domingo, 18 de abril de 2010

Abril, águas mil...

Fazendo jus ao velho adágio, parece que a chuva voltou...
Pela calada da noite molhada, brilham as calçadas e os lampejos de luz amarela tornam de ouro as pedras da velha igreja que parece catedral. Não sei porquê, talvez pela luz dourada, ou pela humidade do pavimento, ou pela imponência do monumento, ocorreu-me Santiago... Sim, essa, a compostelana, a do Caminho... Ah, e como este pequeno largo poderia ser o Obradoiro, ou, no mínimo, A Quintana.
De Torre de Moncorvo para Santiago - que foi teu orago primeiro - voa-me o pensamento, por estas horas da noite.
E já chove em Santiago...
como em Torre de Moncorvo.

Txt. e foto de H. de Campos

sábado, 17 de abril de 2010

Quadros da transmontaneidade (5)


Ainda não andava nos dezoito quando partiu. Por lá andou, também foi daqueles que insatisfeito com a avareza da terra partiu à cata de melhor sorte. Não esperava encontrar nenhuma mina de ouro como aqueles que andaram lá pelos “Brasis”, mas “aldemenos” que desse para “adubar” com largueza o caldo. E conseguiu-o, depois de uma dúzia de anos aos “impontões” de uns e de outros, quer dizer depois de aturar filhos de muitas mães. Com os primeiros francos pagou caro umas oliveiras ao Dr. Armando, depois “mercou” um amendoal no Vale do Corcho, depois uma horta, refez o “cardenho” que foi o único “herdanço” do pai, que “Deus tem” e, por fim, voltou. Não quis café nenhum, isso é para mandriões. Voltou às raízes, ao princípio, se é que alguma vez de lá saiu. Voltou a embrenhar-se nos modos de vida ancestrais. Voltou a reger-se pelas leis do tempo. O apego à terra era um sentimento que não sabia explicar. Sim!, ela nunca lhe deu nada, bem pelo contrário, até a infância lhe tirou, mas havia uma atracção atávica, dir-se-ia imorredoura, que o puxava para aqueles montes.

ANTÓNIO SÁ GUÉ

Matriz

Esta é a fachada mais fechada aos turísticos olhares, numa perspectiva de peso.
J. Costa

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Explosão de cor

Candidato a património rural.

Aqui me apresento, garnizé, por vezes, de um só pé. Nasci de ovo verdadeiro e de chocadeira natural, contrariamente a outros da minha espécie, espetados, desde o ovo pelos nitrofulanos.
E esta capa vistosa devo-a à geada, vento, sol e orvalho que me abrigam e obrigam a debicar o tempo de uma paisagem transmontana.
Só muito depois serei brasa ou cabidela, quando o sabor iguala a minha cor.
J. Costa

725 anos da atribuição de Carta de Foral a Torre de Moncorvo


(clique na imagem para aumentar)

Fauna com letras



“… o ouriço olfactava a manhã e rebolava-se por baixo da figueira frondosa, que também sorvia a seiva do ribeiro. Os picos, assim cravejados de frutos, competiam com a cesta carregada de figos que as mulheres, à hora do almoço ou no final da tarde, transportavam à cabeça, para casa.”

Isabel Mateus, O Ouriço - Cacheiro, in O Trigo dos Pardais

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um pouco mais de azul ...

Iris germanica
J. Costa

O Voo do "Trigo dos Pardais"

Isabel Mateus apresentou, ontem, o seu " Trigo dos pardais" na Escola Secundária de Vila Pouca de Aguiar, durante a parte de tarde. Já pelas 21.30h, fê-lo em Vila Real, no Grémio Literário Vilarealense. Neste local, Pires Cabral fez uma curta apresentação da autora, seguindo-se uma coloquial e agradável exploração da obra por Maria da Assunção Anes Morais. Já no final, depois das palavras de Isabel Mateus, lembraram-se os sabores moncorvenses com uns tragos de licor de vinho e umas crocantes amêndoas.


Assunção Anes, Isabel Mateus e A. M. Pires Cabral

Isabel Mateus nas suas considerações sobre os 22 contos e o espaço rural que lhes serviu de suporte.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ainda

Aos que bebem a terra em sulcos e rasgam o tempo veloz, para nos ensinar calma.

Algures em Torre de Moncorvo, em Abril de 2010, para memória futura, com os meus agradecimentos à pessoa retratada.

J.Costa

terça-feira, 13 de abril de 2010

Rural e idades

Uma língua entre as fragas.


Suores partilhados.

