sábado, 8 de maio de 2010

Quadros da transmontaneidade (8)


Lá pelo Verão, quando os dias são longos e as noites curtas, agradece-se ao céus, por mais um ano de colheitas, por o bem ter vencido o mal, por ainda se estar vivo. Junta-se o sagrado e o profano, o material e o espiritual e faz-se festa ao santo padroeiro que tantas graças lhes trouxe ao longo do ano.Tudo é previsível: o programa é a tradição. Pela manhã cedo há-de um morteiro anunciar a alvorada. A banda há-de percorrer as ruas empedradas, uma leve brisa encarregar-se-á de fazer esvoaçar as fitas de papel que as engalanam, os sons melodiosos entrarão pelas casas dentro, as mulheres hão-de assomar aos postigos a vê-la passar, os homens, de passo estugado, marcharão logo atrás, à laia de procissão, e os velhos, já na praça, hão-de finalmente desentupir os empedernidos ouvidos com o presto final. Depois é a vez dos sinos repicarem, clamarem pelos fiéis, a igreja encher-se-á, o padre na prédica específica, que se impõe, valorizará os actos beatíficos do santo de tanta devoção e, para que ninguém falte, anunciará do “altar p'ra baixo” o horário da procissão, que também ela há-de percorrer as ruas durante a tarde que se anuncia tórrida. O altifalante, previamente instalado, ajudará a festa debitando catadupas de roufenhos decibéis ao longo de todo o santo dia.

(Continua…)
ANTÓNIO SÁ GUÉ

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