terça-feira, 1 de junho de 2010

Actividades apícolas - recolha de enxames

(clicar sobre as fotos para as ampliar)
O mel faz parte do lote dos produtos tradicionais de Trás-os-Montes mais afamados. Mas poucos sabem o trabalho que dá e, sobretudo, as ferroadas que são precisas antes de alguém, regaladamente, ao pequeno-almoço, se enlambuzar na doçura dourada do melífluo néctar.
No concelho de Torre de Moncorvo, colhe-se mel em várias freguesias, mas há uma onde esta produção se encontra enraizada desde há muito, aparecendo mencionada já em documentos do século XVI - falamos de Mós. (ressalvamos que Mós foi concelho até 1836, tendo sido nesta data integrado no de Moncorvo).

Pela Primavera saem os enxames novos. Em redor de uma "mestra" forma-se um verdadeiro cacho de abelhas zumbindo. Trata-se de uma "sociedade" complexa e de tipo "monárquico" e capitalista, em que as leis de Darwin começam logo na eliminação da(s) "mestra(s)" que estiverem a mais.
Após a saída dos enxames, entra em cena o apicultor. Noutros tempos, sem protecção especial, fartavam-se de levar picadas, às quais pareciam estar imunes. Alguns usavam (e usam) só a "careta" (protecção para a cabeça, com uma "viseira" de rede mosquiteira). Mas, por via das dúvidas há fatos completos, com luvas e tudo.
Há que trepar às árvores, normalmente oliveiras, onde o "cacho" de abelhas se pendura. Com muito jeito leva-se um cortiço para a recolha. A actividade apícola desde tempos imemoriais utilizava os cortiços (espécie de cilindros de casca de sobreiro, a cortiça, de onde deriva a designação). Na 2ª. metade do século XX começam a usar-se colmeias de madeira, reguláveis com vários andares (alças), tal como os prédios das cidades deram em substituir a construção tradicional. Sinal dos tempos...

O cortiço era colocado sob o enxame que era cuidadosamente enxotado para dentro. Mas podia haver outros métodos, como por exemplo o do Sr. Alcídio Brás, homem experiente nisto de abelhas e quase as trata por "tu". Para este apicultor mozeiro basta encostar o cortiço ao enxame e dar-lhe umas pancadinhas como que a chamar as "bichinhas" e elas, solícitas, já sabem para o que é - toca a entrar, que vão para a casa nova do "bairro social", digo, do colmeal.

O momento crucial: chegadas ao novo apartamento, são "despejadas" (com os "humanos" a acção de "despejo" costuma ser no fim, na falta de pagamento de renda) para dentro do andar, onde já estão instaladas as "quadras" onde têm depois de depositar a "renda", ou seja o melzinho saboroso. Como era de esperar, tantas mordomias com as senhoras abelhas (e "abelhos") tinha que ter um preço, pois como diz o outro "não há almoços grátis"!

Parece que há uma manifestação à porta do bloco... - É lá pr'a dentro, pessoal! - vai de vassourinha, com muita meiguice, pois aqui não há "corpos de intervenção", neste tipo de "manifs". - Apenas uma espécie de "astronautas", ou de estranhos cientistas em laboratórios de experiências radioactivas - salvo seja! - que só querem o vosso bem. E o nosso, de consumidores de coisas boas, doces, puras e limpas, com sabor a monte.

Cá estão os "astronautas" espreitando o interior da casa, para ver se as "meninas" estão bem acondicionadas. E elas já andam a dar a volta à casa nova, para começarem a ambientar...
Em breve voarão afanosamente pelos campos, enchendo-se de pólens, que regurgitarão em mel, nos favos que vão crescendo...
Mas têm que estar atentas aos inimigos predadores, que os há, como em todo o lado e em todas as sociedades animais. No caso das abelhinhas, ele são os lagartos, os pitos barranqueiros ou "abelharucos" (já trazem o nome com eles!), ou os melros fragueiros, entre outros. E depois ainda há as malinas, e, dizem, até as ondas electro-magnéticas dos telemóveis que fazem perder o tino ou o GPS natural destes simpáticos e muito úteis insectos, que assim se perdem das colmeias (é uma teoria que por aí andou, para explicar um certo decréscimo da população apícola).
Aqui fica também uma imagem das terras de pasto deste "gado" - um campo de "arçãs" (rosmaninhos do monte), algures no termo de Mós, com alguns salpicos de estevas e urzes. - É neste manjar diversificado de cheiros e agridoces palatos que está o segredo do especial sabor do mel trasmontano!
Agradecimentos:
- aos apicultores Sr. Luís Lopes (sénior) e Sr. Alcídio Brás, Mós.
- ao repórter fotográfico Dr. Luís Lopes (jr.), Mós, que acompanhou o trabalho no dia 9.05.2010.
Para saber mais sobre Mós e sobre a actividade apícola nesta freguesia, ver:

http://fg-mos-vila-antiga-medieval-tmoncorvo.blogspot.com/2010/05/o-caminho-pos-crise-dos-mercados-e-mais.html

1 comentário:

Picado disse...

Uma reportagem deliciosa. Parabéns.