Depois do lançamento no Porto (na Biblioteca Almeida Garrett, em 26.11.2010) e, mais recentemente, na Guarda, teve lugar no passado sábado, dia 7 de Maio, a apresentação do livro
De Cabinda ao Namibe, de autoria do Professor Adriano Vasco Rodrigues.
A sessão foi aberta pelo Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, que recordou a longa relação de amizade com o Prof. Adriano Vasco Rodrigues, que, segundo disse, conhece "desde pequeno", pois o Prof. Adriano casara no Felgar com a Drª. Maria da Assunção Carqueja, vindo aí diversas vezes, pelo que se tornara um amigo de sua família, também do Felgar. Aires Ferreira aproveitou para fazer uma breve apresentação do autor da obra, destacando o seu contributo como historiador e arqueólogo (com alguns trabalhos sobre o concelho de Torre de Moncorvo), como pedagogo, tendo dirigido uma escola superior de educação na Bélgica (Möll), e também no plano da intervenção política, como deputado e governador civil da Guarda, distrito em que se situa a sua terra-natal, Longroiva.
De seguida tomou a palavra o editor da obra, Dr. Jorge Fragoso, responsável da editora Palimage, que disse ter ouvido falar, pela primeira vez, do nome do professor Adriano, quando ainda era aluno do Liceu D. Manuel II (depois Rodrigues de Freitas), no Porto, na medida em que eram conhecidas as suas inovadoras experiências pedagógicas em outro liceu da cidade, o Garcia da Orta, tido como referência vanguardista, onde havia uma maior relação de proximidade entre professores e alunos. Além disso, o Professor Adriano Vasco Rodrigues era também autor de um conhecido manual de História do curso geral de liceus.
Quanto ao livro ora editado, disse que o apreciou particularmente, quer por também ter nascido em África, quer pelo seu conteúdo, sendo um livro que "enche e preenche", o que o levou a empenhar-se bastante no seu tratamento gráfico. Mais adiantou que já está prevista uma 2ª. edição, com um acrescento final.
A apresentação da obra coube à Doutora Adília Fernandes, que fez um resumo do seu conteúdo, de certo modo um livro de memórias da experiência do autor, entre os anos de 1965 e 1969, investido numa missão educativa, mas que não se ficou por aí, tendo-se dedicado também à investigação histórica, arqueológica e antropológica. Procurando situar o autor e a sua missão no contexto dessa época, afirmou que o Professor Adriano Vasco Rodrigues "vai para Angola empenhado na construção de um mundo novo, multirracial", tendo aí organizado os primeiros cursos do ensino preparatório, tendo ainda elaborado modelos pedagógicos e didácticos sem paralelo em qualquer outro país de África, nesse tempo. Não se tendo limitado a ser um burocrata de gabinete, o Professor Adriano percorreu todo o território de Angola, como inspector escolar, tendo o somatório das suas viagens totalizado mais de 300.000 km, num carro Volkswagen (que figura na capa do livro), tendo então, nessas andanças, registado muitos aspectos da paisagem, da História, da Arqueologia, e da Antropologia angolana, que entretanto indagou, como a pedra da "Torre do Tombo" (Moçâmedes), o túmulo do Zé do Telhado, no antigo presídio das Pedras Negras, os túmulos dos sobas da Kibala, etc.. Além de anotar outros pequenos "flash's" como a estória do faroleiro Simão Toco, fundador da seita do "tocoísmo", e que encontrou confinado no Sul de Angola.
O aprofundamento das questões arqueológico-históricas levam-no a elaborar a 1ª. Carta Pré-histórica de Angola, tendo realizado escavações, nomeadamente nas ruínas de um antigo embarcadouro de escravos para o Brasil, e no deserto do Namibe, onde localizou os destroços de uma embarcação da carreira das Índias.
Finalmente foi a vez do autor nos brindar com o seu depoimento, no discurso directo, discorrendo sobre a sua longa relação com as terras de Moncorvo, os trabalhos realizados antes da sua experiência africana, e, depois, a sua partida para Angola, frizando as dificuldades e obstáculos que aí encontrou, sobretudo em certos sectores da Administração. Mais disse que "nunca acreditei que nos mantivéssemos em Angola por muito tempo", razão pela qual era imperioso fixar aí a língua portuguesa, não só como instrumento de unidade do território angolano (onde se falavam 29 línguas ou dialectos), mas também como um futuro elo de ligação com Portugal. Referiu-se depois a inúmeros episódios da sua passagem por Angola, como o dos guerrilheiros que o ajudaram a mudar um pneu do carro, algures numa zona de terrorismo, e quando ele e os acompanhantes julgavam já que iam ser mortos - tendo atribuído o facto de terem escapado, ao respeito tido pela sua função educativa.
Em jeito de conclusão afirmou: "este livro relata as minhas vivências e a minha experiência em Angola. Foi uma grande experiência..."
O préfácio é de autoria do major-general A. Pires Veloso, amigo, conterrâneo e contemporâneo do autor.
Da nossa parte diremos apenas que foi uma honra e um previlégio ter lido, com muito agrado, a 1ª. versão deste livro, ainda antes de ser editado. No seguimento de uma conversa com o Sr. Professor Adriano Vasco Rodrigues, sobre o navio perdido no deserto de Moçâmedes, a Sul de Porto Alexandre (a que hoje chamam Tombwa), tendo conversado também sobre os concheiros que havia entre as dunas do deserto, o Sr. Professor deu-nos um excerto dessa odisseia da descoberta e escavação da referida embarcação, algo distanciada da linha actual da costa, onde fazia uma interpretação histórica sobre este naufrágio, numa belíssima narrativa que se lia como romance de acção, embora fortemente sustentada em documentos do séc. XVIII, do arquivo histórico de Angola.
Pouco tempo depois, em Setembro de 2007, o Professor Adriano enviou-nos o texto completo do livro (inédito) de onde retirara o excerto, exemplar único devidamente encadernado, para o caso de conseguirmos meios para a sua publicação. Ainda falámos desta possibilidade a um professor da Faculdade de Letras do Porto, ligado ao Centro de Estudos Africanos dessa Faculdade, mas não nos foi possível concretizar o contacto. Por fim, em Outubro de 2009, sabendo que se iria realizar uma Homenagem ao Sr. Professor Adriano por parte da Câmara Municipal da Guarda e de outras entidades desse distrito, sugerimos ao município de Torre de Moncorvo uma iniciativa análoga, envolvendo também a Drª. Assunção Carqueja. E entregámos o exemplar inédito, cujo título inicial era "Pedras Negras" (com Pungo Andongo em sub-título), numa alusão ao famoso presídio do séc. XVII, para onde viria a ser mandado o Zé do Telhado. Assim, foi com a maior satisfação que soubémos, em Novembro de 2010, que o livro fora já publicado e com o apoio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, o que merece o nosso aplauso.
Esta obra vem completar a extensa bibliografia do Professor Adriano. Lê-se como um livro de aventuras e é um depoimento formidável de uma personalidade de excepção que (se) cruzou (com) a terra angolana e aí deixou (também) a sua marca, num momento crucial da história desse território. Trata-se ainda de um olhar que importará aos estudiosos das coisas de Angola, mas também aos que se dedicam à história contemporânea portuguesa, pouco anterior ao 25 de Abril de 74.
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Texto e fotos: N.Campos