terça-feira, 16 de março de 2010

Emigração na literatura regional - 3

Impõe-se um esclarecimento que deveria ter sido feito ao início: ao falarmos em "literatura regional" queremos dizer "feita por autores naturais da nossa região, ou com origens nela, e que a ela, a região, se reportam com frequência nas suas obras, inspirando-se nas nossas realidades actuais ou de há muitos anos". De modo algum se poderá fazer uma leitura futebolística - longe de nós! - de haver um escalão "regional" aquém de outras ligas. Até porque A. Sá Gué e Vítor da Rocha são, para nós, escritores de nível nacional, para não falar de mais outro grande escritor que hoje aqui trazemos, a propósito deste tema e que, como veterano, tem uma "internacionalização" de longa data (antes até de começar a ser mais conhecido - felizmente - nos nossos "relvados" da escrita nacional): José Rentes de Carvalho.

J. Rentes de Carvalho foi, de facto, um "emigrante de luxo" que acabou como reputado escritor e professor universitário na Holanda, país que vai repartindo, em termos de afectos e de estadia, com est'outro nosso país trasmontano. Sorte igual não teve o pobre Amadeu "Gato", dos Estevais do Mogadouro, personagem do seu livro "A amante holandesa", que acabou como estivador no porto de Amesterdão, antes de, arrampanado, acabar a guardar cabras nas terras das suas origens. Mas, para aguçar o apetite, aqui fica um trecho em que se relata a odisseia de um "estevaleiro" regressado das Holandas, onde viveu uma paixão assolapada com uma holandesa, de que resultou uma filha que um dia veio conhecer as terras das origens do "pai pródigo":

«Ele gosta de falar de Amsterdam. Do porto. Da gente que, ao vê-la pelos seus olhos e tão diferente da nossa, se me afigura irreal.
'Quem for fraco não se aguenta ali', diz ele, baixando a cabeça e cerrando um instante os olhos, como para afastar recordações penosas.
Ele aguentou-se. Vinte e tantos anos que pareceram longos e agora se lhe afigura terem passado num sopro. Quando lhe deram a reforma veio-se embora, mas hoje...
'Hoje se pudesse, metia-me no avião e em duas horas já lá estava. Eu vejo-os passar aqui por cima da nossa terra, e quando voam naquela direcção digo comigo: olha, mais um que vai para a Holanda. São as saudades, sabe. Também porque deixei lá a outra e a filha'.
'Mas não poderias ao menos...'
Ele, baixando os olhos: 'Escrever não sei. Telefonar também me custa. com certeza nem me entenderiam, porque desde que vim esqueci quase tudo. Mas não, deixe lá... Há-de ser o que Deus quiser'».
in: A Amante Holandesa, editora Escritor, 2003, p. 19.
O "Gato" morreu. Um dia, ao seu confidente e amigo de infância, professor em Bragança, apareceu-lhe uma mocinha holandesa, toda "vamp" e cheia de "piercings", a querer saber coisas sobre o pai português que nunca conheceu. - Se quiser saber o resto, as aventuras e desventuras de um emigrante das nossas terras nas míticas europas civilizadas, e o que aconteceu depois, este livro é obrigatório!
N.Campos

A Emigração na literatura regional - 2

Ainda sobre o tema da emigração na literatura regional, se no "post" anterior a acção se centrava no momento do "salto", neste caso, com Vítor da Rocha (outro importante autor natural de Carviçais), encontramos já um outro aspecto da estória da emigração: o dos que ficavam e a sua relação com o que "andava lá por fora a ganhar a vida", como dizia um célebre anúncio telvisivo de há muitos anos.
Este trecho, de autoria de Vítor da Rocha, foi retirado do conto "Argamassa para uma casa", incluído no livro "Na andadura do tempo", editado por ArtEscrita, 2007, pág. 99 (1ª. ed. Campo das Letras, 1997):

