sábado, 11 de dezembro de 2010

Maçonaria e República em Trás-os-Montes e Alto Douro, por Rogério Rodrigues - III

(Continuação do post anterior)

Iniciemos então a nossa viagem.

No desenvolvimento deste preâmbulo, mais centrado nas figuras de Trás-os-Montes e Alto Douro vão ouvir falar em “Oriente”, “nome simbólico”, “lojas”, “triângulos”, “levantar colunas”, “abater colunas”.

Creio ser necessária uma explicação.

Oriente é uma obediência, a predominante em Portugal, que aceita vários ritos. Os mais praticados são o rito escocês antigo e aceite e o rito francês. É liberal e não dogmática. Tem laços de fraternidade com as lojas femininas e o Direito Humano, de maçonaria mista. Quanto à Grande Loja dita Regular que só existe a partir do início da década de 90 numa cisão provocada no GOL pelo médico Fernando Teixeira, é uma obediência anglo-saxónica, dogmática, que aceita apenas um rito (melhor dito, não aceita o Rito Francês, ainda que aceite o Rito de York), uma religião revelada e a imortalidade da alma.

Quanto ao nome simbólico ele existe no Grande Oriente, devido às perseguições a que a Maçonaria foi sujeita e também à necessidade de preservar alguns dos seus membros de serem prejudicados nas suas carreiras só por pertencerem à Maçonaria, nomeadamente no sector militar e na magistratura. Quanto à existência de uma loja, a sua constituição exige pelo menos sete mestres, bastando três para a criação de um triângulo. Abater colunas é terminar com uma loja ou um triângulo. Levantar colunas é criar uma loja ou um triângulo.

Posto isto, falemos da actividade da Maçonaria em Trás-os-Montes. Comecemos por Lamego.

João Franco enviou um telegrama cifrado a todos os administradores dos concelhos a perguntar “quais eram os empregados públicos que pertenciam às associações secretas e que faziam propaganda contra a ditadura actual”.

Esta informação chega ao GOLU, proveniente de Lamego em 1907.

A Maçonaria do Norte ou Oriente Passos Manuel, é uma cisão, entre outras da Maçonaria portuguesa, de 1832 a 1850.

Por curiosidade, refira-se que Passos Manuel iniciou Camilo Castelo Branco. Esta iniciação vem no livro de Camilo, Maria da Fonte, um texto em que tenta anular as acusações e diatribes anti-maçónicas do padre Casimiro.

A Maçonaria do Norte era uma tendência mais à esquerda dos maçons liberais, opondo-se ao GOL, subordinado ao cartismo e à Maçonaria do Sul ligada a Saldanha e Vila Nova de Foz Côa. O barão.

Tinha um carácter regionalista e a grande maioria das lojas era a Norte do Douro. Em Vila Real, a loja Constância Transmontana e em Bragança a Onze de Agosto.

A Onze de Agosto foi fundada em Bragança, entre 1834 e 1840. Já não existia em 1849. Só em 1910 é que veio a ser instalado um triângulo nº 153 do REAA que durou até 1914. Segue-se o triângulo 356 do RF, activo de 1923 até à clandestinidade.

Em Mirandela em 1911 foi criado o triângulo 154 do REAA. Durou até 1916.

Não deixa de ser curioso que em curto espaço de tempo foram criados três triângulos, em Bragança primeiro, em Mirandela depois e finalmente em Moncorvo. Deste falaremos a seguir. Todos estes triângulos foram criados pelo decreto nº 73 traçado pelo GM Sebastião Magalhães Lima.

Em Miranda do Douro foi criado em 1930 o triângulo 284 do RF. Desapareceu durante a clandestinidade.

Em Vila Real depois da loja Constância Transmontana abater colunas, foi criado em 1912 um triângulo que deu lugar à loja Cruzeiro do Sul activa até à clandestinidade.

Na Régua existiram dois triângulos: o 91 do REAA, instalado em 1907 e desaparecido em 1913 e o 319, do RF, instalado em 1931, desaparecido durante a clandestinidade.

Em Lamego em 1904 o triângulo 51, do REAA, filial da loja Luz da Beira, em Ferreirim. Este tri. deu lugar em 1905 à loja Esperança, 248, que abateu colunas logo no ano seguinte.

Por sua vez a loja Luz da Beira transferiu a sua sede para Lamego, mantendo-se até ao período da clandestinidade.

Em Vila Nova de Foz Côa foi fundado o triângulo 366, em 1935, nas vésperas da clandestinidade, pelo que logo se extinguiu. Sorte semelhante teve o tri 365 de Cedovim. Também em Freixo de Numão houve um triângulo 221, REAA, de 1914 a 1925, fundado pela loja José Estêvão de Lisboa, das mais antigas da Maçonaria portuguesa.

Em Chaves foi criado o primeiro triângulo em Portugal, em 1893, que durou até 1909. Em 1911 instalou-se um novo tri do REAA, 184, que se converteu na loja Tâmega, 356. Esta loja abateu colunas em 1914, mas reergueu-as logo a seguir, integrada na dissidência do Supremo Conselho. Já não existia em 1923.

CONTINUA

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