Imagens e legendas
João Costa

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios é no domingo:

(clique na imagem para aumentar)

No próximo Domingo, dia 18 de Abril, comemora-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, um dia especialmente dedicado ao Património, por indicação do ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios), um organismo da UNESCO (ver: http://icomos.fa.utl.pt/ ; http://www.icomos.org/). Em cada ano é designado um tema específico, dentro do vasto campo que é o Património cultural material. No presente ano, foi escolhido como tema o património relacionado com a actividade agrícola e com o mundo rural em geral (arquitectura vernacular, como sejam as habitações tradicionais, palheiros, eiras, pombais, etc.).

A nível local, o entusiasmo do Presidente da Junta de Adeganha associou-se a outras vontades (Município, Museu, PARM), no sentido de se realizar uma digressão pelo maciço planáltico da Fragada, de onde se contemplam também o ubérrimo vale da Vilariça, com as suas quintas e um rico património de várias épocas.

Ver mais em: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2010/04/dia-internacional-dos-monumentos-e.html

Cucas

Sons dourados das campainhas ou cucas numa primavera reticente.
J. Costa

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Passeio da Pascoela à Senhora da Esperança (Torre de Moncorvo)

"Depois da Páscoa [na segunda-feira da oitava da Páscoa], muitos habitantes de Torre de Moncorvo deslocavam-se, a pé, até à Senhora da Esperança, mas, sobretudo, à Senhora da Teixeira [Sequeiros, Açoreira], carregados com os seus farnéis". - Padre Joaquim M. Rebelo, A terra trasmontana e duriense, ed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo/Associação Cultural de Torre de Moncorvo, 1995.

Esta tradição foi progressivamente caindo no esquecimento até que há dois anos, em 2008, a Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo a resolveu retomar, com bastante sucesso. Apesar de muitos participantes (sobretudo os mais idosos) se deslocarem de transporte colectivo disponibilizado para o efeito, alguns caminheiros continuam a utilizar o velho caminho medieval, desde as Aveleiras até ao Cuco.
Grupo de caminheiras, pelo caminho velho, com a vila em pano de fundo.

Aproximação à capela de Nossa Senhora da Esperança - não seria possível enterrar os inestéticos cabos eléctricos e telefónicos que desfeiteiam a paisagem?

Momento de devoção. A capela-mor é resguardada por uma grade e um arco de estrutura românica.

Altar principal da capela, com a Senhora amamentando o Filho, com Esperança na redenção do mundo...

Hora da merenda, vendo-se os folares e outras iguarias oferecidas pela Junta de Freguesia.

Ao fundo, a Presidente da Junta, Milú Pontes, não dá mãos a medir - e em primeiro plano, à direita, até um turista francês provou do nosso "fromage tarrinchô"

Um pórtico ainda de inspiração gótica sob o rústico alpendre que seguramente albergou milhares de viandantes e outros tantos devotos moncorvenses, ao longo dos séculos...
(Fotos de N.Campos)

Um sábado cultural com "Trigo dos Pardais" (livro) e "Raiz de brinquedo" (exposição)

Abertura da sessão, pelo Sr. Presidente da Câmara (foto de João Pinto V. Costa)

Sábado, 10 de Abril, pelas 15;00h, decorreu no auditório da Biblioteca Municipal a apresentação do livro livro há muito esperado, "O Trigo dos Pardais" de autoria da nossa conterrânea e colaboradora do blogue, Doutora Isabel Mateus. Abriu a sessão o Sr. Presidente da Câmara, Engº. Aires Ferreira, elogiando o trabalho da autora, após o que passou a palavra à Doutora Assunção Anes Morais, autora do prefácio do livro.

A Drª. Assunção Anes fazendo a apresentação da autora e da obra (foto de João Pinto V. Costa)

Maria da Assunção Anes Morais é professora em Vila Real, sendo especialista na obra de Miguel Torga, um elo comum que a liga a Isabel Fidalgo Mateus, uma vez que ambas elaboraram as suas dissertações académicas em torna da obra daquele eminente escritor trasmontano. No caso de Isabel Mateus, quer em "Outros Contos da Montanha" (o seu livro anterior) quer agora em "O trigo dos pardais", tal como em Torga, é bem patente o telúrico apelo às raízes e ao "rincão sagrado". Como referiu a apresentadora, neste último trabalho perpassam, através dos contos evocativos das brincadeiras da infância (jogos populares infantis) muitos outros aspectos, como sejam a arquitectura rural, as ervas medicinais, a vida campestre associada à terra, aos animais (domésticos ou silvestres, como a raposa, o lobo, os ouriços cacheiros, os texugos) ou as árvores. Ressaltou a mensagem ecológica e o apelo à preservação do património cultural e natural que está subjacente à obra, terminando a sua intervenção dizendo que este livro, "O Trigo dos Pardais" convida-nos a passear pelos montes!"

