Numa primeira parte, a Professora Doutora Fátima Marinho dissertou sobre “ A implantação da República e as suas representações na Literatura Portuguesa da Pós - Modernidade”, colocando em destaque Os Teles de Albergaria(1901), de Carlos Malheiro Dias, Próspera Fortuna (1910), de Abel Botelho, A Escola do Paraíso ( 1960), de José Rodrigues Miguéis, Vida e Morte dos Santiagos (1985) e O Segredo de Miguel Zuzarte (1990), de Mário Ventura, Levantado do Chão (1980), de José Saramago, Memórias Laurentinas (1996) e Fama e Segredo na História de Portugal (2006), de Agustina Bessa Luís, A Herança de D. Carlos (2008), de António Cândido Franco, e ainda alguns textos de diversos autores publicados em A República nunca existiu (2008).
Já num segundo momento, o público teve a oportunidade de ouvir “A República na Génese da Modernização Política Portuguesa (1910-2010)", numa intervenção do Professor Doutor Manuel Loff.
Mesa: Dª Helena Pontes, Engº Aires Ferreira, Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Professora Doutora Fátima Marinho e Professor Doutor Manuel Loff.
Professora Doutora Fátima Marinho e Professor Doutor Manuel Loff, docentes na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Professora Doutora Fátima Marinho e Professor Doutor Manuel Loff, docentes na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Txt. e Fotografias de João P. V. Costa
8 comentários:
Onde parais republicanos ?
Estas Jornadas Culturais - Centenário da República,aliás, com 2 belas conferências,face á pouca aderência do público, fizeram-me lembrar a mm. indiferença com que a república foi recebida há 100 anos aqui nestas terras de Moncorvo.
É o mm. sentimento do encolher os ombros e, que remédio, lá ter de aderir à nova doutrina.Foi esse o sentimento que pressenti ou me ocorreu nestas jornadas.
Será que em Moncorvo é tudo monárquico ?
Encolhemos os ombros ou praticamos o mesmo adesivismo à má fila de 1910 ?
E a malta do avental, paladinos destes ideais republicanos da fraternidade e do novo homem dos bons costumes, que é deles ?
Blueberry
É reconfortante saber que no Nordeste se fazem coisas e de qualidade.
Pretextando o centenário da República ou outra realidade cultural...
E é bom sabermos neste blog.
O não escrever, não obriga a menos interesse ou ausência de interesse.
Leitor atento e regular, outras ocupações me têm dado volta ao miolo.
Longe na geografia, sempre muito perto nos afectos e na admiração.
Abraço,
J.Albergaria
É bom ver/ler e saudar o nosso Amigo Albergaria neste espaço, bem sabendo dos afões que ora o ocupam, pelo que está necessariamente desculpado. Pelo que é óbvio que a "impertinência" do Blueberry não lhe seria dirigida, nem aos que estão fora, mas, penso eu, aos residentes, pois o público presente era pouco. Talvez o motivo seja o sábado de calor, mais convidativo para outros "programas", ou então um certo indiferentismo mais geral, que não apenas focado em questões de regime Monarquia ou República. Se calhar é até a ausência de defensores do sistema monárquico que leva ao indiferentismo face à República. Para agravar a situação, as comemorações coincidem com um período especialmente crítico (ainda que a nível mais geral); mas, se estivéssemos num período de maior bem-estar, também ninguém se lembraria de relacionar isso com uma virtualidade decorrente do, ou inerente ao, regime republicano, pois como concluíra Moisés, quando o povo está em fartança é quando lhe dá para adorar os bezerros de ouro e os falsos deuses. Mas, no fundo, a indiferença face ao tema (que, no caso da palestra realizada, outro fosse e talvez o resultado fosse igual), o problema talvez esteja na conclusão subconsciente, 100 anos depois, de que afinal, a Crise é endémica, e de que não há sistemas salvíficos e milagreiros. Do que sei da História de Portugal, parece que é a história de uma crise constante. E mal se salva o período dos "Descobrimentos" - aliás, terá sido a crise e a fome que fazem a aventura da projecção para o exterior, na demanda da mítica "pataqueira".
