segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Rogério /Pedro Castelhano, Antologia - "(Re)Cantos d'Amar Morto"


Em Março de 2011 é editado pela Âncora, o pequeno grande livro de poesia, "(Re)cantos d'amar morto", com o pseudónimo de Pedro Castelhano. A obra inaugura a colecção Universos, dirigida por Rogério Rodrigues, a convite do seu amigo, o editor António Baptista Lopes. Aqui se reúnem alguns poemas publicados no blogue "TorredeMoncorvo in blog" e ainda um postado neste blogue: "Quando o Natal chegar" (http://torre-moncorvo.blogspot.com/2010/12/poema-de-natal-por-pedro-castelhano.html ).
O livro foi apresentado em Torre de Moncorvo, na Biblioteca Municipal, no dia 19 de Março (dia de S. José, feriado municipal), pelo seu grande amigo Amadeu Ferreira (falecido em 2015), tal como aqui noticiámos - ver aqui: http://torre-moncorvo.blogspot.com/2011/03/poesia-de-pedrocastelhano-rogerio.html
Como então disse, nessa tarde memorável, o Doutor Amadeu Ferreira, jogando com as "duplas personalidades" Rogério Rodrigues/Pedro Castelhano: " (,,,) Pedro fala da morte, soterrado em problemas da vida. E Rogério, como eu e seus amigos mais chegados sabem, não tem nem nunca teve problemas pessoais, nem existenciais. Pelo menos, era o que ele costumava dizer".  - O que mais disse, bem como a intervenção do Rogério, pode ler-se aqui:
Da nossa parte, como então dissemos no post acima indicado, poder-se-ia ainda "acrescentar à análise do título feita por Amadeu Ferreira, um outro conceito que nos parece aí contido: o de 'Mar Morto', por alusão aos célebres manuscritos achados em Qûmran, que estiveram perdidos durante mais de 2000 anos, e onde se encontra o essencial do pensamento da seita mística (e eremítica) dos Essénios, algures nos desertos da Palestina. Também alguns destes escritos (manuscritos ou não) do Rogério, estiveram como que "perdidos" durante anos, se não dentro de vasos, pelo menos dentro de gavetas [e, mais recentemente, de blogues]. A sua reconstituição permite-nos seguramente conhecer algo do seu pensamento e muito do seu sentir, tal como hoje sabemos dos essénios." - Havia, a nosso ver, algo de ascético e contemplativo na personalidade de Rogério Rodrigues/Pedro Castelhano, quando se refugiava em casa ou em cafés menos frequentados, para poder ler, pensar e escrever. Recordo o seu interesse pelos gnósticos e pelo esoterismo pré-cristão conhecido por esses manuscritos do Mar Morto. Daí que esta ideia possa estar, também ela, encriptada no rebuscado título desta obra.
Fechando a quadratura de um círculo iniciado com o (pouco) juvenil "Livro de Visitas" (1972), ainda que se registe em "(Re)cantos d'amar morto" uma maior simplificação da forma poética, agora mais "entendível", a música de fundo continua "merencória" e trágica, talvez mais agravada pela entrada no outono da vida e com a morte dos sonhos de juventude que - apesar de tudo - fervilhavam naquele período pré-revolucionário. Como pano de fundo, os clássicos sempre. O primeiro poema, "Carpe diem", expressão latina atribuída ao poeta Horácio Flaco, o das Odes (séc. I a.C), dá o mote. Depois, a belíssima "Carta à neta", recomendações que têm como referência o Tempo e as mutações do mundo (nem sempre para melhor), em que se subentende o célebre "O tempora, o mores", de Cícero. Está ainda a forma clássica bem cinzelada e polida - magnífica versão escrita da marmórea Pietá de Miguel Ângelo - no assombroso poema "Stabat Mater". E que dizer ainda dessa descida ao Hades, qual Ulisses, que são os "Nove Poemas de Novembro"? E tudo o mais até ao angustiante "Quando eu morrer por favor apaga a Luz..." - Fica-se com coração e alma esganados, sobretudo depois de tudo isto lido após o fatídico dia 8 de Outubro de 2019...

N.Campos

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