sábado, 17 de abril de 2010

Quadros da transmontaneidade (5)


Ainda não andava nos dezoito quando partiu. Por lá andou, também foi daqueles que insatisfeito com a avareza da terra partiu à cata de melhor sorte. Não esperava encontrar nenhuma mina de ouro como aqueles que andaram lá pelos “Brasis”, mas “aldemenos” que desse para “adubar” com largueza o caldo. E conseguiu-o, depois de uma dúzia de anos aos “impontões” de uns e de outros, quer dizer depois de aturar filhos de muitas mães. Com os primeiros francos pagou caro umas oliveiras ao Dr. Armando, depois “mercou” um amendoal no Vale do Corcho, depois uma horta, refez o “cardenho” que foi o único “herdanço” do pai, que “Deus tem” e, por fim, voltou. Não quis café nenhum, isso é para mandriões. Voltou às raízes, ao princípio, se é que alguma vez de lá saiu. Voltou a embrenhar-se nos modos de vida ancestrais. Voltou a reger-se pelas leis do tempo. O apego à terra era um sentimento que não sabia explicar. Sim!, ela nunca lhe deu nada, bem pelo contrário, até a infância lhe tirou, mas havia uma atracção atávica, dir-se-ia imorredoura, que o puxava para aqueles montes.

ANTÓNIO SÁ GUÉ

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais um texto fenomenal do Sá Gué!
Sim, se há, de facto, algo que defina a trasmontaneidade, é essa atracção atávica que nos puxa para estes montes. Será o cheiro das arçãs e das giestas floridas que estão na bela foto que nos mostra estes escalvados montes? Será o erotismo da forma destes relevos? ou o magnetismo interior que eles encerram??
Que mistério aqui nos traz, ou nos faz sempre ir voltando, a despeito de tudo e de todos?
Felicitações ao autor, por mais este naco, verdadeiramente epigráfico.
N.