terça-feira, 9 de março de 2010

A árvore que enganou o diabo

Depois de um certo Inverno muito rigoroso, esgotadas todas as reservas de alimentos, andava um pobre Diabo, faminto, pelos campos, à procura de comida. Mas ainda não havia nada para comer, porque as árvores nem sequer tinham começado a florir, quanto mais dar fruto.

Até que o Diabo, finalmente, avistou uma árvore cheia de flores brancas e rosadinhas.

- Ah! – exclamou ele – ali está a minha salvação. Se é a primeira a dar flor, é também a primeira a dar fruto! Vou-me sentar ao toro e esperar pelo que há-de vir.

E se bem o pensou, melhor o fez, deitando-se a dormir, à espera que lhe caísse o fruto madurinho em cima. Estávamos em finais de Fevereiro, inícios de Março.

Passou um mês e... nada! outro mês e... nada! outro mês e... nada! Já as cerejeiras, as pereiras, as ameixoeiras, as macieiras e todas as outras árvores tinham dado flores e tinham dado os seus frutos e o raio da amendoeira... nada!

Mas o Diabo era teimoso e continuou à espera. Só quando viu que o Verão estava a acabar e que ia passar outro Inverno cheio de fome, é que resolveu desistir e foi encher-se de figos a uma figueira.

Quando o viu partir, já em Setembro, é que a Amendoeira fez amadurecer o seu fruto, a Amêndoa. E ainda por cima fez com que a sua casca fosse bem dura, não fosse o Diabo voltar atrás e nela tentasse ferrar o dente.

É por isso que a amendoeira é a primeira a dar flor e a última a dar fruto. E é também por isso que dizem que a “Figueira é a árvore do Diabo”, porque lhe deu de comer, enquanto a Amendoeira é “a árvore que enganou o Diabo”.

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[Conto popular, com redacção e adaptação de Henrique de Campos]

3 comentários:

Anónimo disse...

E é por isso que a Amendoeira é a minha árvore preferida! É que enganar o Maligno, que é arteiro e muito esperto (ou pelo menos assim se julga!), de mil rostos e de mil vozes, na verdade é Obra!!
Amendoeira bendita cuja flor já estava inscrita na Arca da Aliança e cuja vara era a de Aarão...
Amendoeira bendita cuja branca flor é a da Pureza, que a tua beleza continue a abençoar os nossos campos...
Amendoeira bendita que de ti sempre espere o demo em vão e em ti acabe de arrebentar os dentes...

Joaquim Almendra

Paulo disse...

Para quem está na “diáspora” sabe tremendamente bem beber toda a emoção e toda a riqueza presentes nas entradas aqui colocadas. Parabéns!!!
Já ouvi esta história muitas vezes… palavras sopradas por um “tal” de Henrique de Campos… Agora tenho o prazer de as ler e reler continuamente…
Um grande abraço da Madeira,
Paulo

Isabel Mateus disse...

Conto muito bonito! A eterna batalha entre o Bem e o Mal. É claro como água que essa Donzela, a amendoeira transmontana florida, estaria à altura do Mafarrico!

Ficamos à espera de mais!

Isabel