Capa do livro e dobra lateral com biografia da autora

No uso da palavra, Isabel Fidalgo Mateus começou por explicar o título do livro, dizendo que se baseia no aforismo popular segundo o qual o primeiro trigo é sempre para os pardais, aves cosmopolitas que tanto se encontram em meio rural como urbano, e que afoitamente se introduzem no meio das galinhas para roubarem o trigo que podem. Mas aqui também se podem associar os pardais às crianças ladinas, que no meio rural de outros tempos criavam os seus próprios brinquedos e aprendiam os seus jogos com os mais velhos, normalmente passados de geração em geração. Aproveitou para referir que foi neste sentido que fez questão de associar à apresentação do seu livro uma exposição do Dr. João Pinto V. Costa (também nosso colega de blogue e matrimoniado no concelho de Torre de Moncorvo), a qual é composta por inúmeros brinquedos de madeira e confeccionados com elementos vegetais.
A complementar a intervenção, a autora mostrou numa apresentação em Powerpoint uma série de imagens das Quintas do Corisco, terra de sua naturalidade, algures do outro lado da serra do Roboredo, na freguesia de Felgueiras, o cenário idílico dos seus contos.
Foram ainda feitos os agradecimentos a todas as pessoas e entidades que tornaram possível esta edição. Destacamos a capa e as primorosas ilustrações de autoria de Cristina Borges Rocha.
Entre escritas: a autora escrevendo uma dedicatória ao ilustre escritor Professor Rentes de Carvalho (foto de João P. V. Costa)

No final, houve a inevitável sessão de autógrafos, encontrando-se entre o numeroso público o ilustre escritor Rentes de Carvalho que, tal como Isabel Mateus, é um "emigrante" que procura nas suas raízes a substância da expressão literária, revelando igual apego a estas fragas, na exacta medida do tempo e da distância em que permanecem "fora". Duas gerações de escritores trasmontanos no exterior, mas que não se conseguem desligar do tal "rincão".

Exposição "Raiz de Brinquedo" no Centro de Memória (foto de João Pinto V. Costa)

Depois de um beberete nos jardins da Biblioteca, foi inaugurada a exposição "Raíz de Brinquedo", de autoria de João Pinto V. Costa, na sala de exposições do Centro de Memória. O autor, sendo natural de Alpendorada (concelho de Marco de Canaveses) casou com uma moncorvense de Sequeiros (Açoreira), o que o levou a descobrir, desde há muito, quer as paisagens, quer a cultura popular da nossa região. Para mais, sendo professor em Vila Real, podemos dizer que Trás-os-Montes lhe está na alma. Além de docente, João Pinto é autor de alguns livros, de que se destaca "Flora de brincadeiras", que é uma espécie de catálogo dos trabalhos manuais que executa como "hobby", tendo como objectivo reproduzir antigos brinquedos/brincadeiras que se faziam para os garotos. Nesse afão, acaba mesmo por criar novos brinquedos, tirando sempre partido de elementos vegetais, em que a madeira também se inclui.
Outro aspecto da exposição (foto de João Pinto V. Costa)

Como escreveu Agostinho Chaves (in Mensagens Aguilarenses, 9/12/2008), citado no folheto que enquadra a exposição: "os brinquedos que João Pinto Vieira da Costa constrói são eternos. Quando não havia legos, nem consolas, nem sequer a 'Chicco' nem a 'Toys 'r Us' ou a 'Centroxogo', muito menos as grandes superfícies comerciais que deliciam os olhos das crianças e dão cabo das carteiras dos papás, as crianças brincavam muito mais, de forma mais divertida, por improvisada e criativa. Os seus brinquedos eram feitos do que havia: uma casca de noz, um vime, uma rolha de cortiça, uma carica, o canoco de um milheiro, uma raiz, a vareta de um guarda chuva desfeito pelo vento, uma pinha, um botão velho, um pedaço de arame, um arco de pipa velha abandonada, um ramos de árvore em Y, até uma meia em desuso que era cheia de palha e cozida na ponta, fazendo uma bola com que se jogava futebol. // Não admira que essas práticas (como a generalidade dos jogos populares) tivessem desaparecido, no avançar dos tempos em que o consumo cresceu e tomou conta de nós, através de cada vez mais atraentes e agressivas campanhas de 'marketing' e de publicidade" (...)

Um helicóptero feito com uma cabaça (foto de João Pinto V. Costa)
Esta exposição fica patente até ao mês de Maio - a não perder!!!
De caminho, é obrigatória a leitura do "Trigo dos Pardais", pois assim poderá o leitor entrar melhor no espírito da exposição.
Fica a proposta.

domingo, 11 de abril de 2010

Cores da época I

Arçã (Lavandula stoechas)


Erva-prata (Paronychia argentea)



Soagem, Chupa-mel (Echium Plantagineum L)



Maleiteira ( Euphorbia helioscopia L.)

Os caminheiros da Senhora da Esperança cruzaram-se certamente com estas espécies.

Fotos: João Costa