Assim, no que toca à dicotomia Monarquia/República, é uma questão mais velha do que se pensa e vem da noite dos tempos. A velha Grécia (Atenas incluída), teve reis, 1000 anos antes de Cristo, antes de desenvolverem sistemas oligárquicos, aristocráticos ou democráticos. Roma idem aspas, até evoluir para a República, para depois terminar em sistema imperial, entre o dinástico e o militaresco. O que os novos conceitos republicanos saídos da Revolução Francesa vão trazer (talvez) de novo é o conceito de "cidadão" e de cidadania (o "citoyen"), associados à ternaridade "Igualdade, Fraternidd, Liberdade". Mas isso a monarquia constitucional também já o interiorizara, pelo que restava apenas a questão de se aceitar ou não que fosse uma família ou um indivíduo de uma dada linhagem a funcionar como símbolo aglutinador de uma dada nacionalidade, resquício último da sacralidade do "majordomos" ou "maior domus", ou Casa Maior, que em egípcio antigo se transcrevia por Faraó, misto de rei e de deus. O Homem fez Deus e entretanto "desfez" Deus; o mesmo se aplica aos reis/sistema monárquico. Podem-se aduzir aqui várias vantagens/desvantagens de um sistema em que se prepara um indivíduo desde pequenino para a governança e nesse papel fica pela vida toda, e um sistema em que os conluios de interesses promovem este ou aquele cidadão, o qual é depois plebiscitado pelo povo. Na minha óptica é isto que, vistas as coisas hoje, está em (apenas) em causa. É evidente que no Portugal de final de século XIX e inícios de XX não era só isso: era o "messianismo" e a crença nas virtudes salvíficas de um sistema milagreiro que ia resolver todos os problemas (atávicos) que se atribuíam à monarquia. Era também a crise e o desejo de "revolução", para ver o que cada um (dos guitchos) poderia abichar no meio dos destroços - daí o cortejo dos "adesivos" (o viracasaquismo sem ideologia, a não ser a do interesse pessoal).
CONTINUA
(Continuação do comentº. anterior):
Notou o Doutor M. Loff que o q saíu de 1910 foi o 1º sistema republicano que se conseguiu afirmar num país de média ou grande dimensão na Europa (tirando o caso da França). As soluções revolucionárias decorrem normalmente do cruzamento do vector "estomacal" e do "cerebral". O primeiro sem o 2º, é uma "jacquerie" inconsequente. O 2º sem o primeiro é um "putch" sem seguidores e que, como tal, aborta. Quanto ao 1º. tínhamos a favor a fome endémica e o crónico atraso (por isso também vingaram as revoluções russas, sobretudo a de 17). No que toca ao 2º., depois do falhanço dos Liberalismos, sobretudo na sua última formulação "regeneradora", nada melhor q uma panaceia importada e "vendida" como o remédio milagreiro de todos os males. Assim, com o catalizador da Crise e da fome endémica, bem aproveitada por carbonários e anarco-sindicalistas, tanto a nível de um operariado nascente em bolsas de industrialização incipiente (sobretudo em Lisboa, nos arsenais, construção naval, etc. e/ou no Porto, nos têxteis, metalurgias e afins) com ajuda de uma certa "proletarização" do campesinato, tínhamos terreno propício à sementeira das ideias (apanágio de uns poucos, intelectuais e pequena-burguesia urbana, certamente a base social da maioria de aderentes da maçonaria). Neste particular, esqueceu-se o conferencista (M. Loff) de mencionar devidamente o papel da propaganda, em que se inscrevia uma imprensa muitíssimo activa (com muitos tipógrafos, ou republicanos ou anarquistas, ou anarco-sindicalistas). E os jornais de tendência republicana impressos nos grandes centros urbanos chegavam já a todo o reino, pela rede de caminhos de ferro ou através da mala-posta. Daí que a famosa frase segundo a qual a "república se implantaria por telégrafo" até faça algum sentido, uma vez que havia células disseminadas pelo reino, sobretudo em sedes de concelhos mais "terciários", onde o comércio e serviços eram significativos. Para ajudar à "festa", as divisões entre facções dos partidos monárquicos do sistema fizeram o resto. Este cortejo de interesses e de corrida às prebendas (q no caso de Moncorvo o autor da "Caderneta de Lembranças" na sua simplicidade, mas com sentido crítico, tão bem descreve), até devia fazer parecer os poucos republicanos que assumidamente o eram, como pessoas moralmente mais correctas.
Finalmente, quando a "coisa" aconteceu, como de costume, surge logo o longo cortejo do vira-casaquismo (este não é um povo dado a grandes lealdades e quixotismos) e o Zé Povinho (figura nascida por esses tempos), ou dá vivas alegremente no frenezim do momento, ou se dilui em "maiorias silenciosas", que, com um pé atrás, ou com dois à frente, acaba por ir sempre atrás, ou no medo da represália dos vencedores, ou na expectativa dos belos amanhãs que sempre nos cantam.
