quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO IV

5 – Património sumagreiro
5.1 – Atafonas existentes e sua preservação

Atafonas são os moinhos onde se processava a redução da folhagem do sumagre a pó, para posterior comercialização. Sabemos de algumas poucas atafonas que, embora em semi-ruína, ainda existem na nossa região transmontano-duriense, uma em Avarenta, no concelho de Valpaços, outra em Vale de Figueira, no concelho de S. João da Pesqueira - esta muito curiosa por ter a base em xisto - e ainda uma terceira em Muxagata, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, que é a que está melhor conservada,apesar de instalada num casinhoto de xisto transformado em loja de gado onde cosbitam dois cães,uma mula e meia dúzia de pombas...Há registos da existência nos anos vinte do século passado de cinco atafonas ainda a funcionar no concelho de Foz-Coa, uma na freguesia de Mós e de quatro na própria vila. A referida freguesia de Mós era, à semelhança de Avarenta, de Tinalhas e de outras terras do nosso país, conhecida como terra de sumagreiros e uma crónica do século XVIII de um fidalgo desta terra D. Joaquim de Azevedo a descreve como tal: «…Mós fica em um estreito valle por onde corre um pequeno ribeiro que vem de S. Marcos e junta com outro dito Escorna Bois entre montes cheios de amendoeiras e sumagres, com boas hortas, muitas cebolas e algum pão…». Mas era nos taludes soalheiros, de solos pedregosos e pouco férteis para outras culturas, que o sumagre se instalava, como vem registado noutra excelente monografia, esta sobre os sumagreiros de Avarenta no concelho de Valpaços, da autoria do Dr. Adérito Medeiros Freitas: «…Além dos sumagres espontâneos que abundam no monte baldio e nas ladeiras incultas, por entre o fragoedo, havia muitos sumagres plantados por estaca, nas ladeiras mais pobres de húmus…». Nesta aldeia de Avarenta a atafona está devidamente referenciada por este autor e o município de Valpaços está atento a este raro património, mas é possível que outras existam na região transmontano-duriense, deixando aos leitores esse desafio. Estas atafonas podem confundir-se com os antigos lagares de azeite, dada a semelhança da mó de granito – geralmente apenas uma – e com um eixo central que é um tronco de madeira que permitia rodá-la sobre um pio geralmente também em granito - em Vale de Figueira este pio foi feito com lajes de xisto - sendo essa grande roda puxada a força de animal, muar ou bovino. As folhagens do sumagre eram previamente secas ao sol e depois batidas com uns manguais para ficarem em pequenos pedaços que posteriormente eram moídos nas referidas atafonas, ficando reduzido a um pó que era ensacado e encaminhado para o comércio.


Atafona de Muxagata - V.N. Foz Côa.

Atafona de Vale de Figueira - S. João da Pesqueira.


5.2 – Associação cultural ligada ao sumagre

Curiosamente – e como grande exemplo para nós transmontanos e durienses – é na Beira Interior, numa povoação de forte tradição sumagreira denominada Tinalhas, no concelho de Castelo Branco, que se organizou no ano 2000 uma agremiação cultural ligada ao seu passado sumagreiro: « SUMAGRE - Associação de Dinamização e Salvaguarda Patrimonial ».

5.3 - Publicações

Em Trás-os-Montes a única referência que conheço é o título do Boletim da Junta de Freguesia de Argoselo, no concelho de Vimioso que tem como título « Sumagre », o que dá ideia da consciência que os habitantes de Argoselo têm do seu forte passado peliqueiro e sumagreiro.
Nota: Deixo o meu agradecimento ao Sr. Dr. Adérito Freitas pela cedência de uma foto e um desenho. Bem haja.

Bibliografia

Adérito Medeiros Freitas – 2006 – « Os sumagreiros de Avarenta – cultura,colheita, transformação e exportação do sumagre » - Edição da Câmara Municipal de Valpaços.
Artur Carrilho – 1940 – « Ainda o sumagre » - artigo na revista « Gazeta das Aldeias »
Francisco Ribeiro da Silva – 2001 – « Porto e Ribadouro no século XVII – a complementaridade imposta pela natureza » - artigo na « Revista da Faculdade de Letras »

JOSÉ ALVES RIBEIRO

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