quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quadros da Emigração - Londres

West Norwood School

Ontem, dia 26 de Maio, almocei na companhia do Tim, um dos responsáveis pelo Festival anual “Readers and Writers”, que ocorre em Lambeth durante o mês de Maio, e do Keith, o jovem bibliotecário da West Norwood Library, num restaurante Português de Lambeth. Sem ementa específica a lembrar a mesa tradicional portuguesa, bebi, contudo, um sumo Compal de maçã e o Tim dirigiu-se ao balcão para pedir um expresso e um pastel de natas. Ficou a saber que a delícia que degustava era o pastel mundialmente conhecido e muito apreciado. Pelos vistos, também por ele. Com aquela pausa para almoço, tipicamente portuguesa, partimos reforçados para a Escola Secundária (West Norwood School), onde nos esperava um grupo de alunos portugueses de mão-cheia. Entretanto, deixámos o Keith na biblioteca a preparar as perguntas que me haveria de colocar, ainda nessa mesma tarde, na sessão de apresentação de Outros Contos da Montanha e a repetir algumas frases em português para agraciar o público em sua língua materna.
Após alguns minutos de espera, vem ao nosso encontro Sam, que é o professor responsável pela realização do evento e acolhimento de Outros Contos da Montanha na Escola. À entrada da sala, duas adolescentes enquanto esperavam discutiam a formação do feminino referente à palavra escritor. Decidiram-se por escritora, mas riam-se dizendo que já não se lembravam. Não seria bem assim, porque foram os dois elementos com maior participação durante a sessão. Perguntaram-me de imediato qual o meu nome e eu perguntei-lhes um a um o de todos, querendo igualmente saber donde vinham. Chegavam de todos os lados, desde a Madeira, Lisboa, Barreiro, Setúbal, Porto… Eu apresentei-lhes a minha terra, a nossa terra, e falei-lhes da vegetação dos nossos montes, da urze e doutras plantas e das pessoas (transmontanas) que inspiraram estes contos. Disse-lhes que me identificava com aquele lugar e que lhes queria mostrar a sua riqueza, as suas tradições, o seu conto da tradição oral… E aí eles foram lendo em voz alta “O Rapaz e a Víbora” . Alguns com alguma dificuldade e outros de forma mais desenvolta, deram alma e vida àquele texto na sua sala de aula. Por fim, à laia de sumário feito no final da lição, perguntei se haveria um voluntário que quisesse resumir a história em apenas algumas frases. Fê-lo uma das meninas da indecisão entre escritor/escritora de forma escorreita e eficaz.
Penso que se colheram frutos, pois dali tiraram-se duas vertentes da mesma moral da história. Uma delas, saída da boca da rapariga e da narradora, diz que não se deve trair a amizade, neste caso o amor e a lealdade à nossa língua, porque é o meio por excelência de identidade e de cultura, ou seja, “a nossa pátria”. A outra, a que o professor proferiu em forma de “confessada” conversa: “Muitos dos alunos que aqui estiveram nunca se atreveram a participar numa aula, nunca leram em voz alta e nem sequer levantaram o braço”. E acrescentou: “Penso que para eles foi muito importante que a sua própria cultura chegasse, batesse à porta e se instalasse na sala de aulas”.
Eu digo obrigada a todos e espero que o interesse permaneça para que possam ler a versão integral do livro que se encontra na Biblioteca da escola.
Continuação de boa leitura!...

2 comentários:

Néné disse...

Olá Isabel,
Sempre em grande actividade a incentivar o gosto pela leitura e o orgulho pelas raízes. Tenho a certeza que os estudantes desta escola jamais esquercerão o dia da tua visita, pois por certo lhes deste motivos de sobra para se orgulharem de ser Portugueses. Um grande, grande @braço a todos.

Manuela

Isabel Mateus disse...

Olá Manuela,

Muito obrigada pelas tuas palavras.

Foi realmente um dia especial pelo contacto com os alunos e pela sua colaboração.

Um abraço grande para ti e os teus.

Isabel