domingo, 11 de abril de 2010

Quadros da transmontaneidade (4)


O Fernandinho passava, rua abaixo, muito contrito, muito senhor do seu nariz. Não gostava de ser conluio nas bocas do mulherio que, ao soalheiro, aproveitava os primeiros raios de Sol de uma primavera que já tardava.
Mas nem assim se livrava. Mal ele desaparecia no canto do olho de todas elas havia logo quem murmurasse.
- Ele parece que não é bem feito... ele tem as pernas bambas...
Não havia nada que a coscuvilhice das abrigadas não conseguisse desvendar. “Olha que a mim não me engana!”, “Tu vê lá aquele descaradão!...”, tudo era esquadrinhado ao mais ínfimo pormenor. Fosse alto ao magro, com bigode ou sem bigode, tivesse ele ou não cão, fosse ele a cavalo no burro ou andasse sempre a pé.
Então aquele cantinho que a casa do Zé da Adega faz com o do Manel da Trapa é de primeira apanha. Junta-se a Ti Esprito-Santo, a Zabelinha e a do Florindo, todas elas já na casa dos “entas” e todas vestidas de negro, mais pareciam três cá-vais pousados no escadório de cantaria do balcão, aquilo é um ver se te avias constante. Tricotam com igual desembaraço os meotes, a colcha ou o traque.

ANTÓNIO SÁ GUÉ

( Foto: João Costa)

Passeio da Pascoela - é hoje!!

Retomando uma velha tradição moncorvense, em boa hora reactivada pela Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, vai voltar a realizar-se hoje o Passeio da Pascoela, com concentração de todos os interessados defronte do cine-teatro, pelas 14;30h, para os caminheiros que pretendam seguir a pé (o que se recomenda, pois assim era antigamente e o bom tempo convida), o trajecto passará pelo velho caminho das Aveleiras (por cima da Estrada Nacional 220) até à estrada da Açoreira e daqui até ao adro da Senhora da Esperança. Aqui, depois da visita à capela, as pessoas poderão participar num torneio de jogos populares, com merenda e convívio no final.
Como se sabe, noutros tempos, este costume, em que as pessoas iam pelos campos em jornada de peregrinação e convívio, entre amigos e em família, desfazendo o folar e folgando, acontecia na segunda-feira da Pascoela. Ainda em Freixo de Espada-à-Cinta (ou em Espanha, como por exemplo em Salamanca) assim é. Só que isto era quando as pessoas ainda eram um pouco donas do seu próprio tempo. Hoje, as leis ditadas pelo centralismo obrigam ao trabalho neste dia, razão pela qual este tipo de convívios ou desapareceram, ou recuaram no calendário.
Em Felgueiras, por exemplo, a festa dos folares na Santa Marinha fez-se no sábado. Em Torre de Moncorvo, depois de ter desaparecido, retomou-se agora ao domingo. Valha-nos que em Urros parece que a festa da Pascoela ainda se vai fazer na segunda-feira, ao que nos disseram!
Bem, importante mesmo é que este convívio que metia muito de celebração da Mãe-Natureza e da Primavera, dando bençãos para que a nova colheita fosse propícia, não se perca de todo.
Por isso, mais logo, não se esqueçam: todos à Senhora da Esperança, esperando um tempo melhor, de maior fartura em tempos de crise!...
- N.Campos

Para ver como foi no ano anterior, clicar sobre os seguintes links:

http://parm-moncorvo.blogspot.com/2009/04/passeio-da-pascoela-para-desfazer-o.html

http://parm-moncorvo.blogspot.com/2009/04/pascoela-na-senhora-da-esperanca.html

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Larinho

Vista geral da aldeia do Larinho, com zona industrial do lado direito e a serra do Roboredo em pano de fundo.
(Foto de Engº. Afonso Calheiros e Menezes, Março de 2010)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Primavera na Vilariça

Pessegueiros em flor, no vale da Vilariça, 21.03.2010 (foto de Engº. Afonso Calheiros e Menezes)
"Vi já a Primavera, de contente,
de mil cores alegres revestia
o monte, o rio, o campo alegremente..."
(Luís de Camões, Elegias)

terça-feira, 6 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quadros da transmontaneidade (3)

- Então o que é que agora fazes? – perguntou o homem do boné ao mais velho.
Não respondeu logo. Os músculos do rosto retesaram-se-lhe, fechou-se, baixou a cabeça e fincou o olhar na biqueira dos sapatos de atanado já esborcinados. Aquela pergunta parecia esmagar-lhe a alma. Era-lhe difícil revelar aquela sua fraqueza. Agora já não fazia nada, já não tinha forças para “fazer”, o tempo foi-se escoando sem dar por ela, agora, andava por aí... andava de café em café, de esquina em esquina, esperava pelo fim do tempo.

