segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um sábado cultural com "Trigo dos Pardais" (livro) e "Raiz de brinquedo" (exposição)

Abertura da sessão, pelo Sr. Presidente da Câmara (foto de João Pinto V. Costa)

Sábado, 10 de Abril, pelas 15;00h, decorreu no auditório da Biblioteca Municipal a apresentação do livro livro há muito esperado, "O Trigo dos Pardais" de autoria da nossa conterrânea e colaboradora do blogue, Doutora Isabel Mateus. Abriu a sessão o Sr. Presidente da Câmara, Engº. Aires Ferreira, elogiando o trabalho da autora, após o que passou a palavra à Doutora Assunção Anes Morais, autora do prefácio do livro.

A Drª. Assunção Anes fazendo a apresentação da autora e da obra (foto de João Pinto V. Costa)

Maria da Assunção Anes Morais é professora em Vila Real, sendo especialista na obra de Miguel Torga, um elo comum que a liga a Isabel Fidalgo Mateus, uma vez que ambas elaboraram as suas dissertações académicas em torna da obra daquele eminente escritor trasmontano. No caso de Isabel Mateus, quer em "Outros Contos da Montanha" (o seu livro anterior) quer agora em "O trigo dos pardais", tal como em Torga, é bem patente o telúrico apelo às raízes e ao "rincão sagrado". Como referiu a apresentadora, neste último trabalho perpassam, através dos contos evocativos das brincadeiras da infância (jogos populares infantis) muitos outros aspectos, como sejam a arquitectura rural, as ervas medicinais, a vida campestre associada à terra, aos animais (domésticos ou silvestres, como a raposa, o lobo, os ouriços cacheiros, os texugos) ou as árvores. Ressaltou a mensagem ecológica e o apelo à preservação do património cultural e natural que está subjacente à obra, terminando a sua intervenção dizendo que este livro, "O Trigo dos Pardais" convida-nos a passear pelos montes!"

Capa do livro e dobra lateral com biografia da autora

No uso da palavra, Isabel Fidalgo Mateus começou por explicar o título do livro, dizendo que se baseia no aforismo popular segundo o qual o primeiro trigo é sempre para os pardais, aves cosmopolitas que tanto se encontram em meio rural como urbano, e que afoitamente se introduzem no meio das galinhas para roubarem o trigo que podem. Mas aqui também se podem associar os pardais às crianças ladinas, que no meio rural de outros tempos criavam os seus próprios brinquedos e aprendiam os seus jogos com os mais velhos, normalmente passados de geração em geração. Aproveitou para referir que foi neste sentido que fez questão de associar à apresentação do seu livro uma exposição do Dr. João Pinto V. Costa (também nosso colega de blogue e matrimoniado no concelho de Torre de Moncorvo), a qual é composta por inúmeros brinquedos de madeira e confeccionados com elementos vegetais.
A complementar a intervenção, a autora mostrou numa apresentação em Powerpoint uma série de imagens das Quintas do Corisco, terra de sua naturalidade, algures do outro lado da serra do Roboredo, na freguesia de Felgueiras, o cenário idílico dos seus contos.
Foram ainda feitos os agradecimentos a todas as pessoas e entidades que tornaram possível esta edição. Destacamos a capa e as primorosas ilustrações de autoria de Cristina Borges Rocha.
Entre escritas: a autora escrevendo uma dedicatória ao ilustre escritor Professor Rentes de Carvalho (foto de João P. V. Costa)

No final, houve a inevitável sessão de autógrafos, encontrando-se entre o numeroso público o ilustre escritor Rentes de Carvalho que, tal como Isabel Mateus, é um "emigrante" que procura nas suas raízes a substância da expressão literária, revelando igual apego a estas fragas, na exacta medida do tempo e da distância em que permanecem "fora". Duas gerações de escritores trasmontanos no exterior, mas que não se conseguem desligar do tal "rincão".

