O nosso agradecimento.
A EXTINTA CULTURA DO SUMAGRE EM TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
José Alves Ribeiro, Eng. Agrónomo, Professor Emérito da UTAD
1 – Caracterização botânica e fitogeográfica do sumagre – Rhus coriaria L.
O sumagre, de nome científico Rhus coriaria L., é um arbusto da família das Anacardiáceas, família botânica de plantas ricas em resinas e taninos, onde também estão inseridas espécies como o cajú, a manga, o pistacho, a aroeira e a cornalheira, sendo estas três últimas espécies arbustivas do género Pistacia, sendo a cornalheira - Pistacia terebinthus L. - também frequente nas matas e mortórios da vegetação mediterrânea duriense. O sumagre tem a sua inserção fitogeográfica na grande região mediterrânea, mais precisamente na sua sub-região mais oriental, tendo-se expandido a sua cultura para toda a mediterraneidade. Os romanos o utilizavam como condimento, sendo também muito antiga a sua utilização na preparação das peles e couros ou seja no artesanato e na indústria dos curtumes, utilização essa que entrou em declínio a partir do início do século XX, com o desenvolvimento de outras fontes de obtenção do tanino para a referida indústria.
É um arbusto de médio a grande porte, mesmo arborescente, de marcadas preferências por locais quentes e soalheiros, nas áreas de feição mediterrânea do nosso país, na Terra Quente e vale do Douro em Trás-os-Montes e Alto Douro, na Beira Interior, no Alentejo, no Algarve e nas Ilhas da Madeira e dos Açores onde também fora cultivado. Instala-se especialmente nos taludes e nas bordaduras de matos, de caminhos ou de campos de outras culturas, locais para onde a espécie se tem disseminado ao longo das últimas décadas, desde o abandono da cultura, tornando-se um arbusto naturalizado na paisagem vegetal e em certos locais tornando-se mesmo um arbusto potencialmente invasor de vinhas e pomares. Para uma breve descrição botânica podemos caracterizá-lo como um arbusto de folhagem caduca, ramoso, de rebentos e pecíolos vilosos, ou seja de muita pilosidade, de folhas compostas, imparifolioladas, de três a sete folíolos de forma ovado-lanceolada, de recorte crenado-serrado; flores pequenas, dispostas em panículas, de inserção terminal ou lateral nos ramos, sépalas esverdeadas e pétalas brancas, glabrescentes na página inferior e pubescentes a vilosas na página inferior; frutos em cachos tirsóides, sendo cada fruto uma pequena drupa, ou seja um fruto semi-carnudo de caroço, drupas essas densamente vilosas e de cor castanha purpurescente. Existem duas variedades desta espécie, denominadas «macho» e «fêmea», sendo a primeira variedade de maior porte e de folhas também maiores e lisas na página superior e de pecíolo alado na extremidade – ao contrário da variedade «fêmea» em que as folhas apresentam as duas páginas penugentas e de pecíolo não alado nos entrenós superiores.
Sumagre num talude, junto ao rio Douro, na Ferradosa (2008).
2 - Outras espécies do mesmo género Rhus
Uma outra espécie também mediterrânea embora com maior difusão pela Europa sub-mediterrânea da zona balcânica e húngara e ainda da Ásia temperada, é o denominado sumagre tintureiro, Rhus cotinus Scop., é usado como planta ornamental pelos seus longos cachos florais esverdeados, e também usado como tintureiro pela casca das raízes e rebentos juvenis, dando côr amarelo-alaranjada aos tecidos. Outra espécie próxima é o sumagre africano, Rhus pentaphyllum L., de cinco folíolos, originário da região magrebina no Norte de África, também utilizado nos curtumes. Quanto às espécies americanas temos de assinalar o sumagre branco ou sumagre da Colúmbia, Rhus glabra L., sem pilosidade, bastante taninoso mas também de boas qualidades como planta melífera, temos também o sumagre «corno-de veado» ou sumagre da Virgínia, Rhus typhina L.,o sumagre copal, Rhus copallina L., de que se extrai uma boa resina e ainda o sumagre do Arkansas, Rhus cotinoides Nut.,cuja casca e lenho dão matéria corante amarela. Há que referir que os sumagres americanos foram sempre menos usados para os curtumes do que os mediterrâneos por darem couros demasiado corados. Ainda há a considerar os sumagres asiáticos, sendo de assinalar as seguintes espécies: o sumagre semi-alado, Rhus semialata Murray, que produz galhas muito ricas em tanino, o sumagre de cera, Rhus succedanea L., ornamental pela folhagem avermelhada e produtor de uma cera que é extraída dos frutos, sendo também das drupas que se extrai a denominada laca-do-Japão, a partir de uma outra espécie asiática, Rhus vernicifera L., sendo o nome vernicifera muito apropriado pois com essa laca é preparado um excelente verniz.
(continua)