sexta-feira, 5 de março de 2010

Conforme as Estações


No Verão as montanhas

Espreguiçam-se na sua imensidão

O céu confunde nas suas entranhas

O amarelo do trigo com sofreguidão

O trigo ceifado

As folhas mortas cobrem o chão

Com as primeiras águas ainda de Verão

Os homens rasgam a terra apoiados ao arado

Caem as geadas certeiras

Rompe o dia com ar cortante

No entanto, com carácter persistente e entusiasmante

As azeitonas são apanhadas das oliveiras

A neve derretida

Brilha o sol no ar

Forçando as amendoeiras a desabrochar

E derramando-se o perfume como coisa prometida.

.

Assim aparece Trás-os-Montes… (Isabel Mateus, Évora,1987)

.

Este foi o poema com que, aos 18 anos, retratei o Portugal rural transmontano, a Minha Terra, no Alentejo, no Jornal de Parede do Lar dos Trigais da Ordem das Doroteias. Poema singelo, descritivo, a emanar autenticidade, brilho e, principalmente, a determinação, coragem e o sacrifício das suas gentes. Talvez por isso, para as recompensar do trabalho árduo e constante ao longo das estações do ano, não considerei a correria desenfreada das águas das ribeiras, nem a “Rebofa”, que este ano, como noutros, também por estes lados acontecem. Pelo contrário, a ênfase recaiu de supetão na essência de Trás-os-Montes: a flor branca ou ligeiramente rósea das amendoeiras.

Afinal, elas são a metamorfose do homem transmontano!

Vale a pena visitar Trás-os-Montes, o homem e a sua flora nesta época do ano!...

.

Textos de: ISABEL MATEUS

Fotografias: JOÃO PINTO V. COSTA

6 comentários:

Anónimo disse...

Adorei os retratos do Homem e da Natureza.

Quem me dera poder visitar Trás-os-Montes neste momento, para sentir e cheirar a essência dessa Terra florida.

O meu bem-haja ao Blogue!

Abraço,

Isabel

vasdoal disse...

Olá Isabel.
Prometo fazer um curto filme para sentires o aroma desta terra misturado com o sabor a terra, a fraga e voo de pétalas de amendoeira.
joão

Anónimo disse...

Belo poema esse das primícias que já anunciava uma promissora escritora das nossas terras e realidades.
E a flor da amendoeira é, de facto, a flor da esperança e dos augúrios do novo ano agrícola. Que este blogue nasça sob o seu signo e a colheita seja generosa e abundante.
Gostei também da imagem do "voo das pétalas da amendoeira", do comentário do Vasdoal. Fez-me lembrar os momentos finais do filme "O último samurai", só que, no filme, são pétalas de cerejeira que voam... (pois, a "sakura"...)
abraço do
H. de Campos

Isabel Mateus disse...

Obrigada a ambos!

Vasdoal, senti isso tudo que me dizes! Quem me dera que aquela amendoeirazinha pudesse ser o meu retrato!

A Torga o seu negrilho e, para nós, que fique a amendoeira!

Saudades transmontanas.

Isabel

Unknown disse...

Lindo poema. Escrito no amarelo do Alentejo!

Elias

Isabel Mateus disse...

O nosso Alentejo, embora "amarelo", é uma fonte de inspiração!

Obrigada, Elias!

Isabel