domingo, 20 de março de 2011
sexta-feira, 18 de março de 2011
Palestra sobre Energias Renováveis, hoje, na Escola Secundária de Moncorvo
Para mais informações, pode ver:
http://colegiocamposmonteiro.blogspot.com/2011/03/energia-renovaveis-e-nao-convencionais.html
terça-feira, 15 de março de 2011
Quadros da transmontaneidade (36)
Fazer a meda era arte de pedreiro. Fazer a meda era coisa para sapiência de mestre. Fazer uma meda era um acto de cooperação e coordenação entre o mestre e o aprendiz que lhe ia atirando os pesados molhos, um a um, como se fossem pedras de uma catedral que, pouco a pouco, também ela se ia erguendo aos céus e assumia forma redonda, como o mundo que ansiava compreender. O mestre sempre de joelhos, e com a sabedoria de mão calejada, assentava-os com a facilidade de quem apreendeu tudo num instante, como se soubesse, desde sempre, o local que lhes competia.
Qual catedral que se mantém erguida pela equação matemática que se desconhece! Qual geometria que explica a sua beleza! As medas, sei hoje, foram as catedrais da minha infância, os contrafortes da minha rudeza, os seus recantos a felicidade pueril e indizível que carregarei aos ombros até ao fim dos meus dias.
António Sá Gué
P.S.: Com um abraço para o amigo Nelson.
Autores moncorvenses em Revista Cultural

É de realçar que neste número de 200 páginas estão presentes os seguintes autores moncorvenses ou afectos a Moncorvo: António Manuel Andrade, António Sá Gué, Arinda Andrés, Isabel Mateus, João Costa e Nelson Campos.
segunda-feira, 14 de março de 2011
"(Re)cantos d'Amar Morto" de Pedro Castelhano, para o feriado municipal
sexta-feira, 11 de março de 2011
"A Terra do Chiculate" - novo livro de Isabel Mateus, sobre a emigração portuguesa
A Terra do Chiculate pretende retratar as vicissitudes da emigração portuguesa, maioritariamente clandestina, em França, a partir dos anos 60, e revelar as suas consequências positivas e negativas transportadas até ao presente, quer na pátria, quer no país de acolhimento.
Ao mostrar o difícil passado recente da emigração portuguesa, A Terra do Chiculate alerta, igualmente, para a vigência e a actualidade do tema da emigração clandestina neste início de século.
Synopsis:
The
Although The Land of Chiculate captures the engrained memories of Portuguese immigrants in
.A obra divide-se em três partes e dá voz, através dos seus relatos, na primeira pessoa, aos seus “reais protagonistas”. Deste modo, os protagonistas do livro partilham com o leitor a sua realidade mais íntima que, em muitos casos, ainda não tinha sido exteriorizada, inclusive, no seio da própria família.
Na primeira parte, intitulada “Naufrágio”, a narração da criança, entregue aos cuidados da avó materna, com apenas 12 meses, centra-se nas suas memórias indeléveis da infância e da juventude, exprimindo, sobretudo, o modo como a ausência dos seus pais se reflecte, de forma nefasta, na sua vida. Aliás, a sua experiência individual remete a temática para um panorama mais vasto, pois a sua situação vai ao encontro da mesma realidade familiar e social de tantas outras crianças e jovens do Portugal rural, principalmente do Norte e Interior do país, durante a época da Ditadura.
A segunda parte, “Viagem(ns)”, trata dos percursos de vida daqueles que deram “o salto”, isto é, dos seus sucessos e infortúnios provenientes desta epopeia da era moderna. Entre outras, aqui perpassam as histórias do passador, da criança e dos jovens arrancados à terra de origem, bem como as referentes aos homens e às mulheres e aos seus muitos trabalhos que passaram para se adaptarem ao novo país, à língua e à cultura.
No presente, “os protagonistas” mais idosos desta efeméride deparam-se com outro tipo de problemas: surge o dilema do regresso para Portugal ou da sua permanência em França ou, então, a opção pelo contínuo vaivém entre os dois países, até que as suas forças físicas e psicológicas o permitam.
