No Verão as montanhas
Espreguiçam-se na sua imensidão
O céu confunde nas suas entranhas
O amarelo do trigo com sofreguidão
O trigo ceifado
As folhas mortas cobrem o chão
Com as primeiras águas ainda de Verão
Os homens rasgam a terra apoiados ao arado
Caem as geadas certeiras
Rompe o dia com ar cortante
No entanto, com carácter persistente e entusiasmante
As azeitonas são apanhadas das oliveiras
A neve derretida
Brilha o sol no ar
Forçando as amendoeiras a desabrochar
E derramando-se o perfume como coisa prometida.
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Assim aparece Trás-os-Montes… (Isabel Mateus, Évora,1987)
Este foi o poema com que, aos 18 anos, retratei o Portugal rural transmontano, a Minha Terra, no Alentejo, no Jornal de Parede do Lar dos Trigais da Ordem das Doroteias. Poema singelo, descritivo, a emanar autenticidade, brilho e, principalmente, a determinação, coragem e o sacrifício das suas gentes. Talvez por isso, para as recompensar do trabalho árduo e constante ao longo das estações do ano, não considerei a correria desenfreada das águas das ribeiras, nem a “Rebofa”, que este ano, como noutros, também por estes lados acontecem. Pelo contrário, a ênfase recaiu de supetão na essência de Trás-os-Montes: a flor branca ou ligeiramente rósea das amendoeiras.Afinal, elas são a metamorfose do homem transmontano!
Vale a pena visitar Trás-os-Montes, o homem e a sua flora nesta época do ano!...
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Textos de: ISABEL MATEUS
Fotografias: JOÃO PINTO V. COSTA
6 comentários:
Adorei os retratos do Homem e da Natureza.
Quem me dera poder visitar Trás-os-Montes neste momento, para sentir e cheirar a essência dessa Terra florida.
O meu bem-haja ao Blogue!
Abraço,
Isabel
Olá Isabel.
Prometo fazer um curto filme para sentires o aroma desta terra misturado com o sabor a terra, a fraga e voo de pétalas de amendoeira.
joão
Belo poema esse das primícias que já anunciava uma promissora escritora das nossas terras e realidades.
E a flor da amendoeira é, de facto, a flor da esperança e dos augúrios do novo ano agrícola. Que este blogue nasça sob o seu signo e a colheita seja generosa e abundante.
Gostei também da imagem do "voo das pétalas da amendoeira", do comentário do Vasdoal. Fez-me lembrar os momentos finais do filme "O último samurai", só que, no filme, são pétalas de cerejeira que voam... (pois, a "sakura"...)
abraço do
H. de Campos
Obrigada a ambos!
Vasdoal, senti isso tudo que me dizes! Quem me dera que aquela amendoeirazinha pudesse ser o meu retrato!
A Torga o seu negrilho e, para nós, que fique a amendoeira!
Saudades transmontanas.
Isabel
Lindo poema. Escrito no amarelo do Alentejo!
Elias
O nosso Alentejo, embora "amarelo", é uma fonte de inspiração!
Obrigada, Elias!
Isabel
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