100 anos depois podemos fazer o balanço (e tb um exercício de elocubração, sobre como estaríamos se não tivesse havido República) - Na minha opinião não estaríamos muito diferentes; apenas teríamos uma vantagem, se ainda por aí andasse o rei: tínhamos tido um belo bode expiatório sobre quem fazer recair todos os males do mundo...
Assim, talvez tenha razão a personagem de uma obra de ficção citado pela Doutora Fátima Marinho, ao imaginar um regicida a dizer que matando o rei o havia salvo - quase fazendo lembrar a patética (auto)defesa de Junqueiro, quando proclamava que o seu ódio ao rei era um "ódio bom"... Poderíamos acrescentar, do mesmo modo, que com a implantação da República também se salvou a Monarquia, arrumada como uma mobília antiga (para uns uma preciosa peça de museu, para outros um traste velho) no sótão da nossa História.
(Continua...)
(Continuação dos comentários anteriores):
E como o tal de Zé, passados os arroubos e os ímpetos de certos momentos, até é moço de "brandos costumes", e também porque a mulher do Zé sempre gostou de ver os vestidos e as jóias das princesas, até o próprio pretendente real já está assimilado, com o seu pequeno espaço ao menos nas revistas sociais. Ou seja, temos República e até temos uma espécie de rei não reinante, figura simpática, que de tempos a tempos aparece, dando o seu palpite e marcando a sua presença. Um "happy End" hollywoodesco. Afinal está tudo bem: o rei morreu - viva o rei! a república morreu? viva a república! Que queremos mais?
n
Post Scriptum - espero não ter ferido quaisquer susceptibilidades, pois que, quer de um lado quer do outro, parece que ainda há por'i alguns guardiões do templo, ou de vacas sagradas... O meu objectivo foi apenas fazer uma breve (e fruste) "análise" histórica, muito pessoal e algo "impressionista", sem quaisquer intuitos políticos, a não ser no sentido aristotélico, em que tudo o que diga respeito à vida do Homem na POLIS(=Cidade, ou, como diriam os romanos, "res publica") é Político.
Fica aberta a discussão aqui na Àgora (para os mais gregófilos) ou no Forum (para os romanófilos).
Meu Caro Nelson
Como disse o Professor Carlos Reis na Oração de Sapiência que produziu no Salão Nobre da Câmara de Lisboa frente ao esquife de José Saramago, falando do homem e do escritor:"gostava de provocar, trazer para fora, no étimo latino...".
Vou continuar a provocar o meu amigo, pois o que produziu em informação, em opinião, em análise sobre o tema em apreço...do melhor que já li.
Abraço grande,
J. Albergaria
Depois de uma amarga ressaca futebolistica, deparo com um primor de um texto do N. tendo-o já lido e relido.
Sim Sr., parabéns ao tão ilustre autor, cujos conhecimentos são deveras justos de realçar.
Noutro blogue e n'outros temas,ao mm. autor, pareceu-me ter descortinado prosas de um Aquilino ou crónicas de um Fernão Lopes, já neste post vejo algo do historiador Rui Ramos.
E estando assim tão bem acolitado,sem ponta de ironia ou provocação, fico agora a aguardar que o N. nos presenteie com a crónica da implantação da 1ª republica aqui nestas terras de TMC.
Cps.
O impertinente.
Caríssimos J. Albergaria e impertinente anónimo,
Mt obrigado pela v/ apreciação quanto ao eventual interesse m/ comentário, q mais considero umas "bocas" sobre o assunto, escrevinhadas ao correr das teclas (q já não da pena), reflexões que me ficaram da conferência do M. Loff. Não chego a calcanhares de Aquilinos (mt menos no que à República diz respeito, se bem que isto hj tb apeteça andar à bombada), nem F. Lopes, apesar de a dita R. tb ter gerado uma "nova geração de gentes", como todo o período mais ou menos revolucionário (creio que isto explica a dinâmica da História) e, mt menos, de Rui Ramos, historiador de que admiro a frontalidd e coragem de ousar romper com uma certa historiografia "politicamente correcta", concorde-se com ele ou não.
Sobre a República em T. Moncorvo, creio q há gente mais habilitada do q a minha humilíssima pessoa para o fazer. E ao que sei, já há pessoas a tratar disso. Aguardemos, pois.
Abraço e cps.,
N.
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