terça-feira, 21 de junho de 2011

A sociedade dos morcegos em Moncorvo

No dia 18 de Junho do ano corrente, num sábado, assisti a uma das mais estimulantes conferências/exposi-ções sobre morcegos, pelo eng. Afonso Calheiros, no Museu do Ferro. Estava a ouvi-lo e estava-me a lembrar da categoria dos peixes num célebre sermão do Pe. António Vieira. Foi pena haver tão poucos moncorvenses na assistência, interessados na conferência. Um pouco de auto-crítica não faz mal a ninguém… Pensando bem, a condição do morcego e a sua variedade deviam ser-lhes muito caras. Porque os morcegos são muito parecidos com os homens, passe a metáfora imperfeita que vou roubar também ao meu querido Pe. António Vieira. Assim, fiquei a saber que há, em Portugal, 1100 espécies de morcegos ( número bem superior à constituição do Parlamento), alguns das quais em perigo de extinção.
Mais soube que, em termos médios, andam entre os 43 centímetros e 76 gramas, típico do morcego português (uma miniatura afinal do homo politicus Marques Mendes, Paulo Rangel e António Vitorino).
Temos entre nós o morcego anão e o morcego pigmeu, consoante as exigências do FMI.
O morcego anão também vive em Moncorvo (20 centímetros e uma insignificância de peso que o custo da vida explodiu).
Em Portugal há 27 espécies de morcegos.
Alimentam-se de mosquitos, são transmissores de raiva e têm garras. Muitos tinham contas no BPN e nos off-shores. Descansam, durante o dia, nas grutas.
E há os morcegos de “capa de Drácula” (a abertura das suas membranas) Aparecem sobretudo nos tempos eleitorais.
Os morcegos emitem sons de alta frequência, através da boca, na RTP, SIC e TVI, de Marcelo a Vitorino.
Saem depois do crepúsculo no prime time televisivo.
Captam ultra-sons como um radar. Cheira-lhes à distância onde está o poder.
São cavernícolas, ainda que em cavernas de ar condicionado, em grandes sociedades de advogados, por exemplo.
Os morcegos são os únicos mamíferos voadores autónomos. Onde é que já ouvi isto? No Alberto João Jardim da Região Autónoma da Madeira?
Os movimentos do voo são tão rápidos que escapam ao olhar humano. Fosse um da multiópticas e teria aqui assunto para um bom spot publicitário.
Repousam da cabeça para baixo. São tipicamente portugueses. Hibernam. Sabem do que o País precisa. Agora a sério, na Quinta da Regaleira (Sintra), o poço iniciático é vedado às visitas durante o adormecimento dos morcegos.
Falemos das espécies existentes em Portugal:
Morcego ferradura (bom para usar na dianteira dos carros); morcego de bigodes (aristocratas em vias de extinção); morcego de água (expulso do Sabor).A propósito a EDP gastou 500 mil euros na construção de um palácio/morcegário e só lá residem dois morcegos, azar dos azares, de etnias ”diferentes”.
Regresso às categorias: o morcego rato-grande (anda por aí e não está em vias de extinção); o morcego rato-pequeno (a recibo verde); o morcego rato-anão (desempregado de longa duração, que continua a viver em casa dos seus pais). Depois, há ainda o morcego arborícola, o mais ecológico e vegetariano, tipo Bloco de Esquerda, que frequenta restaurantes japoneses.
Falemos agora dos morcegos de região de Moncorvo. Mais uma vez tenho que agradecer ao eng. Calheiros a lição que, a propósito de morcegos, me deu da sociedade moncorvense.
Identifiquemos:
Morcego anão que, por vezes, se faz de morto. Não quer problemas, não entra na contabilidade política. Vive em grutas e minas. Ninguém dá nada por ele, mas quando chega a hora, acorda;
Morcegos de ferradura, habitante do monte da Mua. Eles sabem que o monte não será explorado ainda no seu tempo de vida;
O morcego de peluche é um morcego querido de Moncorvo, no Verão frequenta as lojas e até tira férias e no Inverno recolhe à Igreja, a segunda maior colónia de morcegos em Portugal;
O morcego de peluche faz companhia na Igreja à morcega rabuda (o único morcego que tem cauda), ao morcego orelhudo e que já tem problemas de surdez. Na igreja, nesta companhia, aparecem muitas corujas, cujo piar imita o cantochão, e outra gente de bem.
Mas não me conformo que o morcego negro arborícola (morcego raro) esteja desterrado nas matas do Roboredo e ameaçado pelas eólicas e pesticidas. Quanto ao morcego vampiro, só existente na Argentina, como eu o compreendo! É que se emigrasse para Moncorvo em vez de sugar era sugado, que a capacidade do homem é superior e mais maléfica que a do vampiro.
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Rogério Rodrigues
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Fotos/criação gráfica: N.Campos

5 comentários:

jose albergaria disse...

De métafora em morcego...até à análise final.
Belo texto e de pertinente actualidade.
Abraço,
J. Albergaria

Anónimo disse...

Pois é... eles "andem" aí...
e alguns comem tudo e não deixam nada!!...
Excelente, este (quase) Sermão de S. Rogério aos Morcegos...
Batman

Anónimo disse...

Faltou referir que além do morcego d'água, que será prolífero quando as albufeiras encherem, há entretanto o morcego barrageiro (espécie migratória), que normalmente sai do morcegário às quintas-feiras, migrando para olímpicas e ruidosas cavernas...

Júlia Ribeiro disse...

Há muito tempo que não dava tão grande gargalhada.
Não é todos os dias que se lê um texto destes!
Valha-nos o humor e a crítica certeira do Rogério para olharmos a crise através do morcegário - sabendo de antemão que os morcegos são primos direitos dos vampiros - .

Um abração, Amigo.

Júlia

Paulo Santos disse...

A figura de estilo mais adequada seria a "imagem"... Que belo quadro da "bicharada" este que abunda neste país...
Que passos darão os coelhos em relação aos morcegos?