sábado, 26 de março de 2011
Quadros da transmontaneidade (38)
Outras ceifas: o caminho
Para chegar, seja onde for, há sempre um caminho a percorrer. Esta bem podia ser a lei da gravidade desta humanidade mundana. Este, o da segada, era feito durante a noite, bem de madrugada, ainda com a aurora a espreguiçar-se para Além-dos-Montes. Quando se levantava a brisa da antemanhã, que habitualmente arrepiava os corpos, já as bestas de carga, humanas e não-humanas, caminhavam aos tropeções nas pedras que as águas do Inverno tinham desenterrado.
O poldrão do Ti Marcolino já não o fazia a pé. Escarranchado sobre a albarda, também ela já esborcelada pelos anos de uso, remoía os sentimentos sentado no lombo do macho. Os segadores, que chamou à jeira, não fugiram à regra da Ordem, também eles com o “sol-nado” já teriam que estar bem para lá da Penacurva. Neste momento, não passavam de uma silhueta, lá mais à frente, só a luz argêntea mas indirecta da Lua os iluminava. Iam calados, apenas o trotear do macho ecoava na noite.
Chegaram ao tapado.
(Continua...)
António Sá Gué
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4 comentários:
Olá, Sá Gué:
Vou estar atenta para ler o próximo quadro que, penso, será a continuação deste "Caminho".
É que este breve texto está perfeito.
Um abraço grande
Júlia
Olá, Júlia!
Vamos ver se estou à altura dessa alta exigência. Espero conseguir descrever um dia de ceifa, as dores e o esforço que isso representava.Vamos ver.
Obrigado!
Um quadro vívido do jornadear de outros tempos... Até senti a brisa do amanhecer, não já a caminho da segada, mas a caminho do rio, por terras mazouqueiras, à rega das laranjeiras, por caminho pedregoso, entre muros, que hoje já nem existe. Espero q o da fotografia deste quadro ainda se mantenha - gostava de o percorrer, recitando silenciosamente este belo texto (mais um) do António.
Com um abraço do
N.
Olá, António!
Ficamos à espera do dia da ceifa!
Abraço,
Isabel
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