Ó minha vila-Princesa
Minha peónia da serra
Acorda e canta!
Acorda e canta!
E o teu canto cante a nobreza
Que à tua volta se espelha:
Nessa torre majestosa
Nas velhas pedras da igreja
Em solares com seu brasão
Em capelinhas antigas
Tão cheias de devoção.
E em casebres bem pobres
Onde, à terra sacrificados,
Vivem, sofrem, amam, morrem,
Os teus filhos deserdados.
Ó minha vila-Princesa
Minha rosinha brava
Acorda e canta!
E o teu canto cante a beleza
Das matas do Roboredo
Nos socalcos, o vinhedo
Que vinho dá para o altar
E na missa é consagrado
"Sangue de Cristo, tomai!"
Canta os amendoais floridos
Nuvens, novelos de neve
Pairando em campos perdidos
Lembram contos de encantar.
Canta as doces amêndoas-rosas
Tua coroa de toucar.
(...)
Júlia de Barros Biló, 1954
in: "Somos poeira, somos astros",
Magno Edições, Leiria, 2000, págs.49-50
.
Foto - igreja matriz de Torre de Moncorvo,
vista da rua do Quebra-costas - N.Campos, 2010
2 comentários:
Muito bonito. Fica no ouvido. Porque não escreve mais em verso, Julinha.
Um beijinho
Maria do Céu
É um roteiro de ternura este que a Júlia nos propõe. Mas também um regresso à inocência. De memória dos companheiros de infância que o tempo varreu. De sons e imagens e afagos que agora são um eco. De um eco que nos prende ao contínuo da vida, enquanto vida - tal como a Júlia o diz, somos poeira, somos astros. Nada é eterno, mas tudo é imortal.
Daniel de Sousa
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