Encontrámos no blogue “La bodega de La Solana” (Mazueco de la Ribera, Salamanca), um post do nosso Amigo Ángel Garcia, em que publica um extraordinário poema baseado na Lenda das Amendoeiras, de autoria de um certo Marquês de Los Mojones, que ambos muito bem conhecemos. Ao que sabemos foi publicado pela primeira vez no jornal Mensageiro de Bragança, em 31.03.2000, na sua língua original, com uma tradução em português por H. de Campos. Para se ver a versão em castelhano, clicar em: http://labodegadelasolana.blogspot.com/2010/02/la-flor-del-almendro-y-unos-amigos.html
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Aqui fica a tradução:
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“Existe uma lenda em Portugal, originária do Algarve mas estendida por todo o país vizinho, que mistura o amor e as amendoeiras.
Comenta-se nela que um sultão das mourarias casou com uma donzela do Norte. A esta custava-lhe a adaptar-se à cor dos campos do Sul de Portugal até que… por fim, a lenda.
Esta é uma adaptação que dela fez o Marquês dos Mojones, há cerca de uma década, pensando na zona trasmontana e dedicada aos amigos do lado de lá.
LENDA DAS AMENDOEIRAS
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Grande é o risco que corres
Flor de amendoeira, a primeira,
Que com teu amanhecer temporão
Anuncias a Primavera.
Comenta uma lenda em Portugal
Que uma loira casou com um Sultão.
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Divisas do teu miradouro
Escarpada no outeiro
As terras de Trás-os-Montes
Da outra margem do Douro.
Nórdica ela de pais cristãos
A tez branca de campos nevados.
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Trás-os-Montes portugueses
Ladeiras de azeite e vinho
De amendoeiras e laranjais
De corações amigos.
Triste a princesa sempre estava
No seu novo país nunca nevava.
Flor de amendoeira flor de um dia
Flor de delicado aroma
Flor de amendoeira flor de um dia
O Douro a teus pés assoma.
Vendo o sultão tantos soluços
Plantou uma ladeira de amendoeiras [1]
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Amendoeira que te dá a vida
Nesta zona escarpada
Bem plantada entre as vinhas
Ou do alto das penhas.
Contemplando o vale uma manhã
Um sorriso tornou à sua cara.
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Amêndoas de flor de amendoeira
Com açúcar trabalhadas
São em Moncorvo “cobertas”
Em Alba “garrapinhadas” [2]
Talvez fizesse vento nessa manhã
Que o solo cubriu de flores brancas.
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Flores que na primavera
Sacudidas pelo vento
Tornam-se flocos de neve
Branco de amor, sentimento.
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Por: Marqués de Los Mojones
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[1] “Allozos”, no original. Trata-se de um vocábulo existente no castelhano, derivado de
“al-lauza”, nome que os mouros davam às amendoeiras bravias. Não encontrámos tradução em português, pelo que preferimos traduzir por “amendoeiras”, em vez de aportuguesarmos a palavra “allozos”, a qual daria “alouços”, sem que ninguém soubesse o que era.
[2] “Almendras garrapinhadas” – tipo de amêndoa coberta com açúcar que se faz na zona da Alba, perto de Salamanca, e que se poderia traduzir por “encarapinhada”.
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Tradução e Notas: N.Campos