Quanto às várias gerações de luso-descendentes, debatem-se pela procura e pela afirmação da sua identidade portuguesa, resolvendo deste modo o conflito, por vezes existente, entre o desequilíbrio da influência das culturas francesa e lusa.
A última parte da obra resulta das impressões de viagem do narrador adulto em peregrinação pelos espaços da diáspora dos primeiros emigrantes portugueses, onde se incluem os seus próprios pais, os seus familiares e os seus amigos. A partir daqui, pretende-se que as suas reflexões e considerações elucidem o leitor acerca deste período da emigração ainda mal conhecida por muitos e, até então, com aspectos por desmistificar.
Podemos concluir que nestes relatos as vozes do Passado e do Presente se fundem e se confrontam, tendo o objectivo primordial de dar continuidade ao seu legado da portugalidade no país de acolhimento, ao mesmo tempo que se reafirma a mesma intenção em relação ao território português.
Título: A Terra do Chiculate - relatos da emigração portuguesa.
Autora: Isabel Mateus
Grafismo: Cristina Borges Rocha
Foto da capa: Gérald Bloncourt
Uma obra fundamental sobre um tema da nossa História contemporânea, ainda pouco explorado. E considerando que Trás-os-Montes e Alto Douro (de que a nossa região faz parte) foi um dos grandes focos de emigração, desde os anos 60/70, para a mítica Europa, esta obra é ainda mais oportuna e de maior interesse. - A não perder!
Sobre este tema e de autoria da Isabel Mateus, veja outros "posts" na etiqueta "Emigração", no Arquivo temático deste blogue, na coluna do lado direito (procurar por ordem alfabética).
Ainda a flor da amendoeira...
http://labodegadelasolana.blogspot.com/2010/02/la-flor-del-almendro-y-unos-amigos.html
Tradução para português, em: http://torre-moncorvo.blogspot.com/2010/03/lenda-das-amendoeiras-numa-versao.html
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Nota: as fotografias são de autoria do nosso amigo António Rómulo Duque (ilustre felgarense a residir e a trabalhar em Braga, a quem agradecemos a cedência destas imagens).
terça-feira, 8 de março de 2011
Carnaval
quinta-feira, 3 de março de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Plácido Souto - a obra e o artista
Fotografia: João Costa
Exposição de Escultura em Ferro de Plácido Souto, no Museu do Ferro

É hoje (dia 26 de Fevereiro) inaugurada a exposição de Escultura em Ferro, de autoria de Plácido Souto, no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, pelas 15;30 horas.
Plácido Souto, natural de Caminha e residente em Vilar de Mouros, começou de muito jovem a trabalhar o ferro, primeiro como aprendiz, mais tarde como ferreiro e depois serralheiro. Trabalhou ainda como soldador nos estaleiros navais da Lisnave, no concelho de Almada, e, depois de se reformar, voltou às terras das origens, onde se dedica a trabalhos de escultura em ferro, tendo realizado várias exposições que, com assinalável êxito, têm percorrido os concelhos da região de Entre-Douro e Minho e da vizinha Galiza.
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E porque de artes do ferro se trata, impunha-se a apresentação da obra deste artista-ferreiro, ou ferreiro-artista, no espaço do Museu do Ferro.
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Se vai estar por Torre de Moncorvo este Sábado à tarde, não perca esta oportunidade de visitar a exposição e de conhecer o artista convidado!
A mostra ficará patente até ao final do mês de Março e poderá ser visitada no horário normal do museu, todos os dias de terças-feiras a Domingos, entre as 9;30h-12;30h e das 14h-17;30h.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Amendoeira
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Quadros da transmontaneidade (35)
Agora, quando os releio aqueles que aqui editei, embora veja neles peças de uma cultura que todos nós transmontanos, de uma maneira ou outra, carregamos, mas, dizia eu, embora os considere como tal parecem-me peças desgarradas, sem nexo. É como se não se integrassem, como se estivessem descontextualizados. Por isso, decido aqui concluí-los, ou seja, talvez os continue a trazer ao meu consciente, pouco a pouco, talvez os continue a passar para o papel, mas ficarão à minha guarda até me parecer que estão todos eles integrados, até me parecer que, no seu todo, já podem dar uma imagem, mesmo que pálida, do tal conceito que chamamos “cultura transmontana”, se é que existe.