«Horácio cresceu quase sem pai, morto onze meses em França e vivendo apenas no mês de Agosto, então regressado ao seio da família e dos conhecidos. De Agosto para Agosto do ano seguinte, Horácio estranhava cada vez mais a vinda daquele homem, que lhe trazia, guardados na mala, por entre roupas e ferramentas novas, chocolates, grossos e compridos, que ele nunca vira iguais na loja do senhor Faustino, e dois ou três brinquedos, um carro a pilhas e um avião, uma carruagem depenada do comboio, uns com tinta fresca e cheiro a novos, outros a ressumirem ferrugem da pubela onde o pai os encontrava. Oferecia-lhe as guloseimas e as prendas, punha-lhe as mãos nos cabelos, beijava-o na face, com os espinhos da barba a picá-lo, e subia as escadas para o interior da casa a fazer festas à sua mãe. Mas as festas terminavam logo nos primeiros dias, iniciando-se depois as discussões, ora em surdina ora em berros sem respeito por ele, passando o resto do tempo a pegar em copos na taberna. Com bebedeira todas as noites, assim o pai de Horácio passava as férias, só voltando a ser o mesmo homem da chegada na hora da partida, quando, os olhos molhados, beijava novamente o filho, acariciava-lhe outra vez os cabelos, e, fechando as malas, já sem as prendas para ele, pegava uma em cada mão e se metia no táxi do senhor Aníbal, um Peugeot 304, a ronronar sonolento à porta, com destino à fronteira de Barca de Alva».

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Emigração na literatura regional - 1

No seguimento do "post" sobre o tema da emigração, aqui deixado há dias por Isabel Mateus, em que a nossa conterrânea e colaboradora lançava o repto a quem nos quisesse contar as suas aventuras/desventuras dos tempos do "salto", ocorreu-nos à lembradura algumas passagens literárias, ainda por cima de autoria de outros conterrâneos e colaboradores nossos, como é o caso de António Sá Gué. Aqui deixamos como sugestão o seu livro "As duas faces da moeda" (Papiro Editora, 2007), de que respigamos esta passagem, contando a aventura emigrante de um "carviçaleiro":

«O ti Chico Sá sentou-se no seu canto do escano, abriu o preguiceiro e serviu-se. O Augusto imitou-o. Um nico de tempo depois, à sua voz, todos se calaram:
- Um dia destes, vou para França - disse, procurando dar à voz uma entoação natural, e que simultaneamente não deixasse transparecer que já estava tudo tratado.
Silêncio! Toda a gente virou o olhar na sua direcção, como quem espera mais explicações.
- Vais para onde? - perguntou a Eva.
- Vou para França. Isto aqui não dá nada. Nunca se sai da cepa torta. Quantas peças vendeste hoje na feira? - perguntou, para poder justificar a sua decisão.
- Nenhuma.
- E como é que vais? Ao deus-dará? - inquiria o Chico Sá.
- A salto.
- E quanto custa? E dinheiro?
- Vou pedi-lo emprestado à D. Gertrudes.
- Ó homem! - dizia a Tia Maria Júlia. - Olha que de pobres não passamos e a ricos não chegamos. Por isso não vás! Cá... sabemos com o que contamos, apesar de pouco. Lá... pode até ser mais, não digo que não, mas... o dinheiro não é tudo!... E a língua!... Quem é que os percebe?
Todos estes pensamentos já tinham trespassado o espírito do Augusto do Cabeço. Mas de que outra forma podia um dia aspirar a ter um amendoal nas Arcas? ou um olival na Maria-Moura? Não havia». (obra citada, pág. 18-19)

O certo é que o Augusto abalou mesmo. Vale a pena ler o resto: a saída de Carviçais pela madrugada, a viagem pela estrada de Freixo-Barca de Alva, em direcção a Almeida, com outros companheiros de jornada, como o José Gaio, o Valente e o Bernardo, levados num velho furgão por um passador carrancudo e má-rês. A passagem por brigadas da GNR (previamente controlados) a travessia da fronteira com Espanha em direcção à mítica França, enfim, um relato de leitura obrigatória para se ter uma ideia dos trajectos do "salto", descritos de forma magistral pela pena de A. Sá Gué.

