quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quinta-Feira Santa

Painel alusivo ao beijo de Judas, no Horto das Oliveiras, patente no altar do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz de Torre de Moncorvo.
Inicia-se hoje o Tríduo Pascal, da Paixão, Morte e Ressureição de Jesus Cristo. Versos populares alusivos à Quinta-feira Santa, recolhidas em Torre de Moncorvo, pela Dra. Júlia de Barros Ribeiro (Biló), em 1999, junto da Senhora Júlia Trovões, moradora na Corredoura (in Biló, Júlia de Barros, "Somos poeira, somos astros", ed. Magno, 1ª. ed., Leiria, 2000):

"Quinta-feira Santa
Padeceu Jesus
Ao outro dia
Padecer queria.

O demónio lhe perguntou
Tremes tu?
Ou treme a Cruz?

Jesus lhe respondeu:
Nem tremerei eu,
Nem tremerá a Cruz!

E quem da minha paixão e morte
Se lembrar
Quem três credos me rezar
Tudo quanto me pedir
Tudo lhe hei-de eu dar."

Enviado por Leonardo, com foto de sua autoria.

1 comentário:

Anónimo disse...

Podem chamar-lhe o "ópio do povo", um embuste inventado por uma casta para sugar os crédulos. Parece que há cerca de século e meio um descendente de judeus alemães, pai de uma outra religião, o "materialismo dialéctico e histórico", o afirmou. Mas hoje muitos antropólogos concordam que a religiosidade é uma dimensão humana, razão pela qual tem perdurado através dos séculos e dos milénios.
E hoje, na noite escura, com as ruas de luzes apagadas, aquela multidão seguindo um conjunto de pálios e de imagens sequenciais de uma tragédia passada há dois mil anos, aqui numa remota vila trasmontana, como em toda a Cristandade, apesar de todos os "desvios", da laicização da sociedade, sentia-se ali algo mais que a religião: era uma comunidade que estava presente, caminhando lado a lado, em comunhão, repetindo pela enésima vez um ritual que os pais, os avós, os bisavós, tetravós, etc. igualmente cumpriram. Até quando? eis a questão...
Por outro lado, aproveitei para reflectir, uma vez mais, nisto da tragédia da Cruz. O porquê do Cristianismo e suas referências. A ruptura com "o olho por olho e dente por dente" dos antigos cultos do Médio-oriente. Ainda que sem a tranquilidade dos Nirvanas mais orientais, o Cristianismo corresponde a uma formulação prática para um problema social e humano que é a violência, a inveja, a traição...
Impõe-se a reflexão sobre esse hediondo personagem que é Judas Iscariotes, personificação de todo o Mal, do indivíduo sem escrúpulos, capaz de vender quem quer que seja, por um objectivo pessoal e mesquinho. O "beijo de Judas" presente na bela foto deste post é o acontecimento inicial de uma sequência de factos que se precipitam com particular violência. Como tal somos levados a execrar Judas. O papel da personagem hoje, afinal, tende a ser revisto, à luz de um suposto novo Evangelho encontrado algures numas grutas egípcias ou etíopes. Seja como for, Judas é um símbolo, como Cristo é um símbolo. Símbolos que, talvez, cada um de nós, transporta um pouco dentro de si. Somos Judas quando falhamos e ferimos alguém (valha em abono da verdade - cristã - que o dito Judas se terá arrependido e enforcado numa figueira, o que de certo modo o desagrava, pois o pior Judas é o que vende e atraiçoa e persevera nisso); somos Cristos quando sofremos o insulto, a ameaça, a provocação, o escárneo, a agressão, e como tal a aceitamos, em desconto dos nossos pecados, negando a via da violência. Reconheço que não sou um bom cristão, porque nem sempre sou dado a dar a outra face. Nem sempre compreendo que o outro nosso irmão pode estar possuído pelo Maligno e, como tal, não é ele que assim age, pois até é boa pessoa, mas sim é o Demo que lhe vestiu a pele. Aí devemos, à semelhança do Mestre, dizer apenas: "Vade retro, Satana!" e resistir a todas as tentações. Do mesmo modo, devemos aceitar e dar desconto aos que nos infligirem os padecimentos terrenos, lembrando sempre aquelas palavras ditas do alto da cruz: «Pater, dimitte illis: non enim sciunt quid faciunt»[Lucas 23.34]. A expressão terá sido dita em hebraico, mas como hebraico não sei, preferi a forma da Vulgata latina. Para que quem não saiba fique assim.
(CONTINUA)