terça-feira, 19 de abril de 2011

Passeio pelas fontes e chafarizes de Torre de Moncorvo

Como anunciámos oportunamente, realizou-se ontem um percurso pelas fontes e chafarizes da freguesia de Torre de Moncorvo, como forma de assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, este ano dedicado ao tema da "Água, Património e Cultura".
Apareceram cerca de duas dezenas de participantes, sendo de realçar que a maior parte eram jovens e crianças.
Aqui fica a reportagem:
Observando a Fonte Carvalho, uma antiga fonte de arcada, cuja obra de cantaria remonta ao início do séc. XVII. Ao lado possui uns tanques onde bebiam os animais, além de uns lavadouros, onde o povo da Corredoura vinha lavar a roupa.

Diz a tradição que uma mulher que vinha de madrugada lavar a roupa para a fonte Carvalho, quando viu, à meia-noite, a alma penada de um juiz que se acabara de suicidar na vila. Este episódio, que a fez perder os sentidos, está registado no livro "Contos ao luar de Agosto -I" de autoria da moncorvense Júlia de Barros Biló. Na foto de cima, uma jovem leu um trecho dessa história aos outros participantes - um convite à leitura deste livro, que se encontra na Biblioteca Municipal.


E o passeio prosseguiu até à fonte de Santiago, onde se falou de uma antiga igreja dedicada a este Santo, além de nos encontrarmos nos Caminhos de Santiago. Esta é outra fonte do século XVII, da época filipina, o que demonstra que no tempo dos Filipes (reis de Espanha e Portugal), se fizeram bastantes obras de hidráulica, não só em Moncorvo, como no resto destes reinos...


Outra fonte que pode remontar ao período filipino (sec. XVI-XVII) é a das Aveleiras. No entanto há registo de já aqui ter havido um chafariz no séc. XV. Os jovens apreciam um relevo com o brazão de armas do município de Torre de Moncorvo (a torre com os dois corvos).


Fonte de Santo António. Mais uma paragem para mais uma leitura de poemas dedicados a esta fonte, igualmente de autoria da Drª. Júlia Biló, neste caso do livro: "Somos poeira, somos astros". Foi lido um poema em que a autora se refere à tradição segundo a qual quem beber nesta fonte casa cá na terra!

Descida pela Rua do Cano - e explicou-se que o "cano" era uma conduta de água subterrênea que encaminhava a água desde a serra para o chafariz que estava na praça, uma obra notável dos fins do séc. XVI e que funcionou até ao final do séc. XIX, altura em que o dito chafariz foi desmontado.

Este é o novo chafariz da praça, recuperando as peças centrais que sobraram do antigo chafariz. Foi explicado aos participantes que este chafariz foi reconstruído em 1998, cerca de 100 anos depois de ter sido apeado, sendo possível saber qual era o seu aspecto através de uma fotografia antiga que tinha sido tirada antes de o desmontarem. A praça de Moncorvo ficou muito valorizada com esta belo monumento, sendo um bom exemplo de recuperação do património realizado no fim do séc. XX, depois das pedras da taça e depóstio do chafariz andarem aos tropeções durante quase um século.

Junto aos vestígios da muralha do castelo, mais um chafariz aqui implantado no final do séc. XX. Há quem diga que as pedras do tanque teriam a ver com o antigo chafariz filipino da praça, mas é duvidoso. O certo é que este resulta da junção de duas metades que estiveram encostadas à muralha do castelo, em cada lado do escadório, obras também do final do séc. XIX. Nesta foto, ao fundo, entre o 2º. e o 3º. banco, estava ainda um tanque que servia para os animais de transporte beberem.Finalmente, a fonte mais recente, construída em 1997, no antigo Rossio de Moncorvo, hoje praça General Claudino, projecto da Arquitecta Ana Rodrigues, no âmbito de uma intervenção urbanística neste espaço. Esta fonte procura recuperar a forma dos antigos tanques e, sobretudo, a sonoridade da água corrente, numa praça um bocado árida e tórrida em dias de verão. Evoca ainda o poço que se sabe ter existido nesta praça ainda no séc. XVIII e que poderia vir dos tempos da construção da igreja matriz, onde matariam a sede os pedreiros e carregadores da obra. No final foi servido um pequeno lanche nos jardins do museu.

Reportagem de N.Campos e João Pinto V. Costa

2 comentários:

Júlia Ribeiro disse...

Que bela romagem às fontes da vila !
De quem partiu a feliz ideia?

Abraços de uma jovem de 72 anos para esses/essas "teenagers".

Júlia

Desculpai lá o Inglês: é deformação profissional.

Anónimo disse...

viva Drª. Júlia,
Já em tempos se tinha pensado nisto, mas como este ano o Igespar propôs como tema para o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, o património q dissesse respeito à água (tipo moinhos, aquedutos, fontes, etc.) - estava dado o mote para se pôr em prática a tal intenção de se fazer um périplo por este tipo de património. Património em que se joga a só aparentemente complexa equação: Água+arquitectura+História+literatura/poesia=Cultura, para além de agri-cultura, lavagem de roupa suja, etc. - Para a parte da Literatura (poesia e literatura) tomámos a liberdade de usar o seu interantíssimo texto dos "Contos ao luar de Agosto-I" (O Dr. Juiz), que foi lido na fonte Carvalho, bem como os poemas às fontes das Aveleiras e de Santo António (in "Somos Poeira, somos Astros"), com o intuito de divulgar as suas obras, existentes na Biblioteca Municipal. Penitenciamo-nos pela falta de um convite especial à autora (falha grave), mas como esta 1ª. edição foi meramente experimental, foi dada voz aos jovens, que leram o seu texto e poemas. A iniciativa, sendo do Museu (com os habituais apoios do município, junta de freguesia e PARM), contou como acção de estágio curricular e académico de Liliana Branco (aluna da ESE/Instituto Politécnico de Bragança).
A ideia é podermos vir a consolidar este roteiro e esperamos poder vir a contar com a sua presença em ulterior edição.
N.