domingo, 14 de março de 2010

Da transmontaneidade

Com os primeiros alvores da manhã os montes inundam-se de uma luz traslúcida, quase irreal, misteriosa. O lusco-fusco dissipa-se e os montes desenham-se eriçados à contra-luz de um céu que, pouco a pouco, começa a revelar-se em toda a sua profundidade azul. Na encosta do monte fronteiro, o olivedo vai pintalgando a terra ferrosa recentemente charruada. Das fragas encrustadas na terra-mãe como diamantes, humildes e altaneiras, fortes e impotentes levanta-se em voo pesaroso um par de águias-reais. A brisa, que de repente acordou, retesa-nos os sentidos. O cheiro áspero da giesta inunda-nos e uma íntima comunhão com a natureza percorre-nos o ser. As amendoeiras, agora floridas, incapazes de suster as pétalas que esvoaçam à nossa volta, revelam-nos, sapientemente, a fugacidade do tempo. As aldeias vão cedendo à vida, o fumo das fogueiras acesas trazem-nos sabores já esquecidos. Bebo as palavras do poeta.
“– Ó montes!, que transfundistes em mim a tua alma sem me pedires autorização.”

ANTÓNIO SÁ GUÉ
Foto: João Costa

sábado, 13 de março de 2010

"Brincadeiras proibidas" no Boletim Cultural nº16

O Boletim Cultural, publicação anual da Escola Secundária Camilo Castelo - Vila Real, apresenta o conto "Brincadeiras Proibidas" de Isabel Mateus, uma narrativa centrada no tema da emigração.

sexta-feira, 12 de março de 2010

QUADROS DA EMIGRAÇÃO - por Isabel Mateus

Aqui vamos dar continuidade a uma rubrica iniciada em Janeiro pela Doutora Isabel Mateus no nosso anterior “Torre de Moncorvo in blog”, intitulada “Quadros da Emigração” (ver: http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2010/01/quadros-da-emigracao-i-por-isabel.html ). A autora apelou, na ocasião, para a colaboração dos seguidores do Blogue, sobretudo os nossos emigrantes, para contarem a sua história relativa a este assunto (podendo ser alguém próximo do autor da aventura a fazê-lo). Aqui fica o repto da nossa colaboradora e conterrânea Isabel Mateus. Basta escreverem para o e-mail do nosso blogue (memcorvo@gmail.com) e contarem a sua história de vida. Ficamos à vossa espera!
A emigração como fenómeno colectivo é uma constante na história portuguesa e remonta à época dos Descobrimentos. Desde então, a saída massiva de portugueses à procura de melhores condições de vida deve-se à “História Trágico-Telúrica” portuguesa, proveniente da pobreza do solo pátrio de que fala Miguel Torga nos Poemas Ibéricos (1965). Contudo, a emigração também se deve, posteriormente, ao subdesenvolvimento do país após a queda da Monarquia e a implantação da República, facto a que se refere a autora Isabel Mateus na obra A Viagem de Miguel Torga quando aborda os “Condicionalismos histórico-culturais portugueses: emigração como destino individual e colectivo”: “Os últimos anos da Monarquia são conturbados (o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro são assassinados) e no período que corresponde à República (1910-1926) a instabilidade política apenas vem continuar a situação de atraso em que se encontra Portugal. As camadas rurais do povo permanecem umas das mais desfavorecidas, devido ao isolamento a que estão votadas em relação à capital política. Por isso, a massa camponesa na sua grande maioria é analfabeta e os seus descendentes não encontram no dia-a-dia de trabalho árduo a compensação monetária necessária para assegurar a melhoria das suas condições de vida.” Por conseguinte, o proferido por Eduardo Lourenço em O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português confirma o que sucedeu com a vaga migratória transoceânica em finais do século XIX e nos inícios do século XX e, igualmente, com o Estado Novo de António Oliveira Salazar (1932-1968) e do seu continuador Marcello Caetano: “Aventura de pobre é sempre a dos que buscam em longes terras o que em casa lhes falta”. De facto, durante a Ditadura faltava tudo em “casa” e não havia pão na mesa dos cidadãos desprivilegiados. Para citarmos de novo Miguel Torga, emigrante aos 13 anos de idade no Brasil, o retrato que ele fez da pátria em A Criação do Mundo – O Terceiro Dia serve na perfeição para mostrar a mesma pátria dos anos sessenta: “Portugal velho e rotineiro, de senhores e de servos”.

