domingo, 25 de abril de 2010

Quadros da transmontaneidade (6)

Há bem pouco eram emigrantes, hoje, felizmente, são cidadãos da Europa, mas a marca desse tempo ficou no nosso consciente, faz também parte da nossa identidade, da nossa memória colectiva. Todos saíram. Ficavam mulheres velhos e crianças. Esse movimento foi, talvez, o primeiro sinal de abandono dos nossos nontes. Iam em debandada, carregavam com eles a doce crença de um futuro melhor. Todos regressavam lá pelo Verão, cheios de entono, prontos a idolatrar quem cantasse a sua odisseia no disco de vinil e na “cassete pirata”. Era vê-los, de tronco ao léu, a deitar argamassa e a assentar tijolo de uma “maison” que crescia à medida dos sonhos mas que feria pela forma e pelas cores. Era vê-los a ostentar uma “voiture” que quem por cá mourejava nunca teria possibilidade de adquirir. Era vê-los nas festas de orago a depositar francos gordos na fitas do andor de Nossa Senhora de Fátima. Era vê-los nas feiras a apreçar a mercância com palavras desconhecidas, porque a língua dos afectos, aquela que todos os anos os trazia de volta já não saía com facilidade.Eles eram os “avec”, ou melhor os “aveques”, eles eram granito serrano, eram o mais nobre granito transmontano mas que, por crime político, nunca lhe deram possibilidade de ser escodado.

ANTÓNIO SÁ GUÉ

1 comentário:

Anónimo disse...

A emigração é isso e muito mais ainda na voz de um luso-descendente, porque a nossa "pátria é a língua portuguesa". Eis o que um deles nos diz: "Falar português é simplesmente ser o que sou e dar espaço à minha parte de identidade portuguesa, ao pedaço da minha alma que não pode exprimir-se noutra língua!"

Gostei muito do texto!

Um abraço,

Isabel

A emigração está bem viva e rejuvenesce Portugal em qualquer parte do Mundo!