António Sá Gué
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Quadros da transmontaneidade (34)
Com perícia, e saber, desferiu dois golpes profundos de alto abaixo. Começou no queixal e só terminou junto ao rabo, que o Ti Madanelo já tinha cortado e mandara assar nas brasas da fogueira onde continuavam a crepitar os rijões e os toros de castanheiro. A fatia da barriga saiu inteira, exactamente como se fosse a tampa de uma lata de sardinhas de conserva.
- Tem bons fígados – disse, em tom de chalaça, o Ti Joaquim Cortador depois de avistar o fígado e não encontrar sinais de doença.
De seguida excisou os bofes que lavou com água corrente. Extraiu a bexiga e deu-a aos raparigos, que por ali andavam, e fizeram dela bola de futebol. Pediu que lhe trouxessem o tabuleiro onde despejou as tripas.
- Pronto!… Já tendes com que vos entreter – disse, maliciosamente, às duas mulheres que pegavam no tabuleiro, uma de cada lado.
E assim foi, durante mais de duas horas, ali estiveram de cócoras, na abrigada do palheiro, a desfaze-las, como se dizia, para significar a extracção dos interstícios untosos que ligam as diferentes circunvoluções intestinais.
Já o animal pendia na viga da adega, já o sarrabulho estava sobre a mesa e o vinho corria nas goelas, quando elas chegaram da tarefa delicada, que só consideravam completa depois de serem reviradas e limpas.
António Sá Gué
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Quadros da transmontaneidade (33)
A matança nunca foi trabalho, sempre foi festa, mas se se pode dizer que havia alguma tensão terminou agora, agora mesmo, depois dos fachoqueiros serem extintos, depois do Ti Chico achar que era tempo de os apagar, que o lume também se quer temperado.
– Tudo o que é excesso é maleita – aconselhou.
Em conjunto, sempre em união de esforços, o animal voltou a ser içado para o banco.
Agora, é tempo de lhe “fazer a barba” que a esfrega com pedras e cortiças, entremeada com jorros de água do cântaro, às vezes dispersa pelo crivo do regador já está no fim, já não acrescenta nada à barrela do cochino que, ao longo da ceva, nunca tomou banho, ouvia-se nas conversas brejeiras e quase sempre maliciosas d' Os Simples. Agora, trabalhavam as facas, as faquinhas e o facalhão do Ti Joaquim Cortador, que raspava, o lombo bojudo do animal, agarrando com ambas as mãos em cada uma das extremidades. Todos os refegos, todas as dobras da pele, desde as orelhas aos pés, eram raspados, limpos pelas pontas das facas que todos traziam consigo, e que retiraram dos bolsos das calças já gastas. As cerdas, o cisco, a cinza da palha ardida, em boa verdade o lixo acumulava-se no gume que, de vez em quando, era largado nas arestas do banco, ou em qualquer outro pau das imediações.
- Virem-no de papo ao ar – ordenou o Ti Joaquim Cortador quando lhe pareceu que estava devidamente limpo.
Se fosse cirurgião teria pedido que o colocassem em decúbito dorsal, mas não passava de humilde talhante, embora tivesse ademanes de Galeno: arregaçou as mangas, voltou a aguçar a faca na sua própria aguçadoura, que fizera questão de trazer de casa, pediu um pano que colocou sobre o ombro e preparou-se para abrir o animal: entrar-lhe nas entranhas. Preparou-se para dar a sua aula de anatomia anual aos restantes que, agora, se limitavam a manter o corpo do animal equilibrado, segurando pelas patas, e seguiriam, com olhar de basbaque, todos os golpes certeiros que se adivinhavam.
António Sá Gué
(Continua…)