Ora, no sábado passado, dia 20 de Fevereiro, à tarde, fui ao encontro dos heróis da aventura da emigração intra-europeia de 60 para França, em Metz. Na belíssima cidade medieval, com vestígios romanos e a sua imponente catedral gótica, acolheu-me a Conselheira Municipal Nathalie de Oliveira, responsável e dinamizadora por este evento, em plena Place Sainte Croix, Salle des Groupes Politiques de Metz, 2. À medida que chegavam, cada um representava a totalidade do país e o pedacinho da sua região. Estavam ali porque tinham sido convocados, para com a sua generosidade e o empenhamento de toda a vida, contarem o que os incitara a abandonar as fragas de Trás-os-Montes e Alto Douro, os quintais verdes do Minho, a insularidade da Madeira e, inclusive, a franja do Litoral.
Eu estava ali para os ouvir. Queria a sua história pessoal, as suas vivências individuais como seres humanos que não se podem nem devem incluir apenas no número avultado dos que partiram, porque, tal como o refere Maria Ioannis Baganha, no seu trabalho intitulado “As correntes emigratórias portuguesas no século XX e o seu impacto na economia nacional”, se esses números são conhecidos, “o nosso conhecimento sobre quem partiu é bem mais frágil”. Deste modo, alguns confessaram que, antes de tentarem a sua sorte a Salto, recorreram à emigração interna para pontos mais atractivos do Reino, como, por exemplo, a Capital. Mas a vida ali também era madrasta. Ganhavam muito pouco, trabalhavam em demasia e viviam, precariamente, em barracas. Com mais eficácia, “utilizaram” o Passador, figura exploradora e pouco simpática para quase todos e aterrorizadora para muitos, para concretizarem a sua efeméride. Outros, disseram que lhes foi facultado o ingresso em França por via legal, através da carta de chamada. Também houve aqueles que recorreram ao passaporte de turista. E, por último, o emigrante que, com a entrada de Portugal na Europa, em 1986, se passa a denominar “cidadão comunitário”.
À medida que as histórias de cada um avançavam, sobretudo as referentes aos meados dos anos 60 e feitas na clandestinidade, salientavam-se com precisão tão exímia os detalhes do percurso relativos aos dias da semana, horas, locais, nomes de pessoas e frases proferidas entre os vários intervenientes da passagem, às merendas que se comiam ou à fome e à sede que se passava, aos itinerários e às barreiras físicas de vária ordem, desde as marchas a pé aos incidentes em comboios e carros de aluguer, que um ouvinte pouco avisado chegaria a pôr em causa a sua verosimilhança. Mas, afinal, a motivação maior era e continua a ser a de sempre: os portugueses emigram por motivos de trabalho e pela falta dele no solo pátrio. Dos seus relatos de vida em França, todos foram unânimes em declarar que, com a excepção de um ou outro choque inicial, o país de acolhimento os recebeu bem. Aqui sentiram-se e sentem-se mais protegidos do que no Portugal de Salazar e na actual democracia portuguesa.
De acordo com uma notícia divulgada recentemente pelo Observatório da Emigração o desemprego leva cada vez mais portugueses a emigrar e, apesar de agora serem sobretudo os jovens quadros técnicos a abandonar o país e o destino da emigração ser outro, alguma dessa juventude continua a abandonar Portugal, ainda a partir das zonas rurais do Interior, com poucas qualificações literárias e pelas mesmas razões a que a terra inóspita da década de sessenta os obrigava, como pude testemunhar nessa mesma tarde.
Posso afirmar que tive o privilégio de naquela tarde ficar mais rica. As vicissitudes da emigração desenrolaram-se de novo num filme com os mesmos actores de carne e osso de então, com direito, agora, a opinião, sentimentos e marcas indeléveis que urge registar no meu próximo livro. Espero que para eles tenha sido um incentivo para apreenderem e compreenderem o seu imenso valor e importância no Presente e no Futuro como ponto de referência para portugueses, franceses, europeus e os cidadãos do mundo em geral.
Por: ISABEL MATEUS
Fotos de Nathalie&Manu - para ver mais:

http://picasaweb.google.fr/NathalieManu57/FotosIsabelMateus?authkey=Gv1sRgCMzJzZ6ys8XzKw#

