terça-feira, 15 de março de 2011

Quadros da transmontaneidade (36)

As malhas: fazer a meda

Fazer a meda era arte de pedreiro. Fazer a meda era coisa para sapiência de mestre. Fazer uma meda era um acto de cooperação e coordenação entre o mestre e o aprendiz que lhe ia atirando os pesados molhos, um a um, como se fossem pedras de uma catedral que, pouco a pouco, também ela se ia erguendo aos céus e assumia forma redonda, como o mundo que ansiava compreender. O mestre sempre de joelhos, e com a sabedoria de mão calejada, assentava-os com a facilidade de quem apreendeu tudo num instante, como se soubesse, desde sempre, o local que lhes competia.
Qual catedral que se mantém erguida pela equação matemática que se desconhece! Qual geometria que explica a sua beleza! As medas, sei hoje, foram as catedrais da minha infância, os contrafortes da minha rudeza, os seus recantos a felicidade pueril e indizível que carregarei aos ombros até ao fim dos meus dias.


António Sá Gué

P.S.: Com um abraço para o amigo Nelson.

5 comentários:

joão Costa disse...

António,

Um dia destes desejo ver estes quadros erguidos na catedral da transmontaneidade.

Um abraço,
João

Júlia Ribeiro disse...

Obrigada, Sá Gué, por ter retomado os seus magníficos "Quadros".

Abraço
Júlia

Anónimo disse...

Viva António!!! Começo por agradecer o teres regressado a este palco!! [clap! clap! clap! - ovação] - já que do palco da Trasmontaneidade nunca saíste. Pois que, na verdade, dessa "arquitectura efémera" que eram as medas, só ficaram as nossas reminiscências e algumas vagas fotografias... ainda me lembro desses amontoados de palha, nas eiras, na minha adolescência. Não me lembro de as ver fazer, porque, estudantezeco já vilóide, nessa altura eram tempo de exames e fim de ano lectivo (era por alturas de Junho-Julho) e só as via já feitas, qd ia de férias grandes à aldeia... Nalgumas terras, parece que tb lhes chamavam as "parvas". Parvos ficamos agora nós, ao imaginar o trabalho q a coisa dava, com aquele atilho no topo (creio q com um vencelho tb de palha, pra não fugir com o vento) e a coisa bem feita para que a eventual chuva de alguma trovoada não molhasse muito o conteúdo.
Não muito longe de nós, há uma vila e concelho que a isso deveu o topónimo: a Meda!... em terras da Beira (outrora ainda na Beira Trasmontana). E será que quem ao lado passa, hoje, de automóvel, sabe sequer o que isso quer dizer??
Obrigado António - retribuindo o público abraço!
N.

António Sá Gué disse...

Olá Nelson!

Para carviçaleiros a "parva" era a pequena refeição que os segadores tomavam a meio da manhã.

Anónimo disse...

viva António, pois é, cada terra tem seu uso (vocabular), como cada roca tem seu fuso, como lá diz o nosso adágio! - às vezes até ficamos "parvos" com certas diferenças e similitudes.
N.