ANTÓNIO SÁ GUÉ

Raizes

É curiosa esta relação Portugal -Brasil a nascer do íntimo da terra, pelas cores da aveia e da flor da nabiça. Saibamos ainda que o Brasil é um forte consumidor do nosso azeite. Depois, o sol da terra quente, aquele que estala fragas, talvez mais insuportável que no outro lado do Atlântico.

P.S. A nossa solidariedade com o Rio de Janeiro.

Fotografia: J. Costa
Sequeiros, Torre de Moncorvo, 3/4/10

Amêndoas de Moncorvo

E falando nas iguarias pascais, não podiam faltar as famosas amêndoas de Torre de Moncorvo...

Aqui em pormenor, misturam-se as "peladinhas" e outras mais cristalizadas, fruto de paciente e intenso labor das doceiras da amêndoa.
Se vier por cá, não se esqueça de levar amêndoas de Moncorvo, podendo ainda assistir à sua confecção artesanal ao vivo, em algumas confeitarias e lojas de produtos tradicionais, nas imediações da igreja matriz.
(Fotos de N.Campos e R.Leonardo)

Outros sabores da Páscoa

Peixes da Foz do Sabor (migas e fritos) desaguaram em muitos apetites.

Depois, o tradicional borrego na brasa.

E para desenjoar, uma saladinha de azedas.

domingo, 4 de abril de 2010

Folares da Páscoa

Folares a cozer no interior do forno, no Felgar (foto de Tozé Carneiro, 2008)

Páscoa em Trás-os-Montes sem folar, não é Páscoa. Depois do jejum da Quaresma (noutros tempos só se podia comer carne neste período desde que se pagasse a "bula" à Igreja), no domingo de Páscoa era dia de se "desfazer o folar". Os folares faziam-se nos fornos comunitários ou, no caso das famílias mais ricas, em fornos particulares.

Folares já prontos, mantendo-se o borralho, em 1º. plano num forno de abóbada (foto de Tozé Carneiro -Felgar, 2008)

Água, farinha, ovos, azeite, fermento, manteiga, sal q.b., para se fazer a massa, carne de porco e enchidos para o recheio, em camadas, era depois de tudo muito bem amassado e "adormecido", metido no forno, em tabuleiros, onde horas depois se produzia o milagre apetitoso. Antes era o folar pincelado com gema de ovo, para se lhe dar uma aspecto mais "envernizado".

Folar de carne e bolos da Páscoa (foto N.Campos - Moncorvo, 2010)

Além dos folares de carne faziam-se também os "folares doces", ou bolos da Páscoa, também confeccionados com farinha e ovos, aguardente e açúcar muito pouco, pois este era sobretudo aplicado no cimo do bolo, onde depois formava uma espécie de crosta estalada.
Ainda em Moncorvo, neste período, não se podiam esquecer as indispensáveis e famosas amêndoas que se davam aos afilhados, tal como o folar, os quais levavam o ramo enfeitado aos padrinhos e madrinhas.
Infelizmente, nestes tempos de consumismo, o "folar" dados aos afilhados traduz-se mais numa nota de X Euros, conforme as possibilidades e mãos-largas dos padrinhos/madrinhas.
N.Campos

Páscoa e Folares do Felgar

Recebemos do nosso amigo Tozé Carneiro algumas fotos da Páscoa felgarense. Aqui ficam, com o nosso agradecimento:
Aspecto da procissão.
Fazendo a massa, em família.
Ainda batendo a massa, na masseira.


Aquecendo o forno.
Os folares doces prontos a cozer.

Os afamados e saborosos folares doces.


O verdadeiro folar de "chicha".

Fotos de Tozé "Pisco".

sábado, 3 de abril de 2010

Procissão do Enterro do Senhor - Torre de Moncorvo

Realizou-se ontem, Sexta-feira Santa, a procissão do Enterro do Senhor, nesta vila. Como manda a tradição, o cortejo saiu da igreja da Misericórdia, percorrendo a "volta grande" (pela rua da Misericórida, Praça, R. das Flores, igreja, R. do Quebra-Costas, Santo António, Rua do Visconde de Vila Maior, Praça, R. dos Sapateiros, Rua da Boavista, R. da Misericórdia).
Pormenor da procissão, vendo-se o esquife onde é tranportado a imagem de Cristo morto, sob o pálio.

Pela antiga Rua do Cano (actual R. do Visconde de Vila Maior), vendo-se grupo de crianças transportando um estandarte deitado, sinal de luto, como pertence neste dia. Só na procissão do Aleluia (dia de Páscoa) se levam os estandartes ao alto.

