.
Esta obra encontra-se infelizmente esgotada, embora possa ser consultada, juntamente com outros livros sobre esta temática, na exposição ora patente no auditório do Museu do Ferro (- o nosso agradecimento ao nosso amigo Américo Monteiro pelo empréstimo).

Além da caracterização científica de muitas espécies da nossa região, o livro referido tem o particular mérito de recolher muitos conhecimentos da chamada "sabedoria popular" (que o é, efectivamente), tanto a nível de utilizações gastronómicas como da farmacopeia. Muito pertinente, num tempo em que tanto se fala em "cultura imaterial".
Apelamos aos autories e ao editor, o nosso amigo Roger, que pensem numa rápida reedição, dado o especial interesse desta obra.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ervas aromáticas e medicinais, um sucesso no Museu do Ferro

Tal como aqui anunciámos, realizou-se no passado sábado, dia 12 de Junho, uma sessão sobre ervas aromáticas e medicinais, completada com uma mostra de vários espécimes (ao vivo e em fotografias), pelo Engº. Afonso Calheiros e Menezes, técnico do PNDI e presidente da direcção do PARM.

Esta foi mais uma iniciativa enquadrada no programa de actividades do Museu do Ferro, tendo como critério de oportunidade a celebração do Ano Internacional da Diversidade Biológica/2010, "decretado" pelas Nações Unidas em Outubro de 2009. Além disso, foi objectivo do PARM alargar um pouco mais a temática do Património Natural da região para a qual tem vindo a chamar a atenção, desde os aspectos geológicos à micologia (passeios micológicos, já com duas edições) e ornitologia (igualmente com duas sessões de observação de aves, realizadas nos 2 últimos anos).
É entendimento da associação PARM que o património cultural só faz sentido se tiver em conta o "background" em que se insere, e com o qual se relaciona e interage. - E, no caso do conhecimento sobre as ervas, há um vasto campo de saber popular que urge recolher e divulgar (etnobotânica).

Este evento contou com um público numeroso e muito interessado em saber mais sobre estas matérias. Além dos nomes comuns e científicos das plantas, foram dadas indicações sobre o tipo de utilizações, quer para tratamentos (plantas medicinais), quer para condimentos (aromáticas).

Para as pessoas mais ávidas em conhecer e em saber identificar as diversas espécies, foram expostos vários manuais, para consulta. Além de observarem as fotografias, os visitantes puderam ainda cheirar e mexer nas plantas colhidas no próprio dia, trocando informações com o Engº Afonso, sendo interessante notar que o público (sobretudo feminino e de mais idade) conhecia muitas destas plantas e suas utilizações.

Esta foi também uma oportunidade para os mais jovens se informarem sobre as virtudes de algumas plantas da nossa região, de cuja existência nem sequer suspeitavam. Cumpriu-se assim o objectivo de chamar a atenção para um tipo de património que nos cerca e no qual muitas vezes nem reparamos, nem valorizamos, por mero desconhecimento.

Desde as ervas e folhas para chás (infusões) aconselháveis para quase todo o tipo de situações (cidreira, fiolho, tília, limonete, hipericão, sabugueiro, camomila, arranca-pedras, etc.), aí encontrámos ainda as aromáticas utilizadas na cozinha ou na preparação de alimentos (louro, salsa, hortelã, erva-peixeira, tomilho, poejo, etc.), ou outras aromáticas que nos inebriam os sentidos, seja no monte, ou em jardins (arçã ou rosmaninho do monte, alecrim, bela-luz, esteva, carqueja, madressilva, etc.).
Mas havia ainda as comestíveis (espargos do monte, norça, azedas, beldroegas, etc.), numa vasta recolha feita com a finalidade de se chamar a atenção para a grande variedade de plantas existentes na nossa região e as suas múltiplas aplicações. Numa mesa à parte, figuravam algumas plantas tóxicas, como o embude, verbasco e outras, assim como as que, na crença popular, ora repelem as bruxas (arruda) ou as favorecem (trovisco).

Uma forma de os mais jovens aprenderem a reconhecer as plantas, será através da organização de herbários, complementados com álbuns fotográficos. Os manuais ou catálogos são preciosos auxiliares que podem ser levados para o campo, para uma melhor identificação "in loco".
No final da sessão, os visitantes puderam deambular pelos jardins do museu e identificar alguns plantas referencidas na exposição, ou outras.
Foram ainda servidas infusões de algumas ervas, como camomila, fiolho, hipericão.
A exposição fica patente ao longo do presente mês, no horário normal de abertura do museu (de terças-feiras a Domingos), devendo ser solicitada a visita na recepção, ou por marcação telefónica, no caso de visitas de grupo (tel. 279 252 724).
Fotografias de Higino Tavares, N.Campos, R.Leonardo/PARM

sábado, 12 de junho de 2010

O Hipericão

Pés de hipericão já secos e acondicionados à sombra (Sequeiros - Moncorvo).



Flor de hipericão.

Na impossibilidade de estar presente nessa interessante palestra sobre plantas aromáticas e medicinais, deixo este pequeno registo do Hypericum perfuratum L, com propriedades indicadas contra a ansiedade e depressão, além de que é um bom cicatrizante.

Ervas aromáticas e medicinais em exposição e "workshop" - é hoje, no Museu do Ferro!

Esta actividade consta de uma exposição fotográfica, palestra, seriação e mostra de espécies florísticas com propriedades aromáticas e medicinais, pelo Engº. Afonso Calheiros e Menezes, técnico superior do Parque Natural do Douro Internacional e presidente da direcção do PARM.

Contamos com a vossa presença, pelas 15.30 horas, no Auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.

Organização: Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, com apoio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e associação do PARM.

- Venha aprender mais sobre a flora e a etnobotânica da nossa terra!