Exposição "Raiz de Brinquedo" no Centro de Memória (foto de João Pinto V. Costa)

Depois de um beberete nos jardins da Biblioteca, foi inaugurada a exposição "Raíz de Brinquedo", de autoria de João Pinto V. Costa, na sala de exposições do Centro de Memória. O autor, sendo natural de Alpendorada (concelho de Marco de Canaveses) casou com uma moncorvense de Sequeiros (Açoreira), o que o levou a descobrir, desde há muito, quer as paisagens, quer a cultura popular da nossa região. Para mais, sendo professor em Vila Real, podemos dizer que Trás-os-Montes lhe está na alma. Além de docente, João Pinto é autor de alguns livros, de que se destaca "Flora de brincadeiras", que é uma espécie de catálogo dos trabalhos manuais que executa como "hobby", tendo como objectivo reproduzir antigos brinquedos/brincadeiras que se faziam para os garotos. Nesse afão, acaba mesmo por criar novos brinquedos, tirando sempre partido de elementos vegetais, em que a madeira também se inclui.
Outro aspecto da exposição (foto de João Pinto V. Costa)

Como escreveu Agostinho Chaves (in Mensagens Aguilarenses, 9/12/2008), citado no folheto que enquadra a exposição: "os brinquedos que João Pinto Vieira da Costa constrói são eternos. Quando não havia legos, nem consolas, nem sequer a 'Chicco' nem a 'Toys 'r Us' ou a 'Centroxogo', muito menos as grandes superfícies comerciais que deliciam os olhos das crianças e dão cabo das carteiras dos papás, as crianças brincavam muito mais, de forma mais divertida, por improvisada e criativa. Os seus brinquedos eram feitos do que havia: uma casca de noz, um vime, uma rolha de cortiça, uma carica, o canoco de um milheiro, uma raiz, a vareta de um guarda chuva desfeito pelo vento, uma pinha, um botão velho, um pedaço de arame, um arco de pipa velha abandonada, um ramos de árvore em Y, até uma meia em desuso que era cheia de palha e cozida na ponta, fazendo uma bola com que se jogava futebol. // Não admira que essas práticas (como a generalidade dos jogos populares) tivessem desaparecido, no avançar dos tempos em que o consumo cresceu e tomou conta de nós, através de cada vez mais atraentes e agressivas campanhas de 'marketing' e de publicidade" (...)

Um helicóptero feito com uma cabaça (foto de João Pinto V. Costa)
Esta exposição fica patente até ao mês de Maio - a não perder!!!
De caminho, é obrigatória a leitura do "Trigo dos Pardais", pois assim poderá o leitor entrar melhor no espírito da exposição.
Fica a proposta.

4 comentários:

Anónimo disse...

Aqui deixo a minha calorosa saudação à Isabel Mateus pelo lançamento do seu novo livro e ainda ao João Costa pela exposição que se adivinha magnífica de sentido. Assim se mantêm as raízes que a todos nos prendem, sempre e para sempre, ao nosso rincão.
Abraços.
Daniel de Sousa

Júlia Ribeiro disse...

E que excelente proposta!

Para o João Costa os meus parabéns e conto maravilhar-me com a sua exposição, pois penso estar em Moncorvo na 1ª semana de Maio.

Para a Isabel um abraço imenso e mil parabéns por este "Trigo dos Pardais" que, creio, é para ler de um fôlego.

As raízes tornam-se mais fortes, à medida que o tepo passa. Que o diga o Professor Rentes de Carvalho, esse grande escritor.

Parabéns também ao autor do texto que tão "apostadamente" aqui nos trouxe e ao fotógrafo, obviamente.

Abraços
Júlia

PS - Gostaria de saber o nome da editora do livro da Isabel, para o encomendar.

Anónimo disse...

Drª. Júlia,
O livro de Isabel Mateus (O Trigo dos Pardais) foi impresso na G.C.-Gráfica de Coimbra, Ldª. (producao@graficadecoimbra.pt), mas se preferir pode pedi-lo para a Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo.
Presumo que a autora não tenha podido ainda responder-lhe porque ainda se encontra nas Quintas do Corisco, onde não chega (ou não tem) a Internet.
Abraço,
n

Anónimo disse...

Obrigada a todos pelos comentários(Daniel, Júlia e N.)!

Ainda não tinha respondido, porque realmente não tenho acesso à net nas Quintas. Deixei O Trigo dos Pardais no Museu do Ferro para a Júlia. Espero que goste!

Beijinhos

Isabel