segunda-feira, 3 de maio de 2010

Pujança absoluta - por Isabel Mateus

Rebentaram todas as nascentes e a água escoa-se livremente nas direcções talhadas pelo homem ou pelo seu próprio ímpeto

A pujança ABSOLUTA!

De manhã, ao acordar,

A sonoridade insistente e ruidosa

Dos pardais

Disputava o murmurejar de todas as nascentes.

O kuku do cuco

Espraiava-se pela tarde quente

A respirar a Primavera

Na flor da urze,

Na mera da esteva

E no cor-de-vinho da arçã.

O meu apetite da infância

Consumou-se na salada de azedas

Que arranquei à parede

E levei, num manhuço,

À hora do almoço,

Para dentro de casa.

Fonte do lameiro escavada na fraga e coberta pela lousa, cuja vegetação espessa lhe suga as entranhas.

O viço das azedas.
A inércia do Homem e a exuberância da Natureza. Se ainda por aqui andasse a Ti Grabulha, levantaria pedra por pedra até a pia dos porcos voltar a ter serventia.
.
por: Isabel Fidalgo Mateus (poema, fotos e legendas)

2 comentários:

Júlia Ribeiro disse...

Quando as memórias ainda podem tornar-se realidade, também o deslumbre pode tornar-se absoluto.

Obrigada, Isabel, por este momento.

Júlia

Anónimo disse...

E gostava tanto, Júlia, quando o meu regresso também for absoluto, de resgatar, para sempre, das pedras esse passado-presente-futuro. Porque, mesmo com o progresso, acredito que possamos "arrancar à parede" as mesmas "azedas" da Eternidade.

Muito obrigada, Júlia, por essa sua frase tão bonita. Vou copiá-la para a minha memória.

Um beijinho,

Isabel