domingo, 16 de janeiro de 2011

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Nota prévia: Em conversa com o meu amigo José Alves Ribeiro, tive conhecimento deste seu trabalho sobre a cultura do sumagre, outrora praticada em Trás-os-Montes. Se em Torre de Moncorvo esta prática não teve uma forte implantação, resta a memória de alguns dos seus habitantes que tiveram esse ofício nas terras de Foz Côa, quando por lá subsistiam das jeiras. Sugeri, desde logo, que permitisse publicá-lo neste espaço, pelo que imediatamente e simpaticamente acedeu ao pedido.

O nosso agradecimento.

A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
José Alves Ribeiro, Eng. Agrónomo, Professor Emérito da UTAD

1 – Caracterização botânica e fitogeográfica do sumagre – Rhus coriaria L.

O sumagre, de nome científico Rhus coriaria L., é um arbusto da família das Anacardiáceas, família botânica de plantas ricas em resinas e taninos, onde também estão inseridas espécies como o cajú, a manga, o pistacho, a aroeira e a cornalheira, sendo estas três últimas espécies arbustivas do género Pistacia, sendo a cornalheira - Pistacia terebinthus L. - também frequente nas matas e mortórios da vegetação mediterrânea duriense. O sumagre tem a sua inserção fitogeográfica na grande região mediterrânea, mais precisamente na sua sub-região mais oriental, tendo-se expandido a sua cultura para toda a mediterraneidade. Os romanos o utilizavam como condimento, sendo também muito antiga a sua utilização na preparação das peles e couros ou seja no artesanato e na indústria dos curtumes, utilização essa que entrou em declínio a partir do início do século XX, com o desenvolvimento de outras fontes de obtenção do tanino para a referida indústria.
É um arbusto de médio a grande porte, mesmo arborescente, de marcadas preferências por locais quentes e soalheiros, nas áreas de feição mediterrânea do nosso país, na Terra Quente e vale do Douro em Trás-os-Montes e Alto Douro, na Beira Interior, no Alentejo, no Algarve e nas Ilhas da Madeira e dos Açores onde também fora cultivado. Instala-se especialmente nos taludes e nas bordaduras de matos, de caminhos ou de campos de outras culturas, locais para onde a espécie se tem disseminado ao longo das últimas décadas, desde o abandono da cultura, tornando-se um arbusto naturalizado na paisagem vegetal e em certos locais tornando-se mesmo um arbusto potencialmente invasor de vinhas e pomares. Para uma breve descrição botânica podemos caracterizá-lo como um arbusto de folhagem caduca, ramoso, de rebentos e pecíolos vilosos, ou seja de muita pilosidade, de folhas compostas, imparifolioladas, de três a sete folíolos de forma ovado-lanceolada, de recorte crenado-serrado; flores pequenas, dispostas em panículas, de inserção terminal ou lateral nos ramos, sépalas esverdeadas e pétalas brancas, glabrescentes na página inferior e pubescentes a vilosas na página inferior; frutos em cachos tirsóides, sendo cada fruto uma pequena drupa, ou seja um fruto semi-carnudo de caroço, drupas essas densamente vilosas e de cor castanha purpurescente. Existem duas variedades desta espécie, denominadas «macho» e «fêmea», sendo a primeira variedade de maior porte e de folhas também maiores e lisas na página superior e de pecíolo alado na extremidade – ao contrário da variedade «fêmea» em que as folhas apresentam as duas páginas penugentas e de pecíolo não alado nos entrenós superiores.



Sumagre num talude, junto ao rio Douro, na Ferradosa (2008).

2 - Outras espécies do mesmo género Rhus

Uma outra espécie também mediterrânea embora com maior difusão pela Europa sub-mediterrânea da zona balcânica e húngara e ainda da Ásia temperada, é o denominado sumagre tintureiro, Rhus cotinus Scop., é usado como planta ornamental pelos seus longos cachos florais esverdeados, e também usado como tintureiro pela casca das raízes e rebentos juvenis, dando côr amarelo-alaranjada aos tecidos. Outra espécie próxima é o sumagre africano, Rhus pentaphyllum L., de cinco folíolos, originário da região magrebina no Norte de África, também utilizado nos curtumes. Quanto às espécies americanas temos de assinalar o sumagre branco ou sumagre da Colúmbia, Rhus glabra L., sem pilosidade, bastante taninoso mas também de boas qualidades como planta melífera, temos também o sumagre «corno-de veado» ou sumagre da Virgínia, Rhus typhina L.,o sumagre copal, Rhus copallina L., de que se extrai uma boa resina e ainda o sumagre do Arkansas, Rhus cotinoides Nut.,cuja casca e lenho dão matéria corante amarela. Há que referir que os sumagres americanos foram sempre menos usados para os curtumes do que os mediterrâneos por darem couros demasiado corados. Ainda há a considerar os sumagres asiáticos, sendo de assinalar as seguintes espécies: o sumagre semi-alado, Rhus semialata Murray, que produz galhas muito ricas em tanino, o sumagre de cera, Rhus succedanea L., ornamental pela folhagem avermelhada e produtor de uma cera que é extraída dos frutos, sendo também das drupas que se extrai a denominada laca-do-Japão, a partir de uma outra espécie asiática, Rhus vernicifera L., sendo o nome vernicifera muito apropriado pois com essa laca é preparado um excelente verniz.

(continua)

2 comentários:

Angel disse...

El Zumaque como se conoce en la zona de acá, también tuvo su importancia para el trabajo de curtir pieles(por su riqueza en tanino), en la zona de frontera.
Tambien se trasportaban a otras comarcas salmantinas como el abadengo.
Por cierto,el lugar donde mas abunda esta planta junto al Duero, aquí en Masueco, se la conoce, como Tras del Monte.
Un fuerte abrazo a Vasdoal y a toda la gente trasmontana. Angel

Anónimo disse...

Gracias, Angel, y un fuerte abrazo.
João