Recorte retirado de: "LusoJornal": www.lusojornal.com

quarta-feira, 10 de março de 2010

Moncorvo e o Turismo


A propósito das Festividades da Flor da Amendoeira, um dos pontos altos do Cartaz da promoção Turística de Moncorvo, surgiu a oportunidade de trazer aqui alguns extractos do (talvez) primeiro folheto de divulgação turística de Moncorvo. Foi produzido em 1962, com a assinalável tiragem de 10.000 exemplares. Como decerto sabem é nesta altura que se desenvolve o turismo no nosso país, com particular destaque às praias algarvias. Aqui, para além deste folheto, é criado o Posto de Turismo, no edifício anexo ao Cine-Teatro, situado na então principal entrada da vila.


Como se pode observar, são destacados os monumentos maiores do concelho (Igreja Matriz de Moncorvo, Igreja da Misericórdia, Igreja de Santiago de Adeganha, a Porta da Vila, a vila deserta de Santa Cruz da Vilariça), os principais miradouros (Roboredo, Estevais e Lousa), as minas de ferro no Carvalhal, os "costumes" (amêndoa coberta de Moncorvo, tapetes de Urros, "bilhas do Felgar"), a maravilhosa paisagem das amendoeiras floridas (na contracapa do folheto)

A partir da década de 80 do séc. XX, a promoção turística teve um novo vigor e um novo alcance, tendo sido acompanhada por várias séries de folhetos de bastante precisão. Contudo, não deixa de ter interesse este exemplar, com um design, diria, arrojado para a altura, focando os aspectos promocionais mais relevantes do concelho. Este post é um pequeno apontamento de uma história que merece ser desenvolvida.

Por: Leonardo

terça-feira, 9 de março de 2010

Exposição "O Ciclo da Amêndoa" - até 14 de Março

Inaugurada no passado dia 13 de Fevereiro, a exposição fotográfica dedicada ao Ciclo da Amêndoa, tem sido visitada muito visitada, sobretudo pelos turistas que têm acorrido às festividades da Amendoeira em Flor.
Apesar do programa das festividades já ter encerrado, esta exposição ainda pode ser visitada no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo até ao próximo dia 14 de Março (próximo fim de semana).

A exposição comporta uma sequência fotográfica, bibliografia específica e objectos diversos, entre os quais um "partidouro" de amêndoa, onde poderá "escatchar" e provar algumas amêndoas, produto dos jardins do museu.

Ver mais: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2010/02/exposicao-o-ciclo-da-amendoa-ii.html

A árvore que enganou o diabo

Depois de um certo Inverno muito rigoroso, esgotadas todas as reservas de alimentos, andava um pobre Diabo, faminto, pelos campos, à procura de comida. Mas ainda não havia nada para comer, porque as árvores nem sequer tinham começado a florir, quanto mais dar fruto.

Até que o Diabo, finalmente, avistou uma árvore cheia de flores brancas e rosadinhas.

- Ah! – exclamou ele – ali está a minha salvação. Se é a primeira a dar flor, é também a primeira a dar fruto! Vou-me sentar ao toro e esperar pelo que há-de vir.

E se bem o pensou, melhor o fez, deitando-se a dormir, à espera que lhe caísse o fruto madurinho em cima. Estávamos em finais de Fevereiro, inícios de Março.

Passou um mês e... nada! outro mês e... nada! outro mês e... nada! Já as cerejeiras, as pereiras, as ameixoeiras, as macieiras e todas as outras árvores tinham dado flores e tinham dado os seus frutos e o raio da amendoeira... nada!

Mas o Diabo era teimoso e continuou à espera. Só quando viu que o Verão estava a acabar e que ia passar outro Inverno cheio de fome, é que resolveu desistir e foi encher-se de figos a uma figueira.

