A emigração como fenómeno colectivo é uma constante na história portuguesa e remonta à época dos Descobrimentos. Desde então, a saída massiva de portugueses à procura de melhores condições de vida deve-se à “História Trágico-Telúrica” portuguesa, proveniente da pobreza do solo pátrio de que fala Miguel Torga nos Poemas Ibéricos (1965). Contudo, a emigração também se deve, posteriormente, ao subdesenvolvimento do país após a queda da Monarquia e a implantação da República, facto a que se refere a autora Isabel Mateus na obra A Viagem de Miguel Torga quando aborda os “Condicionalismos histórico-culturais portugueses: emigração como destino individual e colectivo”: “Os últimos anos da Monarquia são conturbados (o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro são assassinados) e no período que corresponde à República (1910-1926) a instabilidade política apenas vem continuar a situação de atraso em que se encontra Portugal. As camadas rurais do povo permanecem umas das mais desfavorecidas, devido ao isolamento a que estão votadas em relação à capital política. Por isso, a massa camponesa na sua grande maioria é analfabeta e os seus descendentes não encontram no dia-a-dia de trabalho árduo a compensação monetária necessária para assegurar a melhoria das suas condições de vida.” Por conseguinte, o proferido por Eduardo Lourenço em O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português confirma o que sucedeu com a vaga migratória transoceânica em finais do século XIX e nos inícios do século XX e, igualmente, com o Estado Novo de António Oliveira Salazar (1932-1968) e do seu continuador Marcello Caetano: “Aventura de pobre é sempre a dos que buscam em longes terras o que em casa lhes falta”. De facto, durante a Ditadura faltava tudo em “casa” e não havia pão na mesa dos cidadãos desprivilegiados. Para citarmos de novo Miguel Torga, emigrante aos 13 anos de idade no Brasil, o retrato que ele fez da pátria em A Criação do Mundo – O Terceiro Dia serve na perfeição para mostrar a mesma pátria dos anos sessenta: “Portugal velho e rotineiro, de senhores e de servos”.
Ora, no sábado passado, dia 20 de Fevereiro, à tarde, fui ao encontro dos heróis da aventura da emigração intra-europeia de 60 para França, em Metz. Na belíssima cidade medieval, com vestígios romanos e a sua imponente catedral gótica, acolheu-me a Conselheira Municipal Nathalie de Oliveira, responsável e dinamizadora por este evento, em plena Place Sainte Croix, Salle des Groupes Politiques de Metz, 2. À medida que chegavam, cada um representava a totalidade do país e o pedacinho da sua região. Estavam ali porque tinham sido convocados, para com a sua generosidade e o empenhamento de toda a vida, contarem o que os incitara a abandonar as fragas de Trás-os-Montes e Alto Douro, os quintais verdes do Minho, a insularidade da Madeira e, inclusive, a franja do Litoral.
Ora, no sábado passado, dia 20 de Fevereiro, à tarde, fui ao encontro dos heróis da aventura da emigração intra-europeia de 60 para França, em Metz. Na belíssima cidade medieval, com vestígios romanos e a sua imponente catedral gótica, acolheu-me a Conselheira Municipal Nathalie de Oliveira, responsável e dinamizadora por este evento, em plena Place Sainte Croix, Salle des Groupes Politiques de Metz, 2. À medida que chegavam, cada um representava a totalidade do país e o pedacinho da sua região. Estavam ali porque tinham sido convocados, para com a sua generosidade e o empenhamento de toda a vida, contarem o que os incitara a abandonar as fragas de Trás-os-Montes e Alto Douro, os quintais verdes do Minho, a insularidade da Madeira e, inclusive, a franja do Litoral.