Chegada da procissão, com o esquife e do andor da Senhora das Dores à igreja da Misericórdia.
Amanhã realiza-se a procissão do Aleluia, dando a chamada "volta pequena".
Fotos de João Costa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sexta-Feira Santa

"Ecce Homo" ou Senhor da Caninha Verde e o Senhor Santo Cristo, que saíram ontem na Procissão dos Passos, a partir da Igreja da Misericórdia.

Sexta-Feira Santa é, segundo a tradição da Igreja, o dia da morte de Jesus Cristo. Este era um dia de luto, e de profunda tristeza.

O saudoso Pe. Rebelo, no seu trabalho "A Terra Transmontana e Alto Duriense", sobre este período refere os costumes mais relevantes praticados pelos povos desta região:

"Em Quinta e Sexta-Feira Santas, em algumas freguesias, os seus habitantes 'não se lavavam, nem penteavam, nem jogavam e as mulheres nem estendiam a roupa'.

Em Cabeça Boa - Torre de Moncorvo o pão que as famílias deviam comer, desde a tarde de Quinta-Feira Santa até Sábado de Aleluia, era cortado Quinta-Feira Santa da parte de manhã.

E a comida que os animais deviam comer nestes dias, também, era colhida e preparada na manhã de Quinta-Feira Santa."

De referir também que a partir das 15.00 horas, data em que segundo a tradição Jesus expirou, todos os sinos das Igrejas ficam "mudos" até Sábado à noite, na Missa da Vigília, quando se canta o Aleluia.

Uma nota final, para que referir que hoje às 17.00 horas, parte da Igreja da Misericórdia a Procissão do Enterro do Senhor, organizada por esta Irmandade, tal como as procissões que se realizaram no Domingo de Ramos - Procissão do Encontro - e ontem - Procissão dos Passos. No passado Domingo - Domingo de Ramos - também decorreu a benção e procissão dos Ramos, e no Próximo Domingo - Dia de Páscoa, decorre pelas 10.00 horas a Procissão do Aleluia pelas principais artérias da vila.

Votos de uma Boa Páscoa para todos.

Enviado por Leonardo com foto de sua autoria.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quinta-Feira Santa

Painel alusivo ao beijo de Judas, no Horto das Oliveiras, patente no altar do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz de Torre de Moncorvo.
Inicia-se hoje o Tríduo Pascal, da Paixão, Morte e Ressureição de Jesus Cristo. Versos populares alusivos à Quinta-feira Santa, recolhidas em Torre de Moncorvo, pela Dra. Júlia de Barros Ribeiro (Biló), em 1999, junto da Senhora Júlia Trovões, moradora na Corredoura (in Biló, Júlia de Barros, "Somos poeira, somos astros", ed. Magno, 1ª. ed., Leiria, 2000):

"Quinta-feira Santa
Padeceu Jesus
Ao outro dia
Padecer queria.

O demónio lhe perguntou
Tremes tu?
Ou treme a Cruz?

Jesus lhe respondeu:
Nem tremerei eu,
Nem tremerá a Cruz!

E quem da minha paixão e morte
Se lembrar
Quem três credos me rezar
Tudo quanto me pedir
Tudo lhe hei-de eu dar."

Enviado por Leonardo, com foto de sua autoria.

Linha do Douro, entre Tua e Pocinho, reabre hoje

Comunicado retirado do "site" oficial da REFER (http://www.refer.pt/pt/noticia.php?id=584):

"A REFER e a CP informam que na próxima quinta-feira, dia 1 de Abril, será reaberto à circulação de comboios o troço entre Tua e Pocinho, da Linha do Douro, após a reposição das condições de segurança.

O serviço de passageiros será reiniciado com o horário que estava em vigor antes da suspensão da circulação, em 25 de Dezembro de 2009, motivada por uma derrocada de grande dimensão ao km 142,500.

Está assim concluída a primeira fase da intervenção, o que permite a reabertura do troço à exploração ainda que com restrições de velocidade no local, que serão eliminadas no final de Setembro, após a conclusão da empreitada.

Para mais informações a CP recomenda a consulta dos seus canais de informação: call center 808208208, site www.cp.pt e estações ferroviárias.

Lisboa, 30 de Março de 2010"
-Como o comunicado saiu ontem, pensamos que está fora do alcance do "dia das mentiras"... Esperemos que o comboio da Linha do Douro continue a "ser verdade" e apelamos a todos os transmontanos para que utilizem esta via, belíssima, mais cómoda do que os autocarros e, apesar de tudo, bastante segura (e esperemos que agora um pouco mais). Se todos utilizarmos o combóio, haverá menos argumentos para o encerramento da linha. Uma boa proposta para uma viagem primaveril, sobretudo agora em "férias de Páscoa".