segunda-feira, 21 de março de 2011

Ó amendoeiras!

Ó amendoeiras floridas,
amendoais de riqueza!
alegria das raparigas,
cheios de encanto e beleza!

Vou pintar a minha terra!
da cor das amendoeiras;
começo aqui pela serra,
desço mesmo às ladeiras.

Vou pintá-las de branco,
em flor, imaculado;
de rosa é o manto,
de amor e de cuidado.

Cuidado na ventania,
ou até na chuva grossa,
caem pétalas de alegria,
ficam os sonhos de rosa.


Há perfume pelos campos,
cheira a rosas e a jasmim,
abelhinhas, trinados em bandos,
deixam-me saudades sem fim!

Vou pintar as amendoeiras,
de trabalho e de ilusão
pinto de verde as ladeiras
cachuchos do meu coração!

São verdes e saborosos
de casca tenra e macia
de cachuchos tenros, viçosos
de leite, pinto grãos de alegria!!

Vem o sol, traz-lhes mimos,
vê-los crescer é um regalo,
de pele de leite finos,
pinto amêndoas de estalo!

Pintei assim as ladeiras
verdes cachuchos a sorrir,
do poio às ladeiras
pinto amêndoas a florir!


Já duras e bem sequinhas,
do verde manto despidas.
Em ouro se tornaram,
até há amêndoas paridas!

e pinto com esta tinta
de cantigas, as mulheres,
vestem-se de blusas de chita,
vermelhas aos malmequeres.

E trazem saias rodadas,
as belas apanhadeiras!
e andam assim dobradas,
alegres e galhofeiras!

e falam da sua vida
e da minha ou da tua
os homens, em vara fina,
varejam amêndoa dura.

Depois em sacos de estopa,
feitos em belo tear,
seguem arrobas de amêndoa,
p´ra casa, é bestas carregar!

E é uma animação,
sempre, sempre a reinar!
cozinha, quarto, sala ou salão,
na rua, em toldes, a secar!.

e em pás de fina madeira,
toca, toca a revirar
de casassós à ladeira,
meus sonhos hei-de pintar!

Pinto cestos de verga
até bacias de lata
amêndoa depois de seca,
é uma quebra bem farta.


E agora vamos lá todos
de Urros, ó mocidade!
cantar ao desafio,
partir grão, à vontade!

E agora sentem-se aqui,
tomem lá o malhadouro!
o grão é p´ro cestinho,
alqueire cheio é dinheiro.


Há presunto e queijo da talha,
postas de linho, é alva a toalha,
pão, bolas, salpicão e vinho,
“há barulho! ide lá ver quem ralha”.

Malhadouro malhadeiro
em açafates de verga,
o Petromax é luzeiro,
dá luz que bem se enxerga

Ó mocidade de Urros, que fizestes
da vossa fartura e riqueza?
ver os montes assim tristes
não vos dá dor de cabeça?!


RETRATOS DA MINHA INFÂNCIA.
Tininha, de Urros, outrora uma vila!
( …que teve foral antes de Moncorvo)


GLOSSÁRIO:
Barulho= desordem, desentendimentos, que, por vezes, antigamente, poderia provocar sérios danos; pequenas sublevações, garalmente na rua, que poderiam arrastar muita gente, como assistência.
Cachuchos= amêndoa, ainda tenra, coberta por casca tenra. de cor verde.
Ralhar=criticar, berrando e insultando , admoestar

Enviado por Arinda Andrés

Fotos : João Costa

4 comentários:

Anónimo disse...

Um bonito cântico para celebrar o Dia da Árvore - já que a Amendoeira é também um dos ex-libris das nossas terras!
Aguardamos mais colaboração desta nossa conterrânea.

isabel disse...

Bonito poema! Também tive saudades da minha infância, sobretudo por causa dos "cachuchos" (os meus "amendrucos"). Parabéns à Tininha, à Arinda e ao João!

Abraço,
Isabel

Júlia Ribeiro disse...

Olá, Tininha:

A sua veia poética floresce como a flor da amendeira: suave, linda e bem nossa.

Um abração
Júlia

Júlia Ribeiro disse...

Tininha :

Que é feito de si? Não tem aparecido ultimamente. Espero que esteja tudo bem consigo.

Abraço
Júlia