Eu estava ali para os ouvir. Queria a sua história pessoal, as suas vivências individuais como seres humanos que não se podem nem devem incluir apenas no número avultado dos que partiram, porque, tal como o refere Maria Ioannis Baganha, no seu trabalho intitulado “As correntes emigratórias portuguesas no século XX e o seu impacto na economia nacional”, se esses números são conhecidos, “o nosso conhecimento sobre quem partiu é bem mais frágil”. Deste modo, alguns confessaram que, antes de tentarem a sua sorte a Salto, recorreram à emigração interna para pontos mais atractivos do Reino, como, por exemplo, a Capital. Mas a vida ali também era madrasta. Ganhavam muito pouco, trabalhavam em demasia e viviam, precariamente, em barracas. Com mais eficácia, “utilizaram” o Passador, figura exploradora e pouco simpática para quase todos e aterrorizadora para muitos, para concretizarem a sua efeméride. Outros, disseram que lhes foi facultado o ingresso em França por via legal, através da carta de chamada. Também houve aqueles que recorreram ao passaporte de turista. E, por último, o emigrante que, com a entrada de Portugal na Europa, em 1986, se passa a denominar “cidadão comunitário”.
À medida que as histórias de cada um avançavam, sobretudo as referentes aos meados dos anos 60 e feitas na clandestinidade, salientavam-se com precisão tão exímia os detalhes do percurso relativos aos dias da semana, horas, locais, nomes de pessoas e frases proferidas entre os vários intervenientes da passagem, às merendas que se comiam ou à fome e à sede que se passava, aos itinerários e às barreiras físicas de vária ordem, desde as marchas a pé aos incidentes em comboios e carros de aluguer, que um ouvinte pouco avisado chegaria a pôr em causa a sua verosimilhança. Mas, afinal, a motivação maior era e continua a ser a de sempre: os portugueses emigram por motivos de trabalho e pela falta dele no solo pátrio. Dos seus relatos de vida em França, todos foram unânimes em declarar que, com a excepção de um ou outro choque inicial, o país de acolhimento os recebeu bem. Aqui sentiram-se e sentem-se mais protegidos do que no Portugal de Salazar e na actual democracia portuguesa.
À medida que as histórias de cada um avançavam, sobretudo as referentes aos meados dos anos 60 e feitas na clandestinidade, salientavam-se com precisão tão exímia os detalhes do percurso relativos aos dias da semana, horas, locais, nomes de pessoas e frases proferidas entre os vários intervenientes da passagem, às merendas que se comiam ou à fome e à sede que se passava, aos itinerários e às barreiras físicas de vária ordem, desde as marchas a pé aos incidentes em comboios e carros de aluguer, que um ouvinte pouco avisado chegaria a pôr em causa a sua verosimilhança. Mas, afinal, a motivação maior era e continua a ser a de sempre: os portugueses emigram por motivos de trabalho e pela falta dele no solo pátrio. Dos seus relatos de vida em França, todos foram unânimes em declarar que, com a excepção de um ou outro choque inicial, o país de acolhimento os recebeu bem. Aqui sentiram-se e sentem-se mais protegidos do que no Portugal de Salazar e na actual democracia portuguesa.
De acordo com uma notícia divulgada recentemente pelo Observatório da Emigração o desemprego leva cada vez mais portugueses a emigrar e, apesar de agora serem sobretudo os jovens quadros técnicos a abandonar o país e o destino da emigração ser outro, alguma dessa juventude continua a abandonar Portugal, ainda a partir das zonas rurais do Interior, com poucas qualificações literárias e pelas mesmas razões a que a terra inóspita da década de sessenta os obrigava, como pude testemunhar nessa mesma tarde.
Posso afirmar que tive o privilégio de naquela tarde ficar mais rica. As vicissitudes da emigração desenrolaram-se de novo num filme com os mesmos actores de carne e osso de então, com direito, agora, a opinião, sentimentos e marcas indeléveis que urge registar no meu próximo livro. Espero que para eles tenha sido um incentivo para apreenderem e compreenderem o seu imenso valor e importância no Presente e no Futuro como ponto de referência para portugueses, franceses, europeus e os cidadãos do mundo em geral.
Por: ISABEL MATEUS
Fotos de Nathalie&Manu - para ver mais:
http://picasaweb.google.fr/NathalieManu57/FotosIsabelMateus?authkey=Gv1sRgCMzJzZ6ys8XzKw#
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