Quando o viu partir, já em Setembro, é que a Amendoeira fez amadurecer o seu fruto, a Amêndoa. E ainda por cima fez com que a sua casca fosse bem dura, não fosse o Diabo voltar atrás e nela tentasse ferrar o dente.

É por isso que a amendoeira é a primeira a dar flor e a última a dar fruto. E é também por isso que dizem que a “Figueira é a árvore do Diabo”, porque lhe deu de comer, enquanto a Amendoeira é “a árvore que enganou o Diabo”.

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[Conto popular, com redacção e adaptação de Henrique de Campos]

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

Quadro de Chi Pardelinha, como lembrança para todas a mulheres, a par, está claro, da flor de amendoeira. Esta artista de Trás-os-Montes expôs no Museu do Ferro, em Abril de 2007.

LENDA DAS AMENDOEIRAS numa versão original "do lado de lá"

Encontrámos no blogue “La bodega de La Solana” (Mazueco de la Ribera, Salamanca), um post do nosso Amigo Ángel Garcia, em que publica um extraordinário poema baseado na Lenda das Amendoeiras, de autoria de um certo Marquês de Los Mojones, que ambos muito bem conhecemos. Ao que sabemos foi publicado pela primeira vez no jornal Mensageiro de Bragança, em 31.03.2000, na sua língua original, com uma tradução em português por H. de Campos.

Para se ver a versão em castelhano, clicar em: http://labodegadelasolana.blogspot.com/2010/02/la-flor-del-almendro-y-unos-amigos.html

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Aqui fica a tradução:

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“Existe uma lenda em Portugal, originária do Algarve mas estendida por todo o país vizinho, que mistura o amor e as amendoeiras.

Comenta-se nela que um sultão das mourarias casou com uma donzela do Norte. A esta custava-lhe a adaptar-se à cor dos campos do Sul de Portugal até que… por fim, a lenda.

Esta é uma adaptação que dela fez o Marquês dos Mojones, há cerca de uma década, pensando na zona trasmontana e dedicada aos amigos do lado de lá.

LENDA DAS AMENDOEIRAS

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Grande é o risco que corres

Flor de amendoeira, a primeira,

Que com teu amanhecer temporão

Anuncias a Primavera.

Comenta uma lenda em Portugal

Que uma loira casou com um Sultão.

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Divisas do teu miradouro

Escarpada no outeiro

As terras de Trás-os-Montes

Da outra margem do Douro.

Nórdica ela de pais cristãos

A tez branca de campos nevados.

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Trás-os-Montes portugueses

Ladeiras de azeite e vinho

De amendoeiras e laranjais

De corações amigos.

Triste a princesa sempre estava

No seu novo país nunca nevava.

Flor de amendoeira flor de um dia

Flor de delicado aroma

Flor de amendoeira flor de um dia

O Douro a teus pés assoma.

Vendo o sultão tantos soluços

Plantou uma ladeira de amendoeiras [1]

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Amendoeira que te dá a vida

Nesta zona escarpada

Bem plantada entre as vinhas

Ou do alto das penhas.

Contemplando o vale uma manhã

Um sorriso tornou à sua cara.

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Amêndoas de flor de amendoeira

Com açúcar trabalhadas

São em Moncorvo “cobertas”

Em Alba “garrapinhadas” [2]

Talvez fizesse vento nessa manhã

Que o solo cubriu de flores brancas.

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Flores que na primavera

Sacudidas pelo vento

Tornam-se flocos de neve

Branco de amor, sentimento.

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Por: Marqués de Los Mojones

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[1] “Allozos”, no original. Trata-se de um vocábulo existente no castelhano, derivado de

“al-lauza”, nome que os mouros davam às amendoeiras bravias. Não encontrámos tradução em português, pelo que preferimos traduzir por “amendoeiras”, em vez de aportuguesarmos a palavra “allozos”, a qual daria “alouços”, sem que ninguém soubesse o que era.

[2] “Almendras garrapinhadas” – tipo de amêndoa coberta com açúcar que se faz na zona da Alba, perto de Salamanca, e que se poderia traduzir por “encarapinhada”.

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Tradução e Notas: N.Campos

domingo, 7 de março de 2010

Pétalas da Terra

Mesmo com o tempo cinzento, as amendoeiras, que me abraçam sempre que regresso à terra, qual negrilho torguiano, também desta vez, juntando-se todas, sorriram para mim e posaram para a fotografia. Será porque, sempre que as visito, lhes dou uma palavrinha e um afago, seja Inverno ou Verão! Além disso são uma família antiga e ainda não admitiram no seu seio as novatas ditas da CEE. Porque respeitam os valores da tradição e da solidariedade, todas me polvinharam com suas diferentes matizes!

sábado, 6 de março de 2010

VII Feira dos produtos da terra, em Torre de Moncorvo

Foi inaugurada no passado dia 4 de Março, quinta-feira, a VII Feira dos Produtos da Terra e Stocks de Torre de Moncorvo, organizada no pavilhão gimno-desportivo da Corredoura.
Esta feira costuma suceder à feira de artesanato, cujo encerramento ocorreu no passado domingo, e conta, como habitualmente, com vários expositores do nosso concelho e do norte do país, apresentando uma variada gama de produtos provenientes do sector agro-alimentar (enchidos, vinhos, queijos, etc), mas também do restante comércio local (vestuário, modas e confecções) e até serviços (relacionados com o turismo).
Como tem acontecido em edições anteriores, também o sector da restauração está presente, havendo uma ampla esplanada no recinto das exposições, onde os visitantes podem petiscar os mais variados produtos, ou mesmo pratos quentes característicos da nossa região.
Fora do espaço têm decorrido diversos espectáculos, de acordo com a programação das festas das Amendoeiras em Flor. A afluência tem sido um pouco afectada pelo tempo pouco convidativo, mas, mesmo assim, tem sido significativa.

Esta feira é organizada pela ACIM (Associação de Comerciantes e Industriais de Moncorvo), em parceria com o município.

Hoje e amanhã ainda pode visitar esta Feira, comprando as saborosas iguarias ou produtos aí presentes, e/ou provar um bom prato cá da terra, regado com os nossos melhores vinhos. Fica a sugestão!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Conforme as Estações


No Verão as montanhas

Espreguiçam-se na sua imensidão

O céu confunde nas suas entranhas

O amarelo do trigo com sofreguidão

O trigo ceifado

As folhas mortas cobrem o chão

Com as primeiras águas ainda de Verão

Os homens rasgam a terra apoiados ao arado

Caem as geadas certeiras

Rompe o dia com ar cortante

No entanto, com carácter persistente e entusiasmante

As azeitonas são apanhadas das oliveiras

A neve derretida

Brilha o sol no ar

Forçando as amendoeiras a desabrochar

E derramando-se o perfume como coisa prometida.

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Assim aparece Trás-os-Montes… (Isabel Mateus, Évora,1987)

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Este foi o poema com que, aos 18 anos, retratei o Portugal rural transmontano, a Minha Terra, no Alentejo, no Jornal de Parede do Lar dos Trigais da Ordem das Doroteias. Poema singelo, descritivo, a emanar autenticidade, brilho e, principalmente, a determinação, coragem e o sacrifício das suas gentes. Talvez por isso, para as recompensar do trabalho árduo e constante ao longo das estações do ano, não considerei a correria desenfreada das águas das ribeiras, nem a “Rebofa”, que este ano, como noutros, também por estes lados acontecem. Pelo contrário, a ênfase recaiu de supetão na essência de Trás-os-Montes: a flor branca ou ligeiramente rósea das amendoeiras.

Afinal, elas são a metamorfose do homem transmontano!

Vale a pena visitar Trás-os-Montes, o homem e a sua flora nesta época do ano!...

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Textos de: ISABEL MATEUS

Fotografias: JOÃO PINTO V. COSTA

O céu transmontano

O céu transmontano é vasto e profundo. Os caminhos são muitos, as serranias altas e velhas. Não há nuvens capazes de obscurecer os sonhos. No céu transmontano as trovoadas sempre foram passageiras, nunca suficientemente fortes para impedir que os escalvados caminhos fossem percorridos.

Força!

ANTÓNIO LOPES

http://antoniosague.blogspot.com/